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#EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), comprometida com o pleno respeito à saúde e bem-estar das mulheres, lançou a Campanha #EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher, em todas as fases da vida junto com as Sociedades Estaduais.

A iniciativa também tem como objetivo discutir ações que possam impactar na redução da violência contra a mulher em todas as fases da vida, incluindo a mulher médica em exercício.

O objetivo da campanha é desconstruir os discursos que sustentam a violência, promovendo uma reflexão constante sobre o tema.

A FEBRASGO junto com as Sociedades Estaduais de Ginecologia e Obstetrícia estarão unidas na organização de debates e encontros entre os profissionais das especialidades para a discussão de ações efetivas em prol a redução da violência contra a mulher, além da produção de conteúdo para sensibilizar e informar a sociedade, celebrando e empoderando a profissão de ginecologista, destacando sua relevância no cuidado à mulher.

 

Uso de testosterona em mulheres: Entidades médicas alertam para os riscos e a prescrição Indevida

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCM – SBC), divulgou uma nota de alerta sobre os riscos e limitações do uso de testosterona em mulheres. Segundo as entidades, a prescrição de testosterona só é sustentada por evidências médicas em situações muito específicas, como no tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo em mulheres na pós-menopausa e, mesmo nesses casos, apenas após uma avaliação criteriosa para descartar outras causas para a condição.

“Não existe benefício comprovado isento de riscos do uso de testosterona para fins estéticos, aumento de massa muscular, emagrecimento ou rejuvenescimento. Toda mulher deve procurar um médico qualificado antes de iniciar qualquer terapia hormonal”, reforça a presidente da FEBRASGO, Dra. Maria Celeste Osorio Wender.

De acordo com as diretrizes internacionais e nacionais, a testosterona só deve ser utilizada em mulheres após a menopausa para tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo, e apenas após uma avaliação completa para descartar outros fatores como alterações hormonais (como o hipoestrogenismo da menopausa, que deve ser tratado antes), depressão, efeitos colaterais de medicamentos, problemas de relacionamento e questões emocionais.

As entidades esclarecem que não há recomendação para o uso de testosterona para ganho de massa muscular, emagrecimento, rejuvenescimento, melhora de disposição ou energia, prevenção de doenças cardiovasculares ou para a chamada "regulação hormonal" na menopausa. O uso de implantes subcutâneos manipulados de testosterona também é desaconselhado, pois não possuem aprovação da Anvisa, apresentam doses imprevisíveis e são associados a riscos aumentados de efeitos colaterais.

Além disso, a dosagem de testosterona no sangue não é necessária na investigação de mulheres com queixa de baixa libido, exceto quando houver suspeita de excesso do hormônio, como nos casos de síndrome dos ovários policísticos ou tumores hormonais. A nota destaca ainda os principais riscos do uso inadequado de testosterona, como excesso de pelos no rosto e corpo, acne, queda de cabelo, alterações nos níveis de colesterol, problemas hepáticos, risco cardiovascular aumentado, engrossamento da voz, desenvolvimento de características masculinas e dependência psicológica.

“Em tempos de pseudociência e divulgação de tantas notícias falsas, errôneas e com informações pela metade, a FEBRASGO reafirma o seu papel na divulgação e na consolidação da informação científica de qualidade”, comenta Dra. Lia Cruz Vaz da Costa Damásio, Diretora de Defesa e Valorização Profissional da FEBRASGO.

O compromisso das entidades é com a saúde da mulher: (1) ressaltar a importância de combater os mitos que circulam nas redes sociais e (2) alertar sobre os reais riscos do uso indiscriminado de testosterona. Mais do que prometer resultados rápidos, o objetivo é garantir qualidade de vida, sempre com segurança e rigor científico.

