Pesquisadores desenvolvem ovário artificial
Dinamarqueses anunciam criação de órgão que receberá os folículos ovarianos até que a paciente possa recebê-los de volta
Pesquisadores dinamarqueses divulgaram o desenvolvimento de um ovário artificial que permitirá a gestação em mulheres inférteis devido à quimioterapia e radioterapia. O anúncio ocorreu durante encontro anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana, em Barcelona, na Espanha.
“A proposta dos estudiosos da Dinamarca é retirar o folículo ovariano e estimulá-lo fora do útero para obter óvulos. Quando retirados, eles ficam em uma estrutura majoritariamente de colágeno, obtida a partir de células ovarianas. Isso é o que eles chamam de ovário artificial”, explica o ginecologista Rui Alberto Ferriani, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada de Reprodução Humana, da FEBRASGO. Desta forma, prossegue o médico, quando reimplantados, a mulher poderá uma gravidez normal, sem a necessidade de fazer fertilização in vitro.
O tratamento para combater o câncer pode causar a infertilidade. Atualmente para mulheres que serão submetidas a quimioterapia ou radioterapia recomenda-se o congelamento de óvulos e quando querem engravidar precisam fazer fertilização in vitro.
Outra opção é remover parte do tecido ovariano e congelá-lo antes do início do tratamento. Quando a paciente estiver curada, é reinserido no organismo para viabilizar uma gravidez natural.
“A lesão do ovário pela quimioterapia é um problema. Então dispomos da fertilização ou da remoção do tecido para que essa mulher possa ser mãe. A dificuldade dessa última técnica é que o tecido pode conter células cancerígenas e quando reinserimos existe a possibilidade de o câncer reincidir”, ressalta Ferriani.
O médico ainda alerta: a infertilidade depende do tipo de quimioterapia e da idade da paciente.
“Não são todos os tratamentos com quimioterapia que deixam a mulher infértil. A idade mais avançada e alguns tipos de quimioterapia podem ter um impacto maior sobre a função do ovário”.
A técnica poderá beneficiar também mulheres com esclerose múltipla e beta-talassemia, que passam por tratamentos agressivos, e aquelas com menopausa precoce.
Ainda na fase inicial de desenvolvimento, o ovário artificial deverá ser testado em humanos dentro de 5 a 10 anos, segundo informação dos pesquisadores.
Entenda o que é a bactéria transmitida sexualmente que é resistente a antibióticos
Descoberta há menos de 40 anos, mas pouco conhecida até agora, a bactéria Mycoplasma genitalium (MG) entrou no radar de especialistas, principalmente na Europa, por conta da resistência que vem desenvolvendo aos antibióticos usados no tratamento. Ela é transmitida sexualmente e pode provocar infecções nos órgãos sexuais de homens e mulheres, incluindo o risco de infertilidade ou complicações durante a gestação. No final da semana passada, a Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV (BASHH, na sigla em inglês) emitiu um alerta com novas diretrizes de tratamento para evitar que a MG se torne uma “superbactéria” nos próximos dez anos. Sua disseminação ocorre principalmente no continente europeu, mas o Ministério da Saúde monitora a circulação no Brasil. O problema é que há poucos dados sobre a incidência no país.
A infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela MG não é de notificação compulsória no país. Por isso, não se sabe exatamente quantos casos há no Brasil. Além disso, apenas uma pequena parcela das pessoas infectadas manifesta sintomas, o que pode fazer com que a transmitam sem saber. Quando a doença se manifesta, os sintomas podem causar grande desconforto.
Ministério da Saúde informou, em nota, que monitora desde o ano passado a ascensão da MG, “que ocorre principalmente no continente europeu, tanto pelo aumento da prevalência quanto pelo aumento da resistência antimicrobiana”. A pasta informou ainda que existem no país estudos de prevalência regionais que demonstram que a bactéria é muito menos frequente que outros agentes como o da gonorreia e o da clamídia.
Resistência a antibióticos
O ginecologista Newton Sérgio de Carvalho, membro da Comissão Nacional Especializada de Doenças Infecto-contagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que esta bactéria não tem uma “carapaça” que envolve as bactérias, a membrana citoplasmática. Isso já é um fator que a torna resistente a uma série de antibióticos que atuam degradando justamente essa parte. “De acordo com o médico, para as “Quinolonas”, uma classe de antimicrobianos indicada para esse tipo de bactéria, a MG já apresenta uma média de 5 a 10% de resistência.
