Febrasgo apresenta orientações de contracepção para mulheres com HIV
Febrasgo apresenta orientações de contracepção para mulheres com HIV
Entidade alerta para o crescimento de 30% na taxa de detecção de HIV em gestantes, nos últimos dez anos
São Paulo, dezembro de 2021. Diante do aumento de 30% na taxa de detecção de HIV em gestantes1, no Brasil, nos últimos dez anos, (a incidência variou de 2,1 casos/mil nascidos vivos, em 2010, para 2,7 casos/mil nascidos vivos, em 2020), a Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) apresenta orientações de contracepção para mulheres com HIV (vírus da imunodeficiência humana) que não desejem gestar. Fatores como condições de saúde e terapia antirretroviral ministrada podem influenciar na indicação médica de diferentes métodos anticoncepcionais. Segundo o Ministério da Saúde, em gestações planejadas, com os devidos cuidados no pré-natal, parto e amamentação, a taxa de transmissão vertical mostra-se inferior a 2%. Em casos de ausência de acompanhamento correto, o índice pode chegar a 45%2. De acordo com o órgão, 31,8% das gestantes detectadas com o vírus ainda não haviam iniciado terapia antirretroviral3.
Atualmente, no Brasil, 920 mil pessoas vivem com HIV. Dentre elas, 65% apresentam-se em idade fértil (18 e 44 anos). A ginecologista Dra. Ilza Monteiro, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Febrasgo, recomenda que as mulheres que vivem com HIV e não desejam engravidar, utilizem a anticoncepção de alta eficácia4, sobretudo, os contraceptivos reversíveis de longa ação (LARCs), e sempre associados ao uso consistente e correto de um método de barreira eficaz, como o preservativo masculino ou feminino, em todas as relações sexuais. “Neste grupo, o uso da dupla proteção com o condom faz parte das estratégias globais de saúde pública para redução da transmissão vertical (materno fetal) e horizontal do vírus (parceiros sexuais sorodiscordantes)”, explica.
Segundo a médica, métodos de barreira como, capuz cervical e diafragma, não são recomendados para estas mulheres pela falta de proteção na transmissão do vírus HIV aos seus parceiros. Os espermicidas sem o uso do condom, inclusive, não são recomendados porque podem aumentar a chance desta transmissão.
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê o início de terapia antirretroviral (TARV) quando as pessoas testam positivo para HIV, independentemente da contagem de CD4 (células de defesa) positivo. As mulheres com HIV e que fazem uso de TARV, de modo geral, podem utilizar todos os métodos contraceptivos hormonais. DIUs de LNG ou cobre (com ou sem prata) também podem ser utilizados, desde que estas mulheres em uso de TARV estejam com a doença controlada.
Orientação de Acordo com Características de Saúde
As mulheres infectadas pelo HIV, em uso de qualquer associação antirretroviral, de modo geral podem usar o DIU-LNG ou DIU-Cu (com ou sem prata), desde que estejam assintomáticas ou com manifestação clínica da doença inicial (Estágio 1 ou 2 OMS)*. Aquelas mulheres em uso de terapia antirretroviral com manifestação clínica da doença grave ou avançada (Estágio 3 ou 4 da OMS)* não devem iniciar o uso desses métodos, até que sua doença tenha regressão para estágios clínicos iniciais ou se torne ou assintomática. “Caso a paciente portadora do HIV, usuária de DIU e TARV desenvolva manifestações clínicas que evoluam para a forma grave ou avançada, o DIU não precisa ser removido enquanto a doença está sendo controlada”, explica a ginecologista da Febrasgo.
Orientação de Acordo com o Tipo de Terapia Antirretroviral
A Dra. Ilza Monteiro aponta que as mulheres que fazem uso de Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa (NRTIs), Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (NNRTIs) mais novos contendo etravirina e rilpivirina e Inibidores da Integrase (II) podem usar sem restrições todos os métodos contraceptivos hormonais.
Aquelas que utilizam NNRTIs contendo efavirenz ou nevirapina ou Inibidores da protease (IP) contendo ritonavir, podem usar sem restrição o contraceptivo injetável de progestagênio AMPd e NET-EM. Geralmente, podem utilizar contraceptivos orais combinados, contraceptivos injetáveis combinados, adesivos e anéis contraceptivos combinados, pílulas só com progestagênios, e implantes de LNG e ETG.
“Dados clínicos e farmacocinéticos recentes levantaram preocupações sobre taxas de falha mais altas com o uso concomitante dos implantes e efavirenz. No entanto, essa combinação ainda é recomendada pela OMS para mulheres vivendo com HIV. Assim dentre os métodos reversíveis, os implantes e os DIUs são as formas mais eficazes de contracepção, comparáveis aos métodos cirúrgicos”, pondera a Dra Ilza.