7 de maio é o Dia Internacional da Luta Contra a Endometriose

Brasil tem 7 milhões de mulheres com endometriose

 

A endometriose faz parte do 62º CBGO, de 14 a 17 de maio no Riocentro

 

“O Brasil tem cerca de 7 milhões de mulheres com endometriose, número que chega a 186 milhões em todo mundo, de acordo com o último censo. A endometriose surge devido a combinação de fatores genéticos e imunológicos. Um mecanismo importante no desenvolvimento da doença é a menstruação retrógrada, quando o fluxo menstrual retorna à cavidade abdominal, permitindo que as células se implantem fora do útero. A dificuldade do sistema imunológico em destruir essas células contribui para a progressão da doença”, explica Dr. Ricardo de Almeida Quintairos, ginecologista e Presidente da Comissão de Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

 

Identificada pelos médicos como a "doença dos seis D's", os sintomas incluem:

 

  • Dismenorreia: dor intensa durante a menstruação;
  • Dispareunia: dor durante a relação sexual;
  • Disquesia: dor ou dificuldade para defecar;
  • Disúria: dor ou dificuldade ao urinar;
  • Dificuldade para engravidar: um dos principais fatores de infertilidade;
  • Dor pélvica crônica: dor constante na região pélvica.

 

A gravidade da endometriose pode ser dividida em dois grandes binômios: a dor e a infertilidade. A dor pélvica é um dos sintomas mais intensos, frequentemente causada por infiltrações nos órgãos próximos ao útero, como o reto, a bexiga, os ovários ou as trompas de Falópio. Essa dor pode ser debilitante e afetar significativamente a qualidade de vida das mulheres. “Por outro lado, a infertilidade também é um sintoma grave da endometriose. Embora algumas mulheres não sintam dor intensa, elas enfrentam dificuldades para engravidar e o diagnóstico da doença vem, muitas vezes, quando a mulher apresenta a dificuldade em conceber”, explica Dr. Quintairos, que vai palestrar sobre o tema durante o 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia – CBGO, que acontece de 14 a 17 de maio, no Riocentro, RJ.

A endometriose é uma doença inflamatória e, como tal, adotar um estilo de vida saudável pode melhorar significativamente a qualidade de vida das mulheres afetadas. Manter-se ativa, praticando exercícios físicos regularmente, evitar o ganho de peso, beber bastante água e reduzir o consumo de substâncias oxidantes, como carnes em excesso e alimentos ricos em açúcar, são estratégias que podem ajudar a controlar o processo inflamatório no corpo. Além disso, seguir uma dieta equilibrada e evitar alimentos que promovem a inflamação contribui para o bem-estar geral.

 

“O tratamento da endometriose deve sempre começar com uma abordagem clínica, o que pode incluir melhorar a dieta ou usar hormônios que inibem a ovulação. Caso o controle da dor e a melhora na qualidade de vida não sejam alcançados, e a paciente continue sofrendo com os sintomas, o tratamento cirúrgico pode ser considerado. A decisão de partir para a cirurgia depende da localização da endometriose, seja no intestino, no peritônio, nos nervos ou nos ovários”, conta Dr. Quintairos.

 

É fundamental destacar que a endometriose, muitas vezes, se apresenta em quadros graves devido à falta de diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais eficaz será o tratamento, evitando que a paciente desenvolva sequelas irreversíveis, como dores crônicas e dificuldades digestivas. O diagnóstico precoce é crucial não apenas para identificar a doença, mas também para impedir que ela se torne grave, minimizando os danos secundários”, comenta o ginecologista.

 

Ele reforça ainda a necessidade de preparação de médicos para o diagnóstico precoce e o esclarecimento para as mulheres portadoras da doença, por meio de palestras e ações de conscientização para que elas possam se familiarizar com os sintomas e compreender a doença. “O objetivo é que as mulheres possam procurar ajuda de forma espontânea e, com isso, reduzir o impacto da endometriose em suas vidas”, finaliza o médico.

 

62º CBGO

Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia

https://cbgo2025.com.br/

#CBGO2025

Data: 14 a 17 de maio de 2025

Local: Riocentro - Av. Salvador Allende, 6555 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ

DIU hormonal ou não hormonal?

Entenda a diferença, os benefícios e as contraindicações

Ao buscar um método contraceptivo eficaz, seguro e de longa duração, muitas mulheres se deparam com uma dúvida comum: qual a diferença entre o DIU hormonal e o DIU não hormonal – e qual deles é o mais indicado para cada perfil? A Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro, Presidente da Comissão Nacional de Anticoncepcionais da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), esclarece os principais pontos que devem ser considerados pelas pacientes e pelos profissionais de saúde na hora da decisão.

