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Hepatite viral: falta de diagnóstico é o principal empecilho para erradicá-la

28/07 - Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais

“No Brasil estima-se a existência de 1 milhão de portadores de Hepatite B e 520 mil portadores de Hepatite C. Um pouco mais de um terço dos casos tem diagnóstico conhecido e conseguem acessar o tratamento. A falta de diagnóstico é o principal empecilho na meta estabelecida pela OMS e assumida pelo Brasil para a eliminação das hepatites virais até 2030”, comenta Dr. Regis Kreitchmann, ginecologista presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

As hepatites virais são doenças infectocontagiosas transmitidas por vírus, que tem como órgão alvo as células hepáticas, podendo causar quadros leves e de boa evolução até quadros que evoluem para hepatite crônica podendo levar à cirrose, câncer hepático e morte.

Os tipos de hepatites virais mais conhecidas e seus meios de contágio são: Hepatite A, que possui contágio pela água contaminada com fezes humanas, bem como pelo consumo de verduras, frutas, legumes, peixes e moluscos em contato com essa água. As hepatites B e C possuem contágio pela relação sexual sem preservativo e por meio do contato com o sangue contaminado pelo uso compartilhado de seringas, agulhas ou instrumentos não esterilizados. Ambas são mais agressivas, tendem a cronificar e causar câncer, podendo ser transmitidas na gravidez da mãe ao seu bebê.

O diagnóstico - A hepatite A possui apenas teste convencional de sangue com a técnica de ELISA (Ensaio Imunoabsorvente Ligado à Enzima). As hepatites B e C são diagnosticadas através do uso de teste rápido, disponíveis nas unidades básicas de saúde, com resultado disponível em apenas 15 minutos. Na ausência de teste rápidos, os testes laboratoriais específicos podem ser solicitados, e o resultado costuma ficar pronto em poucos dias.

Sintomas - São comuns à maioria das viroses como febre, náuseas, vômitos e fraqueza. “O amarelão dos olhos (icterícia), urina escura e fezes claras são marcadores importantes do comprometimento hepático. Com a evolução da doença podemos observar hemorragia digestiva, acúmulo de água no abdômen (ascite) e alterações neurológicas”, explica Dr. Regis. 

Formas de prevenção - A hepatite A é facilmente prevenida por meio da vacina, que está disponível desde 2014 e indicada no calendário vacinal do SUS para crianças até os 5 anos de idade, adultos portadores de hepatites, portadores do HIV, homens que fazem sexo com homens e usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Outra forma de prevenção é lavar muito bem frutas, verduras, legumes, peixes, ou seja, comer alimentos higienizados e lavados em água corrente filtrada.

A hepatite B pode ser evitada pela vacina, que existe no calendário vacinal do SUS desde 1998, possui recomendação de uso universal com doses que iniciam desde o nascimento e são completadas aos 6 meses de idade. “Esse esquema, caso tenha sido interrompido, poderá ser completado em qualquer idade. Outras indicações para vacinar são os portadores do HIV, profissionais da saúde, homens que fazem sexo com homens, pessoas que moram com portadores de hepatite B e os portadores de outras doenças hepáticas crônicas”, complementa o ginecologista. Ainda não existe vacina para a hepatite C.

O especialista explica ainda que o diagnóstico e tratamento de gestantes com Hepatite B crônica por meio do uso de antivirais (quando indicados) - associados à vacinação e ao uso de imunoglobulina anti Hepatite B ao recém-nascido - são capazes de evitar a transmissão do vírus ao bebê.

Tanto a hepatite B quando a hepatite C podem ser evitadas através do uso de preservativos nas relações sexuais e evitando o compartilhamento de instrumentos não esterilizados que tiveram contato com sangue, tais como lâminas, seringas, agulhas, alicates e escova de dentes.

