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FEBRASGO #EuVejoVocê: campanha alerta sobre violência em cada fase da vida da mulher

 

No aniversário de 19 anos da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) reforça a necessidade de ação coletiva e imediata no combate à violência contra a mulher em todas as fases da vida. A instituição destaca o papel essencial da escuta médica como ferramenta de proteção, acolhimento e rompimento do ciclo de violência.

“Nós devemos agir e amparar as mulheres na identificação da violência e na capacitação para as tomadas de decisões. O conhecimento permite que o médico atue, desde a escuta adequada, o acolhimento, notificação, registro, acompanhamento e encaminhamento articulado e intersetorial”, afirma a Dra. Maria Celeste Osório Wender, presidente da FEBRASGO.

A campanha da FEBRASGO #EuVejoVocê compartilha duas cartilhas para ampliar a conscientização e oferecer orientação prática:

  • Para a população geral: informações claras sobre os tipos de violência mais comuns em cada fase da vida da mulher e orientações sobre como buscar ajuda. Acesse: Cartilha "Eu Vejo Você"
  • Para ginecologistas e obstetras: um checklist com diretrizes práticas para identificar e encaminhar casos de violência contra a mulher.

Acesse: Cartilha Médica Orientativa

As múltiplas faces da violência em cada fase da vida da mulher

Na Infância e Adolescência: (a) Mais de 50% das vítimas de abuso sexual são meninas com menos de 13 anos. (b) Uma em cada 3 meninas sofreu algum tipo de violência antes dos 18 anos.

Na Idade Adulta: (a) O Brasil registra cerca de 2.500 novos processos judiciais por dia ligados à violência contra a mulher. (b) Entre mulheres de 18 a 24 anos, 1 em cada 5 já sofreu abuso sexual. (c) De janeiro a maio de 2024, foram contabilizadas 380.735 ações judiciais por violência doméstica. (d) 30% das brasileiras afirmam já ter sofrido violência dentro de casa.

Mulheres com 60+: (a) Entre 2020 e 2023, o país teve 408.395 denúncias de violência contra idosos. (b) 15% das mulheres idosas sofrem abusos físicos ou psicológicos. (c) A violência contra idosas inclui apropriação de bens, controle financeiro, abandono, isolamento e agressões emocionais e físicas dentro do lar.

Violência invisível: a maioria não denuncia - Segundo levantamento da FEBRASGO, 47,4% das mulheres não procuram ajuda. Isso faz da consulta ginecológica um momento crucial: a escuta do médico pode ser a única chance de a vítima ser acolhida e encaminhada de forma segura. “Cada consulta ginecológica é uma oportunidade de salvar uma vida. Ao enxergar para além do exame físico, oferecemos cuidado integral e esperança às mulheres em situação de vulnerabilidade”, reforça Dra. Maria Celeste.

Dados regionais expõem a gravidade da crise

Números alarmantes divulgados pelas Associações Regionais de Ginecologia e Obstetrícia:

Estado

Dados (2023/2024)

Paraná

31.879 casos de violência contra mulheres; 46% por violência física, 76,8% em casa.

Santa Catarina

7.328 denúncias de violência sexual entre janeiro e junho de 2024.

Mato Grosso do Sul

23.243 vítimas de estupro, feminicídio e violência doméstica em 2024.

São Paulo

10.484 vítimas de estupro de vulnerável em 2024.

Minas Gerais

155.895 casos registrados em 2024.

Bahia

5.024 abusos sexuais contra crianças e adolescentes em 2023; 68% ocorreram em casa.

Pernambuco

1.716 casos registrados no 1º trimestre de 2024; 87,6% das vítimas entre 5 e 14 anos.

Cinco principais tipos de violência contra a mulher:

  1. Física – Agressões que causam dor ou ferimentos.
  2. Psicológica – Controle emocional, intimidação e manipulação.
  3. Sexual – Qualquer ato sem consentimento.
  4. Patrimonial – Apropriação ou destruição de bens e recursos.
  5. Moral – Calúnias, difamações e insultos à honra.

Neste marco de 19 anos da Lei Maria da Penha, a FEBRASGO faz um apelo a todos – cidadãos, profissionais de saúde, autoridades e instituições – para unirem forças pelo fim da violência contra a mulher.

