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Parecer sobre a matéria que circula na mídia, intitulada “280 menores realizam transição de gênero em hospital da USP”: Esclarecimentos à população.

Comissão Nacional Especializada de Sexologia da FEBRASGO

Comissão Nacional Especializada de Ginecologia Infanto-puberal

 

Crianças com idade até 11 anos, que apresentam comportamentos com características sugestivas de transgêneros (trans) precisam ser acompanhadas por equipe multiprofissional formada por médicos e psicólogos, que irão orientar os pais sobre a maneira correta de lidar com estes comportamentos. Estudos com pequenas casuísticas evidenciam que apenas 12 a 15% destas crianças serão transgeneros na vida adulta. Se as características trans perdurarem até a adolescência, é muito provável que a pessoa seja um adulto transgênero. 

O bloqueio do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal só é recomendado para adolescentes no estádio II de Tanner, quando inicia o desenvolvimento das características sexuais secundárias como crescimento das mamas, dos pelos pubianos e desenvolvimento do pênis. Uma das razões para esperar esta idade é para que a criança veja as mudanças no seu corpo e manifeste o seu sentimento em relação a elas.  

De acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina “o bloqueio do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal será prescrito por médico endocrinologista, ginecologista ou urologista, todos com conhecimento científico específico, integrante de equipe multiprofissional envolvida no Projeto    Terapêutico Singular (PTS), com o diagnóstico e o acompanhamento da criança púbere ou adolescente transgênero, sendo realizado com a anuência de seu responsável legal”. É   permitido   realizar a hormonioterapia de afirmação de gênero em adolescentes trans somente a partir dos 16 anos  de  idade.

O bloqueio do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal é uma prática realizada em crianças, com idade menor ou igual a 8 anos, apenas para o tratamento da Puberdade Precoce, que é uma doença que não tem associação com a condição transgênero. NÃO é realizado o bloqueio do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal em crianças com a finalidade de iniciar o processo de afirmação de gênero.

Assim, os ambulatórios especializados no cuidado às crianças com características trans e aos seus pais ou cuidadores, trabalham com protocolos rigorosamente elaborados de acordo com os resultados de pesquisas científicas sobre transgêneros, publicados em revistas internacionais com rigoroso controle científico e ético.

 

Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência

Ansiedade e depressão são reflexos comuns da gravidez na adolescência, alerta médica da FEBRASGO

Apesar da queda no número de partos de mães até os 19 anos, o que é muito bem visto pelos especialistas, o Brasil ainda é um dos países com as maiores taxas de gravidez na adolescência na América Latina e no Caribe

Gravidez na adolescência é um grande desafio de saúde pública e tem grande vínculo com questões socioeconômicas. O Brasil é um dos países que mais sofre com esse cenário na América Latina e no Caribe, ficando atrás apenas do Paraguai, do Equador e da Colômbia. O Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, apontou que cerca de 380 mil partos foram de mães com até 19 anos de idade em 2020, o que corresponde a 14% de todos os nascimentos no Brasil. Em 2019 essa proporção era de 14,7%; e, em 2018, de 15,5%. Dentro desse total, 17.579 partos foram de mães entre 10 e 14 anos, enquanto 364.074 partos foram de mães entre 15 e 19 anos.

A Dra. Cláudia Barbosa Salomão*, ginecologista membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puberal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), explica que há divisão entre grupos de adolescentes, pois há diferentes questões atreladas a cada grupo. “A gravidez entre 10 e 14 anos está muito ligada a questões vinculadas ao abuso sexual”, aponta. “O montante de meninas que engravidam entre 10 e 14 anos é menor, mas se tem uma preocupação muito grande com a frequência de abuso sexual vinculada a gravidez nessa faixa etária”, completa.

A Dra. Cláudia, que também é presidente do Comitê de Ginecologia Infanto Puberal da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, aponta que deve-se ter atenção aos impactos biológicos e psicossociais da gravidez na adolescência. “Os impactos biológicos em meninas de 10 a 14 anos são, obviamente, maiores, pois estamos diante de um organismo muito mais imaturo do que o de uma menina de 15 a 19 anos”, explica.

Ela revela, contudo, que os impactos psicossociais são frequentes em ambas as faixas etárias. Adolescentes que engravidam tendem a abandonar a escola devido ao bullying que sofrem, o que as leva ao isolamento das pessoas com quem conviviam e passam a sentir uma sensação de abandono. Além disso, esclarece a especialista, ansiedade e depressão são eventos comuns que acompanham a gravidez na adolescência, especialmente na não planejada. A médica ainda aponta que há uma perpetuação da pobreza, já que a gravidez na adolescência é mais frequente quanto menor a condição socioeconômica da menina.

