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FEBRASGO aciona Presidência e Ministério da Saúde em defesa do aleitamento materno

        A FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) soltou uma nota oficial, no início de julho, registrando indignação quanto à atitude do atual Governo dos Estados Unidos de tirar da pauta de recente reunião da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, Suíça, uma recomendação sobre a relevância do incentivo às políticas de aleitamento materno.

          “É público, lamentavelmente, que houve inclusive intimidação a outras nações, como ameaças de corte de verbas e de retirada de apoio militar”, pontua o documento.

       É de compreensão da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno (CNE) da FEBRASGO que a conduta dos representantes norte-americanos significa uma irresponsabilidade em termos de saúde pública e da proteção social da humanidade.

          “Certamente coloca em risco a vida de milhares de crianças ao redor do mundo”, afirma o diretor Corintio Mariani Neto.

        Estimativas recentes sugerem que a amamentação, se fosse ampliada para níveis universais, poderia prevenir cerca de 12% das mortes de crianças menores de cinco anos de idade a cada ano, ou cerca de 820 mil mortes em países de média e baixa renda.

        Todos os estudos científicos publicados sobre o tema comprovam que o leite materno é o único alimento completo para o recém-nascido durante os seis primeiros meses e suplementado com outros alimentos, até os dois anos ou mais.

          A amamentação protege a criança, evitando doenças físicas e mentais, diminuindo a mortalidade infantil e a subnutrição.

       A FEBRASGO, por meio da CNE de Aleitamento Materno registrou desapontamento com tal posição, destacando ser inaceitável que interesses econômicos suplantem a defesa da saúde, ignorando e insuflando o descumprimento de recomendações da OMS.

        Também instou a Presidência da República e o Ministério da Saúde, por meio de protesto formal, a se posicionar contra quaisquer ações deste gênero, pontuando incisivamente seu apoio às políticas de promoção ao aleitamento materno no País e em todo o planeta, como segurança à saúde das futuras gerações.

A abertura foi realizada por Dr. Coríntio Mariani Neto, Diretor Técnico do HMLMB e membro da Diretoria da Febrasgo, que apoia o Projeto. O Projeto Ápice On tem como objetivo geral qualificar os processos de atenção, gestão e formação relativos ao pa

A abertura foi realizada por Dr. Coríntio Mariani Neto, Diretor Técnico do HMLMB e membro da Diretoria da Febrasgo, que apoia o Projeto.

O Projeto Ápice On tem como objetivo geral qualificar os processos de atenção, gestão e formação relativos ao parto, nascimento e ao abortamento nos hospitais com atividades de ensino, incorporando um modelo com práticas baseadas em evidências científicas, humanização, segurança e garantia de direitos.

Se deseja conhecer melhor o Projeto acesse: http://idarteseventos.com.br/portalapiceon/

Para assistir aos seminários, clique aqui.

Parto Adequado

Você conhece o projeto Parto Adequado? Em breve serão publicados conteúdos atualizados sobre esse tema. Aguarde as novidades!

Sarampo: risco de surto?

        O sarampo é uma doença viral, altamente contagiosa, que pode evoluir com complicações graves. Apesar de ser evitável por uma vacina disponível, segura e eficaz, continua sendo uma importante causa de morte no mundo, principalmente em crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2016 tenham ocorrido 90.000 óbitos relacionados ao sarampo [1].

  • A doença

        O sarampo é uma doença infecciosa causada por um vírus RNA da família Paramyxoviridae, gênero Morbillivirus. A transmissão ocorre a partir do contato direto de gotículas de secreções respiratórias de pessoas infectadas. É altamente contagiosa; sem imunidade, 90% adquirem a infecção em contato com um caso de sarampo.

        O período de incubação dura de 7-21 dias até o aparecimento do exantema. Os sintomas clássicos do sarampo incluem, além do exantema, febre alta, tosse, coriza e conjuntivite. O exantema característico inicia poucos dias após o surgimento da febre e se caracteriza por ser maculopapular, eritematoso, generalizado, frequentemente pruriginoso, iniciando na face e progredindo em direção aos membros inferiores. As manchas de Koplik na mucosa oral são patognomônicas da doença, mas não são frequentemente visualizadas. A transmissão de uma pessoa para outra inicia quatro dias antes do quadro de exantema e persiste por mais quatro dias.

        As complicações mais frequentes são diarréia, otite, pneumonia (pelo próprio vírus do sarampo ou secundariamente, por bactérias) e encefalite. É geralmente mais grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de imunodeficiências. Em gestantes, pode causar aborto espontâneo e parto prematuro, embora não sejam conhecidos casos de malformações congênitas associadas à infecção pelo sarampo [2].