Quem deve testar para doença? - O teste deve ser universal para todos os indivíduos maiores de 20 anos pois, somente assim, será possível detectar os portadores e tratá-los adequadamente, evitando a progressão, disseminação da doença e atingir a eliminação das hepatites virais na população. “Essa meta pode ser atingida, mas ainda esbarra na falta de acesso a testagem universal”, sinaliza Dr. Regis.

Ele acrescenta que, enquanto isso, é possível trabalhar na micro-eliminação das hepatites com a testagem dos grupos mais vulneráveis como: pessoas nascidas na região amazônica ou imigrantes, gestantes, filhos de portadores crônicos de hepatite, profissionais da saúde, pessoas com exposição percutânea a materiais biológicos, que não obedecem normais de vigilância sanitária, pessoas que fazem uso de drogas injetáveis, inaladas ou tragadas ou uso abusivo de bebidas alcoólicas, pessoas em situação de rua, indígenas, ribeirinhos ou quilombolas, população encarcerada, portadores de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) ou com histórico de ISTs, homens que fazem sexo com homens, pessoas portadores do HIV, pessoas com múltiplas parcerias sexuais e/ou uso inconstante do preservativo, profissionais do sexo, pessoas em uso de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP).

Hepatite viral tem cura?  - Com a hepatite B obtemos a cura funcional e evita-se a evolução da doença e a transmissibilidade, mas exige o uso contínuo do antiviral ao longo da vida. A hepatite C tem cura com o uso durante poucos meses de medicamentos orais que estão disponíveis no SUS, desde que tenha sido feito o diagnóstico da doença e encaminhada a paciente a um gastroenterologista ou hepatologista”, conta o especialista da FEBRASGO.

 

Cuidados adicionais - Pessoas que convivem com portadores de hepatite B devem estar vacinadas e fazer exame de produção de anticorpos. Aquelas que convivem com portadores de hepatite C devem apoiar que o início do tratamento do portador ocorra o mais cedo possível até garantir a cura da doença. “Enquanto isso não acontece, deve-se evitar a exposição ao sangue, não compartilhar instrumentos perfuro-cortantes, lâminas, escovas de dentes e usar preservativos em todas as relações sexuais. Todas as pessoas que convivem com portadores de hepatites crônica devem ser testados”, finaliza o médico.

 

 

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: desafios e avanços na saúde ginecológica

Comemorado em 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado na República Dominicana. A data tem como objetivo dar visibilidade à luta contra o racismo, o sexismo e todas as formas de opressão que impactam profundamente a vida das mulheres negras na América Latina e no Caribe. Além de promover reflexões sobre igualdade e justiça social, a iniciativa também busca conscientizar a sociedade sobre os desafios enfrentados por essas mulheres no acesso à saúde integral, aos direitos humanos e às políticas públicas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, mulheres negras apresentam taxas mais elevadas de mortalidade materna. Muitas vezes, isso ocorre por negligência, demora no atendimento ou por um racismo estrutural, que ainda permeia as instituições de saúde. A disparidade também se reflete no acesso à informação: campanhas educativas sobre saúde íntima e reprodutiva raramente são pensadas com recorte racial, o que dificulta a promoção do autocuidado e da prevenção entre essas mulheres.

A Dra. Lilian de Paiva Rodrigues Hsu, presidente da Comissão de Assistência Pré-natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), chama atenção para as disparidades raciais no acesso ao pré-natal, ainda presentes em diversos países. Segundo ela, inúmeros estudos revelam que mulheres pertencentes a minorias étnicas ou raciais enfrentam obstáculos significativamente maiores para acessar um atendimento pré-natal de qualidade, quando comparadas às mulheres brancas. Essa desigualdade no cuidado pode levar a um aumento dos riscos gestacionais, elevando tanto a morbidade materna quanto a perinatal.

No Brasil, onde a maioria da população feminina é composta por mulheres negras, ainda persistem desigualdades gritantes nos cuidados ginecológicos. Estudos apontam que mulheres negras são menos ouvidas durante consultas médicas, têm menos acesso a exames preventivos como o Papanicolau e a mamografia, e enfrentam maiores barreiras para acessar métodos contraceptivos e tratamentos adequados para doenças como miomas, endometriose e câncer ginecológico.