Outro grande problema é a reincidência da gravidez na adolescência. “Meninas que engravidam muito cedo acabam engravidando novamente em um curto período de tempo”, esclarece a ginecologista. As questões socioeconômicas estão também diretamente ligadas à falta de informação sobre questões de prevenção da gravidez e isso auxilia na reincidência do problema.

A Dra. Cláudia ainda pontua que a questão da assistência pré-natal é o que faz a diferença na vida de uma adolescente gestante. “Quanto mais assistência se tiver no pré-natal, menor vai ser o índice de complicações naquela gravidez na adolescência, muitos problemas são minimizados com uma assistência pré-natal". conclui.

*Dra. Cláudia Barbosa Salomão: Coordenadora do Serviço de Ginecologia da Infância e Adolescência da Residência da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte e do Hospital Infantil São Camilo Unimed (BH); Presidente do Comitê de Ginecologia Infanto Puberal da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais; Presidente do Departamento de Ginecologia da Infância e Adolescência da Sociedade Mineira de Pediatria; Vice-presidente Sudeste da Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e da Adolescência; Membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puberal da FEBRASGO; Fellowship pela Federação Internacional de Ginecologia Pediátrica e da Adolescência.

Terapia Hormonal em Sobreviventes de Câncer do Colo do Útero: Desconhecimento ou Omissão?

ONCO NEWS 
Jesus Paula Carvalho

O câncer do colo do útero ocorre em mulheres jovens; 52% das pacientes com câncer do colo do útero tratadas no ICESP, tinham até 50 anos de idade.1 O tratamento dos carcinomas invasivos se faz por cirurgias e/ou radioterapia e quimioterapia concomitante. Na quase totalidade dos casos, as sobreviventes têm que conviver com a menopausa prematura decorrente do tratamento. Não existem contra-indicações de terapia hormonal para essa população por causa da neoplasia. O câncer do colo não depende de estímulos hormonais e a terapia de reposição pode ser feita tão logo termine o tratamento.

A perda da função hormonal ovariana traz consequências sérias na qualidade de vida destas mulheres, como sintomas de menopausa precoce, osteoporose, aumento de peso, doenças cardiovasculares, atrofia gênito-urinárias, etc. 2,3

Apenas 13% destas pacientes recebem um diagnóstico formal de menopausa precoce, e menos de 40% recebem algum tipo de prescrição de reposição hormonal. 4 Existem falta de acesso aos medicamentos e receio por parte dos médicos generalistas na prescrição de hormônios para sobreviventes de câncer.4,5 Mesmo naquelas que recebem orientação e prescrição, a duração da terapia costuma ser por curto espaço de tempo. 6

Urge mudar essa realidade!

Referências

  1. Nogueira Dias Genta ML, Martins TR, Mendoza Lopez RV, et al. Multiple HPV genotype infection impact on invasive cervical cancer presentation and survival. PLoS One 2017; 12(8): e0182854.
  2. Kurtoglu-Aksoy N, Akhan SE, Bastu E, et al. Implications of premature ovarian failure on bone turnover markers and bone mineral density. Clin Exp Obstet Gynecol 2014; 41(2): 149-53.
  3. Sullivan SD, Sarrel PM, Nelson LM. Hormone replacement therapy in young women with primary ovarian insufficiency and early menopause. Fertil Steril 2016; 106(7): 1588-99.
  4. Rauh LA, Pannone AF, Cantrell LA. Hormone replacement therapy after treatment for cervical cancer: Are we adhering to standard of care? Gynecol Oncol 2017; 147(3): 597-600.
  5. Buick DL, Crook D, Horne R. Women's perceptions of hormone replacement therapy: risks and benefits (1980-2002). A literature review. Climacteric 2005; 8(1): 24-35.
  6. Suzuki Y, Huang Y, Ferris J, Kulkarni A, Hershman D, Wright JD. Prescription of hormone replacement therapy among cervical cancer patients with treatment-induced premature menopause. Int J Gynecol Cancer 2023; 33(1): 26-34.

Dia da Não Violência

Capacitação constante de ginecologistas e obstetras contribui com acolhimento em casos de violência contra a mulher

No dia 30 de janeiro é celebrado o Dia da Não Violência. Proclamada pela Organização Mundial de Saúde (ONU), a data faz homenagem a Mohandas K. Gandhi, que ficou conhecido, entre outras ações, por ações não-violentas em prol da independência da da Índia do Reino Unido, e foi morto em 1948. O próximo dia 30, então, visa a paz, a solidariedade e o respeito pelos direitos humanos.

