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Está certo fazer ultrassonografia das mamas de rotina em mulheres com menos de 40 anos ao invés da mamografia ?

Vou te pedir uma ultrassonografia das mamas para fazer prevenção porque você ainda não tem 40 anos para fazer mamografia.

Reconhece a frase acima? É um bom emprego da tecnologia?

Vamos examinar mais a fundo.

O que significa um exame de prevenção? Significa rastrear, fazer um exame em uma pessoa assintomática na tentativa de diagnosticar precocemente uma determinada doença presumindo que essa precocidade do diagnóstico torne o tratamento mais eficaz.

Também está implícito na frase que a paciente precisa de um exame, e como ela não está na idade de fazer mamografia, ela fará uma ultrassonografia.

Talvez o leitor concorde comigo que nas entrelinhas estão ainda duas informações subliminares: “mal não faz” e “não custa nada”.

Reflitamos.

O rastreamento de uma doença só está indicado se ficar comprovado o seu benefício. E não há nenhum dado na literatura que mostre benefícios em rastrear com ultrassonografia mamária uma população de mulheres de menos de 40 anos de risco normal (as pacientes com verdadeiro alto risco são um caso totalmente distinto). Portanto “prevenção do câncer” (seria melhor dizer rastreamento ou detecção precoce) em uma mulher de 30 anos assintomática e de risco normal com ultrassonografia mamária não pode ser uma indicação aceita.

A presunção de que deve ser pedido um exame de mama obrigatoriamente para que o atendimento ginecológico de uma paciente assintomática seja bem feito. O exame só deve ser pedido se houver um benefício. Sabemos da pressão que as pacientes fazem para que solicitemos exames. Quantas vezes não ouvimos a frase “mudei de médico porque ele não me pediu nenhum exame”. Mas não devemos ceder a essa pressão sem ao menos tentar explicar para a paciente a ausência do benefício. Há outras formas de demonstrarmos que nos preocupamos com a saúde das mamas da paciente: conversar sobre auto palpação, sobre o que ela deve fazer se tiver um nódulo palpável ou uma descarga papilar, realizar um exame físico cuidadoso e atento. Não podemos esquecer que a solicitação de um exame mal indicado cria nas pacientes coletivamente uma sensação de que esse exame deva ser pedido sempre, gerando uma falsa demanda para o exame. Desfazer um costume é mais difícil que impedir a sua criação.

Por último, examinemos as afirmativas “mal não faz” e “não custa nada”. Não há exame ou intervenção médica que não tenha potencialmente uma iatrogenia associada. Assim como a prescrição de um medicamento de baixo risco pode resultar, mesmo que raramente, em uma reação alérgica grave e a colheita de um simples hemograma pode levar a complicações como a flebite, a ultrassonografia mamária também tem riscos. O maior deles é o falso positivo. Biópsias desnecessárias, exames adicionais, angústias, e até tratamentos e cirurgias diagnósticas dispensáveis. O que intuitivamente é percebido como um “direito da paciente” (fazer o exame) pode na verdade se tornar uma iatrogenia (prejudicar a paciente). E o custo não é só médico-humano. Há, sim, um custo financeiro. Os sistemas de saúde já estão sob uma grande pressão pelo crescimento da chamada inflação médica. Há muitas causas para esse aumento dos custos, a maior delas sendo a incorporação de novas técnicas e tratamentos, mas seria de boa norma não adicionarmos a realização de exames mal indicados em larga escala. E de uma forma perversa o aumento de gastos com exames desnecessários em uma prestadora de serviços médicos irá levar à diminuição dos honorários pagos aos outros médicos, pois o montante a ser dividido nunca tem a elasticidade necessária.

Uma última reflexão. O aumento exponencial na demanda por ultrassonografia mamária exige a disponibilização de um grande contingente de ultrassonografistas. Não havendo condições que provê-los, esses exames passarão a ser feitos por profissionais menos bem preparados, diminuindo a chance de uma paciente que realmente precisa ser atendida por um ultrassonografista bem formado. A ultrassonografia mamária, em função da discreta diferença entre o tecido normal e o patológico, é um exame que tem uma curva de aprendizado particularmente longa.

Uma ressalva, estamos falando de moças assintomáticas. A paciente portadora de nódulo palpável deve receber uma abordagem totalmente diferente.

Sei que essas reflexões irão de encontro a costumes difícil de combater, pressões sociais, rotinas regionais. Mas, ainda que não seja possível reverter de imediato uma situação estabelecida, é mister conhecer esses argumentos para embasar uma mudança no dia em que ela se tornar possível.

Autor: Hélio Sebastião Amâncio de Camargo Júnior

 

 

O Impacto da Obesidade sobre a Fertilidade Feminina

A obesidade e o sedentarismo representam problemas importantes para a saúde pública, devido ao aumento acelerado de suas prevalências e associação com efeitos adversos à saúde cardiovascular e metabólica em idades cada vez mais precoces1-3.

