Agosto Dourado: aleitamento materno tem fator preventivo especialmente para o câncer de mama
A meta da OMS é que, até 2025, ao menos 50% dos bebês de até seis meses sejam amamentados exclusivamente, enquanto o Brasil pretende elevar esse índice para 70% até 2030
Segundo dados divulgados pelo governo federal, o índice de amamentação exclusiva no Brasil vem aumentando nos últimos anos. Nos anos 1970, a média de duração do aleitamento materno no Brasil era de apenas dois meses e meio. Hoje, esse tempo aumentou significativamente: as crianças brasileiras são amamentadas, em média, por 16 meses — o equivalente a 1 ano e 4 meses de vida. Apesar do avanço, o desafio ainda é grande. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta que, até 2025, pelo menos 50% dos bebês com até seis meses de idade sejam alimentados exclusivamente com leite materno. No Brasil, a expectativa do governo é ainda mais ambiciosa: alcançar um índice de 70% até 2030.
A Dra. Silvia Regina Piza, obstetra, assessora da Diretoria Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da mesma entidade, reforça a tese sobre a importância da amamentação: “A mama completa todo o seu desenvolvimento, iniciado ainda na vida embrionária, durante a gravidez e com o aleitamento materno. Esse processo não apenas prepara a mulher para produzir leite, mas também favorece sua saúde emocional e física, fortalecendo um vínculo afetivo fundamental com o bebê”.
Benefícios à saúde da mulher - Além dos aspectos biológicos, o ato de amamentar exerce um papel protetor importante para a mulher. “O aleitamento materno tem fator preventivo especialmente para o câncer de mama, devido às adaptações hormonais e celulares que ocorrem na mama durante esse período. Além disso, a amenorreia (ausência da menstruação) induzida pela amamentação traz benefícios hormonais e metabólicos adicionais à mulher no pós-parto”, destaca a Dra. Silvia.
Outro ponto relevante é o impacto emocional positivo. A amamentação reforça a relação da mãe com o bebê e pode contribuir para a prevenção da depressão pós-parto. “É uma forma de passar afeto, além de alimento. Um alimento que vale ouro”, define a especialista.
Proteção ao bebê - O leite materno é um alimento completo, com anticorpos, nutrientes e componentes imunológicos essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. Além de reduzir o risco de infecções, alergias e doenças crônicas, o aleitamento materno impacta positivamente na saúde ao longo de toda a vida do bebê.
O Brasil é referência internacional na criação e gestão de bancos de leite humano, que oferecem leite pasteurizado de qualidade para recém-nascidos cujas mães não podem amamentar. “Essas estruturas salvam vidas e ajudam a manter os benefícios do leite humano mesmo nas situações de contraindicação”, afirma a médica.
Contraindicações ao aleitamento materno
Apesar de ser altamente recomendado, o aleitamento materno possui algumas contraindicações específicas, geralmente raras, mas que precisam ser avaliadas e acompanhadas ainda durante o pré-natal. Nesses casos, a orientação profissional e o planejamento da alimentação do bebê são fundamentais.
Entre as principais contraindicações absolutas, estão:
- Infecção materna pelo vírus HIV, HTLV-1 e HTLV-2;
- Mulheres em tratamento oncológico, principalmente durante radioterapia e uso de medicamentos como quimioterápicos, imunossupressores e iodo radioativo;
- Lesões de herpes zóster na aréola, enquanto houver risco de contágio;
- Casos de hepatite B, em que o aleitamento é postergado até a criança receber imunoglobulina e vacina.
“Essas condições precisam ser detectadas com antecedência para que a família esteja preparada”, alerta a médica.
Ela também chama atenção para situações que podem dificultar a amamentação, como as cirurgias estéticas nas mamas. “Mamoplastias de aumento, por exemplo, dependendo da técnica utilizada, podem comprometer ductos e estruturas mamárias essenciais à produção de leite, interferindo negativamente no aleitamento materno.”
Rede de apoio - A presença de familiares, companheiros, profissionais de saúde e empregadores pode ser determinante para o sucesso da amamentação, especialmente em um contexto social que impõe múltiplas jornadas e desafios para as mães. “Amamentar exclusivamente e em livre demanda não é simples, especialmente para mulheres que retornam ao trabalho pouco tempo após o parto. É fundamental que empresas ofereçam condições para que essa mulher continue amamentando, com espaços adequados e flexibilidade de horários. A sociedade precisa acolher e apoiar essa mãe”.