  • Tratamento

        Não existe tratamento específico.

  • Epidemiologia no mundo

        Segundo a OMS, até junho de 2018, foram mais de 130 mil casos suspeitos e quase 82 mil confirmados. A doença ocorre em todos os continentes. Chama atenção o número de casos na Europa, com quase 22 mil casos confirmados em 2018, sendo as maiores incidências na Ucrânia, Sérvia, Itália, Geórgia, Romênia, França e Rússia, relacionados ao principal genótipo circulante, B3 [3].

  • Epidemiologia na América

        Nas Américas são 1.209 casos confirmados em 2018, em 11 países. A grande maioria dos casos ocorreram na Venezuela (surto desde julho de 2017), seguida do Brasil, Estados Unidos e Colômbia. Principal genótipo circulante: D8 [3].

  • Epidemiologia no Brasil

        No Brasil, os últimos casos de sarampo tinham sido registrados no ano de 2015, em surtos ocorridos nos Estados do Ceará (211 casos), São Paulo (dois casos) e Roraima (um caso), esses últimos associados ao surto do Ceará. Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo pela OMS, declarando a região das Américas livre do sarampo.

        Em função da imigração dos venezuelanos, em 14/02/2018, o Estado de Roraima notificou um caso suspeito de sarampo em uma criança Venezuelana de um ano de idade, não vacinada, no município de Boa Vista (RR), confirmado posteriormente. Até 30 de maio, foram confirmados 172 casos em Roraima e 115 no Amazonas [4].

        Em 13/06/2018, o Rio Grande do Sul confirmou seis casos da doença, sendo o paciente índice de cinco deles de Porto Alegre, uma estudante de 25 anos com histórico de viagem recente ao Amazonas [5]. Outros Estados também já confirmaram casos: São Paulo (1) e Rondônia (1).

  • Prevenção

        A vacina sarampo é a forma mais eficaz de prevenir a infecção. Atualmente utiliza-se a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e/ou a tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).

        Outras medidas:

  • cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
  • lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou então, utilizar álcool em gel;
  • não compartilhar copos, talheres e alimentos;
  • procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos;
  • evitar aglomerações ou locais pouco arejados, sempre que possível;
  • manter os ambientes frequentados sempre limpos e ventilados;
  • evitar contato próximo com pessoas doentes.

 

  • Vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)

        Composta por vírus vivos atenuados, é uma vacina bastante segura e efetiva. Para o componente sarampo é relatada uma efetividade de aproximadamente 93% com uma dose e 97% com duas [6].

        O PNI recomenda a vacina tríplice viral de rotina para todas as crianças com um ano de idade e uma segunda dose aos 15 meses com a vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).

        A tríplice viral também está recomendada e disponível na rede pública até os 29 anos (em duas doses, com um mês de intervalo) e em dose única até os 49 anos de idade. Para profissionais da saúde, disponibilizada em duas doses, independente da idade [7].

        As Sociedades científicas brasileiras, incluindo a FEBRASGO, preconizam duas doses da vacina, independente da profissão ou da idade [8-10].

  • Importante saber: uso da vacina no Brasil

        No Brasil, o estado de São Paulo foi o primeiro a introduzir a vacina tríplice viral no ano de 1992 e, no restante do País, em 2003. Em 2013, a primeira dose de tríplice viral foi mantida aos 12 meses e incluída a tetra viral como segunda dose, recomendada, agora, aos 15 meses de idade. Em 2017, pela situação epidemiológica da caxumba, foi ampliada a faixa etária de recomendação da tríplice viral na rede pública para pessoas com até 49 anos. Para profissionais da saúde e aqueles até os 29 anos, ficou disponibilizada em duas doses.

        Desde 2003, houve campanhas de vacinação contra sarampo e rubéola e foram utilizadas vacinas tanto duplas como tríplices virais. Frequentemente, essas vacinas aplicadas não são/foram registradas em Cadernetas de Vacinação.

 

  • Pós-exposição

        A vacina administrada até 72 horas após contato pode prevenir a doença. A imunoglobulina humana padrão (IG) aplicada até seis dias após o contato pode prevenir ou modificar a doença.

  • Eventos adversos da Vacina

        Em geral leves e transitórios. Artralgias e dores articulares em 25% dos adultos suscetíveis. Não há evidência na literatura de que a vacina cause autismo ou espectro autista.