 

Semana Nacional de Conscientização sobre os Cuidados com Gestantes e Mães

A Dra. Lia Cruz Vaz da Costa Damásio, diretora de Defesa e Valorização Profissional da FEBRASGO, participou de audiência pública, no dia 08/07, da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), sobre o Projeto de Lei nº 853, de 2019, que institui a Semana Nacional de Conscientização sobre os Cuidados com as Gestantes e as Mães com foco nos primeiros 1.000 dias de vida (da gestação até o fim do segundo ano do bebê). A semana será celebrada anualmente na semana do dia 15 de agosto.

“Nós apoiamos a instituição desta Semana em toda sua integridade. Temos muito a contribuir em várias vertentes, a começar pelo apoio técnico das nossas Comissões Nacionais Especializadas, como a do Aleitamento Materno, da Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério, das Vacinas, da Assistência Pré-Natal e da Gestação de Alto Risco, por exemplo. Além disso, nossas diretrizes, posicionamentos e guidelines científicos - e a capilaridade da FEBRASGO em todo o Brasil - são, certamente, instrumentos de apoio para a ampliação de campanhas e para qualificar e valorizar a atenção à saúde da mulher”, comenta Dra. Lia.

Entre os principais pontos do projeto sobre a Semana, estão:

  1. Divulgação dos direitos e cuidados em saúde para gestantes, mães e bebês – incluindo assistência desde a preparação para a gestação até o puerpério.
  2. Informação sobre os direitos trabalhistas da gestante, da mãe trabalhadora e da mãe estudante.
  3. Promoção dos direitos da mulher relacionados ao bebê, como:
    • Aleitamento materno em qualquer ambiente
    • Fortalecimento do vínculo afetivo
    • Alimentação saudável complementar
    • Vacinação
    • Acompanhamento pediátrico
    • Acesso à creche.
  4. Promoção do apoio paterno à saúde da mulher durante a gestação, parto, puerpério e nas tarefas domésticas, além de destacar os benefícios do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses do bebê.
  5. Valorização do envolvimento do pai, com estímulo à sua participação no pré-natal, no parto, na creche e em serviços voltados a gestantes e crianças.
  6. Prevenção de acidentes e proteção da infância, com foco na redução da exposição precoce à publicidade, telas e alimentos ultraprocessados, conforme diretrizes do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Durante sua participação na reunião do CAS, Dra. Lia pontuou que a FEBRASGO representa mais de 17 mil ginecologistas e obstetras, reforçando a atuação da federação como referência científica em políticas públicas. Na ocasião, aproveitou para alertar sobre os altos índices de mortalidade materna evitável no Brasil, destacando a necessidade de melhorias no pré-natal, no puerpério e no acesso à informação; e ressaltou o valor do planejamento reprodutivo e elogiou a inclusão do implante contraceptivo no SUS.

O inteiro teor do Projeto de Lei nº 853, de 2019, pode ser acessado neste link: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2192288

Dia dos Pais: especialista da FEBRASGO orienta sobre o papel do pai no puerpério e prevenção da depressão pós-parto

Presença e apoio emocional do parceiro podem contribuir muito para a saúde integral da mulher após o parto

Em homenagem ao Dia dos Pais, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) reforça a importância do envolvimento paterno no puerpério, período que exige cuidados intensos com o recém-nascido e atenção à saúde mental da mãe. A ginecologista Dra. Mirela Foresti Jiménez, integrante da Comissão Nacional Especializada em Abortamento, Parto e Puerpério da entidade, destaca o papel fundamental do parceiro nesse momento.

“O puerpério é um momento de atividades muito intensas com o recém-nascido, que demandam dedicação e privação de sono, especialmente nos primeiros meses. É necessário organizar o repouso e manter uma alimentação calórica, saudável e com boa hidratação para atender às exigências da amamentação. O pai pode colaborar ativamente ao ajudar nas tarefas domésticas, apoiar a amamentação e garantir que a mulher tenha momentos de descanso. Mais do que isso, ele deve ser um suporte emocional constante”, afirma a médica.

