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Profissional de saúde deve priorizar acolhimento de crianças e adolescentes vítimas de abuso

Crianças e adolescentes são maioria de denúncias de abusos sexual no Brasil, de acordo com o Ministério

 

Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, neste mesmo período de 2022, 7.477 denúncias de estupro foram feitas à Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Desse total, 5.881 são crianças ou adolescentes. Neste dia 18 de maio, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) faz um alerta aos problemas causados pelo abuso sexual de crianças e adolescentes.

 

É consenso entre especialistas que entre as consequências de abusos na infância e na adolescência estão a impossibilidade de assumir uma vida adulta saudável, dificuldade no desenvolvimento afetivo, transtorno pós-traumático, depressão e suicídio. Nesse sentido, é necessário um cuidado e suporte às vítimas e aos seus familiares.

 

O presidente da Comissão Nacional Especializada em Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei da FEBRASGO, Dr. Robinson Dias de Medeiros, diz que são várias as barreiras que os responsáveis e as vítimas encontram ao buscar atendimento de assistência à saúde. “Muitas dessas barreiras estão atreladas à complexidade que envolve a questão da violência sexual”, enfatiza. “Nos casos que envolvem vulneráveis, temos desde a falta de autonomia e dependência de outras pessoas para obter ajuda e assistência até a completa falta de informação e despreparo das equipes profissionais para prover atendimento integral e reduzir danos”, elucida.
 

Profissional de saúde como ponto focal

Sobre o papel do profissional da saúde neste contexto, o médico pontua que “em primeiro lugar, o profissional deve priorizar o acolhimento da vítima e sua família, procurando tratar os agravos à saúde decorrentes da agressão sexual, incluindo a profilaxia e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis e infecção pelo HIV”.

 

Ele reforça ainda que a prevenção da gravidez indesejada decorrente do estupro, no caso das meninas e mulheres é ponto fundamental neste acolhimento. Em seguida, segundo o médico, é essencial promover as informações sobre direitos da vítima, o seguimento ambulatorial e o suporte psicológico necessário, bem como a comunicação ao Conselho Tutelar e a notificação compulsória.

 

“No momento, há diversas ações em construção dentro da Política de Atenção Integral à Mulher e à Criança do Ministério da Saúde”, expõe o presidente da Comissão da FEBRASGO sobre atualizações de  políticas públicas para este cenário em andamento.

Compreender a complexidade da vivência de pessoas trans apoia luta por visibilidade, afirma especialista da FEBRASGO


No dia 17 de maio, é celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, uma causa que visa conscientizar as pessoas quanto à discriminação e violação dos direitos dos indivíduos LGBTQIAP+ em todo o mundo. A data busca aumentar o conhecimento sobre os eventos internacionais que destacam a luta pela igualdade de direitos, além de procurar promover a conscientização sobre os direitos dessa população, incluindo o acesso adequado e completo à saúde, que engloba serviços que vão além da terapia hormonal.

A assistência adequada à saúde de mulheres transgêneras e travestis, por exemplo, abrange a garantia de acolhimento e respeito à sua identidade de gênero em todos os equipamentos de saúde. Desde a atenção primária, nas unidades básicas, é fundamental que haja atendimento qualificado para garantir a efetivação dos direitos dessas populações. A Dra. Lucia Lara, presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), elucida que, para garantir a adequada prescrição da terapia hormonal de afirmação de gênero, é importante que essa população receba cuidados específicos de ginecologistas treinados.

Contudo, ela diz, mulheres em terapia de afirmação de gênero e/ou aquelas que já se submeteram a cirurgias do processo, podem ser acompanhadas na ginecologia geral para os exames de rastreamento de câncer de mama e outras condições clinicas, que são oferecidos pela rede pública de saúde para mulheres cisgêneras (cis), segundo os protocolos do Ministério da Saúde.

Segundo o Banco Mundial, existem cerca de 4 milhões de pessoas transgêneras ou não binárias no Brasil, sendo que parte dessa população se identifica como mulher e enfrenta inúmeros desafios em decorrência da sua identidade de gênero não corresponder àquela designada ao nascimento.

A saúde da mulher trans está intrinsecamente relacionada à sua sexualidade e bem-estar geral. “Em primeiro lugar, é preciso definir que a sexualidade é uma condição ampla que envolve aspectos biológicos, psicológicos, relacionais, ambientais e emocionais das relações do ser humano”, explica a Dra. Lucia Lara. “A forma como uma mulher trans vivencia sua sexualidade depende de sua situação individual, ou seja, algumas delas desejam a cirurgia de afirmação de gênero para ter uma neovagina, enquanto outras não desejam a transição cirúrgica e podem ter uma resposta sexual adequada com a presença do pênis”, completa.

A satisfação sexual é uma medida individual e independe da identidade de gênero de cada pessoa, seja ela trans, cis, binária ou não binária. “Para aquelas que desejam a cirurgia e não conseguem realizá-la, isso pode gerar constrangimento durante as relações sexuais e até mesmo levar à insatisfação sexual e evitação de atividades sexuais”, complementa a especialista.