O número de pessoas obesas supera mais de um bilhão de indivíduos em todo o mundo4 e dados recentes do Ministério da Saúde (2013) demonstram que a obesidade acomete um em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais (20,8%), sendo que o percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens) 5.

Apesar de parte das mulheres obesas engravidarem espontaneamente, sabe-se que a obesidade em mulheres em idade reprodutiva interfere negativamente nas chances de gestação, contribuindo para o aumento dos casos de infertilidade. Mulheres obesas têm três vezes mais chances de sofrer de infertilidade anovulatória do que pacientes com IMC normal6, além de ser co-morbidade associada a menores taxas de sucesso em ciclos de reprodução assistida7. A associação da obesidade com infertilidade decorrente de anovulação já é bem conhecida, entretanto, ainda não se chegou a nenhuma conclusão definitiva sobre os mecanismos pelos quais a obesidade interfere na concepção. Essa breve revisão se propõe a descrever outros possíveis macanismos envolvidos na piora da fertilidade que possam estar associados a comprometimento de qualidade oocitária, embrionária ou endometrial. Eles envolvem, de uma forma geral, estado pró-inflamatório, lipotoxicidade, tecido adiposo e seus hormônios, além de estresse oxidativo.

O excesso de ácidos graxos livres pode levar a efeito tóxico em tecidos reprodutivos levando a dano celular e a um estado de inflamação crônica de baixo grau8 em fluido folicular com níveis elevados de insulina, triglicérides e marcadores inflamatórios, como lactato e proteína C-reativa (PCR)9, além de afetar o oócito e o embrião devido a disrupção do fuso meiótico e comprometimento da dinâmica mitocondrial.

Em se tratando de qualidade oocitária, sugere-se que um possível mecanismo seja a lipotoxicidade. Mulheres obesas têm níveis circulantes mais elevados de ácidos graxos livres que podem danificar células não adiposas pela elevação de espécies reativas de oxigênio que induzem estresse tanto em mitôndrias quanto em retículo endoplasmático, levando à apoptose e anormalidades na morfologia do complexo cumulus oophorus10,11.

Além disso, a lipotoxicidade também exerce papel importante no desenvolvimento de resistência à insulina e aumento do estado pró-inflamatório12, observado pelos níveis mais elevados de proteína C reativa, marcador sistêmico de inflamação13, e de várias adipoquinas pró-inflamatórias, como a leptina, fator de necrose tumoral α (TNF- α) e interleucinas (IL-6)14. Não obstante, apresentam níveis circulantes reduzidos de uma importante adipoquina anti-inflamatória chamada adiponectina.

Níveis mais elevados de leptina em mulheres obesas se correlacionam com níveis mais elevados dessa substância também em fluido folicular15, e estudos in vitro sugerem que a leptina pode afetar vias esteroidogênicas nas células da granulosa, levando a um decréscimo na produção de estrogênio e de progesterona de forma dose-dependente16-19. Esse efeito da obesidade sobre o oócito pode gerar um efeito em cascata sobre a receptividade endometrial e implantação embrionária.

O embrião pré implantação também parece ser afetado por ambientes específicos da obesidade8. Embriões de ratos confinados com obesidade induzida por dieta apresentam menor expressão de receptor de IGF-1, afetando negativamente a sensibilidade à insulina e o transporte de glicose20. Outro estudo com mulheres com sobrepeso observou que seus embriões apresentavam menor tendência de se desenvolver após a fertilização, atingiam o estágio de mórula mais rapidamente, chegavam ao estágio de blastocisto com menos células no trofectoderma e apresentavam menor consumo de glicose e aumento nos níveis de triglicérides21. Os embriões podem também ser susceptíves a lipotoxicidade, como discutido previamente para os oócitos. Em mulheres submetidas à FIV, níveis elevados de ácido α-linoleico estavam associados a redução nas taxas de gravidez22, enquanto que o aumento da relação ácido linoleico ∕ ácido  α-linoleico se correlaciona com melhora nas taxas de gestação na mesma população23. Como abordado acima, níveis alterados de adipoquinas, como a leptina podem afetar a esteroidogênese e afetar diretamente o desenvolvimento do embrião. O nível de leptina tem efeito estimulante sobre o crescimento de células tronco-trofoblásticas humanas in vitro e sua inibição diminui a proliferação e aumenta drasticamente a apoptose24. Níveis persistentemente elevados de leptina poderiam reduzir a sensibilidade do trofoblasto aos seus efeitos.

Quanto ao endométrio, observa-se evidência de comprometimento de decidualização do estroma em mulheres obesas, o que explicaria a subfecundidade decorrente de comprometimento de receptividade endometrial15,25. Tal situação poderia estar envolvida em anormalidades placentárias manifestadas por maiores taxas de aborto, parto prematuro e pré-eclâmpsia na população obesa. A leptina também parece afetar o endométrio, devido a um possível papel regulatório na remodelação do epitélio endometrial humano, estimulando vias de proliferação e apoptose celular in vitro25. Além disso, parece modular a receptividade endometrial, como evidenciado através de regulação positiva de marcadores de receptividade mediante exposição à leptina tanto em células estromais quanto epiteliais27. Dessa forma, uma desregulação crônica das vias de leptina na obesidade pode afetar negativamente a implantação8.