A médica salienta ainda que o vínculo com os serviços de atendimento ao HIV, planejamento familiar e saúde comportamental pode aumentar a proporção de pessoas vivendo com HIV com vírus suprimido, reduzir gestações indesejadas e maximizar a saúde comportamental a longo prazo. A educação é um componente integrante do processo de aconselhamento contraceptivo e ajuda os clientes a tomar decisões informadas e a obter as informações necessárias para usar os métodos contraceptivos corretamente.
- Dados disponibilizados no Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2021, número especial, dezembro de 2021
- Dados disponibilizados no Boletim Epidemiológico, volume 52, nº 13, abril de 2021.
- Dados disponibilizados no Boletim Epidemiológico, volume 51, nº 21, maio de 2020.
- Em meio aos métodos anticoncepcionais de alta eficácia, figuram os contraceptivos:Orais combinados; Injetáveis mensais; Adesivos; Anéis vaginais; Pílulas só com progestagênios; Injetáveis de progestagênios; Implantes (DIU-LNG); Dispositivos intrauterinos com cobre (DIU-Cu). Há ainda os métodos definitivos, como a vasectomia e laqueadura tubária, indicados principalmente para mulheres que possuem filhos e não desejam engravidar novamente.
* Manifestação clínica das pacientes infectadas pelo HIV, segundo a OMS:
Estágio 1: Infecção pelo HIV é assintomática e não classificada como AIDS
Estágio 2: Inclui pequenas manifestações mucocutâneas e recorrentes infecções do trato respiratório superior
Estágio 3: Inclui diarreia crônica inexplicada por mais de um mês, as infecções bacterianas e a tuberculose pulmonar comprovados geralmente se sobrepõem
Estágio 4: A toxoplasmose cerebral, candidíase do esôfago, traqueia, brônquios e pulmões e o sarcoma de Kaposi; essas doenças são indicadores da AIDS
Recomendações Febrasgo para diminuir a hesitação vacinal
Recomendações Febrasgo para diminuir a hesitação vacinal
Risco de complicações da Covid-19 na gestação
Com dois anos de pandemia da Covid 19 no mundo, já temos as evidências suficientes sobre o risco de maiores complicações da doença durante a gestação e puerpério imediato, quando comparamos com as mulheres da mesma faixa etária que não se encontram no período gravídico e puerperal. Os dados disponíveis indicam um risco aumentado para doença grave, para maior admissão às unidades de cuidado intensivo, para maior necessidade de ventilação mecânica e maior risco de óbitos na comparação com a população geral de mulheres. Esse risco é maior nas gestantes/puérperas que tem comorbidades como cardiopatia, diabetes e obesidade.
Vacinação contra Covid-19
A Febrasgo e o Programa Nacional de Imunizações [PNI] recomendam que as gestantes e puérperas recentes recebam as duas doses da vacina da Pfizer [mRNA] e alternativamente a de vírus inativado [Coronavac] nos locais aonde não estiver disponível a da Pfizer. A Febrasgo e o PNI contra indicam as vacinas de vetor viral [AstraZeneca e Janssen] para as mulheres nesse período especial.
Com o potencial risco que representa a doença na gestação, é importante que os ginecologistas e obstetras abordem o tema nas consultas de rotina de suas pacientes.
Durante as consultas os médicos devem oferecer informações sobre o risco da doença e a segurança das vacinas aprovadas no país, sobretudo com a necessidade de ter o esquema completo das duas doses. Lembrar sempre da importância da segunda dose e também para as mulheres que completaram seu esquema vacinal há mais de 6 meses e que agora se encontram gestantes, recomendar a dose de reforço ou terceira dose com esquema homólogo, se a vacinação anterior utilizou as vacinas recomendadas na gestação, ou heterólogo com a vacina da Pfizer. Os trabalhos recentes indicam uma perda de imunidade após 6 meses da segunda dose. Daí a necessidade de se recomendar a dose de reforço.
Até o momento, não existem evidências de eventos adversos graves na gestante e nem nos fetos, e os dados vem demonstrando a segurança das vacinas na gestação.
Concluindo, para diminuir a hesitação vacinal, os ginecologistas e obstetras devem esclarecer suas pacientes sobre o risco da infecção pelo SarsCoV2 , sobre a eficácia da vacinação em proteger as gestantes e seus filhos, bem como a segurança das vacinas e, sobretudo, devem reforçar a importância da imunização completa com duas doses e, nos casos indicados, a dose de reforço em qualquer trimestre da gestação.
Comissão Nacional Especializada de Vacinas
Comissão Provisória da Febrasgo COVID-19 e Gestação