“De uma forma simplista, o DIU (Dispositivo Intrauterino) hormonal contém um hormônio chamado levonorgestrel, semelhante à progesterona, que produzimos na segunda fase do ciclo menstrual. Esse hormônio age localmente no útero, reduzindo o fluxo menstrual e, em alguns casos, fazendo com que a mulher pare de menstruar. Já o DIU não hormonal, composto por cobre, não contém hormônios. A diferença principal entre os dois é na alteração que provocam na menstruação, no fluxo menstrual”, explica a especialista.

O mecanismo de ação de cada tipo de DIU também é distinto. No caso do DIU hormonal, uma das características é provocar um espessamento no muco que o colo produz, criando uma barreira à passagem dos espermatozoides e dificultando sua progressão até as trompas. “Esse efeito combinado com a ação hormonal no útero torna o DIU hormonal extremamente eficaz”, afirma a médica.

Já o DIU não hormonal (cobre) atua por meio de uma resposta inflamatória gerada pela presença do metal no útero, que libera substâncias tóxicas aos espermatozoides. “O cobre interfere diretamente na mobilidade espermática, fazendo com que eles não consigam se movimentar de forma eficaz ou até mesmo fiquem imóveis ou morram antes de alcançar o óvulo”, complementa.

Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2022 e 2023, o número de inserções de DIU realizadas nas unidades de atenção primária — como as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) — dobrou, passando de 30 mil para 60 mil procedimentos. Em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que abrange também ambulatórios, policlínicas e hospitais, foram registradas 164,4 mil inserções, o que representa um aumento de 43,6% em comparação com o ano de 2022.

 

Como orientar a escolha

A idade nunca será um fator limitante para nenhum tipo de método contraceptivo isoladamente, só se a pessoa tiver algum problema. A escolha entre os dois métodos deve considerar, sobretudo, o padrão de sangramento e o histórico clínico da paciente. “Mulheres com fluxo menstrual intenso, cólicas, endometriose, ovários policísticos ou que estão no climatério (normalmente a partir dos 45 anos) tendem a se beneficiar mais do DIU hormonal, que reduz o sangramento e protege o endométrio. Já o DIU de cobre pode ser uma opção viável para mulheres que menstruam pouco e não desejam utilizar hormônios, desde que não tenham contraindicações específicas”, explica Dra. Ilza.

 

Contraindicação

Mulheres que apresentam malformações uterinas não estão aptas a utilizar o dispositivo intrauterino (DIU). Da mesma forma aquelas que possuem miomas localizados na cavidade interna do útero – denominados submucosos – somente podem recorrer ao uso do DIU após a remoção dessas formações. “Esses miomas costumam provocar sangramentos intensos. Por esta razão, é comum realizarmos a sua retirada por meio de histeroscopia para procedermos com a inserção do DIU”, esclarece Dra. Ilza.

Além disso, mulheres diagnosticadas com câncer de mama não devem utilizar o DIU hormonal, sendo indicado, nesses casos, exclusivamente o DIU não hormonal.

 

Mitos e eficácia

Um dos principais mitos que ainda afasta algumas mulheres do uso do DIU é a ideia de que esse dispositivo falha com frequência. “Quando uma mulher engravida usando pílula, muitas vezes isso é atribuído ao esquecimento. Já com o DIU, como ele é um método inserido e contínuo, qualquer falha é atribuída diretamente a ele, o que gera uma falsa percepção de baixa eficácia. Mas os dados mostram o contrário: enquanto a taxa de falha da pílula é de cerca de 80 mulheres a cada mil por ano, o DIU apresenta falha em apenas 2 a 3 mulheres a cada mil”, explica a ginecologista.

 

Indicações específicas

De acordo com a médica, mulheres que passaram por cirurgia bariátrica, por exemplo, têm absorção reduzida de ferro e não devem ter perdas menstruais significativas – tornando o DIU hormonal a melhor escolha. Já mulheres jovens, com queixas frequentes de cólicas, também podem ter melhora significativa da qualidade de vida com o uso deste dispositivo.