Observamos que os mecanismos propostos para a infertilidade associada à obesidade são diversos e vão muito além da questão anovulatória. Muitas intervenções têm sido propostas no tratamento da obesidade ligada à infertilidade, como perda de peso, atividade física, dietas e cirurgia bariátrica. A compreensão desses possíveis mecanismos associados poderá nos guiar na proposição de novas estatégias de tratamento.

 

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Como diagnosticar e quando tratar Insuficiência Istmocervical ?

A Insuficiência Istmocervical (IIC) é a doença em que a falha no sistema oclusivo do útero determina abortos tardios e partos prematuros, tornando-se uma gravidez de alto risco.

O quadro clínico característico é de histórico de perdas gestacionais, sempre na mesma época da gravidez, que começam com cervicodilatação, seguido de rotura das membranas, com expulsão rápida do concepto associado a pouca dor e pouco sangramento e concepto vivo e sem malformações.

O diagnóstico fora da gravidez se faz pela anamnese referindo a história típica de perdas gestacionais prévias, e pode ser complementado pelo teste da vela 8 e histerosalpingografia. Os exames complementares não são fundamentais, mas auxiliam a verificar a dilatação e a posição do orifício interno do colo do útero. Na gestação, o diagnóstico também se faz pela anamnese e eventual cervicodilatação fora de trabalho de parto. O Ultra-som durante a gestação pode mostrar as membranas prolabando pelo canal cervical, produzindo a imagem em dedo de luva ou em ampulheta. Cabe ressaltar que o colo curto não faz diagnóstico de IIC, e que o comprimento curto do colo só auxilia no diagnóstico de IIC quando já houver história de prematuridade prévia.

Uma vez diagnosticada a IIC o tratamento deverá ser a cerclagem, que consiste em sutura em bolsa. Três são as técnicas em que todas as outras se baseiam:

  • Shirodkar, que requer abertura da mucosa vaginal, por via transvaginal;
  • McDonald, que é a sutura circular transmucosa, também por via transvaginal;
  • Benson-Durfee, realizada por via abdominal;

Não há evidências de que uma ténica apresente melhores resultados que a outra, e o cirurgião deve optar pela que tenha maior afinidade. A mais usada, em vista de menor morbidade, é a de McDonald.

Essas cirurgias devem ser realizadas, quando possível, entre 12 e 16 semanas de gestação, após o Ultra-Som morfológico de primeiro trimestre descartar grandes malformações no concepto. Perdida essa oportunidade, pode-se praticá-la até 25 semanas.

Importante tratar as vulvovaginites antes do procedimento, que deverá ser realizado sob raquianestesia, com a bexiga vazia e em posição de Trendelemburg.  Pode-se usar como fio de sutura o Prolene 2  com agulha G-9 ou Ethibond 2 já agulhado. Não há necessidade de uterolíticos ou do uso de antibióticos durante ou após a cirurgia. A alta hospitalar deverá ser de 6 a 24h após o procedimento. No Pós-operatório não há necessidade de repouso absoluto sendo que a paciente deverá receber informção de ter vida praticamente normal.

São contra-indicações absolutas à cerclagem a presença de contrações uterinas de trabalho de parto, o sangramento e alterações do bem estar fetal.

O fio deverá ser retirado ao redor de 37 semanas de gravidez, após o que deve-se aguardar que a paciente entre em trabalho de parto. O tempo entre a retirada do fio e a parturição, em média, é de 7 dias, período em que o colo geralmente apresenta algum grau de cervicodilatação. Caso haja indicação obstétrica de cesárea, o fio deverá ser retirado, ainda sob efeito da anesteria, logo após o parto. O fio tambem deverá ser retirado se houver rotura das membranas, trabalho de parto ou se houver alteração da vitalidade fetal.

Pode-se pensar em manter a cerclagem para partos futuros? Não existem estudos, mas uma das complicações mais desagradáveis da cerclagem é o aumento importante de corrimento vaginal e existe a possibilidade desta cervicite vir a ser causa de dificuldade para engravidar. Portanto, essa conduta não tem sido adotada como rotineira.

Na cerclagem de urgência, com as membranas expostas, é necessário  respeitar as contra-indicações: o colo não pode ter dilatação acima de 4 cm e não estar muito esvaecido, não pode haver suspeita de corioamninite e o concepto deve ter vitalidade conservada. Também há necessidade de discutir com o casal riscos e vantagens. A literatura mostra haver cerca de 60 a 70% de sobrevida do concepto, mas, em geral, a cerclagem de urgência prorroga aproximadamente em 8 semanas a gestação e pode tirar de situação em que o concepto morreria por não atingir idade gestacional de viabilidade .

As cerclagens mais difíceis são as com membranas prolabadas para dentro da vagina, em que há necessidade de reduzir as membranas para dentro da cavidade uterina. Pode-se fazê-lo com chumaço de gaze embebido em soro fisiológico, balão da sonda de Folley ou pela redução do líquido amniótico por amniodrenagem orientada por Ultra-Som no momento da cirurgia.