Segundo dados da Fiocruz (2016), cerca de 25% das mães de recém-nascidos são diagnosticadas com depressão pós-parto. Globalmente, a taxa varia entre 10% e 20%, podendo chegar a 25%. Fatores como baixa condição socioeconômica, ausência de rede de apoio, histórico de doenças mentais, gravidez não planejada e maternidade na adolescência elevam o risco.

“Essas mulheres necessitam de acolhimento, psicoterapia e, em alguns casos, tratamento medicamentoso. Essa estatística ressalta a importância de monitorar a saúde mental neste período e orientar para os sinais de alerta”, reforça Dra. Mirela.

A presença do pai é considerada um fator protetor. “Estudos mostram que casais com comunicação aberta e divisão de responsabilidades enfrentam menos problemas emocionais. O envolvimento do parceiro pode reduzir significativamente a incidência de depressão pós-parto”, complementa.

Entre as ações práticas que o pai pode assumir estão: trocar fraldas, dar banho, ajudar na alimentação do bebê, organizar a casa para favorecer o descanso da mãe, preparar refeições saudáveis e incentivar momentos de autocuidado. Além disso, o pai deve estar atento a sintomas como tristeza persistente, irritabilidade, desinteresse por atividades habituais, dificuldades de sono e rejeição ao bebê.

No período pós-parto, a privação de sono pode agravar o quadro emocional. É importante que o obstetra oriente o parceiro sobre o chamado blues puerperal — alterações leves e autolimitadas de humor que afetam até 80% das mulheres entre duas e três semanas após o parto.

“Apresentar blues puerperal não significa que a mulher tenha depressão pós-parto. Mas, caso os sintomas persistam além de três ou quatro semanas ou se tornem mais intensos, é necessário buscar avaliação médica”, orienta a especialista.

A médica finaliza destacando que o apoio deve ser contínuo e empático. “O parceiro pode encorajar a busca por ajuda de forma gentil, reforçando que cuidar da saúde mental é um sinal de força. O ideal é buscar orientação com ginecologista e, se necessário, um tratamento multidisciplinar com psiquiatra. Grupos de apoio e envolvimento da família também são importantes”, conclui.

 

 

Climatério e sexualidade: “O autoconhecimento é fundamental para o orgasmo”

  • Comunicação, autoconhecimento e sex toys são ferramentas importantes
  • Sexualidade deve ser compreendida como parte indissociável da saúde feminina

“Metade das mulheres na fase do climatério e pós-menopausa terão declínio do desejo, em relação da queda dos esteroides sexuais”, conta Dra. Sandra Cristina Poerner Scalco, ginecologista e sexóloga, membro da Comissão Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

Sintomas como secura vaginal, dor nas relações sexuais e queda da libido são comuns nessa fase, o que pode comprometer a vida sexual da mulher, porém, a sexualidade deve ser compreendida como parte indissociável da saúde feminina. “O climatério pode representar uma fase de reapropriação do corpo, de autoconhecimento e de descoberta de novas formas de prazer”, afirma a ginecologista e sexóloga.

A médica ressalta que o desejo sexual pode ser impactado por fatores físicos e emocionais, mas que o autoconhecimento e a comunicação são ferramentas fundamentais para resgatar e reinventar a vida sexual. “Muitas mulheres só passam a se ‘autorizar’ nessa fase da vida. É quando se permitem vivenciar experiências que antes estavam bloqueadas por questões culturais ou emocionais. O climatério pode ser um tempo de ampliação de repertório e reconexão com o prazer”, afirma.

Dra. Sandra também aponta o papel de recursos terapêuticos e tecnológicos no cuidado com a sexualidade feminina, incluindo terapias medicamentosas — como a reposição hormonal, quando indicada — sempre respeitando os consensos científicos e as necessidades individuais de cada paciente.

Além disso, ela destaca a importância de práticas que fortalecem a autoestima e o conhecimento corporal, como o diálogo aberto com parceiros(as), grupos de apoio, psicoterapia, educação sexual e o uso de tecnologias como os sex toys. “Estudos mostram que o uso regular de vibradores e sugadores de clitóris melhora significativamente todos os domínios da função sexual: desejo, excitação, lubrificação e orgasmo. Em mulheres na pós-menopausa, exercícios com esses dispositivos de duas a três vezes por semana, por poucos minutos, já promoveram melhorias clínicas mensuráveis”, pontua.

