Contracepção ainda é desafio no Brasil: até 80% das gestações em adolescentes não são planejadas
26 de setembro – Dia Mundial da Contracepção
Garantir que mulheres tenham autonomia sobre sua vida sexual e reprodutiva continua sendo um grande desafio no Brasil. Apesar dos avanços, os números mostram que o acesso à informação e aos métodos contraceptivos ainda precisa melhorar.
“Para que as mulheres tenham controle sobre sua vida sexual e reprodutiva é fundamental falar sobre contracepção. A sociedade deve se conscientizar sobre os impactos da maternidade na vida pessoal, financeira e profissional de uma mulher. Divulgar os diferentes métodos contraceptivos e o uso adequado deles é essencial para reduzir as gestações não planejadas”, afirma a Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Números que preocupam:
- Antes da pandemia, 55% das gestações no Brasil não eram planejadas.
- Durante a pandemia, pesquisa da FEBRASGO com 1.000 gestantes encontrou 62% de gestações não planejadas.
- Entre adolescentes, esse índice pode chegar a 80%.
- Estudo da Unicamp identificou 65,7% de gestações não planejadas.
Embora a cobertura contraceptiva no país varie entre 70% e 80%, esse dado esconde desigualdades regionais. Sul e Sudeste apresentam índices melhores, mas ainda distantes do ideal para um país de dimensões continentais.
Segundo a Dra. Ilza, os LARCs (Métodos Contraceptivos Reversíveis de Longa Ação), como o DIU e o implante transdérmico, são os mais efetivos, já que não dependem da lembrança diária da paciente. No entanto, a adesão no Brasil ainda é baixa: apenas 3% a 4% das mulheres usam DIU.
“Os DIUs podem ser usados pela maioria das mulheres, enquanto pílulas combinadas, por exemplo, são contraindicadas em condições comuns como hipertensão arterial e enxaqueca com aura. Mesmo assim, estudo nacional de 2016 mostrou uso de pílulas em 28,2% e injetáveis em 4,5%”, destaca.
A especialista reforça que a expansão do acesso a diferentes métodos depende de políticas públicas. “É preciso que gestores locais invistam em Planejamento Familiar que ofereça todas as opções. Já está comprovado que há uma boa relação custo-benefício: quanto mais acesso a métodos eficazes como os LARCs, menor será o número de gestações não planejadas, que em geral têm um custo muito maior para as famílias e para o sistema de saúde”, finaliza.
Primeira menstruação e saúde ginecológica: o que toda adolescente precisa saber
- Ginecologista da FEBRASGO alerta sobre cuidados na adolescência
- 22 de setembro é o Dia Nacional da Saúde de Adolescentes e Jovens
Primeira menstruação, irregularidade menstrual, cólicas e outras situações inerentes à fase que precede a vida adulta podem causar muitas dúvidas. A Dra. Marta Rehme, ginecologista, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada de Ginecologia da Infância e Adolescência da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia da (FEBRASGO), responde às dúvidas mais frequentes sobre o assunto.
1. Em que idade deve ocorrer a primeira consulta ginecológica?
O ideal é que seja no início da puberdade, quando surgem os primeiros sinais como botão mamário e pelos pubianos, geralmente entre 9 e 10 anos. Nessa fase, o objetivo é um primeiro contato com ginecologista que vai orientar sobre as mudanças do corpo e estabelecer a relação médico paciente adolescente.
- O que é avaliado nessa primeira consulta?
São abordados temas de acordo com a idade e grau de discernimento da menina como menstruação, higiene íntima, alimentação, sexualidade e contracepção. O exame clínico geral inclui peso, estatura e avaliação do desenvolvimento puberal. O exame ginecológico é apenas externo (vulva, entrada da vagina, abertura do hímen), sem uso de instrumentos.
3. Quais sinais justificam avaliação ainda na infância?
O aparecimento de mamas ou pelos pubianos antes dos 8 anos, sinais sugestivos de puberdade precoce; corrimento persistente acompanhado de prurido ou odor forte, irritação vulvovaginal ou sangramento genital também são sinais que justificam uma avaliação ginecológica na infância. Casos de suspeita de abuso, malformações genitais ou traumatismo genital devem ser avaliados.
