PARECER SOBRE FORMAS DE ENTREGA DAS IMAGENS MAMOGRÁFICAS (FILME OU MÍDIA DIGITAL)
A mamografia pode ser obtida com sistema analógico (convencional) ou digital (sistema CR ou DR). No sistema analógico o filme faz parte do detector, registrando a imagem que é posteriormente revelada. No sistema digital a imagem é captada por um receptor que permite a impressão em filme ou armazenamento e compartilhamento em arquivo digital utilizando o PACS (Picture Archiving and Communication System).Vários fatores têm possibilitado e levado à mudança de paradigma na disponibilização de imagens mamográficas. Entre eles valem ser citados a expansão do número de mamógrafos CR/DR, a disponibilidade do arquivamento das imagens em PACS, o aumento no uso de monitores específicos para diagnóstico e visualização de mamografias, o crescente emprego da tomossíntese no diagnóstico e no rastreamento do câncer de mama, a necessidade de espaço físico nas grandes clínicas e hospitais para armazenamento dos exames impressos e o impacto ambiental no descarte das filmes radiológicos, incluindo as películas mamográficas.
MODALIDADES DE ENTREGA DAS IMAGENS MAMOGRÁFICAS
Existem três formas de entrega dos exames de mamografia aos pacientes e médicos assistentes. Abaixo, discutimos algumas das principais características de cada modalidade de entrega:
- 1. Entrega da mamografia impressa em filme específico
Entre as desvantagens estão o impacto sobre o meio ambiente, no caso do descarte das películas, assim como o risco de perda dos exames pela paciente, o que dificultaria a comparação entre exames.
Vale lembrar que a entrega de exame através de impressão em papel é uma forma utilizada na ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, porém não aceita para a mamografia, devido à baixa resolução e contraste da imagem.
- 2. Entrega da mamografia em mídia digital física (CD e DVD)
Como requisito à visualização de mamografias em CD/DVD são necessários monitores médicos diagnósticos específicos para mamografia para a interpretação da imagem ou comparação nos exames subsequentes. No caso da avaliação do exame durante a consulta pelo médico assistente e no centro cirúrgico podem ser utilizados monitores clínicos ou de registro médico eletrônico.
Entre as desvantagens desta forma de arquivo digital estão a ausência de leitores de CD/DVD na maioria dos computadores, bem como o longo tempo para abertura das imagens do exame, prejudicando a rotina ambulatorial. Além disso, o custo da compra e o tempo dispensado com a gravação de CDs é considerável. Outro aspecto desafiador é o impacto ambiental dos CD/DVD descartados, que podem demorar até 400 anos para se decompor, assim como o tempo para abrir todo o exame.
- 3. Entrega da mamografia em mídia digital online
Como requisito à visualização de mamografias em mídia online são necessários monitores médicos diagnósticos específicos para mamografia para a interpretação da imagem ou comparação nos exames subsequentes. No caso da avaliação do exame durante a consulta médica e no centro cirúrgico pelo médico assistente podem ser utilizados monitores clínicos ou de registro médico eletrônico.
Entre as possíveis desvantagens dessa modalidade está a dificuldade de acesso às imagens da paciente, por exemplo, devido a login e senha expirados ou ainda falta de acesso momentâneo à internet.
CONTEXTO ATUAL DA ENTREGA DE IMAGENS DE MAMOGRAFIA NO MUNDO
A maioria dos países da Europa e América do Norte não utiliza mais filmes impressos de mamografia, somente a entrega através de mídia digital online. Já os países da América Central e do Sul ainda utilizam muito a entrega através de filmes impressos ou CD/DVD.
No Brasil, um parecer emitido pelo CFM nº23/2019, permite que os exames de radiologia possam ser disponibilizados impressos em película de filme ou papel, gravados em CD/DVD ou online, desde que seja garantida a reprodução das imagens com qualidade diagnóstica. Entretanto, quanto se trata de mamografia, um parecer da Comissão Nacional Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CNM/CBR), publicado em 2019, recomenda a impressão de todos os exames de mamografia em películas considerando a tecnologia disponível na ocasião.