Na exposição das membranas há que se ter muito cuidado com a possibilidade de infecção após o procedimento, uma vez que podemos ter uma corioamnionite subclínica.

Finalmente, os bons resultados da cerclagem dependem de diagnóstico correto da Insuficiência Istmocervical e de sua realização no momento oportuno.

 

Leituras suplementares: Guidelines do ACOG

 

 

 

 

 

Estilo de vida, fatores modificáveis, obesidade e saúde psíquica. Um olhar sobre a saúde das mulheres através da gravidez, parto e puerpério

No final de 2015 a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que dão continuidade, de maneira mais ampla e abrangente, às metas do milênio que vigoraram até 2015.

Os ODS têm como objetivo geral "boa saúde, bem-estar, possibilidade de desenvolvimento sustentável para todos” e inclui dezessete itens, entre os quais: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar (item 3); assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade (item 4); alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas (item 5) e redução das desigualdades (item 10). Tais metas se relacionam, de forma mais ou menos direta, com a saúde da mulher (1).

O conceito de saúde pode ser entendido de uma maneira simplista como a “não-doença” ou então, num sentido mais amplo, englobando cinco itens: nutrição, atividade física, controle do estresse, qualidade de relacionamentos e comportamento preventivo, além da ausência de doenças (2,3). Isso leva os profissionais de saúde a terem que repensar suas funções, principalmente o médico que deverá compreender que seu trabalho consiste não apenas em tratar as doenças, mas também, de maneira preventiva, promover saúde para a população com que trabalha (3).

A gestação é uma janela de oportunidades para as ações de promoção de saúde, pois as mulheres estão muito próximas aos serviços e profissionais de saúde. Além da quantidade de consultas e atendimentos, estão sensibilizadas e dispostas a colocar em prática o que se sabe sobre promoção de saúde, mas não se pratica. Os profissionais de saúde, por sua vez, precisam estar atentos a isso e aproveitar essa oportunidade e trabalhar das mais diversas formas para que esse momento seja um ponto de partida para aquisição de hábitos de vida saudáveis durante a gestação e que idealmente se perpetuem após o parto.(4,5).

Fisiologicamente a gravidez e o aumento do peso estão interligados em um padrão complexo, que inclui vários fatores associados ao de estilo de vida como o comportamento alimentar, atividade física, cessação do tabagismo e controle do estresse (6). Esses fatores podem ser abordados durante a gestação para que melhores resultados maternos, neonatais e em longo prazo para a vida da mulher sejam obtidos.

Isso torna-se relevante ao considerarmos que a obesidade é um dos principais problemas de Saúde Pública da atualidade, e nessa epidemia mundial, o número de mulheres em idade reprodutiva com obesidade também é crescente. Segundo estimativas da OMS, 1,9 bilhões de adultos apresentam sobrepeso e aproximadamente 600 milhões são obesos (7). No Brasil, a prevalência de sobrepeso e obesidade entre adultos era 52,5% e 58,4% no ano de 2013, entre homens e mulheres respectivamente. Além disso, a ocorrência de sobrepeso e obesidade é maior entre indivíduos jovens, crianças e mulheres em idade reprodutiva (8). A gestação está incluída na lista dos fatores clássicos desencadeantes da obesidade (8).

A obesidade  materna  e o ganho de peso excessivo na gestação estão associados ao aumento de complicações antenatais, intraparto, pós-parto e complicações neonatais (9,10). Uma revisão sistemática recente reforça a importância de mudanças no estilo de vida e de como exercícios e dieta interferem na adequação do ganho de peso gestacional e redução do diabetes gestacional, hipertensão e parto por cesariana (11)

Além disso existe correlação entre o risco de desenvolvimento de doenças na vida adulta e o ambiente ao qual o indivíduo foi exposto no meio intrauterino. Respostas do indivíduo ao ambiente após o nascimento podem ser moduladas por adaptações ainda no útero, de modo que a deficiência ou o excesso de nutrientes maternos programam uma suscetibilidade de desenvolvimento de doenças metabólicas mais tardiamente (12). Estudos experimentais demonstram que o ambiente intrauterino possui papel central no risco de obesidade e na programação genética e metabólica da prole (13).

A crescente tendência do início precoce da puberdade se associa a fatores genéticos e não genéticos (ambientais, estado nutricional, sedentarismo e condições sócio-econômicas). Meninas que apresentam menarca precoce são propensas a desenvolver sobrepeso na vida adulta, e ainda gestação precoce (14,15).

O ganho de peso excessivo na gestação traz o risco da retenção de peso pós-gestacional, que por sua vez aumenta o risco para desenvolvimento de comorbidades tanto em gestações futuras como no decorrer da vida da mulher. (16 -19).

