Mudanças climáticas podem aumentar a demanda pela doação de leite humano
19 de maio é o Dia Nacional de Doação de Leite Humano
“A questão da doação de leite humano sempre foi relevante, porém com as mudanças climáticas dos tempos atuais (enchentes, deslizamentos) pode ocorrer a falta deste alimento para os bebês das populações vulneráveis, pois a mãe pode estar impedida de fazer o aleitamento. Isso é grave, pois acaba elevando a mortalidade neonatal”, ressalta Dra. Silvia Regina Piza, ginecologista e Assessora da Diretoria Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
O Brasil é referência sobre o tema. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2024, foram coletados 245,7 mil litros de leite humano, graças à contribuição de 193 mil mulheres lactantes, beneficiando 219,3 mil recém-nascidos.
A doação de leite humano para bebês prematuros ou de baixo peso e que ficam internados nas Unidades de Terapia Intensiva por muito tempo, é essencial. O leite humano estimula a formação do microbioma intestinal dessas crianças, é rico em nutrientes e micronutrientes que são adequados nessa fase da vida. De acordo com especialistas, é muito mais saudável ao bebê prematuro que esteja em UTI - e cuja mãe está impossibilitada de amamentar - receber o leite humano do banco de leite do que fórmulas lácteas.
A Dra. Silvia explica que a maioria das mulheres pode ser doadora de leite humano, desde que estejam saudáveis, ou seja, sem nenhuma contraindicação médica, e que tenham uma produção de leite além da suficiente para o seu bebê.
“Antes da doação, essas mulheres passam por processo de seleção, anamnese, exame físico, histórico e sorologia, porque elas não podem ter doenças infectocontagiosas, que eventualmente prejudiquem ou que sejam transmitidas através do leite”, comenta a ginecologista. Essas mães doadoras de leite também não podem ser usuárias de medicamentos contraindicados para o aleitamento materno, tampouco terem histórico de serem usuárias de drogas ilícitas ou alcoolismo.
O processo de doação envolve a coleta por meio de bombas, com a higienização e assepsia adequadas. Antes do armazenamento, o leite humano para doação é submetido a um processo como o de pasteurização, para destruir eventuais microorganismos. Posteriormente, esse leite é aquecido numa temperatura de 62,5 graus, por um tempo mínimo de 30 minutos, sendo então resfriado e armazenado para ser disponibilizado.
“Para mulheres que desejam doar, aconselhamos que busquem os postos de coleta (bancos de leite) em suas cidades, pois nesses locais há pessoas especializadas para orientá-las durante as dificuldades eventuais que acontecem no aleitamento”, reforça Dra. Silvia.
Benefícios para doadora - a mulher que doa o leite tem o benefício de manter o fluxo e funcionamento da produção e da saída do leite da mama, sustentando o aleitamento em si. O aleitamento pode prevenir doenças nas mulheres, como o câncer de mama.
Maio Laranja: violência sexual contra crianças e adolescentes exige resposta urgente e multidisciplinar
18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
A violência contra crianças e adolescentes é uma das mais graves violações dos direitos humanos e da saúde pública – conforme reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de um fenômeno complexo, que ultrapassa aspectos sociais, exigindo uma ação conjunta do Estado, das famílias e da sociedade civil.
De acordo com o Ministério da Saúde (2015), a violência sexual é a infração dos direitos sexuais no sentido de abusar ou explorar o corpo e a sexualidade de crianças e adolescentes. Está dividido em duas categorias: abuso sexual e exploração sexual.
O abuso sexual refere-se à prática de atos sexuais por um adulto ou alguém com mais idade, com o intuito de obter satisfação sexual, como ou sem contato físico, com ou sem uso da força – a partir da confiança que se estabelece com a vítima. Pode incluir desde palavras obscenas, beijos forçados, carícias nas partes íntimas ou outras formas de contato físico com intenções sexuais.
Já a exploração sexual consiste na utilização de crianças ou adolescentes para fins sexuais, mediante pagamento ou troca de favores – sendo caracterizada por práticas como prostituição infantil, pornografia, tráfico de pessoas e turismo sexual. Neste caso, a vítima é duplamente agredida: pela exploração do corpo e pela prática de abuso sexual.