4. O que a menina que menstrua pela primeira vez (menarca) deve saber?
Nós devemos reforçar para esta menina que a menstruação é um evento positivo, que reflete a normalidade do aparelho reprodutor feminino. Incentivamos que a menina anote os dias dos ciclos menstruais subsequentes para avaliação do intervalo, duração e intensidade da menstruação. Ela deve ser orientada que, nos primeiros 2 anos pós menarca, os ciclos podem ser irregulares quanto ao intervalo ou duração, e isso acontece por causa da imaturidade do eixo hormonal; ou seja, não necessita de intervenção médica na maioria das vezes. A regularidade do ciclo se resolve espontaneamente para a maioria das meninas a partir de 2 anos pós menarca.
5. Quando a irregularidade menstrual deixa de ser normal e requer investigação?
O ciclo menstrual normal apresenta intervalo que varia entre 24 a 38 dias; duração de até 8 dias e fluxo percebido pela paciente pelo número de absorventes necessários sendo referido como normal ou intenso.
Qualquer alteração da frequência, duração ou quantidade de fluxo na adolescente que já tem mais de 2 anos da menarca merece atenção. Situações que requerem uma investigação:
- Ausência de menarca e de caracteres sexuais secundários (mamas, pilificação pubiana) aos 14 anos;
- Ausência de menarca aos 15 anos, mas com desenvolvimento puberal normal há mais de 2 anos.
- Menina que não menstrua por mais de 3 meses (sem estar grávida).
- Intervalos menstruais maiores de 45 dias ou menores 21 dias após 2 a 3 anos da menarca.
- Ciclos menstruais irregulares acompanhados de aumento de pilificação (hirsutismo).
6. Cólicas intensas são “normais”?
A cólica menstrual (dismenorreia) é uma situação frequente na adolescência decorrente da liberação de substâncias inflamatórias. É chamada de dismenorreia primária e pode ser leve, moderada e intensa. Em situações nas quais a cólica não melhora com os medicamentos disponíveis (anti-inflamatório e/ou contraceptivos), é preciso afastar causas secundárias como malformações genitais obstrutivas e endometriose.
7. Quais problemas ginecológicos podem surgir antes da vida adulta?
Síndromes que podem impedir ou atrasar o desenvolvimento da puberdade como síndrome de Turner, síndrome de Kallmann. Hímen imperfurado e malformações vaginais obstrutivas (como septo vaginal transverso) são situações que cursam com ausência de menarca e dor pélvica em meninas na faixa de 11 a 13 anos. Outras malformações uterinas como agenesia uterovaginal também são identificadas antes da vida adulta. A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é suspeitada naquela menina que apresenta ciclo irregulares há mais de 2 anos da menarca.
8. Corrimentos vaginais em meninas sempre são sinais de doença?
Meninas que nunca tiveram relação sexual podem apresentar uma secreção vaginal de aspecto leitoso, sem sintomas de prurido ou ardência, que se constitui na leucorreia fisiológica. Em outras situações, como durante uso de antibióticos, elas também podem desenvolver a candidíase vulvovaginal. Quando a adolescente é sexualmente ativa e não faz uso de preservativos na relação, ela corre o risco de apresentar corrimentos decorrente de infecção de transmissão sexual (tricomoníase, clamídia, gonorreia) e vaginose bacteriana.
9. Além da vacina contra HPV na adolescência, existem outras vacinas relevantes para a saúde ginecológica?
Sim, existe a vacina contra hepatite B, que é uma infecção de transmissão sexual. Além disso é importante que durante a consulta ginecológica seja abordado sobre o calendário de vacinação da adolescente, uma vez que adolescentes muitas vezes não são levados a serviços de saúde para receber vacinas como é feito em crianças.