Para a ginecologista, o protagonismo da mulher sobre seu prazer é essencial. “Ela não deve se colocar em uma posição passiva, esperando que a solução venha do parceiro. É o autoconhecimento — saber o que gosta, quais zonas do corpo são mais sensíveis — que facilita o prazer. O repertório do que gosta ou quer também é ferramenta”, explica ela.

Ao abordar o envelhecimento sob a ótica da potência, e não da perda, Dra. Sandra Scalco convida mulheres e profissionais de saúde a revisitar os discursos sobre sexualidade na maturidade. A proposta não é romantizar os desafios do climatério, mas entender que essa fase pode representar uma oportunidade legítima de liberdade, prazer e redescoberta.

 

Agosto Lilás: FEBRASGO reforça orientações para acolhimento e atendimento de vítimas de violência sexual

Campanha #EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher

A violência sexual representa um grave problema de saúde pública, sendo uma das principais causas de morbidade entre meninas e mulheres. Segundo o Atlas da Violência 2025, 16.460 meninas e mulheres sofreram violência sexual (em contexto de violência doméstica) no ano de 2023. Durante o Agosto Lilás, campanha nacional de enfrentamento à violência contra a mulher, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO destaca medidas essenciais para garantir acolhimento humanizado e acesso ao direito previsto por lei: a interrupção da gestação em casos de estupro.

“O acolhimento é a base de um atendimento ético e qualificado. Isso significa não apenas oferecer um ambiente seguro e respeitoso, mas também garantir que as pacientes tenham acesso à informação e aos avanços disponíveis na saúde”, afirma o Dr. Rosires Pereira de Andrade, obstetra e presidente da Comissão Nacional Especializada em Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei da FEBRASGO.

Cinco medidas essenciais para o atendimento legal (jurídico) e seguro - Nos casos de gravidez resultante de estupro, a legislação brasileira assegura o direito à interrupção da gestação. Para garantir a legalidade do procedimento e a proteção da vítima, o médico destaca cinco medidas práticas e documentais que devem ser seguidas:

  1. Termo de relato circunstanciado - Feito de próprio punho pela vítima, deve conter informações detalhadas sobre o episódio de violência (data, local, descrição dos agressores, entre outros). O documento é assinado pela mulher e duas testemunhas, como o médico e outro profissional de saúde (enfermeiro, psicólogo ou assistente social).
  2. Parecer técnico - Emitido pelo ginecologista/obstetra, após avaliação clínica e exame de imagem (ultrassonografia), para confirmar a compatibilidade entre a idade gestacional e a data do relato.
  3. Ata de aprovação do procedimento - Documento no qual os profissionais envolvidos no atendimento reconhecem a legitimidade do caso e validam a interrupção da gestação conforme previsto em lei.
  4. Termo de responsabilidade - Assinado pela vítima, com declaração de ciência sobre a veracidade das informações prestadas e os riscos legais em caso de declaração falsa.
  5. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Documento que informa a mulher sobre o procedimento médico, possíveis riscos, alternativas como adoção, e reafirma o sigilo profissional, exceto por determinação judicial.

Em quais casos o aborto é legal no Brasil?

A legislação brasileira permite a interrupção da gravidez em três situações:

  1. Quando a gestação é decorrente de estupro;
  2. Quando há risco de vida para a gestante;
  3. Em casos de anencefalia fetal.

“O papel do ginecologista é garantir que a paciente seja informada de maneira neutra e respeitosa sobre esses direitos. A decisão final é sempre da mulher”, ressalta Dr. Rosires.

Anticoncepção de emergência - Para vítimas de violência sexual que buscam atendimento médico nas primeiras horas após o estupro, a anticoncepção de emergência é uma forma eficaz de prevenir a gravidez. O método mais utilizado no Brasil é o levonorgestrel 1,5 mg, em dose única via oral, preferencialmente nas primeiras 72 horas, mas podendo ser eficaz até o quinto dia.

