SUMMIT FEBRASGO - Inovação em GO: Como será o futuro da saúde?
Com coordenação do Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, diretor científico da FEBRASGO, a última sessão do SUMMIT FEBRASGO - Inovação em GO teve a participação do Dr. Adilson Cunha Ferreira, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ultrassonografia, com aula sobre “Como será a ultrassonografia do futuro”.
Segundo o especialista, o ultrassom tem avançado de forma significativa, “diferentemente do cartão de pré-natal”, observa ele, ressaltando que a evolução da ultrassonografia ocorreu até antes de os GOs saberem exatamente como utilizá-la, já que as imagens passaram a se aprimorar de maneira inimaginável — “quem poderia imaginar ser possível falar de neurossonoanatomia fetal? (...) Estamos deixando de apenas ver o que está acontecendo e estamos começando a prever o que pode acontecer. O ultrassom é uma ferramenta de vigilância preditiva”, conclui Dr. Adilson com imagens muito ilustrativas sobre o avanço em US.
O Dr. Julio Cesar Rosa e Silva, membro da CNE de Endometriose, também esteve nesta sessão apresentando o tema “Wearables e monitoramento remoto: aplicações práticas na GO”. Foram apresentadas aplicações práticas, tecnologias atuais e reflexões sobre o futuro desses dispositivos vestíveis (wearable devices). “Pensando em saúde da mulher, um dos primeiros aplicativos de celular criados foi, talvez, o do calendário menstrual”, relembra.
A partir desses aplicativos, surgiram outros dispositivos, desenvolvidos para facilitar o trabalho do ginecologista e do obstetra, além de empoderar a paciente, permitindo que ela compreenda melhor o que está acontecendo com o próprio corpo e as mudanças pelas quais está passando.
“Precisamos entender que muitos desses dispositivos são testados, validados e aprovados por instituições regulatórias — no caso do Brasil, a Anvisa. Outros, nem tanto. Por isso, é necessário cuidado com dispositivos que não são validados”, alerta.
Qual é o futuro? – De acordo com o Dr. Julio Cesar, os endosensores representam uma verdadeira revolução no diagnóstico e no monitoramento médico ao utilizarem sensores minimamente invasivos capazes de oferecer um cuidado mais preciso e personalizado. Esses biossensores em miniatura são projetados para serem implantados ou inseridos no corpo, permitindo a detecção e medição, em tempo real, de sinais biológicos, químicos e físicos, como glicose, pH, oxigênio e pressão. Todas as informações obtidas são transmitidas sem fio para dispositivos externos, garantindo análise rápida e eficiente. Sua principal vantagem é possibilitar um monitoramento contínuo e direto, superando as limitações de métodos tradicionais baseados em testes laboratoriais ou exames de imagem pontuais.
Summit FEBRASGO Inovação em GO destaca telecirurgia, cirurgia verde e navegação guiada na prática ginecológica
O Summit FEBRASGO, Inovação em Ginecologia e Obstetrícia aprofundou o debate sobre tecnologias aplicadas à cirurgia ginecológica, destacando avanços que ampliam o acesso, promovem sustentabilidade e elevam a segurança dos procedimentos. A primeira aula, ministrada pelo Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, diretor científico da FEBRASGO, abordou a telecirurgia e a telementoria como estratégias essenciais para reduzir desigualdades assistenciais. O médico ressaltou que o encontro foi “superprodutivo”, especialmente no campo da cirurgia, onde a telecirurgia surge como “a última fronteira para oferecer treinamento e equidade do ponto de vista da cirurgia ginecológica”. Ele enfatizou que, diante do grande número de mulheres sem acesso a procedimentos seguros pela falta de profissionais, a inovação tecnológica torna-se um caminho para ampliar cuidado e qualificação.
A programação também contou com a participação internacional do professor Michel Canis, especialista da França, que trouxe ao debate a importância da sustentabilidade e da chamada “cirurgia verde”. Segundo ele, “temos que cuidar da vida de todas as mulheres, e para isso, temos que cuidar do ambiente para garantir qualidade de vida e saúde”. O especialista explicou que repensar o ciclo de vida dos materiais, evitar desperdícios e reduzir emissões associadas aos procedimentos cirúrgicos são medidas urgentes para transformar a prática ginecológica de forma responsável. “Não abram instrumentos que não vão ser utilizados”, alertou, destacando que até o uso de determinados anestésicos deve ser reavaliado devido ao impacto ambiental significativo.