Para Dr. Olímpio Barbosa de Moraes Filho, médico ginecologista e Vice Presidente da Região Nordeste da FEBRASGO, “O mais triste de quando se trata de criança e adolescente é que, em torno de 70 a 80% do casos, são praticados por familiares ou por pessoas que deveriam protegê-las”.
Vale ressaltar que a violência sexual não exige contato físico para ser configurada. A exposição a conteúdos pornográficos, aliciamento on-line ou qualquer tipo de contato obsceno, entre outras ações, podem configurar violência sexual e gerar impactos no desenvolvimento físico, emocional e psicológico das vítimas.
Dados de violência sexual na Bahia e Pernambuco
Os números mais recentes reforçam a urgência de tratar o tema. De acordo com a Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (SOGIBA), somente em 2023, foram notificados 5.024 casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes. A maioria das vítimas é do sexo feminino, com idades entre 10 e 14 anos, e, em cerca de 68% dos casos, o abuso ocorreu no ambiente familiar – tendo como agressores pessoas próximas como pais, padrastos, tios e avôs.
Em Pernambuco o cenário não é diferente. Conforme dados fornecidos pela Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Pernambuco (SOGOPE), somente no primeiro trimestre de 2024, foram registrados 1.716 casos – o levantamento foi realizado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e compilados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Crianças entre 5 e 14 anos somam grande parte das vítimas, sendo que 87,6% são meninas. A pesquisa também aponta que a maioria dos casos ocorrem na própria casa.
O perfil dos abusadores também chama a atenção: em 22,6% dos casos, os agressores são amigos ou conhecidos das vítimas – pais e padrastos aparecem em 21,8% dos registros. A violência sexual, muitas vezes, silenciosa e prolongada, caracterizando um ciclo de medo e culpa por parte de quem sofreu a agressão.
Outro dado alarmante é a condição racial: 77,8% das vítimas, em Pernambuco, são negras (68% pardas e 9,70% pretas) – fato que evidencia como as desigualdades estruturais podem impactar a vulnerabilidade de meninas e meninos negros.
Atenção humanizada
Para romper o ciclo da violência, é fundamental um atendimento humanizado e multidisciplinar. A Norma Técnica do Ministério da Saúde orienta que o acolhimento seja feito por equipes formadas por profissionais capacitados - psicólogos, assistentes sociais, médicos e enfermeiros - com escuta qualificada, privacidade e empatia.
É essencial que as unidades de saúde disponham de protocolos bem definidos, ambiente protegido, prontuário único e articulação com os serviços de proteção social, educação e justiça. A abordagem deve garantir o suporte necessário à recuperação física e emocional das vítimas.
Prevenção, denúncia e responsabilidade coletiva
Além do atendimento às vítimas, a prevenção é um dos pilares mais importantes no enfrentamento à violência sexual. Campanhas educativas, formação de profissionais da saúde e da educação, acompanhamento de crianças em situação de vulnerabilidade e promoção de ambientes seguros nas escolas e comunidades são estratégias indispensáveis.
A notificação de casos é obrigatória por todos os profissionais de saúde, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) e a Lei nº 10.778/2003. A Portaria GM/MS nº 1.271, de 2014, garante que esses casos sejam tratados com prioridade absoluta.
Compromisso com a infância
A violência sexual contra crianças e adolescentes demanda uma resposta firme e contínua da sociedade. A responsabilização dos agressores, o rompimento do silêncio e a promoção de ambientes são indispensáveis. É dever de todos – familiares, escola, profissionais e gestores públicos. O compromisso visa garantir direitos fundamentais aos menores – bem como o desenvolvimento pleno e à proteção contra todas as formas de abuso.