— Sua própria constituição, portanto, tem uma resistência natural. O segundo ponto é que, mesmo com antibióticos usuais, a bactéria tem uma capacidade de criar resistência a eles, fazendo com que não funcionem. Alguns que têm efeito para clamídia, por exemplo, não funcionam para ela. Mesmo em antibióticos mais modernos ela tem apresentado resistência — afirma o médico, que é professor titular de ginecologia da Universidade Federal do Paraná. — É um agente emergente e recente, descoberto em 1980, que está se tornando cada vez mais resistente.
O ginecologista destaca que a MG é uma preocupação para todos os lugares do mundo, incluindo o Brasil. Tem uma prevalência de 1 a 2% na população geral. O índice cresce para cerca de 10% entre os adolescentes, diz ele.
— É pouco conhecida. Ficamos com a clamídia no foco e se perde a MG, o que não deveria acontecer. A clamídia tem muito menos resistência e responde melhor aos antibióticos mais simples.
Além disso, a MG é um micro-organismo que pode não causar sintomas. Na maioria das vezes, a pessoa tem a bactéria e não sabe disso. A partir daí, poderia, no futuro, sofrer consequências da infecção sem saber a origem do problema. Das pessoas contaminadas, segundo Newton, apenas 10% apresenta sintomas.
Fonte – O Globo
FEBRASGO aciona Presidência e Ministério da Saúde em defesa do aleitamento materno
A FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) soltou uma nota oficial, no início de julho, registrando indignação quanto à atitude do atual Governo dos Estados Unidos de tirar da pauta de recente reunião da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, Suíça, uma recomendação sobre a relevância do incentivo às políticas de aleitamento materno.
“É público, lamentavelmente, que houve inclusive intimidação a outras nações, como ameaças de corte de verbas e de retirada de apoio militar”, pontua o documento.
É de compreensão da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno (CNE) da FEBRASGO que a conduta dos representantes norte-americanos significa uma irresponsabilidade em termos de saúde pública e da proteção social da humanidade.
“Certamente coloca em risco a vida de milhares de crianças ao redor do mundo”, afirma o diretor Corintio Mariani Neto.
Estimativas recentes sugerem que a amamentação, se fosse ampliada para níveis universais, poderia prevenir cerca de 12% das mortes de crianças menores de cinco anos de idade a cada ano, ou cerca de 820 mil mortes em países de média e baixa renda.
Todos os estudos científicos publicados sobre o tema comprovam que o leite materno é o único alimento completo para o recém-nascido durante os seis primeiros meses e suplementado com outros alimentos, até os dois anos ou mais.
A amamentação protege a criança, evitando doenças físicas e mentais, diminuindo a mortalidade infantil e a subnutrição.
A FEBRASGO, por meio da CNE de Aleitamento Materno registrou desapontamento com tal posição, destacando ser inaceitável que interesses econômicos suplantem a defesa da saúde, ignorando e insuflando o descumprimento de recomendações da OMS.
Também instou a Presidência da República e o Ministério da Saúde, por meio de protesto formal, a se posicionar contra quaisquer ações deste gênero, pontuando incisivamente seu apoio às políticas de promoção ao aleitamento materno no País e em todo o planeta, como segurança à saúde das futuras gerações.
A abertura foi realizada por Dr. Coríntio Mariani Neto, Diretor Técnico do HMLMB e membro da Diretoria da Febrasgo, que apoia o Projeto. O Projeto Ápice On tem como objetivo geral qualificar os processos de atenção, gestão e formação relativos ao pa
A abertura foi realizada por Dr. Coríntio Mariani Neto, Diretor Técnico do HMLMB e membro da Diretoria da Febrasgo, que apoia o Projeto.
O Projeto Ápice On tem como objetivo geral qualificar os processos de atenção, gestão e formação relativos ao parto, nascimento e ao abortamento nos hospitais com atividades de ensino, incorporando um modelo com práticas baseadas em evidências científicas, humanização, segurança e garantia de direitos.