O momento é oportuno para falarmos sobre os diversos tipos de violência que acontecem sistematicamente no Brasil e no mundo por questões de gênero, principalmente, com mulheres, que passam por situações desde assédio moral até homicídio, atualmente já previsto como feminicídio.

Dados do relatório Violência contra Meninas e Mulheres, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública para a Agência Brasil, em 2021, mostrou que no Brasil mais de 66 mil mulheres foram vítimas de estupro e mais de 230 mil brasileiras sofreram agressões físicas por violência domés­tica. Apenas no primeiro trimestre de 2022, o País bateu recorde em feminicídios, registrando cerca 700 casos no período.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), que atua em prol do total respeito à saúde e bem-estar da mulher, leva em consideração a preparação do médico ginecologista ou obstetra que ao atender mulheres pode identificar casos de violência.  A Dra. Maria Celeste Osório Wender, Diretora de Defesa e Valorização Profissional da Febrasgo, explica que conhecer mais profundamente os mecanismos e formas de violência contra a mulher é o primeiro e indispensável passo para uma adequada atuação do ginecologista e obstetra - o médico da mulher por excelência. 

“Nós devemos agir e amparar essas mulheres na identificação dessa violência e na capacitação para as tomadas de decisões. A capacitação e o conhecimento é que podem permitir que o médico atue, desde a escuta adequada, o acolhimento, notificação, registro, acompanhamento e encaminhamento articulado e intersetorial”, enfatiza a Dra. Maria Celeste.

Em material escrito para a revista Femina, publicação produzida e disponível no site da Febrasgo, pela Dra. Maria Celeste em parceria com a Dra. Lia Cruz Vaz da Costa Damásio, destaca que a violência contra a mulher é um tema que deve ser debatido sempre, desconstruindo os discursos que sustentam esse tipo de prática.

“Todos os profissionais de saúde devem entender seu papel nos casos de violência intrafamiliar e atuar no seu enfrentamento. O silêncio é conivente com o agressor”, aponta Maria Celeste.

Tipos de Violência

O artigo ressaltou também os principais os tipos de violência contra as mulheres, enumerados na Lei Maria da Penha- Lei 11.340 tendo os cinco principais: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.

A violência física inclui qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher, qualquer ato que reprima a mulher utilizando a força ou a superioridade física. São exemplos: espancamento, atirar objetos, sacudir, apertar os braços, estrangulamento, sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes, queimaduras, ferimentos causados por objetos ou armas, tortura, puxões de cabelo, encarceramento, entre outros. Pela frequência dos danos visíveis, como marcas e hematomas, pode ser maior a tendência a se isolar, pela vergonha e pelo receio de não acreditarem na sua história. O extremo da violência física inclui o feminicídio, podendo estar envolvida a violência familiar e doméstica; o menosprezo e a discriminação à condição de mulher, e regulado pela Lei 13.104, que o tipifica como crime hediondo. 35% dos homicídios de mulheres no mundo são cometidos por seus parceiros, segundo a Organização Mundial da Saúde.

A violência psicológica é qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. A imposição sobre as decisões da mulher pode acontecer por meio de discursos carinhosos, mas também por meio de humilhação, isolamento, ameaças, vigilância constante, chantagens, ofensas, ou seja, atitudes que prejudicam a saúde mental da mulher. Também são exemplos de violência psicológica: constrangimento, manipulação, proibir de estudar, de viajar, de falar com amigos e parentes, perseguição contumaz, insultos, limitação do direito de ir e vir, ridicularização e tirar ou dificultar a liberdade de crença.

A violência moral é considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. São exemplos: acusar sem motivos a mulher de traição, emitir juízos morais sobre a sua conduta, fazer críticas mentirosas, expor a vida íntima, rebaixar a mulher por meio de xingamentos que afetem sua índole, desvalorizar a mulher pelo seu modo vestir ou de agir. 

A violência sexual engloba qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de ato ou relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação, humilhação ou uso da força. Inclui não somente o estupro e todas as suas variações (que pode ocorre inclusive na vigência do casamento), mas também outros exemplos como abuso, assédio, obrigar a mulher a realizar práticas sexuais que causam desconforto ou repulsa a ela, impedir ou boicotar o uso de métodos contraceptivos, forçar a mulher a realizar ou a não realizar abortamento, forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação, limitar, cercear ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

A violência patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Constituem exemplos de violência patrimonial controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia ou dificultar o acesso, destruição de documentos pessoais, furto, extorsão ou dano, estelionato, privar de bens, valores ou recursos econômicos e causar danos propositais a objetos da mulher, da casa, ou objetos dos quais ela goste.

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