Dia Internacional contra a LGBTfobia: Cuidados específicos não correspondem à distinção discriminatória
17 de maio - Dia Internacional contra a LGBTfobia: Ginecologista dá dicas sobre abordagem acolhedora no consultório para população LBGTQIAPN+
“Quando falamos de LGBTfobia, falamos de discriminação, preconceito e de uma violência sofrida por uma população devido a sua identidade de gênero ou orientação afetivo-sexual. Agora imagine viver sob constante medo de ser estigmatizado, rejeitado ou mesmo agredido. Com certeza essas situações vão gerar impactos profundos tanto na saúde emocional quanto na saúde sexual dessas pessoas”, declara Dr. Eduardo Siqueira Fernandes, ginecologista membro da Comissão Nacional Especializada de Sexologia, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
A saúde emocional desta população sofre impactos importantes, assim como a saúde sexual: muitas pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ se afastam do serviço de saúde com medo de sofrerem discriminações. “Isso prejudica ações de saúde essenciais, vulnerabilizando mais ainda essas pessoas e impedindo que elas acessem programas de prevenção, diagnóstico e tratamento, por exemplo, de infecções sexualmente transmissíveis, aqui incluindo HIV, sífilis e outras”, explica o ginecologista.
Além disso, segundo ele, há uma profunda falta de preparo dos profissionais de saúde, um problema com origem ainda na formação acadêmica. “Por exemplo, mulheres cis-lésbicas ou bissexuais muitas vezes têm acesso negligenciado a exames ginecológicos ou, quando são realizados, são mal realizados. Esse despreparo também atinge as pessoas transexuais e travestis, que acabam enfrentando dificuldades para receber atendimento adequado, seja quando o nome social é desrespeitado ou quando prevenções ou rastreamento de determinados cânceres, como os de mama ou do colo de útero, não são realizados, sejam por desinformação ou puro estigma e preconceito.”, comenta Dr. Eduardo.
Mitos presentes na sociedade
- A ideia de que só existam pessoas cisgêneras ou só existam pessoas heterossexuais, invisibilizam outras vivências sexuais e de gênero, levando a negligência importante no cuidado com a saúde.
- Ignorar o fato de que pessoas com orientações não heterossexuais precisam de uma atenção específica à sua saúde sexual ou à sua identidade de gênero. “Quando trabalhamos com todas as pessoas da mesma forma, quebramos um princípio importante da saúde, que é o princípio de equidade”, diz o ginecologista.
- A ideia de que pessoas LGBTQIAPN+ têm uma vida sexual promíscua, sem controle das suas necessidades ou dos seus desejos, fazendo com tenha sempre um comportamento de risco para infecções sexualmente transmissíveis.
Como deve ser a abordagem nos consultórios
Para Dr. Eduardo, a forma de abordar temas como prazer, identidade de gênero, orientação afetivo-sexual é justamente naturalizando-os. Para isso, o contato precisa ser respeitoso, em ambiente seguro, acolhedor e livre de qualquer julgamento. “Para que possamos fazer isso, temos de reconhecer as diferentes expressões da sexualidade e do gênero, para evitarmos abordagens preconceituosas ou desinformadas. Isso vai nos exigir uma escuta ativa, empática e preparada tecnicamente”, explica o membro da FEBRASGO.
Ele recomenda que os colegas estejam dispostos também a aprender com o paciente. “Muitas vezes eles nos ensinam como devemos lidar com questões relativas à sexualidade e ao gênero, e neste momento podemos reconhecer os nossos limites mantendo o respeito. Temos o compromisso aumentado com cuidado ético, trazendo uma abordagem muito mais humana para aquele atendimento”.
O ginecologista é o profissional de saúde que atua diretamente em aspectos íntimos da saúde. E por isso ele tem que ser um agente ativo no combate à LGBTfobia e na promoção de uma sexualidade mais saudável e inclusiva para todas as pessoas. “Nós ginecologistas precisamos lembrar de oferecer um ambiente acolhedor e seguro para que as pessoas que nos procuram possam se sentir tranquilas para falar abertamente sobre a sua sexualidade, sem riscos de julgamentos. Isso fortalece muito a autoestima e o autocuidado dessa pessoa. Além disso, é o profissional que vai ser procurado para que sejam oferecidas informações sólidas, seguras e baseadas em evidências científicas e não informações baseadas em opiniões pessoais, que possam muitas vezes estar permeadas de preconceitos e julgamentos morais”, explica o médico.