A Dra. Lúcia explica ainda que o processo de afirmação de gênero pode envolver tanto a hormonização quanto a cirurgia. “Algumas dessas mulheres podem estar satisfeitas com sua genitália e apenas demandar a prescrição de hormônios, enquanto outras podem desejar a transição hormonal e cirúrgica”, explica.

Hormonização e desejo sexual

É valido considerar que o uso de hormônios em altas doses pode levar a uma redução abrupta da testosterona na mulher trans, um hormônio significativo para o desejo sexual tanto em mulheres cis quanto trans e pode ser reduzido pela hormonização.

“Apesar dessa redução do desejo sexual, muitas mulheres trans ficam felizes com as mudanças que ocorrem em seus corpos durante o processo de afirmação de gênero, como o aparecimento de características femininas, a exemplo do desenvolvimento das mamas e a redução dos pelos”, exemplifica a Dra. Lúcia.

A satisfação, analisa a Dra., com a autoimagem ao ver surgirem suas características femininas, pode contrabalançar a redução da testosterona e resultar em resgate do desejo sexual. Isto mostra a importância de cuidar para que estas mulheres tenham acesso aos serviços de saúde.

Quando a mulher trans realiza a neovaginoplastia, que é a cirurgia para a formação do canal vaginal, clitóris e grandes lábios, por exemplo, os estudos mostram que a maioria delas mantém sua capacidade de ter orgasmos e, na verdade, muitas melhoram seu funcionamento sexual após a transição hormonal e cirúrgica. Isso porque seu corpo está em conformidade com sua identidade de gênero, o que pode aumentar a satisfação sexual e o bem-estar emocional. Entretanto, é essencial lembrar que cada pessoa é única e pode ter experiências diferentes.

Todas as mulheres, sejam cis ou trans, valorizam muito o volume mamário e a terapia hormonal de afirmação de gênero pode proporcionar um aumento das mamas que chega ao seu estágio definitivo de 3 a 5 anos após o início da terapia com estrogênio. Esse órgão é extremamente relevante para elas, está relacionado à sedução e é uma das coisas mais importantes para elas em termos de aparência.

“Estamos empenhados em lutar para que a sociedade em geral compreenda e reconheça a importância da identidade trans. Infelizmente, a condição trans ainda é questionada por muitos, que acreditam ser uma escolha pessoal. Porém, vale ressaltar que a identidade de gênero é uma condição pré-existente, que ocorre antes do nascimento e não pode ser escolhida pelo indivíduo, assim como a orientação sexual. Embora a percepção e expressão da identidade trans possa ocorrer em diferentes momentos da vida, é uma condição biológica que não pode ser ignorada”, destaca a Dra. Lúcia.

A médica esclarece ainda que, infelizmente, a condição trans ainda é julgada de forma não-científica pela sociedade, sendo muitas vezes vista como um comportamento social e não uma variação biológica existente. Esse preconceito pode gerar grande sofrimento para as pessoas trans, que muitas vezes se sentem isoladas e excluídas da sociedade. No entanto, convém salientar que a identidade trans não é uma doença e nem uma “opção”, mas sim uma variação natural da condição humana.

FEBRASGO manifesta seu pesar pelo falecimento do Prof. Dr. Thomaz Rafael Gollop

A FEBRASGO manifesta seu pesar pelo falecimento do Prof. Dr. Thomaz Rafael Gollop, que foi Membro da Comissão de Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei da Febrasgo.
Destacamos sua contribuição à genética e medicina fetal e sua atuação enquanto defensor dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres brasileiras.
Neste momento de luto, a FEBRASGO, representada pela sua diretoria, transmite seus sentimentos aos familiares, amigos e colegas de trabalho, e reconhece a sua importância para a FEBRASGO e para a Ginecologia e Obstetrícia no Brasil.

Multiplicidade de fatores dificulta diagnóstico de dor pélvica em mulheres, explica FEBRASGO

Enquanto sintoma, a dor pélvica pode estar relacionada a várias doenças, atingindo até 26% das mulheres em idade reprodutiva

 

Mês de Conscientização da Dor Pélvica é celebrado em maio, tendo sido instituído em 2017 pela Sociedade Internacional da Dor Pélvica (International Pelvic Pain Society). O objetivo dessa data é trazer à tona um problema que é uma das principais causas de encaminhamento de mulheres aos serviços de saúde, a fim de conscientizar a respeito, e promover a melhor mobilização sobre a condição.

 

A Dra. Marcia Mendonça, da Comissão Nacional Especializada em Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), explica que existem dois tipos de dor pélvica: aguda e crônica. A dor pélvica aguda está localizada na região abaixo do umbigo e tem uma duração de 1 a 5 dias; e a dor pélvica crônica (DPC)  que tem a mesma localização, mas um período de maior duração, que pode chegar a mais de 6 meses. Sabe-se que a maior parte das mulheres acometidas pela dor pélvica, aguda ou crônica, são jovens.