“O importante é compreender o contexto clínico de cada paciente. Mulheres climatéricas, por exemplo, podem se beneficiar bastante do DIU hormonal, especialmente para controle de sangramentos irregulares. Ademais, o dispositivo também pode ser utilizado como proteção endometrial durante a reposição hormonal na pós-menopausa.

A Dra. Ilza reforça que, apesar das diferenças, ambos os tipos de DIU são métodos altamente seguros, eficazes e duradouros. “A escolha deve ser baseada no perfil da paciente, nos sintomas apresentados, no padrão menstrual e nas contraindicações específicas. Com a orientação correta, é possível encontrar o método que trará mais conforto, segurança e qualidade de vida à mulher”, finaliza.

Asma e gravidez: Até 40% das gestantes com asma podem apresentar piora clínica

Manter o tratamento iniciado 12 meses antes da concepção pode evitar crises graves

Crises de asma na gestante podem aumentar a incidência de malformações congênitas 

Cerca de 30 a 40 % das pacientes com asma podem apresentar piora clínica durante a gestação. Destas, 20% a 25 % terão exacerbação aguda. Os fatores de riscos, que podem contribuir para a piora clínica da gestante com asma, segundo Dra. Sara Toassa Gomes Solha, especialista em Obstetrícia e Gestação de Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), são o tabagismo, a obesidade, a multiparidade e alterações emocionais (depressão∕ansiedade). Mulheres negras apresentam maior prevalência de asma.

“Outra situação importante é o descontinuamento das medicações outrora em uso, logo no início da gravidez. Tal comportamento pode ser motivado por receio da paciente de algum tipo de agravo ao bebê ou mesmo por orientação equivocada do médico assistente. Desta forma, observa-se que o segundo trimestre é o momento em que, em função da privação medicamentosa desde o início da gestação, a piora clínica se faz mais evidente”, explica a especialista. Para se ter um bom controle da asma durante a gestação é importante que a paciente tenha mantido o tratamento indicado pelo seu médico nos últimos 12 meses que antecedem a concepção.

Os sinais de alerta de uma crise de asma durante a gravidez

Durante a gestação há alterações fisiológicas. A progesterona estimula o centro respiratório promovendo aumento da frequência respiratória. “A gestante desenvolve um status de alcalose respiratória leve ao longo de toda a gestação, com níveis discretamente mais altos de PO2 (pressão parcial de oxigênio que indica o percentual de oxigênio que está livre no sangue) e discretamente mais baixos de PCO2. A progesterona promove ainda expiração mais prolongada dando, por vezes, a impressão subjetiva de dispneia ou esforço ventilatório”, conta Dra. Sara.

Segundo a médica da FEBRASGO, essas alterações adaptativas precisam ser consideradas e diferenciadas de possíveis momentos de broncoespasmos não exacerbados (manifestações mais leves da asma).

No entanto, os sinais de exacerbação aguda (sinais de alarme) são os mesmos da não gestante: sibilância expressiva (inspiratória e∕ ou expiratória), dispneia progressiva podendo se manifestar em pequenos esforços ou ao falar, aumento da frequência respiratória e da frequência cardíaca, desconforto ou mesmo agitação quando em posição deitada (uso de musculatura acessória).

“É extremamente importante o entendimento de que a maioria dos medicamentos de uso rotineiro para a asma são seguros para uso na gestação. O corticoide inalatório é a base da terapia atualmente mais indicada. O tratamento na gestante é semelhante ao realizado em não gestantes com mínimas particularidades. A recomendação mais importante é não interromper os medicamentos já em uso”, alerta Dra. Sara Toassa Gomes Solha, que será palestrante durante o 62º CBGO - Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, que acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Riocentro, RJ.

Dentre os imunobiológicos, o anticorpo monoclonal omalizumabe (anti IgE) tem indicação para uso na gestação. “No entanto, é reservado para casos classificados na etapa V, que são os com manifestações mais graves. Está indicado principalmente na asma eosinofílica grave. As pacientes que, previamente à concepção, já fazem uso do omalizumabe podem, após decisão compartilhada e individualizada, manter o uso durante a gestação. No entanto, não se recomenda o início da terapia durante a gravidez”, conta a palestrante do 62º CBGO.