A Dra. Lilian ainda destaca que o enfrentamento das desigualdades raciais na saúde exige a adoção de medidas concretas, como o acesso equitativo aos serviços de saúde, a ampliação das ações de educação e conscientização da população, a expansão da rede de atendimento e o monitoramento contínuo dos indicadores de saúde materna. Segundo a especialista, essas iniciativas são essenciais para garantir uma assistência pré-natal mais justa e eficaz, contribuindo de forma decisiva para a redução das disparidades de saúde entre diferentes grupos raciais e étnicos.

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é fundamental lembrar que lutar por equidade também é garantir acesso à saúde de qualidade, com respeito, empatia e compromisso. Promover políticas públicas que assegurem o cuidado ginecológico integral é uma das formas mais urgentes e eficazes de combater o racismo e a desigualdade de gênero na saúde.

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FEBRASGO apoia Projeto de Lei que institui o Exame Nacional de Proficiência em Medicina

A Câmara dos Deputados aprovou no início da noite de 16/07 a urgência de tramitação do Projeto de Lei 785/24, do deputado Dr. Luizinho (PL/RJ), para a criação do Exame Nacional de Proficiência em Medicina.

Uma carta foi enviada esta semana pela Associação Médica Brasileira, com apoio de Sociedades de Especialidades Médicas e Federadas - incluindo a FEBRASGO - para sensibilizar os Deputados Federais a votarem pela aprovação do PL 785/2024.

A proposta visa alterar a Lei nº 3.268/1957 para tornar o exame um requisito obrigatório para o registro profissional nos Conselhos Regionais de Medicina e, consequentemente, para o exercício da medicina no país. A regulamentação ficará a cargo do Conselho Federal de Medicina.

Nos últimos anos, observou-se uma rápida expansão de cursos de Medicina no Brasil — muitos deles com infraestrutura inadequada e corpo docente insuficiente. Esse cenário tem gerado preocupações legítimas sobre a qualidade da formação médica, reforçando a necessidade de mecanismos de avaliação confiáveis e padronizados, que garantam a competência técnica, prática e ética dos futuros profissionais.

O Exame Nacional de Proficiência proposto busca uniformizar e elevar os padrões da prática médica brasileira, alinhando-os às melhores práticas internacionais. Dada a responsabilidade inerente ao exercício da Medicina, é fundamental assegurar que todos estejam aptos para atuar profissionalmente ao concluírem a graduação em Medicina.

A FEBRASGO reitera seu compromisso com a qualidade da formação médica e com a segurança da população, e se coloca à disposição para contribuir com o avanço deste importante projeto. O fortalecimento dos critérios de habilitação profissional é um passo decisivo para a valorização da Medicina no Brasil e para a promoção de uma assistência em saúde mais segura e qualificada.

Clique no link que segue para conferir a carta na íntegra:

https://amb.org.br/wp-content/uploads/2025/07/Carta-aos-Deputados-Federais_-Requerimento-de-Urgencia-_Projeto-de-Lei_Proficiencia_14072025_divulgacao.pdf

 

 

Violência contra a mulher: médicas também são vítimas

Especialista destaca pontos para aumentar a segurança durante o exercício profissional

Os dados do Atlas da Violência 2025 demonstram: de um total de 275.275 registros relacionados à violência contra mulheres (2023), mais de 177mil se enquadram em casos de violência doméstica, o que corresponde a 64,3% de todas as queixas registradas contra pessoas do sexo feminino.

“Além deste dado sobre violência doméstica, é preciso lembrar que nós, médicas, também estamos sujeitas à violência durante o exercício da nossa profissão, seja por parte do paciente ou de um colega de trabalho. Dados apontam que 51,14% das médicas já sofreram agressões verbais ou físicas”, comenta Dra. Maria Auxiliadora Budib, ginecologista membro do Núcleo Feminino e da Comissão Nacional Especializada em Defesa e Valorização Profissional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

Comprometida com o pleno respeito à saúde e bem-estar das mulheres, a FEBRASGO lidera a Campanha #EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher, em todas as fases da vida, incluindo a mulher médica em exercício. “Queremos questionar e romper com os discursos que alimentam a violência, incentivando uma reflexão contínua e consciente sobre o tema”, comenta a médica.