10. Como a pressão estética e a ansiedade podem afetar a saúde ginecológica das adolescentes?
Conceitos equivocados sobre padrão corporal podem levar adolescentes a desenvolverem distúrbios alimentares como anorexia - que leva a amenorreia - ou solicitarem cirurgias estéticas como lipoaspiração, mastoplastias sem estarem totalmente desenvolvidas. Outra situação: relacionamentos sexuais em idade precoce podem trazer como consequências a gravidez não planejada, infecções de transmissão sexual como infecção por clamídia, cuja complicação é a salpingite, que pode causar infertilidade.
11. Alguma mensagem final para pais e adolescentes sobre a importância da ginecologia nessa fase da vida?
Os pais devem incentivar suas filhas adolescentes a terem uma consulta com ginecologista mesmo que não haja queixa, pois é importante que sejam orientadas sob vários aspectos da vida da mulher: menstruação, cuidados de higiene, sexualidade e contracepção. Para que haja uma boa relação médico-paciente é importante que a privacidade e autonomia destas adolescentes seja respeitada. Os pais devem saber que o sigilo na consulta será mantido conforme o código de ética médica. Nas situações que justificar a quebra do sigilo, a adolescente será comunicada previamente sobre essa necessidade.
Segurança do paciente na Ginecologia e Obstetrícia depende de diagnóstico rápido, comunicação efetiva e avanços tecnológicos
- 17/9 é o Dia Mundial da Segurança do Paciente
A segurança do paciente é um dos pilares fundamentais da prática médica, especialmente em áreas como a Ginecologia e a Obstetrícia, em que diagnósticos ágeis e precisos podem definir o rumo de um tratamento e até salvar vidas. Segundo a ginecologista e obstetra Dra. Maria Auxiliadora Budib, membro da Comissão Nacional Especializada em Defesa e Valorização Profissional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), “Um diagnóstico rápido e preciso é fundamental para a segurança da paciente, porque muitas condições ginecológicas — como endometriose, câncer de colo do útero, sangramentos anormais ou complicações na gestação — exigem intervenção precoce. Estudos mostram que atrasos no atendimento aumentam o risco de complicações, piora da qualidade de vida e até mortalidade em alguns casos”, explica a especialista.
Riscos do atraso ou erro diagnóstico
Quando há demora ou falhas no processo diagnóstico, as consequências podem ser graves:
- Câncer ginecológico: um atraso de poucos meses pode modificar completamente o prognóstico.
- Endometriose: o tempo médio de diagnóstico ainda varia entre 7 e 10 anos em alguns países, afetando diretamente a fertilidade e a qualidade de vida.
- Gravidez de risco: diagnósticos incorretos podem comprometer a saúde materna e fetal.
“O atraso não é apenas uma questão de tempo, mas de impacto real sobre os desfechos clínicos”, reforça Dra. Maria Auxiliadora.
Nos últimos anos, o campo da Ginecologia e Obstetrícia tem avançado com a incorporação de tecnologias que aumentam a segurança diagnóstica. Entre elas estão:
- Exames de imagem de alta resolução, como ultrassonografia 3D e ressonância magnética pélvica.
- Testes moleculares e genômicos, incluindo o rastreamento de HPV DNA, que já substitui o Papanicolau isolado em diversos protocolos.
- Painéis genéticos, como BRCA1, BRCA2 e síndrome de Lynch, que identificam mulheres com risco aumentado para câncer de mama e ovário.
- Inteligência artificial aplicada à análise de imagens, reduzindo erros humanos.
- Telemedicina e prontuário eletrônico, que ampliam o acesso, facilitam a integração de dados e asseguram segundas opiniões médicas.
“A literatura mostra que a combinação de recursos tecnológicos com protocolos clínicos melhora significativamente a segurança diagnóstica”, ressalta a médica.
A importância da comunicação entre médico e paciente
A especialista destaca ainda que a comunicação clara e empática é essencial para a precisão diagnóstica. “Uma anamnese detalhada só é possível quando a paciente se sente à vontade para relatar sintomas, que muitas vezes são silenciados por vergonha ou tabus. A escuta ativa reduz o risco de subdiagnóstico, enquanto orientações claras garantem adesão a exames e retornos”, afirma.