Riscos para o bebê - O principal risco das crises recorrentes devido à doença mal controlada é o aumento da incidência de malformações congênitas musculoesqueléticas, gastrointestinais e cardíacas do feto. Outros resultados adversos deste descontrole são: abortamento, prematuridade e restrição de crescimento intrauterino.

“Ressalto que o controle prévio à concepção e a manutenção das medicações em uso são fatores determinantes na prevenção de crises durante a gestação. Por isso, é importante esclarecer à gestante todos os pontos a fim de promover maior adesão ao tratamento da asma”, comenta Dra. Sara.

A médica aponta ainda que a gestante deve ser orientada sobre o uso adequado dos dispositivos inalatórios e a não exposição a fatores desencadeantes (pólen, poeira, pelos de animais, mudanças climáticas etc.). “O tabagismo (passivo ou ativo) precisa ser evitado. Se presentes, a rinite alérgica e o refluxo gastroesofágico devem ser tratados e a vacinação contra Influenza deve ser recomendada”, orienta a palestrante do 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia.

 

Trato genital inferior pode ser a porta de entrada para o diagnóstico e acolhimento de mulheres vítimas de violência

“Ao enxergar para além do exame físico, oferecemos cuidado integral e esperança às mulheres em situação de vulnerabilidade”, afirma presidente da FEBRASGO

 

Quando se fala em saúde da mulher, algumas áreas permanecem, ainda hoje, à margem do debate público. Uma delas é o trato genital inferior – composto pela vulva, vagina, colo do útero e suas estruturas adjacentes. Essa região do corpo feminino, além de demandar atenção clínica, pode ser também um importante ponto de alerta para identificar sinais de violência doméstica.

 

Segundo o Atlas da Violência 2024, mais de 116 mil casos de agressões contra mulheres ocorreram dentro de casa em 2022. Dados como esses reforçam a necessidade de um olhar mais atento e humanizado por parte dos profissionais de saúde, especialmente ginecologistas e obstetras.

 

Diante desse cenário, a FEBRASGO lança a Campanha Nacional #EuVejoVocê - Pelo fim da violência contra a mulher em todas as fases da vida, em parceria com as Sociedades Estaduais de Ginecologia e Obstetrícia. A iniciativa visa ampliar o debate sobre todas as formas de violência que acometem mulheres – desde a infância até a velhice – incluindo -, ainda, os episódios de violência sofridos por médicas em exercício profissional.

 

Para a Dra. Maria Celeste Osório Wender, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), é papel da ginecologia ir além da técnica: “Nós devemos agir e amparar as mulheres na identificação da violência e na capacitação para as tomadas de decisões. O conhecimento permite que o médico atue, desde a escuta adequada, o acolhimento, notificação, registro, acompanhamento e encaminhamento articulado e intersetorial”, afirma.

 

A violência doméstica, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma grave violação dos direitos humanos e um problema de saúde pública, manifesta-se em diferentes formas: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. No contexto ginecológico, sinais como dor persistente durante o exame de toque, lesões repetidas na vulva e na vagina, sangramentos inexplicáveis, infecções recorrentes e até o medo ou recusa em se despir para uma avaliação podem indicar mais do que uma condição clínica: podem ser vestígios de agressão sexual ou emocional.

 

Estudos apontam que mulheres em situação de violência tendem a buscar mais serviços de saúde do que aquelas que não sofrem agressões. No entanto, a falta de preparo de parte dos profissionais ainda é um entrave. Capacitações, protocolos de escuta ativa e parcerias com redes de proteção são essenciais para que o atendimento vá além do exame clínico.

 

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 revelam um crescimento expressivo nos casos de importunação sexual (+48,7%), violência psicológica (+33,8%) e violência doméstica (+9,8%) em relação ao ano anterior. O relatório aponta que um estupro é registrado a cada seis minutos no país, sendo que 88,2% das vítimas são do sexo feminino e 61,6% têm até 13 anos de idade.