“Estudos indicam que a taxa de falha varia entre 1,7% e 2,6%, sendo um pouco maior em mulheres com obesidade”, explica o obstetra. Ele também menciona uma alternativa altamente eficaz, mas ainda pouco utilizada no Brasil: a inserção do DIU T de Cobre 380A, que apresenta quase 100% de sucesso em estudos internacionais.

Negar atendimento é violar a lei - Se houver qualquer barreira ou recusa ao atendimento nos casos previstos em lei, tanto a instituição quanto os profissionais podem estar infringindo os direitos da paciente. Nesses casos, a orientação é procurar a Defensoria Pública, que oferece atendimento jurídico gratuito para garantir a proteção e o acesso aos direitos assegurados.

Comprometida com o pleno respeito à saúde e bem-estar das mulheres, a FEBRASGO lidera a Campanha #EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher, em todas as fases da vida, incluindo a mulher médica em exercício. O objetivo é o de desconstruir discursos que sustentam a violência, promovendo uma reflexão constante sobre o tema e, assim, atuar ativamente no combate à violência contra a mulher.

Agosto Dourado: aleitamento materno tem fator preventivo especialmente para o câncer de mama

A meta da OMS é que, até 2025, ao menos 50% dos bebês de até seis meses sejam amamentados exclusivamente, enquanto o Brasil pretende elevar esse índice para 70% até 2030

Segundo dados divulgados pelo governo federal, o índice de amamentação exclusiva no Brasil vem aumentando nos últimos anos. Nos anos 1970, a média de duração do aleitamento materno no Brasil era de apenas dois meses e meio. Hoje, esse tempo aumentou significativamente: as crianças brasileiras são amamentadas, em média, por 16 meses — o equivalente a 1 ano e 4 meses de vida. Apesar do avanço, o desafio ainda é grande. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta que, até 2025, pelo menos 50% dos bebês com até seis meses de idade sejam alimentados exclusivamente com leite materno. No Brasil, a expectativa do governo é ainda mais ambiciosa: alcançar um índice de 70% até 2030.

A Dra. Silvia Regina Piza, obstetra, assessora da Diretoria Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da mesma entidade, reforça a tese sobre a importância da amamentação: “A mama completa todo o seu desenvolvimento, iniciado ainda na vida embrionária, durante a gravidez e com o aleitamento materno. Esse processo não apenas prepara a mulher para produzir leite, mas também favorece sua saúde emocional e física, fortalecendo um vínculo afetivo fundamental com o bebê”.

Benefícios à saúde da mulher - Além dos aspectos biológicos, o ato de amamentar exerce um papel protetor importante para a mulher. “O aleitamento materno tem fator preventivo especialmente para o câncer de mama, devido às adaptações hormonais e celulares que ocorrem na mama durante esse período. Além disso, a amenorreia (ausência da menstruação) induzida pela amamentação traz benefícios hormonais e metabólicos adicionais à mulher no pós-parto”, destaca a Dra. Silvia.

Outro ponto relevante é o impacto emocional positivo. A amamentação reforça a relação da mãe com o bebê e pode contribuir para a prevenção da depressão pós-parto. “É uma forma de passar afeto, além de alimento. Um alimento que vale ouro”, define a especialista.

Proteção ao bebê - O leite materno é um alimento completo, com anticorpos, nutrientes e componentes imunológicos essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. Além de reduzir o risco de infecções, alergias e doenças crônicas, o aleitamento materno impacta positivamente na saúde ao longo de toda a vida do bebê.

O Brasil é referência internacional na criação e gestão de bancos de leite humano, que oferecem leite pasteurizado de qualidade para recém-nascidos cujas mães não podem amamentar. “Essas estruturas salvam vidas e ajudam a manter os benefícios do leite humano mesmo nas situações de contraindicação”, afirma a médica.

Contraindicações ao aleitamento materno 

Apesar de ser altamente recomendado, o aleitamento materno possui algumas contraindicações específicas, geralmente raras, mas que precisam ser avaliadas e acompanhadas ainda durante o pré-natal. Nesses casos, a orientação profissional e o planejamento da alimentação do bebê são fundamentais.