Apesar dos avanços, ainda existem barreiras significativas para a segurança da paciente. Entre os maiores desafios apontados pela Dra. Maria Auxiliadora estão: acesso desigual a exames complementares e especialistas, sobretudo fora dos grandes centros urbanos; necessidade de capacitação contínua dos profissionais de saúde; sobrecarga dos serviços, que reduz o tempo de consulta e compromete a qualidade da anamnese; quebra de tabus que retardam a busca por ajuda médica.
Superar essas barreiras, segundo a especialista, exige investimentos em tecnologia, formação médica contínua e políticas públicas que garantam acesso equitativo ao cuidado. “Garantir diagnósticos ágeis e corretos não é apenas um desafio clínico, mas um compromisso social com a vida e a saúde das mulheres”, conclui.
FEBRASGO vai a Belo Horizonte para o CMGO 2025
Presidido pela Dra. Inessa Beraldo de Andrade Bonomi, o 27º Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia – CMGO 2025 segue até o dia 13 de setembro, em Belo Horizonte (MG). Cursos hands-on, conferências e até cursos específicos para secretárias fazem parte da programação científica.
“Só o rastreio é suficiente para prevenir o câncer de colo de útero?” e “Conferência - Segunda vítima: o impacto emocional dos eventos adversos na prática ginecológica” são os temas das aulas do Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, diretor científico da FEBRASGO.
“A ‘segunda vítima’ é o profissional de saúde que, ao se envolver em um evento adverso — seja por erro médico, falha de sistema ou complicação inesperada — sofre impactos psicológicos e emocionais significativos. Em Ginecologia e Obstetrícia, onde as decisões são, muitas vezes, críticas e os desfechos podem ser graves, é fundamental reconhecer esse sofrimento. Mais do que apontar falhas, precisamos cultivar empatia, compreender como tais experiências afetam a vida dos ginecologistas e obstetras e promover apoio para que possam seguir exercendo sua prática com segurança e humanidade”, comenta o Dr. Agnaldo sobre sua conferência.
A Dra. Roseli Nomura, diretora administrativa da FEBRASGO, participa do encontro discorrendo sobre os temas “Quem estamos formando? O futuro da GO começa na formação” e “Sulfato de magnésio: da pré-eclâmpsia à neuroproteção – um clássico atual”.
As aulas sobre “Os novos estrogênios na contracepção” e “Terapia Hormonal na Menopausa: revisitando as recomendações para início e manutenção da terapia” ficaram a cargo do Dr. Marcelo Steiner, diretor financeiro da FEBRASGO.
Outros assuntos palpitantes da GO contaram com a participação de presidentes e membros das diversas CNEs da entidade. Entre eles:
- Insulina, Metformina ou Dieta? Terapias personalizadas para gestantes com diabetes – com a Dra. Rossana Pulcineli Vieira Francisco, presidente da CNE de Mortalidade Materna, que também deu aula sobre “O peso das mortes maternas indiretas na RMM”.
- Desejo sexual: existe indicação de hormonioterapia antes da menopausa? – com a Dra. Fabiene Bernardes Castro Vale, presidente da CNE de Sexologia.
- Tumores de ovário: desafios no diagnóstico e na abordagem individualizada – com o Dr. Eduardo Batista Candido, presidente da CNE de Ginecologia Oncológica.
- Distúrbios do sono no climatério: como tratar? – com a Dra. Rita de Cássia de Maio Dardes, membro da CNE de Climatério.
- O obstetra do futuro: como a IA vai redesenhar a nossa atuação – com o Dr. Eduardo Cordioli, membro da CNE de Urgências Obstétricas.
O FEBRAQUIZ - Edição SOGIMIG - também tem seu espaço no #CMGO2025. A competição interativa de perguntas e respostas, voltada para médicos residentes e especializandos em Ginecologia e Obstetrícia, visa promover aprendizado, integração e atualização científica de forma lúdica, dinâmica e colaborativa.
Menopausa normal e induzida: há diferenças? Se sim, quais são elas?