A ideia é que o ginecologista possa atuar como formador de opinião e promover uma educação continuada para outros agentes, para que o atendimento à saúde seja feito de maneira empática e sensível às diversidades.
Cuidado individualizado
O cuidado à saúde necessita ser individualizado: mulheres lésbicas, ou seja, mulheres que fazem sexo com exclusivamente com outras mulheres, também estão expostas às infecções sexualmente transmissíveis e, portanto, precisam de orientações específicas sobre rastreamentos, exames ginecológicos, vacinação e planejamento reprodutivo, caso queiram ter filhos. “Precisamos, por exemplo, orientá-las sobre congelamento de gametas, se preciso”, acrescenta ele.
Cuidados específicos não correspondem a uma atenção discriminatória, mas um cuidado amplo, centrado na pessoa e respeitando as suas vivências e suas realidades e, principalmente, promovendo uma saúde sexual de forma plena. Isso é extremamente importante.
Para um melhor acolhimento aos pacientes LGBTQIAPAN+ nos consultórios, também é importante disponibilizar material educativo, ilustrativo, para que essas pessoas possam se identificar. Vale folders, panfletos, revistas com identidades visuais que sejam não somente direcionadas para a população cis-heterossexual. “Além disso, precisamos treinar toda a equipe com a qual essa pessoa vai ter contato, da portaria à recepção”, lembra Dr. Eduardo. Uma boa sugestão é a criação de formulários disponíveis no consultório em que a própria pessoa possa responder sobre seu nome, o uso ou não de um nome social, sobre a sua identidade de gênero, sobre a sua orientação afetiva e sexual e outros dados sensíveis; o que pode facilitar o vínculo entre paciente e médico.
A linguagem não discriminatória é essencial, e Dr. Eduardo deixa uma dica: “Ao me referir à pessoa com quem meu paciente se relaciona, pergunto sobre parcerias e não determino de forma prévia o gênero dessa pessoa. Então isso já é uma forma de me vincular como profissional de saúde à paciente. Precisamos ser ao máximo acolhedores e respeitosos, além de trazer oferecer ações afirmativas e inclusivas às pacientes; somente assim essa pessoa se aproximará de nós e se sentirá segura”, finaliza o ginecologista.
62° CBGO 2025: Recomendações para a Ginecologia sobre rastreamento do câncer de mama
Uma das mesas redondas do 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia discutiu o rastreamento do câncer de mama e do BI-RADS para a Ginecologia. Com a coordenação da presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Rio de Janeiro, Dra. Maria Júlia Gregório Calas, os debates abordaram tópicos como mama densa, as principais críticas a respeito do rastreamento e pontos importantes do BI-RADS ultrassonográfico.
Os especialistas apresentaram a atual diretriz para a detecção precoce do câncer de mama e destacaram que as orientações não são um consenso. Dessa forma, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) - em conjunto com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) - elaborou recomendações consideradas mais eficazes na investigação e no diagnóstico precoce da doença.
Uma delas é a mamografia a partir apenas dos 50 anos, como recomenda o Ministério da Saúde. Para as Sociedades Médicas, esse exame é essencial no rastreamento e há a necessidade de mudança na idade para iniciar a avaliação, que seria a partir dos 40 anos até 74 anos.
Outro ponto reforçado pela Dra. Hilka Flávia Barra do Espírito Santo Alves Pereira, vice-presidente da FEBRASGO na Região Norte, é a abordagem das mulheres de alto risco. “Histórico familiar, mutações genéticas, fatores de risco e rastreamento intensificados são fundamentais para prevenção e detecção do câncer de mama de forma antecipada. O rastreamento precoce salva vidas.”
Para a médica, é essencial promover a conscientização sobre o problema e a importância dos hábitos de vida saudáveis para evitar os fatores de risco, além de garantir acesso à saúde e aos exames necessários.
O Dr. Alexandre José Calado Barbosa, presidente da Febrasgo Regional Alagoas, fez esclarecimentos sobre a condução de pacientes com mama densa no rastreamento do câncer e apresentou pontos importantes do BI-RADS mamográfico para o ginecologista.