Ainda que a obesidade seja determinada pelos aspectos biológicos, sua associação a fatores psicológicos é relevante para o manejo clínico de indivíduos obesos (20). Dentro das teorias psicodinâmica, a obesidade pode ser vista como a expressão de uma determinada estrutura psíquica, envolvendo uma complexa trama de dificuldades emocionais e de interação com o meio, vivenciadas em fases precoces do desenvolvimento humano  e o apoio psicológico é uma ação importante nos cuidados com mulheres com ganho de peso excessivo ou obesidade, ajudando a prevenir a obesidade materna em longo prazo (21).

Um estudo sobre gravidez e o ganho de peso indicou que a retenção de peso pós-parto foi mais afetada por mudanças de estilo de vida durante e após a gravidez do que por fatores pré-gestacionais (22). Ou seja, a intervenção comportamental durante a gravidez pode reduzir a retenção de peso pós-parto e melhorar a alimentação e autocuidado (23). 

 Existem lacunas na literatura sobre o assunto e apesar do conhecimento, pouco se modificam os hábitos de vida e consequentemente os resultados relacionados (24). A elaboração de medidas ampliadas no acompanhamento das mulheres durante a gestação e puerpério pode ser uma oportunidade de proporcionar o desenvolvimento de um estilo de vida saudável que pode, em longo prazo, se associar à melhor condição de saúde da população feminina. 

Fernanda Garanhani de Castro Surita, Professora Livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP.

 

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Anticoncepção e Sexualidade: Dúvidas Frequentes

O sexo é um ponto importante da qualidade de vida, afetando os aspectos físico e psicológico. Diferentes fatores como saúde, problemas emocionais, estresse e hormônios afetam a função sexual. Por outro lado, a contracepção mudou a sexualidade feminina. A possibilidade de sexo sem gravidez é tida como certa pela maioria das mulheres e facilita a disponibilidade sexual. Consequências potenciais para a resposta sexual feminina estão ligadas aos vários métodos contraceptivos em uso atualmente. Um aspecto muito pouco estudado dos contraceptivos é a sua aceitação sexual, ou como os métodos influenciam as experiências sexuais do usuário, podendo influenciar as preferências e práticas do planejamento familiar. Existem algumas perguntas que nos são feitas com frequência:

  • A Pílula leva à Disfunção Sexual?

          A sexualidade feminina é complexa, refletindo a interação de muitos fatores, incluindo determinantes físicos, emocionais, psicossociais e culturais. Um potencial mecanismo de diminuição do desejo após o uso de Contraceptivos Orais Combinados (COC) tem sido sugerido como sendo o aumento induzido pela produção de Globulina Transportadora de Hormônios Sexuais (SHBG). Níveis elevados desta proteína aumentarão a ligação da testosterona circulante e, assim, reduzirá a testosterona livre e biologicamente ativa. Além disso, os COCs inibem a produção de andrógenos nos ovários e níveis reduzidos de testosterona biodisponível podem prejudicar a função sexual.

                      Em um ensaio clínico randomizado controlado por placebo de um COC contendo Etinilestradiol (EE) e Levonorgestrel sobre a função sexual em mulheres, não foi encontrada redução significativa na função sexual global  nas usuárias do contraceptivo em relação ao placebo, mas houve prejuízo nos domínios de desejo sexual e excitação, enquanto o orgasmo, a preocupação, a capacidade de resposta e a auto-imagem não foram significativamente afetados. Além disso, a frequência média de satisfação de episódios sexuais e sofrimento pessoal não foi significativamente diferente entre os grupos. Assim, os resultados indicam que o uso de COC pode diminuir alguns aspectos da função sexual.  

            Por outro lado, a segurança da contracepção e os benefícios não contraceptivos podem fazer com que as mulheres optem por métodos hormonais, apesar de possível alteração nesses aspectos da função sexual. Em um trabalho feito com mais de 3 mil jovens suecas, através de questionários, Independentemente do tipo de método, 27% das usuárias de contraceptivos hormonais relataram uma diminuição no desejo sexual que atribuíram ao uso do método, enquanto apenas 12% das mulheres que usaram contraceptivos livres de hormônios relataram uma diminuição no desejo sexual (p <0,01). No entanto, 88% delas estavam satisfeitas com o método e a maioria das usuárias de contraceptivos hormonais (85%) relatou pelo menos um efeito positivo do método: estes incluíram ansiedade reduzida em ter uma gravidez indesejada (44%), sangramento mais regular e reduzido (46-54%) e dismenorreia reduzida ( 43%).

  • Qual é a melhor pílula em relação à alteração no desejo sexual?

Com relação aos COC, as composições com progestágenos mais androgênicos poderiam contrabalançar em parte a diminuição da produção de testosterona e a diminuição da testosterona livre circulante, ocasionadas pelo EE dos contraceptivos. Além disso, os novos compostos com estradiol natural (valerato e 17β), além de interferirem menos na produção hepática de SHBG, portanto não diminuindo tanto a testosterona livre, têm um efeito melhor sobre a mucosa vaginal do que o EE, visto que o ressecamento vaginal é queixa frequente de pacientes usuárias de COC com EE. Por outro lado, os CO só com progestágeno (POP), podem ser uma opção, pois, por não alterarem a SHBG, não diminuem  a testosterona livre circulante. Um trabalho usando esse tipo de contraceptivo em mulheres de Edimburgo (Escócia) e Manilla (Filipinas), não mostrou alteração na função sexual.