O terceiro tema da sessão ficou a cargo do Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes, membro da CNE de Endoscopia Ginecológica, que apresentou as aplicações da cirurgia guiada por navegação, com foco no ultrassom intraoperatório e na fluorescência por ICG. O médico explicou que esse conjunto de tecnologias auxilia na identificação precisa de estruturas como miomas, lesões de endometriose profunda, ureteres, vasos e linfonodos. Ele reforçou que a combinação de recursos - ultrassom para definir anatomia, fluorescência para revelar perfusão e estruturas críticas - resulta em procedimentos mais seguros e precisos. E destacou: “Já temos cirurgia guiada em tempo real, com ultrassom e fluorescência, e isso estará cada vez mais presente na nossa vida, trazendo segurança e nos ajudando em decisões críticas.”
A sessão foi coordenada pelo Dr. Sérgio Podgaec, vice-presidente da Região Sudeste da FEBRASGO, que elogiou a qualidade das discussões e a relevância dos temas apresentados. “Eu adorei a mesa também. Acho que abre a cabeça da gente. O Summit FEBRASGO Inovação em GO é um momento de bastante reflexão para a nossa prática do dia a dia.
Saúde digital, metaverso e inovação na assistência perinatal marcam manhã do Summit FEBRASGO Inovação em GO
Dando sequência à programação do Summit FEBRASGO - Inovação em Ginecologia e Obstetrícia, aconteceu “Inovação na assistência perinatal”, com foco em ferramentas digitais, realidade expandida e novos paradigmas para o cuidado durante o pré-natal e o parto.
A primeira palestra, “Saúde Digital como Ferramenta Estratégica no Pré-Natal”, foi ministrada pela Dra. Tatiana Assunção Zaccara, especialista em saúde materno-infantil. Em sua apresentação, a médica enfatizou que a incorporação de soluções digitais representa uma mudança profunda e inevitável na prática clínica. “Foi muito bom participar do Summit da FEBRASGO. Precisamos nos integrar e nos inteirar do que é a saúde digital e como ela pode trabalhar a nosso favor”.
A palestrante destacou também que a educação digital é um fator essencial para promover autonomia e segurança, tanto para profissionais quanto para pacientes. “Temos um arcabouço próprio muito bem estabelecido, regulamentado pela lei e pelo CFM”, ressaltou, reforçando que a adoção dessas ferramentas exige preparo técnico e compreensão do marco regulatório.
Em seguida, o Dr. Heron Werner, membro da CNE de Ultrassonografia em GO da FEBRASGO, apresentou a palestra “Metaverso no Planejamento Obstétrico de Alta Complexidade”. O especialista demonstrou como as chamadas realidades expandidas, incluindo realidade aumentada, realidade virtual e metaverso, já estão sendo aplicadas no planejamento cirúrgico e no acompanhamento de gestações de maior complexidade. “O metaverso e a realidade aumentada são conceitos que se complementam, e estamos trazendo isso para a Medicina, especialmente para o planejamento cirúrgico. Hoje eu apresentei aplicações focadas na Obstetrícia, usando ultrassonografia e ressonância magnética, que facilitam a comunicação multidisciplinar, a discussão de equipes a distância, o planejamento cirúrgico e até a interação com o próprio paciente”, explicou.
Encerrando a sessão, o Dr. Eduardo Cordioli, membro da CNE em Urgências Obstetrícias da FEBRASGO, discutiu o conceito de “Sala de Parto Digital: um novo paradigma”, que integra tecnologias de saúde digital ao ambiente físico para transformar a experiência do parto. Ele explicou que o modelo utiliza recursos como projetores LED que criam uma “janela viva”, permitindo que a gestante escolha a paisagem exibida, trazendo mais conforto, acolhimento e redução da ansiedade. Além disso, a estrutura favorece o uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor, contribuindo para partos mais naturais. O ambiente digital também inclui acesso rápido a protocolos clínicos, ultrassom em tempo real e ferramentas de biofeedback, que permitem à gestante visualizar a descida do bebê durante o período expulsivo, direcionando melhor sua força.
O Dr. Eduardo também comentou sobre o impacto da transformação digital na formação de residentes e jovens profissionais, “A inteligência artificial é inteligência humana. Quem a criou fomos nós. É uma ferramenta para ampliar a capacidade de trabalho, e não algo do qual devemos fugir. O residente precisa aprender a usar essas ferramentas para expandir suas habilidades”. Além disso, comentou que a FEBRASGO ampliará sua atuação com cursos de IA, reforçando o compromisso da entidade com a educação continuada.