Entre as principais contraindicações absolutas, estão:

  • Infecção materna pelo vírus HIV, HTLV-1 e HTLV-2;
  • Mulheres em tratamento oncológico, principalmente durante radioterapia e uso de medicamentos como quimioterápicos, imunossupressores e iodo radioativo;
  • Lesões de herpes zóster na aréola, enquanto houver risco de contágio;
  • Casos de hepatite B, em que o aleitamento é postergado até a criança receber imunoglobulina e vacina.

“Essas condições precisam ser detectadas com antecedência para que a família esteja preparada”, alerta a médica.

Ela também chama atenção para situações que podem dificultar a amamentação, como as cirurgias estéticas nas mamas. “Mamoplastias de aumento, por exemplo, dependendo da técnica utilizada, podem comprometer ductos e estruturas mamárias essenciais à produção de leite, interferindo negativamente no aleitamento materno.”

Rede de apoio - A presença de familiares, companheiros, profissionais de saúde e empregadores pode ser determinante para o sucesso da amamentação, especialmente em um contexto social que impõe múltiplas jornadas e desafios para as mães.  “Amamentar exclusivamente e em livre demanda não é simples, especialmente para mulheres que retornam ao trabalho pouco tempo após o parto. É fundamental que empresas ofereçam condições para que essa mulher continue amamentando, com espaços adequados e flexibilidade de horários. A sociedade precisa acolher e apoiar essa mãe”.

 

FEBRASGO participa do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB

O evento realizado pela Associação Médica Brasileira é reconhecido como o único congresso voltado à Medicina Geral no Brasil. Com início no dia 24 de julho e término previsto para este sábado, 26 de julho, o congresso contou com a participação da Dra. Maria Celeste Osório Wender, presidente da FEBRASGO, como moderadora da Mesa Redonda sobre Ginecologia.
“Como porta-vozes da saúde feminina, trouxemos à discussão temas de grande relevância dentro da Ginecologia. Chamamos atenção, especialmente, para o uso inadequado de hormônios, que tem se tornado cada vez mais comum na sociedade. Nós, da FEBRASGO, em conjunto com a AMB e com o apoio de quase trinta sociedades médicas, nos posicionamos de forma totalmente contrária ao uso de implantes hormonais não regulamentados pela Anvisa”, afirma a presidente.
Durante os intervalos das aulas no congresso, foi divulgado um QR Code para acesso ao Vigicom — sistema de notificação onde médicos de todo o Brasil podem registrar relatos de efeitos adversos relacionados ao uso inadequado de implantes hormonais observados na prática clínica.
“É uma enorme satisfação estarmos presentes neste congresso. Estaremos sempre ao lado da AMB na promoção da informação médica, científica e no debate sobre os desafios do nosso dia a dia no atendimento à saúde das mulheres brasileiras”, conclui Dra. Maria Celeste.
Durante a Mesa Redonda, a Dra. Iara Moreno Linhares, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Doenças Infectocontagiosas, apresentou a aula “Infecções Genitais”, com uma abordagem abrangente e didática. O objetivo foi oferecer aos médicos generalistas ferramentas para reconhecer e diagnosticar corretamente as infecções genitais mais frequentes na prática clínica.
O Prof. Dr. José Maria Soares Junior, presidente da CNE de Ginecologia Endócrina, ministrou a aula “Sangramento Uterino Anormal: Diagnóstico e Conduta”, tema comum nas consultas ginecológicas. Durante sua apresentação, o especialista detalhou os principais diagnósticos diferenciais e possíveis condutas terapêuticas, destacando a importância de uma avaliação clínica criteriosa, que inclua a anamnese, o exame físico e exames complementares adequados para cada caso.
Já a Profª. Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro, presidente da CNE de Anticoncepção, abordou o tema “Planejamento Familiar”, oferecendo uma visão ampla sobre os principais métodos contraceptivos disponíveis. A especialista discutiu indicações, contraindicações e aspectos relevantes para a escolha individualizada do método, com base em critérios médicos e perfil da paciente.
Durante a Mesa Redonda Obstetrícia/Pediatria, a Dra. Roseli Nomura, diretora administrativa da FEBRASGO, apresentou a aula “Asfixia Perinatal – Prevenção Pré-natal e Intraparto”.
“Discutimos as principais formas de prevenção da asfixia perinatal e suas consequências. Abordamos os cuidados no pré-natal, que permitem identificar gestantes de risco e garantir a realização de exames e diagnósticos precoces. Com isso, é possível encaminhá-las à atenção secundária ou terciária e, quando necessário, até antecipar o parto”, explica a especialista.
Durante a aula, foi reforçada a importância de monitorar a frequência cardíaca fetal em gestantes de risco habitual, além do acompanhamento da evolução do trabalho de parto para garantir um nascimento seguro. Caso ocorra alguma intercorrência e o bebê nasça com sinais de asfixia, é essencial que receba imediatamente a reanimação neonatal.
“A Sociedade Brasileira de Pediatria conta com um programa de reanimação neonatal amplamente difundido no país, com manobras padronizadas para o atendimento de recém-nascidos com asfixia. Espera-se, com esse trabalho conjunto entre obstetras e neonatologistas, oferecer o melhor cuidado possível frente a esse tipo de situação”, destaca Dra. Roseli.
Outros médicos da FEBRASGO também participaram do Congresso, entre eles:
  • Dra. Silvia Regina Piza, assessora da Diretoria Científica – aula: Aleitamento Materno: Como Manejar Dificuldades e Complicações
  • Dra. Rosiane Mattar, presidente da CNE de Alto Risco – coordenou a Mesa Redonda de Obstetrícia
  • Dra. Lílian De Paiva Rodrigues Hsu, presidente da CNE de Pré-Natal – aula: Assistência Pré-Natal
  • Dr. José Paulo de Siqueira Guida, membro da CNE de Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei – aula: Urgências Hipertensivas na Gestação
O Congresso de Medicina Geral da AMB é uma importante oportunidade de atualização sobre as mais recentes pesquisas, descobertas e práticas na área médica, com foco nas necessidades dos médicos generalistas. O evento contribui para a melhoria da saúde da população e para o fortalecimento da medicina brasileira.
São mais de 100 horas de conteúdo, incluindo aulas, cursos práticos (hands-on) e discussões de casos clínicos em 55 especialidades médicas, com a participação de mais de 300 palestrantes renomados.