Sobre mama densa, o médico apresentou estratégias para o melhor rastreamentos dessas mulheres, dividindo em população de risco habitual e de alto risco. “No risco habitual, a orientação é a realização de mamografia anual, ressonância magnética e ultrassom. Já no alto risco, além da mamografia, a ressonância magnética anual.” Ele também chamou atenção para a importância de avaliar as questões mamárias durante a gestação.
Já com relação aos BI-RADS mamográficos, um dos pontos destacados pelo Dr. Alexandre foi a importância do exame. Segundo ele, é essencial, para padronizar a interpretação e descrição do laudo, sistematizar a classificação e conduta de lesões e proporcionar um sistema de auditoria de qualidade.
As considerações sobre as críticas a respeito do atual rastreamento do câncer de mama foram feitas pelo Dr. Gil Facina, presidente do Conselho Científico da Sociedade de Mastologia. Ele abordou desde o rastreamento e suas recomendações, a cobertura populacional, o sobrediagnóstico e o papel do ginecologista.
Segundo o especialista, os ginecologistas têm papel importante no manejo do câncer de mama, que vão desde a avaliação de risco, a interpretação do BI-RADS e o aconselhamento. “É fundamental que o profissional analise os fatores genéticos, histórico e densidade mamária, compreenda as categorias dos BI-RADS (0 a 6) para as melhores condutas e oriente sobre os riscos e tratamentos.”
As indicações, as orientações, as classificações, as limitações e as vantagens do BI-RADS ultrassonográfico para o ginecologista foram apresentadas pela Dra. Maria Júlia Gregório Calas, ginecologista membro da CNE de Imaginologia Mamária da FEBRASGO.
Ela explicou que ultrassonografias não são recomendadas como rastreamento suplementar ou como método isolado em mulheres com risco habitual e destacou que é preciso atenção em algumas situações como: aquelas com menos de 30 anos não têm indicação de exames periódicos, já que a maioria das lesões são benignas; mulheres na pós-menopausa sim precisam de atenção, pois nódulos novos costumam ser suspeitos; e não há indicação de ressonância magnética no controle de lesões de BI-RADS 3 na ultrassonogafia, assim como substituto de indicação de biópsia.
Debate sobre o parto humanizado no 62º CBGO leva a muitas reflexões
“Foi um privilégio poder coordenar uma mesa tão cheia de reflexões e aprendizado”. Essa foi a sensação da Dra. Roseli Mieko Yamamoto Nomura, diretora administrativa da FEBRASGO, ao finalizar a sessão que abordou o parto humanizado. Fizeram parte da mesa: Dra. Mary Nakamura, Dra. Adriana Lippi Waissman, Dr. Jorge Kuhn dos Santos, Dr. Alberto Trapani Júnior e Dr. Caio de Campos Prado.
Os debates envolveram a assistência ao parto, analgesia, proteção perineal, episiotomia, as equipes de trabalho e as práticas de como o momento deve ser cuidado.
Uma reflexão em comum é o fato de milhões de partos acontecerem diariamente, mas os questionamentos continuarem a ser feitos. Segundo a Dra. Roseli, são necessárias mais evidências científicas para validar todas as práticas. “Não podemos aceitar uma Fake News ou somente uma indicação de uma proposta terapêutica sem embasamento. Temos tantos partos, mas falta uma pesquisa consistente para trazer fortes evidências”.
A médica explicou que as pesquisas existem, mas não são suficientes para um redirecionamento ideal e que estímulos para novos estudos nas universidades têm sido incentivados. “Precisamos oferecer às mulheres as melhores práticas”.
Momentos de reflexão sobre o “desaprender” estiveram no centro das discussões. A Dra. Roseli lembrou que decisões da antiga obstetrícia eram feitas sem evidências fortes e é o momento de refletir sobre as mudanças que vêm acontecendo, não só no Brasil, mas em todo mundo. “A mulher se apropriou deste momento e passou a ter o controle da sua vida na gestação. É importante entender e assimilar essas mudanças”.