O médico destacou ainda a dimensão internacional do evento. “Estou muito feliz. É um evento de classe mundial, transmitido para 47 países, o que nos deixa muito orgulhosos como brasileiros”, afirmou.
BIRTH 2025: Obesidade elevada e o parto
O Dr. Yariv Yogev, especialista de Tel Aviv, apresentou a aula “Obesidade mórbida na gravidez: implicações para o trabalho de parto”. Os principais pontos abordados se relacionam à indução do trabalho de parto, ao progresso do parto, ao monitoramento e ao desfecho em cesariana. “Por que a indução de parto em mulheres com obesidade elevada é recomendada? Porque ela diminui a necessidade de cesariana e a taxa de macrossomia é menor”, explica.
Pontos de atenção em relação ao trabalho de parto nessa população específica:
- Equipamentos que atendam às dimensões físicas da paciente: desde mesas cirúrgicas especializadas até instrumentos cirúrgicos específicos.
- A progressão do parto necessita de um tempo maior, pois a obesidade está associada à inibição da contração uterina.
- Gestantes com IMC igual ou maior que 40 podem apresentar tempo de progresso prolongado e demandar doses maiores de ocitocina.
Sobre o parto por cesariana, o Dr. Yogev destaca a importância de observar:
- A localização do pannus, pois os marcos anatômicos podem estar distorcidos.
- A necessidade de debate contínuo sobre o tipo ideal de incisão em casos de obesidade classe III ou maior.
- Incisão de Pfannenstiel: facilita o acesso ao segmento uterino inferior e está associada a menor dor pós-operatória.
- Abordagem vertical na linha média: permite entrada mais rápida no abdome e pode ser estendida para maior exposição.
- Estratégia alternativa em casos de pannus pendular: prender o pannus inferiormente com fita e realizar incisão transversal mais alta, considerando a posição do umbigo.
Por fim, ele destaca riscos relacionados à anestesia:
- Falha no posicionamento do cateter peridural.
- Intubação orotraqueal difícil.
- Maior tempo de procedimento.
- Depressão respiratória em resposta a opioides.
- Dificuldade de acesso venoso.
- Para mulheres com obesidade grave ou previsão de procedimento mais longo, a técnica combinada raquiperidural pode ser a mais benéfica.
- A técnica raquiperidural combinada oferece início rápido da anestesia pela componente raquidiana, enquanto o cateter peridural pode ser usado para prolongar a analgesia, quando necessário.
SUMMIT FEBRASGO – Inovação em GO: highlights de especialistas
Os três dias imersivos de debates e atualização científica com grandes especialistas nacionais e internacionais da Ginecologia e Obstetrícia reuniu cerca de 1500 congressistas, no centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Abaixo, alguns dos especialistas da FEBRASGO deixam suas impressões sobre o 10º Congresso Internacional de Medicina Obstétrica do Hospital e Maternidade Santa Joana, Birth 2025 e Summit FEBRASGO Inovação em Ginecologia e Obstetrícia.
O que gostaria de destacar no evento?
“Esse congresso tem sido fundamental para que possamos observar o que o mundo está fazendo em relação ao parto. No Brasil, enfrentamos muitos desafios — especialmente nossas taxas elevadas de cesariana e de mortalidade materna. Trazer esse congresso para o país é uma oportunidade de refletir sobre esses pontos e discuti-los com especialistas de diversas partes do mundo. É essencial destacarmos a questão da mortalidade materna, que permanece estagnada globalmente, mas que, no Brasil, segue estagnada em níveis muito elevados. Isso reforça a necessidade urgente de unirmos esforços para reduzir esses índices.”– Dra. Rossana Pulcineli Vieira Francisco, presidente da CNE de Mortalidade Materna
O que aprendeu hoje?
“Das aulas que assisti, o que considero mais relevante — e que todos deveriam conhecer — foi a apresentação do professor Barinov. Tive a oportunidade de conversar longamente com ele sobre o balão de Zhukovsky vaginal para o tratamento de hematoma e para o controle de hemorragia durante uma miomectomia realizada no contexto de uma cesariana. Depois da aula, sentamos juntos, ele me mostrou diversos vídeos e artigos publicados, trocamos contatos e discutimos detalhes técnicos. Como também estudei balões no meu doutorado, essa troca foi especialmente enriquecedora.
