Junho Laranja – Gravidez com segurança: ginecologistas alertam para os cuidados em casos de leucemia e anemia na gestação
A gestação é um período de intensas transformações no corpo da mulher e requer atenção redobrada, especialmente em situações de saúde que demandem acompanhamento especializado. A leucemia e a anemia representam desafios relevantes e exigem protocolos específicos de cuidados, segundo especialistas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Leucemia na gestação - A leucemia, especialmente em suas formas agudas, pode impactar significativamente a saúde materno-fetal. “Durante a gestação, os quimioterápicos utilizados no tratamento da leucemia podem prejudicar o crescimento fetal, causar prematuridade, mielossupressão fetal (diminuição da atividade da medula óssea), além de aumentarem o risco de infecções, anemia e sangramentos na mãe”, explica a Dra. Ana Maria Kondo Igai, membro da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher da FEBRASGO.
Em casos de leucemia mieloide crônica (tipo de câncer que acomete a medula óssea), a abordagem terapêutica costuma envolver a suspensão da medicação e o monitoramento rigoroso até o parto, uma vez que os medicamentos usados nesse tipo de tratamento são contraindicados durante a gestação.
Tanto em pacientes com a doença ativa quanto em remissão, o pré-natal deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, composta por hematologistas, obstetras especializados em gestação de alto risco, neonatologistas e psicólogos. “O grande desafio, especialmente nos casos de leucemia aguda, é equilibrar o bem-estar da mãe e do bebê, garantindo um acompanhamento que permita decisões seguras sobre a continuidade da gestação, o tratamento e o momento ideal para o parto”, afirma a médica.
Se a gravidez ocorrer após a remissão da doença, o acompanhamento deve ser ainda mais criterioso. “O ideal é aguardar pelo menos dois anos após o término da quimioterapia, período em que há maior risco de recidiva. Nesses casos, o pré-natal precisa avaliar a saúde reprodutiva da mulher e possíveis sequelas causadas pelo tratamento oncológico”, completa Dra. Ana Maria.
Casos de anemia - Outro ponto de atenção durante a gestação é a anemia, uma das complicações mais comuns no período. De acordo com a Dra. Venina Isabel P. V. Leme de Barros, Presidente da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher da FEBRASGO, “até 25% das gestantes podem apresentar deficiência de ferro ou desenvolver anemia”.
O pré-natal deve incluir a suplementação de ferro de forma rotineira. “A dose recomendada varia entre 30 a 40 miligramas diárias, como medida preventiva”. Já na primeira consulta pré-natal, é essencial solicitar um hemograma completo e a dosagem de ferritina para triagem da doença. Mesmo na ausência de anemia, esses exames devem ser repetidos ao menos uma vez a cada trimestre.
Caso a anemia seja diagnosticada, o monitoramento deve ser intensificado, com repetição dos exames a cada 60 dias. “Os sintomas nem sempre são evidentes. Sinais como palidez e taquicardia podem passar despercebidos ou ser confundidos com outras alterações próprias da gravidez. Por isso, a prevenção e o acompanhamento regular são fundamentais”, reforça a especialista.
Tanto nos casos de doenças oncológicas quanto em situações mais comuns como a anemia, o acompanhamento pré-natal qualificado e personalizado é decisivo para a saúde da mãe e do bebê. Com diagnóstico precoce, atenção multidisciplinar e intervenções adequadas, é possível garantir uma gestação mais segura, mesmo diante de cenários clínicos desafiadores. “O diálogo constante entre paciente e equipe médica é a base de decisões conscientes e cuidadosas”, finaliza a médica.