 

A DPC é um sintoma que pode estar relacionado a várias doenças, atingindo até 26% das mulheres em idade reprodutiva, e sua taxa de recorrência ao longo da vida pode chegar a 33%. “Há vários fatores que podem estar relacionados à causa da dor. A dor aguda pode ter relação com processos infecciosos ou inflamatórios, como, por exemplo, a doença inflamatória pélvica, infecções cervicais, cólicas ou dor ovulatória”, explica a especialista.

 

Já no caso da crônica, diz, tem vários motivos que podem estar associados, sendo eles de origem ginecológica e não ginecológica. Entre as causas ginecológicas, as principais são a endometriose, as dores que se originam no útero (como a dismenorreia), e miomas uterinos. Entre as causas não ginecológicas, temos a constipação intestinal crônica, alterações intestinais e esqueléticas.      

 

A médica alerta ainda que a endometriose é uma causa importante de dor na DPC, podendo estar presente em 40% dos casos. É importante ressaltar que, quando a mulher apresenta dor pélvica crônica, ela deve ser submetida a uma avaliação médica completa.

 

“Pela multiplicidade de fatores associados a este tipo de dor como, como aspectos moscocleticos, problemas relacionados ao assoalho pélvico, doença miofascial, alterações urinárias, constipação intestinal, e síndrome do intestino irritável, é orientado que o médico considere diversos cenário para um diagnóstico diferencial adequado”, orienta.

 

Prevenção

A prevenção da DPC pode ser difícil. No entanto, a adoção de medidas de saúde em geral, como manter uma dieta equilibrada, praticar atividade física e ingerir alimentos ricos em fibras e não inflamatórios podem melhorar o funcionamento do intestino e promover uma boa saúde geral.

Quando uma mulher apresenta dor, especialmente aquela que compromete sua qualidade de vida, é fundamental que ela seja avaliada clinicamente, com a realização de exames e eventualmente procedimentos complementares, que serão definidos por uma análise médica.

“Entre os exames realizados para afastar infecções do trato urinário, pode ser necessária a realização de uma ultrassonografia ou, em alguns casos, uma ressonância magnética”, conclui a Dra.

Sem programa de rastreamento, câncer de ovário raramente é diagnosticado precocemente, alerta FEBRASGO

Com 6 mil novos casos por ano segundo o INCA, câncer de ovário está no top 10 de doenças mais comuns entre brasileiras

 

Com incidência de 6 mil novos casos por ano no Brasil, estimados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de ovário figura entre as doenças mais comuns entre as mulheres. Entre as brasileiras, esse é o 7º tipo de câncer com maior incidência e em escala global é a 8ª neoplasia mais comum, podendo chegar a 300 mil casos novos por ano.

 

“Não tem um programa de rastreamento de câncer de ovário para mulheres da população geral, justamente porque tem muitos tumores ovarianos benignos e, ao fazer exames de imagem ou de sangue em mulheres sem sintomas, acaba se indicando muitas cirurgias desnecessárias e que apresentam complicações”, destaca a ginecologista e membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da FEBRASGO, Dra. Sophie Derchain.  Como os cânceres de ovário muitas vezes aparecem rapidamente, raramente são detectados em estágios iniciais, e fazer exames periódicos não diminui a mortalidade das mulheres rastreadas”,

 

Conceitualmente, o câncer de ovário é uma neoplasia invasiva (maligna) das gônadas femininas, ou seja, uma replicação desordenada de células malignas que invadem primeiro o ovário e depois podem se espalhar para o órgãos da pelve e abdome superior, assim como as vísceras como o fígado ou o pulmão. A especialista da FEBRASGO esclarece, contudo, que é importante entender que, na maior parte das vezes, mulheres que apresentam um tumor ou cisto no ovário não têm câncer, mas sim uma lesão funcional ou benigna.

 

Perimenopausa e pós-menopausa

O câncer de ovário atinge principalmente mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa e pode ter seu risco aumentando caso exista histórico de incidência em parentes de 1º grau, nuliparidade (condição em que a mulher é incapaz de reproduzir), idade fértil atrasada, menarca precoce, menopausa atrasada, histórico pessoal ou familiar de câncer de mama, endometrial ou de cólon. 

 

Sobre a melhor forma de prevenção, a médica diz: “Não é possível prevenir todos os tipos de cânceres de ovário, mas, gravidezes, lactação, menopausa precoce, uso de contraceptivo hormonal são associados a diminuição do risco”, afirma.

 

A origem dos carcinomas de ovário está relacionada a células que chegam ao ovário pela tuba uterina. Assim, ao indicar uma laqueadura como método contraceptivo, pode ser oferecida a salpingectomia (retirada da tuba). “Hoje se preconiza retirar a tuba quando a mulher tem uma indicação de histerectomia por doença benigna. Por fim, algumas mulheres apresentam alterações genéticas e, assim, em toda mulher com carcinoma de ovário é solicitado um painel genético que identifica essas mutações”, finaliza.

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