Claro que houve muitas outras apresentações excelentes, inclusive de colegas da FEBRASGO: a aula do professor Gabriel sobre hemorragia, a apresentação da professora Marair sobre trauma perineal — com vídeos muito ilustrativos — e a do professor Elias Melo, meu amigo, cujo conteúdo sobre parto vaginal operatório e uso do vácuo-extrator aprecio muito. É difícil escolher apenas uma!– Dr. Álvaro Luiz Lage Alves, presidente da CNE de Urgências Obstétricas
“Assisti a palestras excelentes sobre inovação tecnológica, e acredito que o grande aprendizado é termos consciência de que a tecnologia não vai substituir o nosso trabalho ou presença como seres humanos. Na verdade, ela vai caminhar ao nosso lado, aprimorando a qualidade da assistência em qualquer área da ginecologia ou obstetrícia.
A tecnologia também nos ajuda a economizar tempo — tempo para investir na carreira e, igualmente, na vida pessoal. Ainda temos muito a aprender nessa trajetória, inclusive para superar os desafios que surgirão.
O evento está muito bacana, altamente tecnológico. Há salas simultâneas abordando diferentes temas e, se algo chama a atenção, basta um clique para mudar e assistir a outra palestra de altíssimo nível. Para quem circula em congressos internacionais, posso dizer: não deixa nada a desejar aos grandes eventos da área. Está sendo uma experiência excelente.” – Dra. Rívia Lamita, presidente da CNE de Reprodução Assistida
Qual novidade apresentada no congresso que gostaria de destacar?
“Vi aulas muito boas. A aula de obesidade, por exemplo, que acabou de acontecer, foi extremamente importante — trabalho muito com obesidade e diabetes e, embora não faça parte diretamente da Comissão de Gestação de Alto Risco, esses fatores têm impacto direto nessa área.
As aulas sobre prematuridade também foram destaque. Sempre trazem discussões relevantes. O que considero mais interessante é que, em geral, a obstetrícia costuma ser menos valorizada nos congressos — as pessoas tendem a buscar outros temas. Aqui, ao contrário, falou-se muito sobre parto, algo fundamental. É um assunto que muitos acham que dominam, mas não dominam, e é justamente onde ocorrem complicações e mortes maternas. Neste evento, discutiu-se amplamente o parto normal e suas complicações, o que é excelente.”– Dra. Rosiane Mattar, presidente da CNE de Gestação de Alto Risco
Quais temas debatidos nas sessões entraram no seu radar?
“A questão da Inteligência Artificial foi, para mim, muito interessante. A mesa que assisti hoje esclareceu muitos pontos. A aula do professor Chao Lung Wen organizou várias ideias que eu tinha sobre o tema. Todos os palestrantes contribuíram muito. Foi uma mesa que realmente trouxe novidades.”– Dra. Sue Yazaki Sun, presidente da CNE de Doença Trofoblástica Gestacional
O que gostaria de dizer aos residentes? E quais assuntos mais a impactaram?
“Os temas apresentados focaram muito nas dificuldades, nas emergências e nas melhores práticas da obstetrícia no mundo — como o próprio congresso propõe, voltado ao nascimento. Considero fundamental a avaliação adequada nas emergências e na condução do parto normal. O congresso trouxe exatamente isso: o que fazer, como conduzir, o que há de mais atualizado, e como nós, profissionais, podemos atuar de forma clara e atualizada para reduzir a mortalidade materna e fetal.
O que mais me impactou foram as aulas sobre emergências incomuns na obstetrícia. Porque sobre eclâmpsia e hemorragias estudamos muito. Mas temas como aneurisma dissecante de aorta, cesáreas em pacientes com obesidade mórbida e o uso do ultrassom pelo obstetra para avaliar derrame pericárdico ou hematoma subcapsular chamaram muita atenção. São conhecimentos que certamente levarei para a prática diária no meu estado.” – Dra. Vanessa Chaves Miranda, Diretora Científica da SOGOMAT-SUL
Desafios atuais e futuros da ginecologia e obstetrícia
Na cerimônia de abertura do 10º Birth Clinical Challenges in Labor and Delivery, evento que acontece simultaneamente com o Summit FEBRASGO Inovação em GO e o 10º Congresso Internacional de Medicina Obstétrica (CMO) do Hospital e Maternidade Santa Joana, o Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, diretor científico da FEBRASGO, apresentou uma reflexão sobre os desafios atuais e futuros da Ginecologia e Obstetrícia, destacando as transformações da sociedade tanto no perfil das pacientes quanto no perfil dos profissionais que atuam na área, no Brasil e no mundo.
