EPISÓDIO 13 - COMO FICA A QUESTÃO DAS CIRURGIAS MAMÁRIAS ESTÉTICAS E A INTERFERÊNCIA NA AMAMENTAÇÃO?
MODERADORA: SILVIA REGINA PIZA, PARTICIPANTES: DRA MAYKA SANTOS VELLO E DR. ANTONIO FERNANDES LAGES
Junho Vermelho – Riscos na gravidez: especialista alerta para sinais de trombose, embolia e hemorragias
Junho vermelho, mês da conscientização sobre a doação de sangue: até 2% das pacientes podem ter hemorragias graves que exigem transfusão
A trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar são condições potencialmente fatais e representam um risco aumentado durante a gravidez, especialmente no puerpério. “O índice de letalidade da embolia pulmonar chega a 15%. Por isso, é melhor pensar em prevenção”, alerta Venina Isabel P. V. Leme de Barros, Presidente da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Os sinais de trombose incluem inchaço súbito, dor e vermelhidão em uma das pernas, geralmente a esquerda, com aumento de mais de dois centímetros na circunferência em comparação com a outra perna. Já os sinais de embolia pulmonar envolvem falta de ar, escarro com sangue, dor torácica e dispneia – sintomas que exigem atendimento médico imediato.
A médica explica que a avaliação de risco para trombose deve começar já na primeira consulta do pré-natal, com uma avaliação detalhada. “É importante identificar pacientes com histórico de trombose venosa, uso de anticoncepcionais ou hormônios, doenças graves como diabetes tipo 1, nefropatia, anemia falciforme ou cardiopatias. Pacientes que passaram por fertilização in vitro e tiveram síndrome de hiperestímulo ovariano também têm risco elevado nos três primeiros meses.”
Existem escores clínicos, e quando o risco é superior a 6%, está indicado o uso de heparinas de baixo peso molecular. “É a medicação utilizada no pré-natal para prevenção da trombose em pacientes de alto risco”, afirma a especialista.
Sangramentos necessitam de acompanhamento constante - Sangramentos durante a gestação, embora mais comuns no primeiro trimestre, podem ocorrer em qualquer fase e precisam de investigação imediata. “No primeiro trimestre, os abortamentos são a principal causa e podem afetar até 30% das gestantes, sendo que algumas apresentam hemorragia e risco de anemia”, explica a ginecologista.
No segundo trimestre, os sangramentos são mais raros – atingem menos de 1% das gestantes – e podem estar relacionados a placenta baixa ou colo uterino curto. Nesses casos, o ultrassom é fundamental para avaliar a localização da placenta e indicar a conduta apropriada.
Já no terceiro trimestre, as causas de sangramento incluem placenta prévia, descolamento prematuro da placenta e ruptura de vasa prévia (condição rara em que os vasos do cordão umbilical ficam desprotegidos). “Todas essas situações têm em comum a posição da placenta e, frequentemente, estão associadas a hipertensão na gestação”, completa.
No pós-parto, os riscos se intensificam. “Até 2% das pacientes podem ter hemorragias graves que exigem transfusão. Já sangramentos moderados ocorrem em até 10% dos casos”, diz Dra. Venina. Os principais fatores de risco são gravidez de gêmeos, fetos grandes e excesso de líquido amniótico (polidrâmnio), frequentemente relacionado ao diabetes gestacional. A atonia uterina (falha na contração do útero após o parto) é a principal causa de hemorragia pós-parto.
“É fundamental avaliar objetivamente a paciente com hemograma e ferritina. Ter uma boa reserva de ferro é essencial para que, em caso de sangramento, a paciente suporte a perda sem complicações graves”, ressalta.
Protocolo Febrasgo na hospitalização das gestantes - A Febrasgo disponibiliza um protocolo específico de avaliação de risco trombótico, acessível aos profissionais de saúde. Se o escore da paciente ultrapassar três pontos ou indicar mais de 6% de risco, é recomendada a profilaxia com enoxaparina por 15 dias após o parto. Pacientes de altíssimo risco, como as que já tiveram trombose, podem necessitar da medicação por até seis semanas.