  • Quando a paciente refere redução no desejo sexual com o uso da pílula, qual método poderia ser oferecido?

Em primeiro lugar é importante excluir outras causas para a diminuição do desejo sexual, tais como: relacionamento conflituoso, outros medicamentos como antidepressivos, doenças sistêmicas, violência sexual prévia. O DIU de Cobre, dos métodos com maior eficácia, seria o que menor influência tem sobre a função sexual, pois é um método não hormonal. Apesar disso, o aumento de fluxo e uma possível dismenorreia poderiam influenciar negativamente na função sexual. O SIU-LNG, com um progestágeno androgênico, com mais ação local do que sistêmico, poderia ser uma opção interessante nessas situações. Um trabalho comparou o DIU de cobre e o SIU com LNG com relação à função sexual e não encontrou diferença estatística entre ambas as usuárias. Apesar disso, 25% das usuárias, tanto de DIU de cobre quanto do SIU de LNG referiram diminuição do desejo após início do uso.

 Sem dúvida, a maneira como os métodos anticoncepcionais afetam o bem-estar das mulheres é importante para sua adesão ao método, o que influencia a continuação e, ao longo do tempo, a exposição à gravidez indesejada. Além disso, esses efeitos são importantes independentemente de os métodos serem “verdadeira” ou unicamente responsáveis por quaisquer alterações sexuais.  Mesmo que os fatores estresse, fadiga e / ou relação sejam mais propensos às causas das disfunções sexuais, a percepção das mulheres sobre o que causou essas mudanças acabará moldando a aceitabilidade e os comportamentos contraceptivos.

 

Contracepção de Emergência

A gravidez não planejada no mundo é uma questão social e de saúde pública, gerando entre milhões de mulheres gestações indesejadas ou abortos inseguros, principalmente entre adolescentes e mulheres jovens com baixa condição socio-econômica e com pouca ou nenhuma educação formal. A quantidade de recém-nascidos entre adolescentes de 15 a 19 anos de idade atinge 15 milhões ao ano, sendo mais frequente em países de baixa e média renda.

A contracepção de emergência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG), é definida como um método que pode fornecer às mulheres uma maneira não arriscada de prevenir uma gravidez não planejada até 120 horas da relação sexual. São métodos seguros e bem tolerados, podendo ser considerado um marcador de comportamento sexual de risco, pois indica exposição ao sexo desprotegido ou falha do método contraceptivo. Mesmo assim, ainda permanece subutilizada, pois existem lacunas significativas sobre o conhecimento da utilização pelas usuárias, assim como barreiras ao seu acesso.

Ocupa uma posição única entre os métodos contraceptivos, realizada através de medicamentos hormonais ou dispositivos intrauterinos (DIU), podendo ser utilizados ​​após relações sexuais desprotegidas, falha contraceptiva (rompimento de preservativo, pílula esquecida) ou quando uma mulher tem intercurso sexual contra a vontade dela (coerção, agressão, exploração). Dentre os anticoncepcionais hormonais temos as píluas combinadas com etinilestradiol e levonorgestrel (método Yuzpe), o levonorgestrel, o acetato de ulipristal e menos comum, a mifepristona. Os métodos Yuzpe e levonorgestrel devem ser preferencialmente utilizadas até 72 horas após as relações sexuais e o acetato de ulipristal e o DIU de cobre até 120 horas. O método de Yuzpe utiliza pílula combinada na dose de 100 μg de etinilestradiol associado a 0,5 mg de levonorgestrel repetidos após 12 horas. O comprimido de levonorgestrel, que inicialmente foi utilizado em um regime de duas doses (dois comprimidos de 0,75 mg tomado com intervalo de 12 horas) e atualmente, em um regime de dose única (comprimido de 1,5 mg tomado uma única vez). O DIU deve ser inserido até 120 horas após a relação sexual, não devendo ocorrer mais do que cinco dias da ovulação se puder ser estimado esse dia, podendo fornecer proteção por 10 anos da sua inserção como contraceptivo de longa ação (LARC). A taxa de gravidez acumulada de 1 ano em mulheres que escolheram o DIU foi de 6,5% contra 12,2% das que escolheram o levonorgestrel. O uso do levonorgestrel previne cerca de dois terços das gestações, se iniciada no prazo de 24 horas do ato sexual.

A frequência no uso dos métodos hormonais tem aumentado nos últimos anos. Desde 1995, o uso constante da contracepção de emergência aumentou entre mulheres de 15 a 44 anos de idade nos Estados Unidos da América (EUA), de 0,8% em 1995 para 20% de 2011 a 2015 (figura1).