Se deseja conhecer melhor o Projeto acesse: http://idarteseventos.com.br/portalapiceon/
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Parto Adequado
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Sarampo: risco de surto?
O sarampo é uma doença viral, altamente contagiosa, que pode evoluir com complicações graves. Apesar de ser evitável por uma vacina disponível, segura e eficaz, continua sendo uma importante causa de morte no mundo, principalmente em crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2016 tenham ocorrido 90.000 óbitos relacionados ao sarampo [1].
- A doença
O sarampo é uma doença infecciosa causada por um vírus RNA da família Paramyxoviridae, gênero Morbillivirus. A transmissão ocorre a partir do contato direto de gotículas de secreções respiratórias de pessoas infectadas. É altamente contagiosa; sem imunidade, 90% adquirem a infecção em contato com um caso de sarampo.
O período de incubação dura de 7-21 dias até o aparecimento do exantema. Os sintomas clássicos do sarampo incluem, além do exantema, febre alta, tosse, coriza e conjuntivite. O exantema característico inicia poucos dias após o surgimento da febre e se caracteriza por ser maculopapular, eritematoso, generalizado, frequentemente pruriginoso, iniciando na face e progredindo em direção aos membros inferiores. As manchas de Koplik na mucosa oral são patognomônicas da doença, mas não são frequentemente visualizadas. A transmissão de uma pessoa para outra inicia quatro dias antes do quadro de exantema e persiste por mais quatro dias.
As complicações mais frequentes são diarréia, otite, pneumonia (pelo próprio vírus do sarampo ou secundariamente, por bactérias) e encefalite. É geralmente mais grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de imunodeficiências. Em gestantes, pode causar aborto espontâneo e parto prematuro, embora não sejam conhecidos casos de malformações congênitas associadas à infecção pelo sarampo [2].
- Tratamento
Não existe tratamento específico.
- Epidemiologia no mundo
Segundo a OMS, até junho de 2018, foram mais de 130 mil casos suspeitos e quase 82 mil confirmados. A doença ocorre em todos os continentes. Chama atenção o número de casos na Europa, com quase 22 mil casos confirmados em 2018, sendo as maiores incidências na Ucrânia, Sérvia, Itália, Geórgia, Romênia, França e Rússia, relacionados ao principal genótipo circulante, B3 [3].
- Epidemiologia na América
Nas Américas são 1.209 casos confirmados em 2018, em 11 países. A grande maioria dos casos ocorreram na Venezuela (surto desde julho de 2017), seguida do Brasil, Estados Unidos e Colômbia. Principal genótipo circulante: D8 [3].
- Epidemiologia no Brasil
No Brasil, os últimos casos de sarampo tinham sido registrados no ano de 2015, em surtos ocorridos nos Estados do Ceará (211 casos), São Paulo (dois casos) e Roraima (um caso), esses últimos associados ao surto do Ceará. Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo pela OMS, declarando a região das Américas livre do sarampo.
Em função da imigração dos venezuelanos, em 14/02/2018, o Estado de Roraima notificou um caso suspeito de sarampo em uma criança Venezuelana de um ano de idade, não vacinada, no município de Boa Vista (RR), confirmado posteriormente. Até 30 de maio, foram confirmados 172 casos em Roraima e 115 no Amazonas [4].
Em 13/06/2018, o Rio Grande do Sul confirmou seis casos da doença, sendo o paciente índice de cinco deles de Porto Alegre, uma estudante de 25 anos com histórico de viagem recente ao Amazonas [5]. Outros Estados também já confirmaram casos: São Paulo (1) e Rondônia (1).
- Prevenção
A vacina sarampo é a forma mais eficaz de prevenir a infecção. Atualmente utiliza-se a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e/ou a tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
Outras medidas:
- cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
- lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou então, utilizar álcool em gel;
- não compartilhar copos, talheres e alimentos;
- procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos;
- evitar aglomerações ou locais pouco arejados, sempre que possível;
- manter os ambientes frequentados sempre limpos e ventilados;
- evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Composta por vírus vivos atenuados, é uma vacina bastante segura e efetiva. Para o componente sarampo é relatada uma efetividade de aproximadamente 93% com uma dose e 97% com duas [6].