  • Contraindicações e precauções

        Alergia grave a qualquer componente da vacina; gestação, imunossupressão, doença aguda moderada a grave, transfusão de sangue. Alergia a ovo, mesmo grave, não é considerada contraindicação [8-10].

  • Importância do médico ser vacinado e prescrever a vacinação

        A vacinação do médico e outros profissionais da saúde é recomendada, não só para protege-los, mas também para que não sejam fonte de infecção para seus pacientes, além de um incentivo para seus pacientes se vacinem.

 

  • Alerta Sarampo em 2018

        O CVE- Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, da SES de São Paulo, em alerta do dia 18 de junho, informa que: frente ao cenário epidemiológico a situação do sarampo corresponde ao Nível 3 de Resposta e Alerta, e recomenda: ALERTA TOTAL A QUALQUER CASO SUSPEITO DE DOENÇA EXANTEMÁTICA. Casos suspeitos de sarampo e/ou rubéola devem ser notificados em 24h; investigados em 48h; coletar o material biológico para diagnóstico laboratorial e implementar as medidas de prevenção e controle de maneira ampla e oportuna [11].

 

Vacine-se e prescreva a vacina para as suas pacientes e familiares!

 

REFERÊNCIAS:

[1] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/diseases/measles/en/

[2] Cunha J, Krebs LS, Barros E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 2009.

[3] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/monitoring_surveillance/burden/vpd/surveillance_type/active/Global_MR_Update_June_2018.pdf?ua=1

[4] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/11/af-Informe-Sarampo-n10-final-5jun18.pdf

[5] CEVS. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201806/13142928-13-06-18-alerta-sarampo.pdf

[6] CDC. Centers for Disease Control and Prevention. EUA. Disponível em: https://www.cdc.gov/measles/vaccination.html

[7] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao

[8] Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 170p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO; no.13/Comissão Nacional Especializada de Vacinas).

[9] SBIm. Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários. Disponível em: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao

[10] Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19717k-DocCient-Calendario_Vacinacao_2017-maio.pdf

[11] CVE. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/sindrome-da-rubeola-congenita-src/doc/sarampo18_alerta_18junho.pdf

Autores:

Juarez Cunha
Isabella de Assis Martins Ballalai

Este documento tem o suporte da Comissão Nacional Especializada de Vacinas da FEBRASGO. Presidente: Dr. Júlio César Teixeira

 

 

Adenomiose: Quadro clínico e diagnóstico

        A adenomiose  caracteriza-se pela existência de endométrio na intimidade do miométrio além de 2,5mm de profundidade ou  no mínimo  um campo microscópio de grande aumento distante da camada basal do endométrio circundado por hiperplasia das células musculares. Há pequenos lagos de endométrio espalhados na intimidade do miométrio e/ou como um nódulo circunscrito na parede miometrial chamando de adenomioma.  A invaginação do endométrio para a musculatura uterina leva a aumento volumétrico uterino e por vezes, sangramento, dor pélvica e infertilidade.

      Tem prevalencia na literatura em 31% a 61,5% das mulheres e esta variação é explicada pelas diferentes definições histológicas utilizadas. A apresentação clínica da doença é variável assim como seu impacto sobre a vida da mulher. O avanço nas pesquisas sobre adenomiose é dificultado pela necessidade de diagnóstico histológico e ausência de consenso em relação a sua classificação. Acomete em geral as mulheres entre 40 e 50 anos, mas pode ser encontrada incidentalmente em pacientes mais jovens com quadro de sangramento uterino anormal e dismenorreia. Evidências recentes correlacionam a existência de adenomiose com infertilidade e resultados negativos, quando se emprega técnicas de reprodução assistida.

      A adenomiose é assintomática em cerca de 35% dos casos. Sangramento menstrual abundante e prolongado, presença de dismenorréia secundária que antecede até uma semana após o fluxo menstrual freqüentemente levam à suspeita de adenomiose. A freqüência e gravidade do quadro clínico estão relacionadas com a sua extensão. No exame ginecológico encontramos útero aumentado uniformemente de volume, amolecido e doloroso, principalmente no pré-menstrual.

        A identificação da zona juncional, uma linha regular com espessura ≤ 5 mm que determina o limite entre o miométrio e o endométrio, possibilita o diagnóstico não-invasivo da doença. Os avanços recentes das técnicas de imagem como a ressonância nuclear magnética (RNM) e a ultrassonografia (US) permitiram o estudo da adenomiose em mulheres com manutenção do útero e assim entender sua história natural.