O Dr. Jorge Kuhn, da Escola Paulista de Medicina, também mencionou a necessidade de um trabalho multiprofissional no momento do parto e as mudanças nas condutas ao longo do tempo. Entre elas, o fato de o médico, antigamente, só ser chamado quando era necessário ao surgir uma intercorrência. Tudo isso mudou, mas é preciso, atualmente, um trabalho ‘transprofissional’”.
Em época de tantas reflexões, o Dr. Jorge reforça a importância de ter uma mente aberta para analisar que algumas práticas feitas antigamente não eram adequadas. “Lembro de um professor que dizia nas aulas que metade do que os alunos aprenderam iria mudar. Só não sabíamos qual metade era.”
Segundo o Dr. Jorge, que essa mensagem de reaprendizado possa ser estimulada para os jovens, porque é a formação deles que pode mudar o cenário, baseado em trabalhos robustos e feitos sem conflitos de interesses.
62° CBGO 2025: Fórum fomenta a reflexão sobre a mortalidade materna no Brasil
Durante o Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025), aconteceu o Fórum Mortalidade Materna no Brasil. A atividade fomentou a reflexão e o debate sobre temas essenciais relacionados aos cuidados com as mulheres. Foram três palestras que buscaram chamar atenção para a situação da mortalidade materna em geral, a de mulheres negras e de adolescentes menores de 14 anos.
Um dos pontos principais da discussão foi a importância de promover a prevenção, o suporte e ações voltadas para reduzir a mortalidade de mulheres de classes, raças e idades distintas.
O Fórum foi a oportunidade de conhecer a realidade do Brasil sobre a questão, analisar os dados e as metas de mortalidade, o papel da atenção básica e o enfrentamento do estupro de vulnerável, além de discutir o racismo estrutural e institucional que muitas mulheres podem sofrer.
A atividade foi coordenada pela Dra. Rossana Pulcineli Vieira Francisco, obstetra presidente da CNE de Mortalidade Materna e membro do Núcleo Feminino da FEBRASGO, que reforçou ser fundamental todos assumirem o seu papel. “Precisamos estimular a reflexão para que todos compreendam que só com políticas públicas poderemos mudar a realidade dessas mulheres.”
A situação da mortalidade materna no Brasil e as metas do desenvolvimento sustentável
A Dra. Maria do Carmo Leal, obstetra membro da CNE de Mortalidade Materna, foi a responsável por apresentar o tema. Ela iniciou a palestra reforçando a importância dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e destacou que a meta, segundo os ODSs, é a redução da taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos, até 2030.
A especialista explicou que, de forma geral, essa meta foi atingida em 2022, depois de um período complicado com o aumento do indicador devido aos anos de pandemia, o que foi mostrado em reunião promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2023. No encontro, foram analisados os dados dos anos de 2016 a 2022.
Mas, ainda é preciso mais ações e estratégias para que os números não voltem a subir e que as novas metas possam ser alcançadas. “Neste encontro de avaliação, estabeleceu-se que, no Brasil, até 2030, a meta nacional é reduzir a razão de mortalidade materna (RMM) para, no máximo, 30 mortes por 100 mil nascidos vivos.”
Dentre algumas das iniciativas governamentais para o alcance das metas estão: assegurar, no mínimo, sete consultas pré-natal a todas as gestantes; aumentar o orçamento para a atenção básica e serviços de saúde obstétrica; fortalecer os programas de tratamento e diagnóstico precoce e ações de promoção de saúde, principalmente, na atenção primária; assegurar e ampliar a cobertura vacinal, fortalecendo o Programa Nacional de Imunizações (PNI); desmistificar as fake news sobre as vacinas; reconstruir a Rede Cegonha; fortalecer o ESF (Estratégia de Saúde da Família); e o Programa Mais Médicos.
A mortalidade materna em mulheres negras: da morte de Alyne Pimentel aos dias atuais
Para Dra. Rossana Pulcineli Vieira Francisco, compreender os fatores que contribuem para a mortalidade materna é fundamental, principalmente em mulheres negras. A médica abordou a questão em sua palestra e apresentou o caso de Alyne Pimentel, jovem gestante negra que faleceu em 2002 por falta de atendimento adequado.
