Climatério e sexualidade: “O autoconhecimento é fundamental para o orgasmo”
- Comunicação, autoconhecimento e sex toys são ferramentas importantes
- Sexualidade deve ser compreendida como parte indissociável da saúde feminina
“Metade das mulheres na fase do climatério e pós-menopausa terão declínio do desejo, em relação da queda dos esteroides sexuais”, conta Dra. Sandra Cristina Poerner Scalco, ginecologista e sexóloga, membro da Comissão Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Sintomas como secura vaginal, dor nas relações sexuais e queda da libido são comuns nessa fase, o que pode comprometer a vida sexual da mulher, porém, a sexualidade deve ser compreendida como parte indissociável da saúde feminina. “O climatério pode representar uma fase de reapropriação do corpo, de autoconhecimento e de descoberta de novas formas de prazer”, afirma a ginecologista e sexóloga.
A médica ressalta que o desejo sexual pode ser impactado por fatores físicos e emocionais, mas que o autoconhecimento e a comunicação são ferramentas fundamentais para resgatar e reinventar a vida sexual. “Muitas mulheres só passam a se ‘autorizar’ nessa fase da vida. É quando se permitem vivenciar experiências que antes estavam bloqueadas por questões culturais ou emocionais. O climatério pode ser um tempo de ampliação de repertório e reconexão com o prazer”, afirma.
Dra. Sandra também aponta o papel de recursos terapêuticos e tecnológicos no cuidado com a sexualidade feminina, incluindo terapias medicamentosas — como a reposição hormonal, quando indicada — sempre respeitando os consensos científicos e as necessidades individuais de cada paciente.
Além disso, ela destaca a importância de práticas que fortalecem a autoestima e o conhecimento corporal, como o diálogo aberto com parceiros(as), grupos de apoio, psicoterapia, educação sexual e o uso de tecnologias como os sex toys. “Estudos mostram que o uso regular de vibradores e sugadores de clitóris melhora significativamente todos os domínios da função sexual: desejo, excitação, lubrificação e orgasmo. Em mulheres na pós-menopausa, exercícios com esses dispositivos de duas a três vezes por semana, por poucos minutos, já promoveram melhorias clínicas mensuráveis”, pontua.
Para a ginecologista, o protagonismo da mulher sobre seu prazer é essencial. “Ela não deve se colocar em uma posição passiva, esperando que a solução venha do parceiro. É o autoconhecimento — saber o que gosta, quais zonas do corpo são mais sensíveis — que facilita o prazer. O repertório do que gosta ou quer também é ferramenta”, explica ela.
Ao abordar o envelhecimento sob a ótica da potência, e não da perda, Dra. Sandra Scalco convida mulheres e profissionais de saúde a revisitar os discursos sobre sexualidade na maturidade. A proposta não é romantizar os desafios do climatério, mas entender que essa fase pode representar uma oportunidade legítima de liberdade, prazer e redescoberta.