Neste sentido, ela considera importante alguns pontos para que as médicas possam expandir o tema e, ao mesmo tempo, tentar obter maior segurança no ambiente de trabalho.

  1. Conhecer a magnitude do problema - No Brasil, mais da metade das médicas já enfrentou agressões: 62,6 % relataram assédio no ambiente de trabalho e 51,1 % sofreram violência verbal ou física. É importante que elas possam conversar e debater sobre estes indicadores.
  2. Identificar os tipos de violência – Violências dos tipos física, sexual, moral, psicológica e/ou patrimonial podem ocorrer no ambiente hospitalar ou no consultório e podem ser causadas por pacientes, familiares ou colegas. Identificá-las é importante para denunciá-las e combatê-las (leia aqui).
  3. Entender o que pode desencadear situações de violência - Alguns cenários aumentam o risco de agressões contra médicas, como:
  • Falta de comunicação clara entre profissionais de saúde e pacientes ou familiares;
  • Superlotação de hospitais e serviços de emergência, que gera tensão e impaciência;
  • Frustração de pacientes com diagnósticos, tempo de espera ou limitações do sistema de saúde;
  • Ausência de suporte institucional, como falta de profissionais de segurança, câmeras ou canais eficazes para relatar agressões.

Esses fatores, somados, criam um ambiente propício para episódios de violência e precisam ser reconhecidos para que possam ser prevenidos.

  1. Ter protocolos de segurança pré-definidos – Garanta que existam protocolos de segurança no seu local de trabalho. É essencial que clínicas, hospitais e demais ambientes médicos tenham medidas bem definidas para proteger suas profissionais. Isso inclui:

Programas de orientação sobre como identificar e lidar com situações de assédio, violência e esgotamento emocional (burnout);

Ações voltadas à saúde mental das equipes, com espaços de escuta e acolhimento;

Medidas de segurança preventiva, como presença dos profissionais de segurança, câmeras, botões de pânico e regras claras sobre o que fazer em caso de agressão.

Ter protocolos claros aumenta a segurança e mostra que a instituição leva a sério a proteção das médicas e demais profissionais.

  1. Dispor de canais oficiais para denúncia – Alguns Conselhos Regionais de Medicina contam com canais específicos para relatar violência, garantindo apoio e acompanhamento. Tenha estes contatos em mãos.
  2. Denunciar à rede pública especializada - Em casos graves, procure as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs), o Disque 180 ou o Ministério Público para ativar medidas protetivas.

 

Alerta: o câncer do colo do útero é o que mais mata mulheres até os 36 anos de idade no Brasil

  • A morte por câncer do colo do útero não pode ser minimizada
  • Confira 5 dicas para prevenir o câncer do colo do útero

“O cenário atual é alarmante: a cada minuto, em todo o mundo, uma pessoa é diagnosticada com um câncer causado pelo HPV. No Brasil, os números também assustam: cerca de 19 mulheres morrem, por dia, por causa do câncer do colo do útero. É o 1º câncer que mais mata mulheres até os 36 anos de idade no país. É o 2º tipo de câncer que mais mata mulheres até os 60 anos de idade. A morte por câncer de colo do útero não pode ser minimizada”, explica Dr. Agnaldo Lopes, ginecologista e Diretor Científico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Segundo ele, apesar das diferenças regionais, o problema é observado por todo o país.

Meta Global - Em 2018, a Organização Mundial de Saúde propôs uma meta mundial até 2030 que engloba:

  • Vacinação: 90% das meninas totalmente vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade;
  • Rastreamento: 70% das mulheres rastreadas com um teste de alto desempenho até os 35 anos, e novamente aos 45 anos;
  • Tratamento: 90% das mulheres com lesões pré-cancerosas tratadas e 90% das mulheres com câncer invasivo recebendo manejo adequado.