Ginecologista da FEBRASGO responde às principais dúvidas
A menopausa é uma fase natural da vida da mulher e marca o fim da capacidade reprodutiva, ocorrendo, em média, por volta dos 50 anos. Ela é confirmada após 12 meses consecutivos sem menstruar e resulta da redução gradual da função dos ovários, com queda na produção dos hormônios estrogênio e progesterona. Esse processo costuma ser progressivo, permitindo que o corpo se adapte lentamente às mudanças hormonais. Ainda assim, pode trazer sintomas como ondas de calor, alterações de humor, dificuldades para dormir e ressecamento vaginal, que variam em intensidade e duração de acordo com cada mulher.
Já a menopausa induzida acontece de forma repentina, geralmente após cirurgias, radioterapia e eventualmente quimioterapia, especialmente no tratamento do câncer ginecológico. Nesses casos, além das mudanças físicas, há impactos emocionais e riscos à saúde que precisam de atenção. A seguir, a Dra. Sophie Françoise Mauricette Derchain, ginecologista da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO, responde às principais dúvidas sobre o tema.
Quais são os sintomas mais comuns da menopausa induzida?
Os sintomas decorrem da queda repentina na produção de estrogênio. Cerca de 80% das mulheres apresentam sintomas vasomotores, como ondas de calor, vermelhidão, suor, calafrios, ansiedade, distúrbios do sono e alterações de humor. Há também queixas de ressecamento e atrofia vaginal, que podem causar dor nas relações sexuais, coceira e infecções urinárias recorrentes. Esses sintomas são semelhantes aos da menopausa natural, mas como acontecem de forma abrupta e precoce, tendem a ser mais intensos.
Essa transição é mais brusca do que na menopausa natural?
Sim, na menopausa induzida a transição ocorre de maneira abrupta, pois a produção de estrógeno e progesterona cessa no momento em que o ovário é retirado ou perde sua função. Além disso, na menopausa natural, mesmo após a queda de estrogênio, os ovários continuam produzindo certa quantidade de andrógenos (hormônios masculinos), em níveis menores, por muitos anos. Já na menopausa induzida, essa produção também cessa de forma imediata. Além disso, quando ocorre no contexto do tratamento de câncer, soma-se a sobrecarga emocional do diagnóstico e dos efeitos colaterais, o que impacta ainda mais a qualidade de vida.
Quais são os riscos à saúde relacionados à menopausa precoce?
Quando a menopausa acontece antes dos 45 anos, a deficiência hormonal prolongada aumenta o risco de osteoporose, doenças do coração, acidente vascular cerebral e até mortalidade por essas causas. Sobreviventes de câncer ginecológico também podem apresentar comprometimento cognitivo, resultado tanto da deficiência hormonal quanto do próprio tratamento oncológico.
O que significa comprometimento cognitivo nesse contexto?
São dificuldades de memória, atenção, velocidade de raciocínio e organização. Esses sintomas podem prejudicar tarefas do dia a dia, reduzir o desempenho no trabalho e afetar o bem-estar geral.
O que é a síndrome geniturinária da menopausa e por que ela é mais grave nesse caso?
A síndrome, também conhecida como atrofia vulvovaginal, está presente em mais da metade das mulheres com menopausa induzida e inclui ressecamento, coceira, corrimento, dor, afinamento do tecido vaginal, sangramento, encurtamento e estreitamento da vagina, além de maior risco de infecções urinárias. Quando à menopausa precoce se associam os efeitos da radioterapia, o controle desses sintomas se torna ainda mais complexo.
Menopausa: Cerca de 17 milhões de mulheres no Brasil estão no climatério
Especialista da FEBRASGO responde às principais dúvidas
Ginecologista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO e presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da mesma entidade, a Dra. Lucia Helena Simões da Costa Paiva responde às principais dúvidas sobre menopausa e climatério. Dados do IBGE indicam que, no Brasil, são cerca 17 milhões de mulheres no climatério (40 aos 65 anos). Já na menopausa, são cerca de 9,2 milhões de mulheres (entre 50 e 65 anos).
O que é menopausa?