Nesse contexto, a CNM/CBR reconhece atualmente que os benefícios da transição do sistema de filme impresso e/ou CD/DVD para um sistema de imagem baseado em nuvem são bem documentados e importantes: facilidade e agilidade no acesso remoto dos pacientes e médicos aos exames, seja pelo smartphone, tablet ou computador, de qualquer lugar e hora; redução do deslocamento dos pacientes até as instituições para a retirada dos exames; redução de custos e de tempo de trabalho da equipe de colaboradores; redução do impacto ambiental causado pelo descarte de filmes ou de CD/DVD; entre diversos outros que poderiam ser mencionados.
Portanto, a adoção de novas tecnologias pode ajudar muito a atender à crescente demanda dos pacientes e às novas regulamentações de acesso a registros pessoais de saúde. Porém é importante destacar que num país de extensão continental e de grandes desigualdades de desenvolvimento tecnológico como o Brasil, muitas particularidades de cada região, de cada clínica ou hospital podem influenciar na decisão entre a impressão em filme ou o uso de arquivo em mídia digital.
PARAMETROS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA QUE UM SERVIÇO ENTREGUE OS EXAMES DE MAMOGRAFIA ATRAVÉS DE MÍDIA DIGITAL ON LINE
Diversos critérios mínimos são necessários para que um serviço de radiologia possa iniciar a transição entre a entrega dos exames de filme e CD/DVD para online.
Quando se considera a parte de infraestrutura e tecnologia de informática para uma clínica realizar essa forma de entrega, deve preencher os seguintes quesitos mínimos:
- Infraestrutura tecnológica apropriada para obedecer às normas técnicas e éticas do CFM pertinentes a guarda, manuseio, integridade, veracidade, confidencialidade, privacidade e garantia do sigilo profissional das informações;
- Controle de acesso aos dados em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), com rastreabilidade das ações executadas no software;
- Utilização de um sistema de armazenamento local (PACS) aprovado pela ANVISA;
- Acesso a um sistema de armazenamento em nuvem que garanta o acesso rápido e seguro das imagens;
- Monitores médicos diagnósticos específicos para mamografia e impressora específica;
- Portal da clínica com plataformas para acesso online, mediante inserção de dados para login específicos pelo paciente e pelo médico assistente;
Quanto as imagens, devem estar disponibilizadas para download, para os médicos e as pacientes, de duas formas:
- Imagens diagnósticas: são as imagens que serão utilizadas para a interpretação e laudo dos exames pelos médicos imaginologistas, assim como o estudo comparativo, em monitores médicos de alta resolução específicos para mamografia (vide parecer sobre os monitores médicos). Essas imagens devem ser disponibilizadas em DICOM, sem perdas para fins diagnósticos;
- Imagens representativas ou imagens chave: são as imagens que podem ser acessadas pelo médico assistente e pela paciente, podendo ser com compressão e até com perdas, para serem visualizadas em qualquer monitor;
Quanto ao tempo de armazenamento das imagens pelo serviço é importante esclarecer que, considerando que as imagens médicas fazem parte do prontuário do paciente, os filmes mamográficos devem ser arquivados por pelo menos 20 anos. Em relação às imagens em mídia digital há necessidade de armazenamento permanente. Em caso de fechamento/falência de clínicas ou hospitais mantém-se a necessidade do arquivamento, sendo possível recorrer diretamente aos pacientes para entrega dos exames de imagem
CONCLUSÃO:
A CNM/CBR enfatiza que o paciente e o médico assistente têm o direito a receber uma documentação de alta resolução e qualidade da mamografia. Por outro lado, reconhece que o mundo está passando por uma mudança digital, que trará inúmeros benefícios a todos.
Nesse contexto, recomenda que a escolha entre a entrega da mamografia impressa em filme ou em mídia digital deve ser baseada na capacidade da instituição de preencher os requisitos mínimos para a entrega digital online. Esta decisão é multifatorial e deve levar em conta as vantagens e desvantagens de cada modalidade de entrega, a disponibilidade de monitores para laudo e para visualização mamográfica nas dependências do serviço de saúde, os custos de manutenção de um PACS, os custos de impressão e descarte de filmes, entre outros.