 

É fundamental compreender que o ciclo de violência contra a mulher só será rompido com a atuação de uma rede articulada, comprometida e preparada. Neste sentido, os consultórios ginecológicos tornam-se espaços privilegiados de acolhimento. “Cada consulta ginecológica é uma oportunidade de salvar uma vida. Ao enxergar para além do exame físico, oferecemos cuidado integral e esperança às mulheres em situação de vulnerabilidade”, explica a Dra. Maria Celeste, que também preside a Comissão de Núcleo Feminino da FEBRASGO.

1º de maio – Dia do Trabalho: Os desafios invisíveis do retorno ao trabalho após a licença-maternidade

Conheça as dicas da especialista para conciliar trabalho e aleitamento materno

Como identificar sinais de ansiedade, culpa ou tristeza nesse período

 

“A licença-maternidade não é apenas um período de afastamento do trabalho, mas um momento de transformação profunda na vida da mulher. Ela passa por diversas mudanças físicas, emocionais e sociais, e o retorno ao trabalho exige uma adaptação não apenas ao ambiente profissional, mas à sua nova realidade de mãe”, diz a Dra. Maria Auxiliadora Budib, médica ginecologista e obstetra e vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Infelizmente, muitas vezes as mães são vistas de forma diferente no ambiente de trabalho após a licença maternidade. Há um estigma relacionado à ideia de que essas mulheres podem não estar tão comprometidas ou disponíveis quanto antes da licença.

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 48% das mulheres perdem o emprego até 12 meses após o término da licença-maternidade. “Isso tem um impacto e é uma violência velada que pode trazer consequências na saúde da mulher e na saúde social.  Estudos apontam que metade das mulheres deixa o mercado de trabalho um ano após o início da licença-maternidade, muitas vezes devido à dificuldade de conciliar as responsabilidades profissionais e familiares”, conta a Dra. Maria Auxiliadora, que ministrará aula durante o 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, que será realizado no Rio de Janeiro entre os dias 14 e 17 de maio. Conheça a programação aqui.

Na entrevista a seguir, a vice-presidente da Febrasgo comenta estratégias que podem ser adotadas pelas mulheres e empresas no retorno ao trabalho.

Como conciliar a amamentação com a rotina de trabalho presencial?

Dra. Maria A. Budib - É fundamental que a mãe se sinta confortável para comunicar suas necessidades ao gestor em seu retorno ao trabalho. Isso inclui explicar as demandas da amamentação e como isso pode ser conciliado no dia a dia profissional. Precisamos avançar para que esse assunto seja abordado naturalmente e criar espaços em políticas públicas; porque uma criança que é amamentada tem melhor imunidade, menor incidência de problemas de saúde e a mulher que recebe a ponte para a possibilidade de manter a amamentação, terá também menor taxa de absenteísmo e mais saúde física e mental.

 

Quais estratégias podem ser usadas para minimizar o impacto da separação entre mãe e bebê, especialmente quando o bebê ainda está em aleitamento materno exclusivo?

Dra. Maria A. Budib – Cito algumas, como:

 

  • Utilizar bombinha para retirar o leite durante o expediente e armazená-lo adequadamente.
  • Ter um local limpo, seguro e reservado na empresa para ordenha.
  • Estabelecer horários fixos para a retirada do leite ajuda a manter a produção.
  • Licença ampliada ou trabalho híbrido/flexível (quando possível) para manter o aleitamento direto por mais tempo.

 

Quando a mãe e o bebê estiverem juntos, gosto de pontuar as seguintes recomendações:

 

  • Amamentação em livre demanda.
  • Contato pele a pele sempre que possível, que pode ajudara fortalecer o vínculo mesmo após o retorno ao trabalho.
  • Introdução gradual do cuidador para que o bebê se acostume aos poucos com a nova rotina e pessoa de cuidado.
  • Manter objetos com cheiro da mãe pode trazer conforto para o bebê. A memória olfativa é real.

 

Quais dicas podem ajudar as mães a manter a produção de leite materno após o retorno ao trabalho?

Dra. Maria A. Budib – São elas:

 

  • Ordenhar regularmente, mesmo sem o bebê por perto.
  • Beber bastante água e manter uma alimentação equilibrada.
  • Evitar longos intervalos entre as ordenhas.
  • Tentar descansar sempre que possível (mesmo que difícil).
  • Manter o contato direto com o bebê fora do horário de trabalho para estimular a produção.