Menopausa é a data da última menstruação da mulher e marca o final da idade reprodutiva. Só podemos dizer que uma mulher chegou na menopausa 12 meses após a data da sua última menstruação. No Brasil, a menopausa acontece para mulheres que estejam, em média, com 48 anos. Na menopausa, os principais hormônios que diminuem são o estradiol (o principal estrogênio da mulher) e a progesterona, que são produzidos pelos ovários e desempenham papéis cruciais no ciclo menstrual e na saúde reprodutiva da mulher. Menopausa não é sinônimo de final de vida e sim de uma nova etapa na qual a mulher pode continuar produtiva e viver com alegria.
Climatério e menopausa são a mesma coisa?
Não. O climatério é a fase de transição, que pode durar vários anos antes da menopausa ou até os primeiros anos após a menopausa, com sintomas mais intensos. A menopausa é, portanto, uma data dentro desta faixa de duração do climatério.
Quais são os principais sintomas do climatério?
Os sintomas vão muito além das conhecidas ondas de calor: variam entre sintomas vasomotores, os chamados ‘fogachos’, normalmente acompanhados de muito suor, palpitações e despertares noturnos. Insônia, cansaço, indisposição, ressecamento vaginal, dor nas relações sexuais, incontinência urinária, dores articulares e falhas de memória fazem parte dos sintomas, que devem ser avaliados por um ginecologista. Humor depressivo, tristeza, irritabilidade e ansiedade são os sintomas do quadro psicológico também inerentes a esse período da vida.
Todas as mulheres apresentam os mesmos sintomas?
Não, nem todas as mulheres vão apresentar todos os sinais. Entretanto, boa parte delas apresenta os fogachos, o ressecamento vaginal, a irritabilidade e a insônia. Vale dizer que o estilo de vida da mulher é importante para a saúde integral como um todo: dieta que não seja carregada em açúcar ou gordura, ou seja, uma dieta que privilegie frutas, verduras, legumes, laticínios e carnes magras é muito importante para prevenção da osteoporose, comum nessa fase. E evitar ganho de peso e tratar a obesidade é fundamental, pois ambos podem piorar os sintomas do climatério antes e depois da menopausa.
A falta de libido é comum?
Sim, comum, e parte desta queixa pode estar relaciona à questão hormonal. Entretanto, o desejo sexual não depende apenas de hormônios, podendo estar associado a múltiplos fatores. O estilo de vida saudável, o bom relacionado com parceiro(a), a saúde do parceiro(a) devem ser levados em conta.
É comum ter alteração de humor durante a menopausa?
Sim, muito comum. Há situações dentro da faixa etária que compreende a menopausa que podem agravar o estado emocional ou problemas psicológicos já existentes. Um exemplo é a chamada síndrome do ninho vazio: quando os filhos crescem, saem de casa e a mulher passa a se sentir sozinha ou apenas com o parceiro. Isso pode pesar no humor. Além disso, questões ligadas à carreira profissional também podem gerar impacto, compondo o quadro de mudanças sociais que afetam esse momento.
É comum ter alteração de memória?
O que pode ocorrer durante o climatério é a chamada névoa mental: esquecer onde guardou um determinado objeto, buscar falar uma palavra que parece não vir à mente, ficar ligeiramente confusa tentando reportar um fato, esses são alguns dos sintomas relacionados à parte cognitiva, que podem acometer algumas mulheres, mas o corpo vai se ajustando e a boa notícia é que a névoa mental não dura para sempre.
Existe tratamento para aliviar os sintomas?
Sim, existe e deve ser individualizado. Cerca de apenas 20% das mulheres climatéricas fazem a terapia de reposição hormonal (TH). Entretanto, cada tratamento deve ser individualizado levando em conta as necessidades, os benefícios e os riscos para cada paciente, além de avaliação das melhores formas de TH (via oral, gel ou adesivo). Mulheres que tiveram câncer de mama, acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio, por exemplo, não podem fazer reposição hormonal, porém existem outros tipos de câncer que não impedem que a terapia de reposição hormonal seja feita, mas reforço: isso deve ser avaliado individualmente.