Junho Vermelho – Riscos na gravidez: especialista alerta para sinais de trombose, embolia e hemorragias
Junho vermelho, mês da conscientização sobre a doação de sangue: até 2% das pacientes podem ter hemorragias graves que exigem transfusão
A trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar são condições potencialmente fatais e representam um risco aumentado durante a gravidez, especialmente no puerpério. “O índice de letalidade da embolia pulmonar chega a 15%. Por isso, é melhor pensar em prevenção”, alerta Venina Isabel P. V. Leme de Barros, Presidente da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Os sinais de trombose incluem inchaço súbito, dor e vermelhidão em uma das pernas, geralmente a esquerda, com aumento de mais de dois centímetros na circunferência em comparação com a outra perna. Já os sinais de embolia pulmonar envolvem falta de ar, escarro com sangue, dor torácica e dispneia – sintomas que exigem atendimento médico imediato.
A médica explica que a avaliação de risco para trombose deve começar já na primeira consulta do pré-natal, com uma avaliação detalhada. “É importante identificar pacientes com histórico de trombose venosa, uso de anticoncepcionais ou hormônios, doenças graves como diabetes tipo 1, nefropatia, anemia falciforme ou cardiopatias. Pacientes que passaram por fertilização in vitro e tiveram síndrome de hiperestímulo ovariano também têm risco elevado nos três primeiros meses.”
Existem escores clínicos, e quando o risco é superior a 6%, está indicado o uso de heparinas de baixo peso molecular. “É a medicação utilizada no pré-natal para prevenção da trombose em pacientes de alto risco”, afirma a especialista.
Sangramentos necessitam de acompanhamento constante - Sangramentos durante a gestação, embora mais comuns no primeiro trimestre, podem ocorrer em qualquer fase e precisam de investigação imediata. “No primeiro trimestre, os abortamentos são a principal causa e podem afetar até 30% das gestantes, sendo que algumas apresentam hemorragia e risco de anemia”, explica a ginecologista.
No segundo trimestre, os sangramentos são mais raros – atingem menos de 1% das gestantes – e podem estar relacionados a placenta baixa ou colo uterino curto. Nesses casos, o ultrassom é fundamental para avaliar a localização da placenta e indicar a conduta apropriada.
Já no terceiro trimestre, as causas de sangramento incluem placenta prévia, descolamento prematuro da placenta e ruptura de vasa prévia (condição rara em que os vasos do cordão umbilical ficam desprotegidos). “Todas essas situações têm em comum a posição da placenta e, frequentemente, estão associadas a hipertensão na gestação”, completa.
No pós-parto, os riscos se intensificam. “Até 2% das pacientes podem ter hemorragias graves que exigem transfusão. Já sangramentos moderados ocorrem em até 10% dos casos”, diz Dra. Venina. Os principais fatores de risco são gravidez de gêmeos, fetos grandes e excesso de líquido amniótico (polidrâmnio), frequentemente relacionado ao diabetes gestacional. A atonia uterina (falha na contração do útero após o parto) é a principal causa de hemorragia pós-parto.
“É fundamental avaliar objetivamente a paciente com hemograma e ferritina. Ter uma boa reserva de ferro é essencial para que, em caso de sangramento, a paciente suporte a perda sem complicações graves”, ressalta.
Protocolo Febrasgo na hospitalização das gestantes - A Febrasgo disponibiliza um protocolo específico de avaliação de risco trombótico, acessível aos profissionais de saúde. Se o escore da paciente ultrapassar três pontos ou indicar mais de 6% de risco, é recomendada a profilaxia com enoxaparina por 15 dias após o parto. Pacientes de altíssimo risco, como as que já tiveram trombose, podem necessitar da medicação por até seis semanas.
Além da medicação, medidas mecânicas como uso de meias elásticas, compressores vasculares, mobilização precoce e exercícios são fundamentais. “A melhor forma de prevenção da trombose no pré-natal e no pós-parto é manter atividade física regular, boa hidratação, evitar ganho de peso excessivo e parar de fumar”, orienta a médica.
Ela ainda explica que a anticoagulação não contraindica o parto vaginal. “Se a paciente estiver em uso de anticoagulante, basta suspender a medicação 12 horas antes. Mesmo se ela entrar em trabalho de parto espontâneo, é possível aguardar e realizar o parto vaginal com segurança.”
O sucesso da gestação depende de um pré-natal cuidadoso, com exames regulares, escuta atenta da paciente e planejamento. “Toda gestante merece ser avaliada quanto ao risco de anemia e trombose logo na primeira consulta. A medicina preventiva é a nossa maior aliada para proteger a saúde materna e garantir um parto seguro”, finaliza Dra. Venina.