 

Quais são os principais impactos emocionais e psicológicos que a mãe pode sentir ao retornar ao trabalho?

Dra. Maria A. Budib - O sentimento de inadequação, como se não estivesse “100% em lugar nenhum” é o lugar de fala da mulher em seu retorno às atividades profissionais.  Ao mesmo tempo que reconhece a importância do seu trabalho, o investimento que fez em sua carreira, a diferença que também sua renda faz na vida da sua família; a maioria se sente dividida e não inteira. No Brasil, onde as políticas do cuidado da família são potencialmente femininas, onde a licença paternidade não condiz com a importância do homem na divisão de trabalho com a criança (em países desenvolvidos há opção de escolha e apoio para que as tarefas sejam compartilhadas); o retorno ou o não retorno involuntário ao trabalho contribuiu para o aparecimento de sintomas de ansiedade e depressão.

 

Como identificar sinais de ansiedade, culpa ou tristeza nesse período?

Dra. Maria A. Budib - As “pistas” são grandes. Quem observa a mulher em sua totalidade consegue ver claramente os sinais. Às vezes, a própria mulher não identifica, pois está em um momento totalmente voltado a olhar a criança (ou as crianças) e não consegue voltar o olhar para si mesma. Precisamos falar sobre “o retorno” desde o pré-natal assim como falamos de nutrição, atividade física, exames de rotina, vacina.

Destaco alguns sinais de alerta:

 

  • Choro frequente e sensação de angústia.
  • Dificuldade para dormir, mesmo com o bebê dormindo.
  • Pensamentos recorrentes de culpa ou inadequação.
  • Irritabilidade, perda de apetite ou apatia.
  • Desinteresse em atividades que antes eram prazerosas.
  • Sentimento de culpa com o bebê.

 

De que forma familiares, amigos e empresas podem apoiar a mulher nesse momento de transição?

Dra. Maria A. Budib - Nas empresas o letramento de lideranças para acolher a parentalidade é uma estratégia essencial para construir ambientes corporativos mais inclusivos e humanos. Trata-se de educar líderes e gestores sobre os desafios e necessidades de colaboradores que são pais e mães — não apenas no retorno da licença, mas em todas as fases da jornada parental. Essencial humanizar esse processo. Promover uma cultura que valorize a parentalidade sem prejuízo à carreira trará indicadores sociais, econômicos e orçamentários à própria empresa. Pais e mães que se sentem valorizados e compreendidos são talentos que a empresa retém e que com certeza contribui para o crescimento de todos.

Empatia e escuta ativa com colaboradores em licença ou em retorno é pauta inadiável. Os líderes também precisam conhecer a legislação trabalhista relacionada à parentalidade. No “dashboard” precisamos falar sobre a flexibilidade como ferramenta de gestão: horários, entregas, remoto/híbrido e sobretudo desconstruir estigmas: “mães são menos comprometidas”, e também a bandeira “pais também cuidam”.

As empresas precisam estar alertas às mães que enfrentam situações de microagressões no ambiente de trabalho após o retorno, como piadas sobre a ausência durante a licença maternidade ou pressões para “compensar” o tempo que estiveram fora. As áreas de compliance já olham para isso, mas é necessário educar sempre os colaboradores e colaboradoras para o entendimento de suas atitudes.

A família é uma grande força na rede de apoio. Cabe não julgar e não trazer “verdades” sobre como a mãe deve conduzir seu processo de retorno. Evite dar opiniões. Troque sua opinião pela ajuda que a mãe e o pai precisam. Cada ato de cuidado e apoio traz saúde a todos. Uma mãe bem cuidada, um bebê bem cuidado. Ofereça ajuda. Evite conflitos. Escute a mãe! Na jornada da obstetrícia sabemos que o curso de gestantes, preparo ao parto seguro, informações de amamentação são de grande valia. Que tal incluir desde o pré-natal um momento de diálogo sobre o retorno ao trabalho? Certeza que vai ser transformador!

 

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