O médico abordou o aumento do número de médicos, a crescente feminilização da Medicina e questões estruturais importantes, como o impacto do gênero na saúde feminina e a necessidade de maior presença de mulheres em cargos de liderança na especialidade.
Tratou também dos avanços tecnológicos que estão modificando profundamente o cuidado às pacientes, assim como o ensino, a pesquisa e a prática clínica. Entre eles, destacou o papel da inteligência artificial, que vem remodelando a assistência e os processos de formação, e o avanço da cirurgia robótica, que amplia o acesso a terapias minimamente invasivas. A telecirurgia foi apontada como uma das novas fronteiras para proporcionar cirurgias seguras, promover equidade e abrir novas possibilidades de ensino.
O Dr. Agnaldo apresentou ainda como as mudanças climáticas e a poluição podem impactar a saúde das mulheres. Em uma perspectiva ampla, sua exposição mostrou como a sociedade está em constante movimento — seja pelas inovações tecnológicas, pelas transformações do cotidiano e do pensamento, ou pela maior inserção das mulheres em todas as esferas da Ginecologia e Obstetrícia.
SUMMIT FEBRASGO: sessão destaca ética e regulação no uso da Inteligência Artificial em Saúde da Mulher
O segundo dia do Summit FEBRASGO - Inovação em Ginecologia e Obstetrícia, realizado neste sábado (06/12), no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, promoveu aulas e debates sobre o papel da Inteligência Artificial na Medicina e seus impactos na prática clínica.
A Sessão 01 trouxe ao palco o tema “Ética, Inteligência Artificial e Prática Médica”. O Prof. Dr. Chao Lung Wen, Professor da Faculdade de Medicina da USP e Chefe da Disciplina de Telemedicina, abriu os trabalhos abordando “Ética e Regulamentação no Uso da IA em Saúde da Mulher”. Ao longo da exposição, o especialista destacou que a Inteligência Artificial vem assumindo um papel cada vez mais profundo nos fluxos de trabalho da Medicina. Segundo ele, a IA “simula atributos cognitivos humanos, apenas simula”, reforçando que, apesar dos avanços, a tecnologia não substitui o julgamento clínico profissional.
Um dos pontos centrais da apresentação foi a necessidade urgente de diretrizes claras, que assegurem segurança, padronização, ética e proteção ao paciente. “O foco deve ser uma IA responsável, sempre centrada na pessoa, com supervisão humana obrigatória”, ressaltou o professor. Ele também abordou o papel regulatório da Anvisa, que segue ampliando normas e exigências para o uso seguro de soluções tecnológicas no ambiente clínico.
Dr. Chao alertou que, antes de adotar qualquer plataforma de IA, é fundamental avaliar o grau de confiabilidade do sistema, entendendo seus limites e potenciais riscos. Atualmente, existem 46 projetos de lei em tramitação no Brasil voltados à regulamentação da Inteligência Artificial na Medicina, evidenciando a preocupação crescente com padrões de segurança.
A segunda palestra da manhã, intitulada “Deskilling na Medicina: entre inovação e dependência tecnológica”, foi conduzida pelo Dr. Sérgio Podgaec, vice-presidente da Região Sudeste da FEBRASGO, que trouxe uma reflexão essencial sobre os limites e riscos da incorporação acelerada de tecnologias no cuidado em saúde. O especialista explicou sobre o fenômeno do deskilling, que consiste na perda ou redução de habilidades clínicas à medida que profissionais passam a depender excessivamente de sistemas automatizados para diagnóstico, e tomada de decisão ou execução de tarefas.
Embora reconheça os avanços proporcionados pela Inteligência Artificial, o médico alertou para o chamado “paradoxo da inovação”: ao mesmo tempo em que essas ferramentas ampliam a precisão e a segurança, podem, se mal utilizadas, reduzir a capacidade autônoma de raciocínio clínico. “Os ganhos da IA são inegáveis, mas precisamos ter cuidado para não diminuir a expertise humana. Confiar excessivamente numa ferramenta pode diminuir a capacidade crítica do especialista. A responsabilidade do médico é intransferível”, conclui.
O impacto no ensino médico também foi enfatizado pelo palestrante. “Não podemos deixar que os nossos alunos dependam demais da IA. A formação médica exige autonomia, análise crítica e domínio das habilidades essenciais”, alertou. Dr. Sérgio reforçou que, apesar da utilidade das novas tecnologias, elas devem ser incorporadas como apoio, e nunca como substituição do julgamento humano. “Essas ferramentas vão ajudar; só temos que tomar cuidados para não prejudicar o paciente”, completou.