        O diagnóstico clínico é apenas de presunção. Diante de útero aumentado no exame físico deve-se afastada a hipótese de gravidez antes de considerar a possibilidade de adenomiose. A USTV é o exame de imagem indicado como primeira linha para o diagnóstico da adenomiose, apresentando sensibilidade de 82% e especificidade de  até 84%. No entanto, a experiência do examinador e a qualidade do equipamento podem interferir na performance do exame. Além disto, a diversidade de critérios usados para diagnosticar adenomiose produz heterogeneidade nos estudos e dificulta a generalização dos dados. Os sinais sonográficos de adenomiose incluem aumento do volume uterino sem nódulos miomatosos, formato globoso, assimetria entre paredes uterinas, heterogeneidade difusa ou focal, cistos anecóicos no miométrio e estrias radiadas partindo do endométrio. Os cistos miometriais são considerados um dos sinais mais específico de adenomiose, no entanto só estão presentes em cerca de metade dos casos.         O mesmo acontece com as estrias ecogênicas subendometriais.

       A RM é método diagnóstico de elevada acurácia apresentando alta sensibilidade (70-88%) e especificidade (67-93%). Delineia a localização e extensão das lesões e a diferenciação entre leiomiomas e adenomiomas, sua mais importante contribuição. O parâmetro de mensuração da zona juncional mioendometrial na RM é atualmente a melhor referência para o diagnóstico de adenomiose. Zona juncional com irregularidade e espessura acima de 12 mm é  diagnóstico de adenomiose. A RM apresenta acurácia semelhante ou ligeiramente superior à da ultrassonografia transvaginal. De forma semelhante ao que se observa a ultrassonografia e à histopatologia, os critérios não são uniformes.

        A USTV tem como vantagens sobre a RM o acesso fácil e o menor custo, sendo muito bem  tolerada pelas pacientes. As limitações relacionam-se ao fato de ser um método dependente da interpretação do examinador (subjetividade), não podendo ser facilmente reproduzido no seguimento das pacientes; além de, apresentar limites em diferenciar leiomiomas de adenomiomas. A RM por sua vez é pouco dependente do operador, sua imagens são padronizadas e reprodutíveis, permite a distinção entre leiomiomas e adenomiomas. A histeroscopia pode ser usada para o diagnóstico de formas focais ou difusas superficiais, porém ainda o diagnóstico definitivo é a avaliação histopatológica.

 

 

Cuidados no Trabalho de Parto e Parto: Recomendações da OMS

        Recentemente a OMS (Organização Mundial de Saúde) liberou uma publicação denominada Intrapartum care for a positive childbirth experience1 contendo recomendações para os cuidados durante o trabalho de parto e parto. Como metodologia, realizaram uma extensa revisão dos estudos publicados, além dos protocolos de assistência de vários países. Os dados foram trabalhados em grupos e submetidos a uma comissão externa onde a FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia) também estava representada. Foram selecionados os 56 cuidados considerados mais importantes e abrangentes. Questões mais especializadas, como o manejo das distocias e das alterações de vitalidade fetal não foram incluídas.  As práticas foram classificadas como: recomendadas, não recomendadas, recomendadas apenas em contextos específicos e recomendadas apenas em protocolos de pesquisa. Os resultados diferem muito pouco da Diretriz Nacional de Assistência ao Parto, realizadas pelo CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS)2, construído com base nas diretrizes do NICE (National Institute for Healt and Care Excellence)3. Claramente o foco é no trabalho de parto espontâneo, com mãe e feto saudáveis e parto eutócico. No quadro 1, são listadas e resumidas as principais conclusões.

 

Quadro 1: Práticas recomendadas e não recomendadas, de acordo com o Modelo de cuidados intraparto da OMS, 2018. (Considerando mães e fetos/recém-natos saudáveis) 

 

Adaptado de WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience1

        Consultar no original os detalhes de cada item, as evidências consultadas e as recomendações em contextos específicos e aquelas apenas para protocolos de pesquisa.

        Os autores denominam essa nova diretriz de “Modelo de cuidados intraparto da OMS” e abordam também a importância de sua adoção para melhorar o atendimento e os resultados de nossas parturientes. Podemos fazer um paralelo com o conceito brasileiro, errôneo ao meu ver, de ”parto humanizado”.