Além da medicação, medidas mecânicas como uso de meias elásticas, compressores vasculares, mobilização precoce e exercícios são fundamentais. “A melhor forma de prevenção da trombose no pré-natal e no pós-parto é manter atividade física regular, boa hidratação, evitar ganho de peso excessivo e parar de fumar”, orienta a médica.
Ela ainda explica que a anticoagulação não contraindica o parto vaginal. “Se a paciente estiver em uso de anticoagulante, basta suspender a medicação 12 horas antes. Mesmo se ela entrar em trabalho de parto espontâneo, é possível aguardar e realizar o parto vaginal com segurança.”
O sucesso da gestação depende de um pré-natal cuidadoso, com exames regulares, escuta atenta da paciente e planejamento. “Toda gestante merece ser avaliada quanto ao risco de anemia e trombose logo na primeira consulta. A medicina preventiva é a nossa maior aliada para proteger a saúde materna e garantir um parto seguro”, finaliza Dra. Venina.
Cerca de 23% das brasileiras sentem dor durante a relação sexual
“A dor genitopélvica à penetração é uma queixa comum entre mulheres, mas ainda cercada de silêncio, estigma e desinformação. Dados globais indicam que a dor durante as relações ocorre em cerca de 8% a 21% das mulheres. Essa condição pode afetar profundamente a qualidade de vida, a autoestima e os relacionamentos afetivo-sexuais delas”, declara Dra. Jussimara Souza Steglich, membro da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
A dor genitopélvica à penetração é uma dor persistente ou recorrente que ocorre durante tentativas de penetração vaginal, seja no sexo, no uso de absorventes internos ou durante exames ginecológicos. Ela é uma das manifestações da disfunção sexual feminina e pode ocorrer em qualquer idade.
A dor genitopélvica pode ser classificada conforme sua origem, localização e características clínicas. Os principais tipos incluem:
- Dispareunia: dor genital associada especificamente ao ato sexual com penetração, podendo ser superficial (na entrada da vagina) ou profunda (durante a penetração total ou em determinadas posições).
- Vaginismo: contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico, que dificulta ou impossibilita a penetração.
- Vulvodínia: dor crônica na região vulvar, sem causa identificável, frequentemente associada à hipersensibilidade ao toque ou pressão.
“A dor pode ter causas físicas como infecções, atrofia vaginal, endometriose, cicatrizes pós-parto ou alterações hormonais e/ou causas psicossociais, como ansiedade, histórico de abuso sexual, educação sexual repressora ou experiências sexuais negativas. Muitas vezes, é uma condição multifatorial e exige avaliação cuidadosa”, explica a ginecologista.
Ela reforça que o impacto da dor genitopélvica ultrapassa a esfera física, atingindo os aspectos afetivos (conflitos conjugais, afastamento emocional, medo da intimidade), psicológicos (vergonha, autoestima baixa, depressão, ansiedade) e a sexualidade (evitação da atividade sexual, queda do desejo, anorgasmia).
“O sofrimento não é apenas físico: muitas mulheres relatam sentir-se ‘quebradas’ ou ‘inadequadas’, o que pode comprometer gravemente sua saúde mental”, alerta Dra. Jussimara.
O tratamento passa por uma abordagem integrada e individualizada, incluindo: (1) a psicoeducação e o aconselhamento sexual (fundamentais para desfazer mitos e melhorar o autoconhecimento), (2) a fisioterapia do assoalho pélvico (para reeducação muscular e alívio da dor), (3) as terapias psicológicas (como a terapia cognitivo-comportamental ou terapia focada em sexualidade), (4) o tratamento médico (incluem lubrificantes, uso de estrogênios vaginais em casos de atrofia, anticonvulsivantes ou antidepressivos para dor crônica e, em alguns casos, bloqueios anestésicos), e a (5) dilatação vaginal graduada (no tratamento do vaginismo).