“Falar sobre o caso Alyne Pimental é muito importante, pois se tornou um marco internacional na luta contra o racismo obstétrico. Foi a primeira condenação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) por morte materna evitável, em 2011”, destacou ela, lamentando que negligências como as que ocorreram com Alyne ainda possam ser vistas atualmente.
De acordo com os dados apresentados pela médica, o percentual de mortes maternas segundo a cor passou de 50% a 60%, de 2002 a 2011, e para 65% até 2024. Para ela, esses números refletem a falta de acesso a serviços de saúde qualificados, desigualdade socioeconômica e de acesso à educação e o silenciamento das dores das mulheres negras. Por isso, a especialista reforçou a necessidade de estimular a reflexão sobre o racismo estrutural e institucional na saúde.
“O caminho para reduzir a mortalidade materna nessas mulheres é lutar contra essas práticas discriminatórias nos serviços públicos de saúde e discutir políticas públicas eficazes.”
Mortalidade materna em adolescentes menores de 14 anos e o enfrentamento do estupro de vulnerável
A gravidez infantil é um marcador de vulnerabilidade. Foi o que enfatizou a Dra. Ida Perea Monteiro, obstetra membro da CNE de Mortalidade Materna, na palestra que encerrou os debates do Fórum de Mortalidade Materna. Durante a aula foram apresentados dados atualizados sobre gestação em menores de 14 anos, comparando com as faixas etárias mais avançadas.
A Dra. Ida destacou ainda a importância de compreender as questões legais que envolvem o estupro de vulnerável e a responsabilidade dos profissionais de saúde na notificação, proteção e encaminhamento. “É preciso deixar claro que relações com menores de 14 anos configura como estupro de vulnerável, independentemente se for consensual.”
Outro ponto reforçado por ela é a discussão sobre o aborto legal, garantido por lei para essas meninas, os fluxos previstos na legislação e os principais obstáculos enfrentados por essas jovens, vítimas de violência sexual, e suas famílias. “É dever ético e legal dos profissionais atuarem na proteção de meninas, informar sobre os direitos à proteção e à interrupção da gravidez respeitando sua autonomia e integridade.”
A médica enfatizou que a gravidez nessa faixa etária é sempre resultado de estupro com risco aumentado de morte materna, além de ser um fracasso coletivo das políticas públicas. “É sempre importante reforçar que menina não é mãe e a mortalidade materna em menores de 14 anos é uma tragédia que exige resposta imediata”, completou Dra. Ida.
62° CBGO: Debate sobre cirurgia robótica e telecirurgia
A tecnologia tem revolucionado a medicina há anos e o tema esteve em pauta no 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia - CBGO 2025, que acontece no Riocentro, Rio de Janeiro, de 14 a 17 de maio. As reflexões sobre o assunto destacaram o papel da cirurgia robótica nos resultados dos procedimentos cirúrgicos em ginecologia e o crescimento da teleconsulta e da telecirurgia.
Os esclarecimentos foram apresentados na mesa “Endoscopia ginecológica - Cirurgia no Século 21”, coordenada pela Dra. Márcia Mendonça Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Endometriose. Participaram dos debates o Dr. Agnaldo Lopes da Silva, Diretor Científico da FEBRASGO, e o Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes, presidente da CNE de Endoscopia Ginecológica.
O Dr. Agnaldo esclareceu que estamos vivendo um momento de renovação e que as questões tecnológicas envolvendo a cirurgia, a robótica e a teleconsulta têm evoluído de maneira significativa. “Podemos esperar cada vez mais avanços nessa área. Procedimentos cirúrgicos com robótica já são uma realidade e usados, inclusive, em cirurgias ginecológicas.”
O especialista apresentou a palestra “A telecirurgia já é uma realidade?”, destacando a história e os 10 mandamentos da telecirurgia. Dentre os pontos importantes ressaltados por ele estão: priorizar a segurança e eficácia do paciente; manter a transparência, a honestidade e o consentimento; promover a interação humana e empatia; aderir às práticas médicas éticas, estabelecer responsabilidades e obrigações claras; defender a privacidade e a segurança de dados; promover a acessibilidade e equidade; incentivar a colaboração e a padronização internacionais; promover a educação e o treinamento contínuos e; promover a inovação de tecnologias de telecirurgia seguras e confiáveis.