        Vejamos um pouco nossa história. Com o advento do movimento humanista na Europa renascentista, ganhou força o racionalismo e o desenvolvimento do método científico. Como consequência ocorreu um desenvolvimento acentuado das ciências médicas. O processo de medicalização e hospitalização do nascimento foi gradativamente reduzindo os altos índices de óbitos maternos e neonatais. Mais recentemente, no final do século XX, ficou claro um “efeito colateral” desse processo. Na tentativa de melhorar ainda mais os resultados, passamos a utilizar práticas, que mais tarde se mostraram não efetivas ou não indicadas. A estrutura hospitalar (ambiência) precária, associada a uma gestão da saúde que não priorizava o processo de nascimento também contribuíram para um cenário inadequado.

        Gradativamente a medicina baseada em evidências vem demonstrando que podemos fornecer uma assistência menos intervencionista, mais respeitosa e dentro dos critérios éticos da autonomia, mantendo ou melhorando os resultados perinatais. Eu passei por esse processo e devo confessar que não foi fácil trocar uma prática que eu dominava e tinha segurança por novas posturas e atitudes. Devemos respeitar essas dificuldades e entender o processo gradativo de transformação. Quando mudamos uma prática, não significa necessariamente que estávamos errados, já que o que antes fazíamos era considerado correto. Significa que ainda temos a lucidez e a energia para nos atualizar.

        O médico obstetra é o único profissional com capacitação para atuar em todo o processo de nascimento, que vai desde a concepção até o puerpério. Portanto, não devemos temer o trabalho conjunto. Muito pelo contrário, com o trabalho interdisciplinar, ganhamos tempo para focar onde somos essenciais e ganha a paciente, que terá uma percepção de um melhor atendimento. Isso não significa que devamos nos abster da responsabilidade de acompanhar o processo de nascimento ou aceitar modelos que tentam excluir o médico de parte da atenção. Tanto a postura passiva, se isolando do processo de mudança, quanto o sectarismo, vão refletir em perda do espaço de atuação e comprometer a segurança e qualidades da assistência.

        O importante não é o título, como o equivocado “parto humanizado” ou o “modelo de cuidados intraparto da OMS”, ou como acho mais adequado, “modelo moderno de assistência ao nascimento” ou “assistência ao nascimento baseado em evidências e no respeito”. Importante é, dentro de cada realidade, implantar uma assistência com atitudes baseadas em comprovações científicas e respeito a mulher e a sua autonomia, bem como, lutar por ambientes e insumos adequados.

        A comissão nacional especializada de assistência ao parto, puerpério e abortamento da FEBRASGO está preparando recomendações, adequadas à realidade brasileira, dentro do projeto PROTOCOLOS.

 

Referências

  1. WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: World Health Organization; 2018.
  2. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal: relatório. Brasília. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, CONITEC; 2016.
  3. Intrapartum care for healthy women and babies: Clinical guideline. London. National Institute for Health and Care Excellence (NICE); 2014



Autor: 

Dr. Alberto Trapani Júnior MD-PhD (SC)

Presidente da CNE de Assistência ao Parto, Puerpério e Abortamento da FEBRASGO

Prezado Associado da FEBRASGO: Temos uma notícia muito importante e que pode lhe interessar!

       A Agência Nacional de Saúde Suplementar fará, entre os dias 19/7 e 17/8, uma consulta pública para que toda a sociedade faça sugestões sobre os procedimentos que toda Operadora de Plano de Saúde deve oferecer como cobertura obrigatória na assistência à saúde.

        Atualmente, a grande maioria de nossos clientes/pacientes possuem planos de saúde para cobertura assistencial de sua saúde e grande parte de nós, Médicos trabalhamos no dia-a-dia nos relacionando com estas Operadoras.

        Algumas vezes nos deparamos com procedimentos cirúrgicos, terapias ou exames de diagnóstico que não são liberados pelos convênios porque estes não tem a cobertura obrigatória definida pela ANS.

        Para tentar mudar esta realidade é muito importante que participemos desta consulta.

        Na área de Ginecologia e Obstetrícia a FEBRASGO fará, como legítima representante dos médicos especialistas desta área, as sugestões indicadas pelos seus associados, afim de que sejamos ouvidos como profissionais do cuidado com as Mulheres.

        Por isso, pedimos que caso você tenha alguma sugestão de itens que você considera importantes de serem incluídos no ROL da ANS, nos envie até dia 31/07/2018 estas sugestões, preferencialmente com a descrição completa e o código correspondente na CBHPM. Você pode enviar suas sugestões para: associado@febrasgo.org.br.

        Contamos com sua colaboração para o fortalecimento da GO e para ajudar as mulheres a receberem a assistência à saúde que necessitam.

 

 

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