O PNI recomenda a vacina tríplice viral de rotina para todas as crianças com um ano de idade e uma segunda dose aos 15 meses com a vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
A tríplice viral também está recomendada e disponível na rede pública até os 29 anos (em duas doses, com um mês de intervalo) e em dose única até os 49 anos de idade. Para profissionais da saúde, disponibilizada em duas doses, independente da idade [7].
As Sociedades científicas brasileiras, incluindo a FEBRASGO, preconizam duas doses da vacina, independente da profissão ou da idade [8-10].
- Importante saber: uso da vacina no Brasil
No Brasil, o estado de São Paulo foi o primeiro a introduzir a vacina tríplice viral no ano de 1992 e, no restante do País, em 2003. Em 2013, a primeira dose de tríplice viral foi mantida aos 12 meses e incluída a tetra viral como segunda dose, recomendada, agora, aos 15 meses de idade. Em 2017, pela situação epidemiológica da caxumba, foi ampliada a faixa etária de recomendação da tríplice viral na rede pública para pessoas com até 49 anos. Para profissionais da saúde e aqueles até os 29 anos, ficou disponibilizada em duas doses.
Desde 2003, houve campanhas de vacinação contra sarampo e rubéola e foram utilizadas vacinas tanto duplas como tríplices virais. Frequentemente, essas vacinas aplicadas não são/foram registradas em Cadernetas de Vacinação.
- Pós-exposição
A vacina administrada até 72 horas após contato pode prevenir a doença. A imunoglobulina humana padrão (IG) aplicada até seis dias após o contato pode prevenir ou modificar a doença.
- Eventos adversos da Vacina
Em geral leves e transitórios. Artralgias e dores articulares em 25% dos adultos suscetíveis. Não há evidência na literatura de que a vacina cause autismo ou espectro autista.
- Contraindicações e precauções
Alergia grave a qualquer componente da vacina; gestação, imunossupressão, doença aguda moderada a grave, transfusão de sangue. Alergia a ovo, mesmo grave, não é considerada contraindicação [8-10].
- Importância do médico ser vacinado e prescrever a vacinação
A vacinação do médico e outros profissionais da saúde é recomendada, não só para protege-los, mas também para que não sejam fonte de infecção para seus pacientes, além de um incentivo para seus pacientes se vacinem.
- Alerta Sarampo em 2018
O CVE- Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, da SES de São Paulo, em alerta do dia 18 de junho, informa que: frente ao cenário epidemiológico a situação do sarampo corresponde ao Nível 3 de Resposta e Alerta, e recomenda: ALERTA TOTAL A QUALQUER CASO SUSPEITO DE DOENÇA EXANTEMÁTICA. Casos suspeitos de sarampo e/ou rubéola devem ser notificados em 24h; investigados em 48h; coletar o material biológico para diagnóstico laboratorial e implementar as medidas de prevenção e controle de maneira ampla e oportuna [11].
Vacine-se e prescreva a vacina para as suas pacientes e familiares!
REFERÊNCIAS:
[1] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/diseases/measles/en/
[2] Cunha J, Krebs LS, Barros E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 2009.
[3] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/monitoring_surveillance/burden/vpd/surveillance_type/active/Global_MR_Update_June_2018.pdf?ua=1
[4] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/11/af-Informe-Sarampo-n10-final-5jun18.pdf
[5] CEVS. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201806/13142928-13-06-18-alerta-sarampo.pdf
[6] CDC. Centers for Disease Control and Prevention. EUA. Disponível em: https://www.cdc.gov/measles/vaccination.html
[7] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao
[8] Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 170p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO; no.13/Comissão Nacional Especializada de Vacinas).
[9] SBIm. Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários. Disponível em: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao
[10] Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19717k-DocCient-Calendario_Vacinacao_2017-maio.pdf
[11] CVE. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/sindrome-da-rubeola-congenita-src/doc/sarampo18_alerta_18junho.pdf
Adenomiose: Quadro clínico e diagnóstico
A adenomiose caracteriza-se pela existência de endométrio na intimidade do miométrio além de 2,5mm de profundidade ou no mínimo um campo microscópio de grande aumento distante da camada basal do endométrio circundado por hiperplasia das células musculares. Há pequenos lagos de endométrio espalhados na intimidade do miométrio e/ou como um nódulo circunscrito na parede miometrial chamando de adenomioma. A invaginação do endométrio para a musculatura uterina leva a aumento volumétrico uterino e por vezes, sangramento, dor pélvica e infertilidade.