“A escolha do tratamento depende da causa e da intensidade dos sintomas, mas o pilar central é sempre o respeito à vivência e ao ritmo da mulher. Falar sobre dor à penetração é um passo essencial para combater o tabu e garantir que mais mulheres recebam diagnóstico e tratamento adequados. O reconhecimento dessa dor como legítima e tratável pode mudar vidas e relacionamentos”, conclui a ginecologista.
Junho Laranja – Gravidez com segurança: ginecologistas alertam para os cuidados em casos de leucemia e anemia na gestação
A gestação é um período de intensas transformações no corpo da mulher e requer atenção redobrada, especialmente em situações de saúde que demandem acompanhamento especializado. A leucemia e a anemia representam desafios relevantes e exigem protocolos específicos de cuidados, segundo especialistas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Leucemia na gestação - A leucemia, especialmente em suas formas agudas, pode impactar significativamente a saúde materno-fetal. “Durante a gestação, os quimioterápicos utilizados no tratamento da leucemia podem prejudicar o crescimento fetal, causar prematuridade, mielossupressão fetal (diminuição da atividade da medula óssea), além de aumentarem o risco de infecções, anemia e sangramentos na mãe”, explica a Dra. Ana Maria Kondo Igai, membro da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher da FEBRASGO.
Em casos de leucemia mieloide crônica (tipo de câncer que acomete a medula óssea), a abordagem terapêutica costuma envolver a suspensão da medicação e o monitoramento rigoroso até o parto, uma vez que os medicamentos usados nesse tipo de tratamento são contraindicados durante a gestação.
Tanto em pacientes com a doença ativa quanto em remissão, o pré-natal deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, composta por hematologistas, obstetras especializados em gestação de alto risco, neonatologistas e psicólogos. “O grande desafio, especialmente nos casos de leucemia aguda, é equilibrar o bem-estar da mãe e do bebê, garantindo um acompanhamento que permita decisões seguras sobre a continuidade da gestação, o tratamento e o momento ideal para o parto”, afirma a médica.
Se a gravidez ocorrer após a remissão da doença, o acompanhamento deve ser ainda mais criterioso. “O ideal é aguardar pelo menos dois anos após o término da quimioterapia, período em que há maior risco de recidiva. Nesses casos, o pré-natal precisa avaliar a saúde reprodutiva da mulher e possíveis sequelas causadas pelo tratamento oncológico”, completa Dra. Ana Maria.
Casos de anemia - Outro ponto de atenção durante a gestação é a anemia, uma das complicações mais comuns no período. De acordo com a Dra. Venina Isabel P. V. Leme de Barros, Presidente da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher da FEBRASGO, “até 25% das gestantes podem apresentar deficiência de ferro ou desenvolver anemia”.
O pré-natal deve incluir a suplementação de ferro de forma rotineira. “A dose recomendada varia entre 30 a 40 miligramas diárias, como medida preventiva”. Já na primeira consulta pré-natal, é essencial solicitar um hemograma completo e a dosagem de ferritina para triagem da doença. Mesmo na ausência de anemia, esses exames devem ser repetidos ao menos uma vez a cada trimestre.
Caso a anemia seja diagnosticada, o monitoramento deve ser intensificado, com repetição dos exames a cada 60 dias. “Os sintomas nem sempre são evidentes. Sinais como palidez e taquicardia podem passar despercebidos ou ser confundidos com outras alterações próprias da gravidez. Por isso, a prevenção e o acompanhamento regular são fundamentais”, reforça a especialista.
Tanto nos casos de doenças oncológicas quanto em situações mais comuns como a anemia, o acompanhamento pré-natal qualificado e personalizado é decisivo para a saúde da mãe e do bebê. Com diagnóstico precoce, atenção multidisciplinar e intervenções adequadas, é possível garantir uma gestação mais segura, mesmo diante de cenários clínicos desafiadores. “O diálogo constante entre paciente e equipe médica é a base de decisões conscientes e cuidadosas”, finaliza a médica.