“Para atingir esta meta, a FEBRASGO defende uma abordagem integrada baseada em três pilares fundamentais: prevenção por meio da vacinação abrangente, detecção precoce por meio de rastreamento eficaz e acesso ao tratamento de forma oportuna e equitativa”, conta Dr. Agnaldo.

Entre algumas das estratégias da FEBRASGO estão:

VACINAÇÃO - Aumentar a cobertura vacinal para mulheres e homens; ampliar os programas de vacinação nas escolas; considerar a administração de dose única em meninos e meninas; desenvolver estratégias de capacitação e orientação sobre vacinação voltadas para médicos; incentivar a ampliação do conhecimento sobre vacinação entre professores e profissionais da educação.

RASTREAMENTO - Incentivar a ampliação da cobertura e a organização do programa de rastreamento do câncer do colo do útero e de toda a cadeia de cuidados: ter um sistema único de registro populacional, baseado em dados, integrado ao e-SUS e acessível em todas as etapas do programa oficial de rastreamento; capacitar os profissionais de saúde para o encaminhamento adequado após resultados alterados; ampliar o acesso e padronizar os protocolos de atendimento; realizar busca ativa de mulheres que não foram rastreadas; reforçar a faixa etária prioritária para o rastreamento populacional, de 25 a 64 anos.

TRATAMENTO - Capacitação em diagnóstico e tratamento; apoio a grupos de pacientes; acesso em áreas remotas; criação de meios para acolher e acompanhar as mulheres com câncer do colo do útero ao longo de toda a sua jornada; considerar sempre a diversidade, a equidade e a inclusão em todos os pilares de controle do câncer do colo do útero; aprimorar os registros e indicadores relacionados ao câncer do colo do útero no Brasil.

O artigo completo com todas as estratégias da FEBRASGO pode ser acessado aqui - http://dx.doi.org/10.61622/rbgo/2024EDT02

Estima-se que, até 2030, haverá 411 mil mortes por causa do câncer do colo do útero - contra 349 mil em 2022. O fator de risco mais importante para o desenvolvimento deste câncer é a presença do vírus HPV (human papillomavirus) com seus subtipos, além de outros fatores. O tumor de colo uterino em fase inicial costuma não apresentar sintomas, por isso, muitas pacientes não procuram ajuda no início da doença.

Entre as principais medidas de prevenção estão:

  1. Vacinar meninas entre 9 e 14 anos contra o HPV.
  2. Realizar regularmente (pelo menos uma vez ao ano) o exame Papanicolau, fundamental para detectar lesões precoces e permitir o tratamento adequado.
  3. Usar preservativos durante as relações sexuais.
  4. Manter hábitos saudáveis de vida: evitar hábitos tabagistas e excesso de álcool.
  5. Mesmo que esteja vacinada, a mulher deve consultar um ginecologista anualmente.

No Brasil, as vacinas para prevenção do HPV já fazem parte do calendário vacinal desde 2013, totalmente gratuito, para meninas de 9 a 13 anos. O Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer um teste molecular para detecção do HPV e rastreamento do câncer do colo do útero. De acordo com o Ministério da Saúde, trata-se de uma tecnologia considerada inovadora, capaz de identificar alterações até 10 anos antes do que o exame convencional. A nova testagem está sendo implantada de forma gradual e deverá substituir o tradicional exame de Papanicolau.

IMPORTANTE: O HPV também pode causar câncer anal e verrugas genitais em homens, portanto, também é preciso vacinar meninos entre 9 e 14 anos contra o HPV.