E a cirurgia robótica, será que ela melhora realmente os resultados em ginecologia? O Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes foi quem buscou responder essa questão. Ele apresentou algumas das características das cirurgias que utilizam essa ferramenta e destacou que elas trazem bons resultados, com satisfação da paciente e baixa morbidade.
Outros benefícios da robótica na ginecologia elencados por ele durante a palestra foram: o tratamento em casos tanto de alta quanto de baixa complexidade, interações tecnológicas, bons resultados estéticos, autonomia do cirurgião, importância do volume cirúrgico para resultados consistentes e necessidade de viabilização de custos.
Segundo os especialistas, a incorporação dessas tecnologias, incluindo a inteligência artificial, é fundamental para fazer a diferença no tratamento e na vida da pessoa que está sendo beneficiada, além de fortalecer a relação médico-paciente. “A tecnologia não deve excluir, mas reforçar o toque humano nos cuidados de saúde. A questão humana sempre deve prevalecer”, finalizou o Dr. Agnaldo.
62º CBGO: O cuidado integral das mulheres no climatério – Parte 2
A Dra. Lucia Costa Paiva, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Climatério, trouxe insights sobre “Terapia hormonal (TH): indicações e efeitos colaterais”.
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O climatério é um evento fisiológico que proporciona aos médicos e às mulheres uma oportunidade de promoção de saúde.
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A TH reduz em 75% a intensidade e frequência das ondas de calor semanais.
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A terapia hormonal pode ser indicada para: (1) tratamento de sintomas vasomotores; (2) síndrome geniturinária; (3) insuficiência ovariana prematura (antes dos 40 anos); e (4) prevenção da perda de massa óssea.
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É essencial que ginecologistas questionem sobre sinais da síndrome geniturinária, tais como ressecamento vaginal, infecção urinária e atrofia externa.
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Embora não seja indicada diretamente para esses fins, a TH também traz benefícios para: humor, sono, função sexual; pode reduzir o risco de diabetes tipo 2, de câncer colorretal (quando utilizada em terapia combinada) e reduzir o risco de eventos cardiovasculares, além de melhorar a qualidade de vida.
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“Educação médica, informação para pacientes e fornecimento (e aquisição) de medicamentos são importantes para darmos qualidade de vida e saúde adequadas às mulheres no climatério”, pontuou Dra. Lucia.
TH e Prevenção da Massa Óssea
“O que eu quero para minha paciente é que ela nunca frature. Nós, ginecologistas, precisamos olhar a saúde óssea da mulher que entra na menopausa”, declarou Dr. Marcelo Luis Steiner, diretor da FEBRASGO, logo no início de sua aula durante o Fórum – Saúde Mulher no Climatério. Dr. Marcelo trouxe dados do estudo Swan, que indica: durante a menopausa, ocorre perda de 10,6% de massa óssea na coluna lombar e 9,1% no colo do fêmur.
O diretor da FEBRASGO comenta ainda que é importante que ginecologistas se preocupem com as ondas de calor, porém não podem esquecer de questionar sobre a massa óssea.
Os ginecologistas desempenham um papel crucial na prevenção, identificação e tratamento das mulheres propensas a desenvolver doenças ósseas. A saúde óssea deve ser acompanhada desde a infância, com um período crucial de ganho de massa óssea e desenvolvimento do tecido ósseo na adolescência, atingindo o pico entre os 25 e 30 anos.
Após os 30 anos, a massa óssea estabiliza e começa a diminuir gradualmente após os 40 anos. De acordo com o ginecologista, a genética é responsável por cerca de 70 a 80% do pico de massa óssea, enquanto os hábitos de vida influenciam aproximadamente 20%. “Devemos ser ativos para determinar o risco de fraturas e realizar as intervenções recomendadas”, comenta Dr. Steiner.