A programação seguiu com a palestra “Inovação incremental vs. disruptiva: como tendências tecnológicas podem moldar a prática médica”, apresentada pelo Dr. Thiago Liguori Feliciano da Silva, cardiologista e CEO de uma empresa de tecnologia. O médico explicou que a Inteligência Artificial tem atuado na Medicina em três principais frentes, cada uma trazendo impactos diretos no trabalho dos profissionais e no atendimento ao paciente. A primeira é a interação com o paciente, que inclui agendamentos automatizados, preparo para exames, orientações básicas e monitoramento. A segunda envolve tarefas administrativas, como processamento de guias, organização de agendas e gestão de faturamento, que podem se tornar mais rápidas e precisas com o uso da IA. Já a terceira frente é o suporte ao médico, com ferramentas como co-pilotos clínicos, sistemas de transcrição e recursos que auxiliam na interpretação de dados e na tomada de decisões.
Ao final da sessão, o Dr. Marcelo Luis Steiner, diretor financeiro da FEBRASGO, destacou a relevância do debate e o impacto das novas tecnologias na prática médica. “A mensagem principal é que os médicos precisam ser educados sobre as tecnologias que estão chegando e entender que seu uso envolve muita responsabilidade. Não é algo separado: será uma interação híbrida entre tecnologia e médico. Essas habilidades serão desenvolvidas ao longo do tempo, e a FEBRASGO está inovando ao trazer essa discussão para que possamos amadurecê-la o mais rapidamente possível”, afirmou.
Desafios na assistência ao parto no cenário brasileiro é tema de debate no Atualiza Parto FEBRASGO
Dando continuidade ao Atualiza Parto FEBRASGO, a Sessão 04 tratou temas relacionados aos “Desafios na assistência ao parto no cenário brasileiro”, sob coordenação da Dra. Roseli Nomura, diretora administrativa da FEBRASGO, com destaque para aspectos importantes sobre práticas e adoção de políticas efetivas para reduzir riscos e fortalecer a segurança materna.
A Dra. Eliana Martorano Amaral, vice-presidente da CNE em Assistência Pré-Natal, abordou um dos assuntos mais sensíveis e atuais da obstetrícia: o parto cesáreo a pedido materno. A médica chamou atenção para o crescimento contínuo das cesáreas no país. “O Brasil é um dos maiores no número de cesáreas. É um crescimento que tem acontecido com certa velocidade”, explica a médica.
A especialista também lembrou que o contexto brasileiro possui particularidades que influenciam diretamente essa decisão. “No Brasil, em especial, existem leis que apoiam a cesárea. No estado de São Paulo, por exemplo, há uma lei que garante o direito ao procedimento a partir de 39 semanas”.
O Dr. Alberto Trapani Junior, membro da CNE de Obstetrícia, tratou sobre a “Implementação do partograma da OMS no Brasil”, destacando a importância dessa ferramenta padronizada para o acompanhamento da evolução do trabalho de parto. Ele ressaltou que o futuro da assistência obstétrica deve incorporar, de forma progressiva, tecnologias. “Por diversas situações, é bem provável que haja uma evolução sobre a sala de parto do futuro com a Inteligência Artificial”, declara. Ele ainda enfatizou a adoção de ferramentas digitais e o apoio em decisões clínicas.
Na sequência, a Dra. Rossana Pulcinelli Vieira Francisco, presidente da CNE de Mortalidade Materna, apresentou uma análise atualizada sobre as taxas de cesárea no Brasil, destacando que o país atingiu 61% de partos cesáreos em 2024. A especialista contextualizou que fatores estruturais e a grande extensão territorial do Brasil influenciam diretamente esses indicadores: “O que precisa estar em foco é prevenir a primeira cesárea”, pontua.
Entre as principais causas de morte materna estão hipertensão, hemorragia, além da importância da prevenção da anemia e da pré-eclâmpsia, entre outros fatores. A médica também chamou atenção para fatores estruturais. “Desigualdades regionais, de raça e cor impactam a mortalidade materna no Brasil. Precisamos investir em educação sexual de meninos e meninas, no enfrentamento à violência sexual, no apoio para que as mulheres escolham o melhor momento de engravidar e no acesso a anticoncepcionais de longa duração”.