Hepatite viral: falta de diagnóstico é o principal empecilho para erradicá-la

28/07 - Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais

“No Brasil estima-se a existência de 1 milhão de portadores de Hepatite B e 520 mil portadores de Hepatite C. Um pouco mais de um terço dos casos tem diagnóstico conhecido e conseguem acessar o tratamento. A falta de diagnóstico é o principal empecilho na meta estabelecida pela OMS e assumida pelo Brasil para a eliminação das hepatites virais até 2030”, comenta Dr. Regis Kreitchmann, ginecologista presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

As hepatites virais são doenças infectocontagiosas transmitidas por vírus, que tem como órgão alvo as células hepáticas, podendo causar quadros leves e de boa evolução até quadros que evoluem para hepatite crônica podendo levar à cirrose, câncer hepático e morte.

Os tipos de hepatites virais mais conhecidas e seus meios de contágio são: Hepatite A, que possui contágio pela água contaminada com fezes humanas, bem como pelo consumo de verduras, frutas, legumes, peixes e moluscos em contato com essa água. As hepatites B e C possuem contágio pela relação sexual sem preservativo e por meio do contato com o sangue contaminado pelo uso compartilhado de seringas, agulhas ou instrumentos não esterilizados. Ambas são mais agressivas, tendem a cronificar e causar câncer, podendo ser transmitidas na gravidez da mãe ao seu bebê.

O diagnóstico - A hepatite A possui apenas teste convencional de sangue com a técnica de ELISA (Ensaio Imunoabsorvente Ligado à Enzima). As hepatites B e C são diagnosticadas através do uso de teste rápido, disponíveis nas unidades básicas de saúde, com resultado disponível em apenas 15 minutos. Na ausência de teste rápidos, os testes laboratoriais específicos podem ser solicitados, e o resultado costuma ficar pronto em poucos dias.