Os mecanismos de ação dos métodos para a contracepção de emergência não são completamente compreendidos. De modo geral, os métodos hormonais agem impedindo ou atrasando a ovulação. Outros mecanismos propostos incluem alterar níveis hormonais, interferir no desenvolvimento folicular, interferir na maturação do corpo lúteo e inibir a fertilização. Embora exista um potencial para a concepção na maioria dos dias do ciclo menstrual já que a ovulação é imprevisível, esse risco é mais alto quando a relação sexual desprotegida ocorre na janela fértil que se estende 5 dias antes da ovulação até o dia da ovulação. Para as mulheres que não utilizam qualquer método contraceptivo, é importante a história menstrual, pois deve-se estabelecer o momento da relação sexual desprotegida no período da ovulação.

Os métodos anticoncepcionais de emergência não apresentam contra-indicações absolutas para as formas mais comuns de contracepção. O uso de pílulas anticoncepcionais de emergência não é recomendado em mulheres grávidas, embora não existam evidências de danos conhecidos para a mulher, o curso de sua gravidez ou o feto. Recomenda-se realizar um teste de gravidez antes do seu uso se a gravidez não puder ser excluída com base na história e/ou exame físico. Devido o risco de aborto induzido da mifepristona, seu uso não é amplamente utilizado.

Os eventos adversos são relativamente leves, e podem incluir náuseas, vômitos, cefaléia e tontura. O método Yuzpe apresenta maior incidência de náuseas e vômitos do que o levonorgestrel. Quanto ao retorno das menstruações, o acetato de ulipristal parece ser mais propenso a provocar um retorno menstrual antes da data prevista do que nas usuárias de levonorgestrel, que por sua vez, são mais propensas do que as usuárias do método Yuzpe. O DIU pode estar associado a maior incidência de dor abdominal do que os outros métodos de contracepção de emergência.

Os métodos de contracepção de emergência não protegem contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST), incluindo o HIV. Se existe um risco de DST/HIV, recomenda-se o uso correto e consistente de preservativos, para a proteção mais eficaz dessas doenças.

Algumas barreiras importantes são apontadas para a baixa utilização da contracepção de emergência, tais como práticas prescritivas, conhecimento na utilização, valor na aquisição do produto e acesso.

A desinformação sobre a contracepção de emergência é alta. Na Nigéria, somente 27,8% dos estudantes tinham um bom conhecimento sobre o método, a maioria das entrevistadas nunca a utilizou (87,2%). As que já usaram, o fizeram incorretamente (85,7%), mais de 72 horas após a relação sexual. Entre estudantes de medicina no noroeste da Índia, observou-se que somente 61,6% delas estavam cientes sobre o tempo de uso da contracepção de emergência, e a fonte de informação mais comum para essas estudantes foi através da mídia audiovisual (76,6%). Em Berlim, embora 8,7% das adolescentes nunca tenha ouvido falar da contracepção de emergência, 38,6% conheciam sua eficácia, mas apenas 12,7% conheciam o prazo para sua utilização.

Uma pesquisa objetivou conhecer a perspectiva dos balconistas de farmácias de ambos os sexos sobre a contracepção de emergência na Região Metropolitana do Rio de  Janeirol. Os entrevistados apresentaram concepções negativas sobre o método, enfatizando os riscos que podem provocar à saúde, sendo considerado uma “bomba hormonal” que pode levar à esterilização de mulheres jovens, ao câncer e outras doenças graves, por isso atribuem que a orientação e o aconselhamento sobre o uso do método deve ser de responsabilidade dos médicos ginecologistas e não dos farmacêuticos. Eles destacam ainda, os riscos do uso “descontrolado” ou “indiscriminado”, especialmente por adolescentes e mulheres jovens. Tal como apontado em outras investigações, demonstram desconhecimento técnico em relação à contracepção de emergência, revelando a baixa propagação de informações confiáveis sobre o método. Os resultados desta investigação recomendam a ampliação do debate sobre direitos sexuais e reprodutivos de homens e mulheres que precisam ter garantidos o acesso e a orientação para o uso da contracepção de emergência, em situações emergenciais, incluindo-se os farmacêuticos e balconistas de farmácias, além de profissionais de saúde e gestores públicos.

Todas as mulheres têm direito a informações, educação e aconselhamento baseados em evidências sobre os anticoncepcionais para garantir uma escolha informada. Essas escolhas são feitas em um determinado momento, contexto social e cultural, que muitas vezes são complexas e multifatoriais, onde a tomada de decisões geralmente requer a necessidade de conhecer as vantagens e desvantagens dos diferentes métodos, variando de acordo com as circunstâncias, percepções e interpretações individuais. A contracepção de emergência é um método seguro e eficaz para a prevenção de gestação não planejada, sendo sempre necessária a orientação sobre a utilização em condições excepcionais de sexo desprotegido ou na falha de um método, no entanto, não pode substituir uma contracepção rotineira e segura. 