 

 

 

13 de julho: Dia do Estatuto da Criança e do Adolescente

O Brasil registra, em média, quatro casos de violência sexual contra crianças e adolescentes por hora, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos. A maioria das vítimas é do sexo feminino, com idades entre 10 e 14 anos. Diante desse cenário alarmante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma ferramenta crucial para garantir não apenas a denúncia e responsabilização dos agressores, mas também o cuidado integral à saúde física e emocional das vítimas.

Nossa equipe de jornalismo entrevistou a Dra. Rosana Maria Dos Reis, presidente da CNE de Ginecologia na Infância e Adolescência, para entender como deve ser o acolhimento a estas vítimas sob a ótica do profissional ginecologista.

  1. Quando uma menina ou adolescente vítima de violência sexual chega ao consultório, quais são os primeiros cuidados que o ginecologista deve adotar, do ponto de vista clínico e emocional?

 Dra. Rosana - A abordagem médica necessita de uma boa anamnese para detecção da violência sofrida, que muitas vezes não é a queixa principal.  É preciso estabelecer um vínculo de confiança com a criança ou adolescente para que elas possam verbalizar a sua realidade, assim como para abordar sintomas e sinais que não são muito bem definidos. No caso de adolescente, a privacidade precisa ser considerada, sendo que muitas vezes é preciso estar a sós com a vítima para melhor abordagem do abuso. Nessas situações pode ser necessária uma abordagem multiprofissional, com destaque para a importância do papel do atendimento psicológico na equipe. A assistência às crianças e adolescentes deve levar em consideração todo o processo psicológico que envolve esta fase de vida.

 Os familiares deveriam ser arguidos na consulta somente após o atendimento da criança e da adolescente, sendo fundamental analisar o relacionamento com genitores, levando em consideração que, muitas vezes, a violência pode ser causada por familiares e amigos próximos.
 

  1. O ECA prevê atendimento prioritário e humanizado às vítimas de violência. Na sua prática, como isso se traduz no ambiente ginecológico? Há protocolos específicos que orientam essa conduta?

Dra. Rosana - Isto se traduz com empatia, respeito, acolhimento, conhecimento e preparo dos profissionais de saúde para este tipo de atendimento. São consideradas boas práticas no atendimento médico:

- Não se omitir de atender adolescentes por medo de repercussões legais (principalmente se forem menores de 14 anos), pois deixar de atender adolescentes ou mesmo investigar a história sexual deixará estas meninas desamparadas - e situações de abuso deixarão de ser identificadas. As adolescentes podem ser atraídas para atividade sexual com adultos bem mais velhos em troca de favores e bens.

- Abordar as adolescentes sobre aspectos relacionados à sexualidade – procurar saber idade do/a parceiro/a. Diante de grande diferença de idade entre o casal, investigar se o relacionamento é consentido ou se há algum tipo de coação.

- Afastar situações de vulnerabilidade para apresentar resistência para consentir a relação sexual em situações como estado de embriaguez, efeito de drogas, déficit cognitivo ou mesmo ser coagida ao ato por pressão do namorado ou de amigos, entre outras.

  1. Quais sinais físicos ou comportamentais levantam suspeitas de abuso sexual e merecem atenção especial por parte dos profissionais de saúde?
Dra. Rosana - Os sinais físicos ou comportamentais de abuso sexual em crianças e adolescentes podem ser variados. A violência pode ser crônica e o agressor não deixa marcas. E na adolescência os sinais podem ser confundidos com atividade sexual comum e passarem despercebidos.

Os comportamentos que podem ser considerados suspeitos são: crianças com dor ao urinar ou defecar, ou que apresentam constipação crônica ou enurese (urinar na cama) sem uma causa aparente; crianças que demonstram um conhecimento sexual inadequado para a idade ou comportamentos sexuais explícitos, pois elas podem ter sido expostas a abusos.

Assim como, também é possível suspeitar de abuso sexual diante de alguns sinais físicos listados a seguir. No entanto, é importante frisar que esses sinais não são definitivos de abuso sexual, mas podem indicar que algo está errado e merece investigação cuidadosa e sensível. 