Sintomas - São comuns à maioria das viroses como febre, náuseas, vômitos e fraqueza. “O amarelão dos olhos (icterícia), urina escura e fezes claras são marcadores importantes do comprometimento hepático. Com a evolução da doença podemos observar hemorragia digestiva, acúmulo de água no abdômen (ascite) e alterações neurológicas”, explica Dr. Regis. 

Formas de prevenção - A hepatite A é facilmente prevenida por meio da vacina, que está disponível desde 2014 e indicada no calendário vacinal do SUS para crianças até os 5 anos de idade, adultos portadores de hepatites, portadores do HIV, homens que fazem sexo com homens e usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Outra forma de prevenção é lavar muito bem frutas, verduras, legumes, peixes, ou seja, comer alimentos higienizados e lavados em água corrente filtrada.

A hepatite B pode ser evitada pela vacina, que existe no calendário vacinal do SUS desde 1998, possui recomendação de uso universal com doses que iniciam desde o nascimento e são completadas aos 6 meses de idade. “Esse esquema, caso tenha sido interrompido, poderá ser completado em qualquer idade. Outras indicações para vacinar são os portadores do HIV, profissionais da saúde, homens que fazem sexo com homens, pessoas que moram com portadores de hepatite B e os portadores de outras doenças hepáticas crônicas”, complementa o ginecologista. Ainda não existe vacina para a hepatite C.

O especialista explica ainda que o diagnóstico e tratamento de gestantes com Hepatite B crônica por meio do uso de antivirais (quando indicados) - associados à vacinação e ao uso de imunoglobulina anti Hepatite B ao recém-nascido - são capazes de evitar a transmissão do vírus ao bebê.

Tanto a hepatite B quando a hepatite C podem ser evitadas através do uso de preservativos nas relações sexuais e evitando o compartilhamento de instrumentos não esterilizados que tiveram contato com sangue, tais como lâminas, seringas, agulhas, alicates e escova de dentes.

Quem deve testar para doença? - O teste deve ser universal para todos os indivíduos maiores de 20 anos pois, somente assim, será possível detectar os portadores e tratá-los adequadamente, evitando a progressão, disseminação da doença e atingir a eliminação das hepatites virais na população. “Essa meta pode ser atingida, mas ainda esbarra na falta de acesso a testagem universal”, sinaliza Dr. Regis.

Ele acrescenta que, enquanto isso, é possível trabalhar na micro-eliminação das hepatites com a testagem dos grupos mais vulneráveis como: pessoas nascidas na região amazônica ou imigrantes, gestantes, filhos de portadores crônicos de hepatite, profissionais da saúde, pessoas com exposição percutânea a materiais biológicos, que não obedecem normais de vigilância sanitária, pessoas que fazem uso de drogas injetáveis, inaladas ou tragadas ou uso abusivo de bebidas alcoólicas, pessoas em situação de rua, indígenas, ribeirinhos ou quilombolas, população encarcerada, portadores de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) ou com histórico de ISTs, homens que fazem sexo com homens, pessoas portadores do HIV, pessoas com múltiplas parcerias sexuais e/ou uso inconstante do preservativo, profissionais do sexo, pessoas em uso de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP).

Hepatite viral tem cura?  - Com a hepatite B obtemos a cura funcional e evita-se a evolução da doença e a transmissibilidade, mas exige o uso contínuo do antiviral ao longo da vida. A hepatite C tem cura com o uso durante poucos meses de medicamentos orais que estão disponíveis no SUS, desde que tenha sido feito o diagnóstico da doença e encaminhada a paciente a um gastroenterologista ou hepatologista”, conta o especialista da FEBRASGO.

 

Cuidados adicionais - Pessoas que convivem com portadores de hepatite B devem estar vacinadas e fazer exame de produção de anticorpos. Aquelas que convivem com portadores de hepatite C devem apoiar que o início do tratamento do portador ocorra o mais cedo possível até garantir a cura da doença. “Enquanto isso não acontece, deve-se evitar a exposição ao sangue, não compartilhar instrumentos perfuro-cortantes, lâminas, escovas de dentes e usar preservativos em todas as relações sexuais. Todas as pessoas que convivem com portadores de hepatites crônica devem ser testados”, finaliza o médico.

 

 

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