 

 

Drogas Ilícitas durante a gravidez

O uso de drogas ilícitas aumentou em vários países do mundo, bem como no Brasil.1,2,3 Nos Estados unidos, 5% das gestantes relataram ter usado droga ilícita, sendo o uso da canabis  o mais comum, seguido da cocaína.4 O uso de álcool e drogas por mulheres grávidas pode resultar em significativa morbidade e mortalidade materna, fetal e neonatal. Em geral, as mulheres grávidas drogaditas são menos propensas a procurar cuidado pré-natal e têm taxas mais elevadas de HIV, hepatite e outras infecções sexualmente transmissíveis.4,5 A pesquisa para o uso de drogas deve fazer parte do cuidado obstétrico.6 A estratégia pesquisar, rápida intervenção e encaminhamento para tratamento é a abordagem ideal7.

Os principais CID 10 são: F14(transtornos devidos ao uso da cocaína,  F19(transtornos devidos ao uso de múltiplas drogas e outras substâncias psicoativas), T40.0(ópio), Z71.5 (aconselhamento e supervisão para abuso de drogas).

CANABIS

O princípio ativo da maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol, substância que atravessa com facilidade a barreira placentária.8,910 A utilização de canabis pelas mães leva a uma redução significativa, tanto no início como na duração da amamentação11.Em relação aos resultados do uso da maconha sobre o feto, há dificuldade para sua identificação precisa, pois há uma alta prevalência de pacientes que a usam concomitantemente a outras drogas, incluindo álcool e cigarro8. Foi verificado o aumento do risco de diversas malformações em mulheres que fizeram uso de maconha durante o pré-natal12. Entretanto esta foi uma casuística pequena e houve o uso concomitante frequente de cocaína e metanfetamina. Outros autores não relatam aumento das malformações em fetos expostos a canabis8. O resultado mais comum ligado à exposição à canabis no útero é a diminuição do peso ao nascer13. Em relação aos efeitos tardios para as crianças, foram relatados transtornos cognitivos e emocionais.14,15,16

COCAÍNA

A cocaína se consome mais frequentemente em sua forma solúvel (cloridrato de cocaína) ou em sua forma alcaloide, que em seu estado sólido, é conhecido como crack. O consumo conjunto de cocaína e álcool dão lugar a um metabólito, o cocaetileno. Este prolonga a sensação de euforia, produz maior depressão miocárdica e aumenta a vida média em 2,5 vezes em relação ao uso somente da cocaína.1,17 O uso de cocaína na gravidez está associado a convulsões, ruptura prematura das membranas e descolamento prematuro da placenta18. Pode levar ainda a pré-eclâmpsia grave, aborto espontâneo, parto prematuro e complicações no parto19. Estas gestantes devem receber cuidados médicos e psicológicos adequados, incluindo o tratamento de dependência, para reduzir esses riscos17. Os fetos expostos ao uso da cocaína durante a gravidez são frequentemente prematuros, têm baixo peso ao nascer, circunferência cefálica menor e menor estatura quando comparados a recém-nascidos não expostos.17,20

ESTIMULANTES

As anfetaminas causam euforia, aumento de energia e supressão do apetite.21 No entanto, a exposição a anfetamina durante os períodos do pós-parto precoce e tardio interrompem a interação mãe-bebê e encurta a duração da amamentação.22

“Ecstasy” (MDMA)

O que habitualmente se conhece com o nome de “ecstasy” é um derivado da molécula de anfetamina1. A exposição à metanfetamina durante a gravidez foi associada à morbidade e mortalidade materna e neonatal: aumento de duas a quatro vezes no risco de restrição do crescimento fetal21, 23 , pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta, parto prematuro, morte fetal, morte neonatal e morte infantil.24

OPIÁCEOS (Heroína)

Os tipos de opiáceos mais importantes são: morfina, codeína, meperidina, metadona, heroína e oxicodona1. O uso de opióides na gravidez aumentou drasticamente nos últimos anos, em paralelo com a epidemia observada na população em geral, levando a um aumento da mortalidade materna6. Os opiáceos, como a heroína, raramente causam anomalias congênitas25, mas como atravessam a barreira placentária podem levar à síndrome da abstinência fetal, cujos sintomas são: irritabilidade, choro excessivo, nervosismo, vômitos e diarreia26. Há uma maior incidência de parto prematuro em usuárias de opióides, principalmente quando associado ao uso concomitante de tabaco.27,28 Para mulheres grávidas usuárias de opiáceos, a farmacoterapia com agonistas opióides é a terapia recomendada.29,30

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

O uso de drogas ilícitas ocorre em 5-8 % das gestantes. Todas as gestantes devem ser inquiridas do uso do álcool, tabaco e de drogas ilícitas e/ou com prescrição. A maconha é a droga mais utilizada, seguida da cocaína.  O abuso de substâncias na gravidez pode levar a uma série de efeitos deletérios sobre a interação mãe-bebê. Tais efeitos variam com base na droga, época de exposição e extensão de uso. A conscientização das mulheres das graves consequências do abuso de substâncias no período periconcepcional, na gestação e pós-parto deve fazer parte da assistência primária à saúde.


AUTORA: Dra Venina Isabel Poço Viana Leme de Barros

Títulos: Mestre e Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Membro da Comissão Nacional de Pré-natal da Febrasgo.

Médica Assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo



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