- Presença de lesões genitais ou anorretais: hematomas, lacerações, inchaço ou sangramento na região genital ou anal. Assim como marcas de mordida ou outras lesões em áreas não expostas normalmente a traumas acidentais, como a parte interna das coxas.

- Presença de condilomas, herpes genital ou gonorreia, especialmente em crianças pequenas, pode ser altamente sugestivo de abuso.

- Presença de sangue, sêmen ou outras secreções nas roupas íntimas da criança, que pode ser um sinal direto de abuso sexual.

 

  1. É possível dar dicas para que os pais/professores/cuidadores da criança possam perceber esse abuso do ponto de vista ginecológico?

Dra. Rosana - Nas crianças e adolescentes deve-se estar atento a sinais de alerta com mudanças súbitas no apetite, problemas gastrointestinais sem causa médica definida, bem como insônia ou pesadelos frequentes, sintomas depressivos, medo ou pânico, dificuldade de concentração, ansiedade, lembranças intrusivas ou pensamentos recorrentes, comportamento agressivo e isolamento social - os quais podem ser uma resposta física ao trauma. 

 

  1. Em situações em que a violência não é revelada diretamente, qual é o limite entre respeitar o silêncio da paciente e agir conforme o dever legal de notificação?

Dra. Rosana - Deve-se nessas situações contar com a rede de apoio que trabalha junto aos serviços de referência nos estados e municípios e com os conselhos tutelares. Estes serviços, mesmo em caso de suspeitas são de suma importância, principalmente para análise do contexto social em que a adolescente está inserida. A contribuição de assistentes sociais e psicólogos é fundamental, e os serviços de referência precisam ter articulação com a rede de apoio. Além de proporcionar acompanhamento dessas crianças e adolescentes com equipe multiprofissional no próprio serviço. Muitas vezes a consulta médica pode ser a única possibilidade de poder ajudar a criança e a adolescente em uma situação de vulnerabilidade.

 

  1. Que tipo de acolhimento interprofissional é importante nesses casos? Como ginecologistas, psicólogos e assistentes sociais devem atuar em conjunto para garantir o cuidado integral previsto pelo ECA?

Dra. Rosana - O atendimento as vítimas de abuso sexual, seja na infância, adolescência ou mesmo nas outras faixas etárias das mulheres, deve ser realizado por equipes multidisciplinares, pois as especificidades dos profissionais de saúde se complementam.

O apoio se inicia no primeiro atendimento, no acolhimento no serviço, com uma boa escuta, garantindo a privacidade, respeitando o tempo daquela adolescente e inserindo-a na dinâmica de atendimento, com equipe multiprofissional. Importante entender as vulnerabilidades na qual ela está inserida, mas, principalmente, fortalecer vínculo com o profissional e a autonomia dessa paciente, estimular a autoestima e reduzir o estresse pós-traumático, que representa a situação vivenciada. 

 

  1. Como romper o tabu em torno do acompanhamento ginecológico precoce e fazer com que famílias compreendam que esse cuidado não está ligado apenas à sexualidade, mas também à proteção e prevenção de abusos?

Dra. Rosana - É fundamental a educação sexual nas escolas. A educação sexual oferece a oportunidade para as adolescentes adquirirem habilidades essenciais para a vida e desenvolver atitudes e valores positivos em relação ao sexo (ex: saber negociar a sexarca sem coerção). É preciso intensificar campanhas educativas e rodas de conversas com grupos de adolescentes na atenção básica sobre esta temática.

Assim como é importantíssimo o diálogo entre familiares relacionado a temas de educação sexual. O papel do médico visa complementar e fortalecer a educação sexual.

 

  1. Gostaria de acrescentar alguma informação?

 Dra. Rosana - De acordo com o Sinan, do Ministério da Saúde, a maior quantidade de casos de estupro ocorre entre as jovens, e as principais vítimas são as jovens de 13 anos de idade. Familiares, parceiros e ex-parceiros dos pais, amigos e conhecidos são os principais agressores, tanto dos casos de violência física como de violência sexual.

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