Tem prevalencia na literatura em 31% a 61,5% das mulheres e esta variação é explicada pelas diferentes definições histológicas utilizadas. A apresentação clínica da doença é variável assim como seu impacto sobre a vida da mulher. O avanço nas pesquisas sobre adenomiose é dificultado pela necessidade de diagnóstico histológico e ausência de consenso em relação a sua classificação. Acomete em geral as mulheres entre 40 e 50 anos, mas pode ser encontrada incidentalmente em pacientes mais jovens com quadro de sangramento uterino anormal e dismenorreia. Evidências recentes correlacionam a existência de adenomiose com infertilidade e resultados negativos, quando se emprega técnicas de reprodução assistida.
A adenomiose é assintomática em cerca de 35% dos casos. Sangramento menstrual abundante e prolongado, presença de dismenorréia secundária que antecede até uma semana após o fluxo menstrual freqüentemente levam à suspeita de adenomiose. A freqüência e gravidade do quadro clínico estão relacionadas com a sua extensão. No exame ginecológico encontramos útero aumentado uniformemente de volume, amolecido e doloroso, principalmente no pré-menstrual.
A identificação da zona juncional, uma linha regular com espessura ≤ 5 mm que determina o limite entre o miométrio e o endométrio, possibilita o diagnóstico não-invasivo da doença. Os avanços recentes das técnicas de imagem como a ressonância nuclear magnética (RNM) e a ultrassonografia (US) permitiram o estudo da adenomiose em mulheres com manutenção do útero e assim entender sua história natural.
O diagnóstico clínico é apenas de presunção. Diante de útero aumentado no exame físico deve-se afastada a hipótese de gravidez antes de considerar a possibilidade de adenomiose. A USTV é o exame de imagem indicado como primeira linha para o diagnóstico da adenomiose, apresentando sensibilidade de 82% e especificidade de até 84%. No entanto, a experiência do examinador e a qualidade do equipamento podem interferir na performance do exame. Além disto, a diversidade de critérios usados para diagnosticar adenomiose produz heterogeneidade nos estudos e dificulta a generalização dos dados. Os sinais sonográficos de adenomiose incluem aumento do volume uterino sem nódulos miomatosos, formato globoso, assimetria entre paredes uterinas, heterogeneidade difusa ou focal, cistos anecóicos no miométrio e estrias radiadas partindo do endométrio. Os cistos miometriais são considerados um dos sinais mais específico de adenomiose, no entanto só estão presentes em cerca de metade dos casos. O mesmo acontece com as estrias ecogênicas subendometriais.
A RM é método diagnóstico de elevada acurácia apresentando alta sensibilidade (70-88%) e especificidade (67-93%). Delineia a localização e extensão das lesões e a diferenciação entre leiomiomas e adenomiomas, sua mais importante contribuição. O parâmetro de mensuração da zona juncional mioendometrial na RM é atualmente a melhor referência para o diagnóstico de adenomiose. Zona juncional com irregularidade e espessura acima de 12 mm é diagnóstico de adenomiose. A RM apresenta acurácia semelhante ou ligeiramente superior à da ultrassonografia transvaginal. De forma semelhante ao que se observa a ultrassonografia e à histopatologia, os critérios não são uniformes.
A USTV tem como vantagens sobre a RM o acesso fácil e o menor custo, sendo muito bem tolerada pelas pacientes. As limitações relacionam-se ao fato de ser um método dependente da interpretação do examinador (subjetividade), não podendo ser facilmente reproduzido no seguimento das pacientes; além de, apresentar limites em diferenciar leiomiomas de adenomiomas. A RM por sua vez é pouco dependente do operador, sua imagens são padronizadas e reprodutíveis, permite a distinção entre leiomiomas e adenomiomas. A histeroscopia pode ser usada para o diagnóstico de formas focais ou difusas superficiais, porém ainda o diagnóstico definitivo é a avaliação histopatológica.