A CNM/CBR ainda recomenda que, durante uma fase de transição, devido às diferentes realidades encontradas nas clínicas e hospitais brasileiros, assim como a restrição de acesso online de alguns médicos assistentes, os serviços de imagem que optarem pela entrega online ainda devem manter as impressoras e filmes dedicados à mamografia para fornecer as imagens impressas nas seguintes situações:
- A todas as pacientes e médicos solicitantes que desejarem e solicitarem a entrega através de filme impresso;
- A todas as pacientes que apresentam alterações nos exames classificados como categorias 0, 3, 4, 5 e 6 pelo BI-RADS® (achados inconclusivos, lesões provavelmente benignas, suspeitas ou com neoplasia conhecida). Dessa forma, fica garantida a avaliação pelo médico solicitante assim como a comparação desses exames em eventuais controles, caso não seja possível o acesso on line aos exames em algum momento do ato médico.
Este parecer será revisto periodicamente, tendo em consideração as constantes mudanças nas tecnologias de disponibilização e acesso aos exames.
Comissão Nacional de Mamografia (CNM/CBR)
Junho Vermelho: saiba quais são os requisitos para que mulheres doem sangue
Segundo dados do Ministério da Saúde, 14 em cada mil habitantes são doadores de sangue regulares no Brasil. Um ato tão simples pode salvar até quatro vidas, porém, devido a desinformação e fake news sobre assunto, muitas pessoas têm receio de doar sangue e isso acaba prejudicando o nível dos estoques dos bancos de sangue em todo o país.
Para doar sangue, tanto mulheres quanto homens devem seguir alguns requisitos básicos, porém algumas características fisiológicas das mulheres podem interferir no ato da doação. Entre os requisitos básicos para ambos os gêneros estão:
- Ter entre 16 e 69 anos;
- Pesar no mínimo 50 kg;
- Para uma primeira doação, são aceitas pessoas com, no máximo, 60 anos de idade;
- Ter dormido ao menos 6 horas na noite anterior a doação;
- Homens podem realizar até quatro doações no ano, com um intervalo de dois meses entre as doações;
- Já as mulheres podem realizar até três doações no ano, com um intervalo de três meses entre as doações.
Abaixo algumas situações temporárias que impedem a mulher de doar sangue:
- Uso de Medicamentos
Cada medicamento é avaliado individualmente e em conjunto e sempre que apresentar alguma correlação com a doação de sangue, será registrado na ficha de triagem.
- Os níveis de hematócrito/hemoglobina
Os valores mínimos aceitáveis do nível de hemoglobina/hematócrito são: Hb =12,5g/dL ou Ht =38% para as mulheres. A candidata que apresentar níveis de Hb igual ou maior que 18,0g/dL ou Ht igual ou maior que 54% será impedida de doar e encaminhada para investigação clínica.
- Gravidez e Amamentação
As gestantes, mães que amamentam ou que tiveram bebê há menos de um ano não devem doar. O Ministério da Saúde proíbe a doação de sangue de gestantes e lactantes. Ao longo da gestação, o corpo apresenta um volume de 30% a 50% a mais de sangue. Não é recomendado, no entanto, que a grávida doe sangue, já que se trata de um período de vulnerabilidade, em que o organismo está concentrado no desenvolvimento do bebê.
“Durante o segundo mês de gravidez, as mulheres iniciam uma hemodiluição, o que significa que elas começam a ter aumento na produção de células vermelhas e desenvolvem um crescimento maior de plasma, sendo assim, elas tendem a desenvolver um quadro chamado de anemia fisiológica da gravidez”, explica o ginecologista Belmiro Gonçalves, membro da Comissão de Hiperglicemia e Gestação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
“Por isso a Organização Mundial da Saúde (OMS), orienta que os médicos façam reposição de sulfato ferroso, já que gestantes costumam ter uma maior formação de células hematológicas. No pós-parto e durante o período de amamentação também há uma redução do ferro endógeno, fazendo com que a paciente consuma mais ferro, sendo esse também um momento não ideal para a doação”, completa o especialista.
- Procedimentos e tratamentos de saúde
Alguns tipos de tratamentos, tatuagens, micro pigmentação, cirurgia, vacinas como a de Hepatite após 11 anos de idade, entre outros, também são motivos impeditivos à doação.
#JunhoVermelho
Gestantes têm alto risco de anemia devido às necessidades aumentadas de ferro
Junho Laranja é uma campanha anual que visa conscientizar e promover a importância do diagnóstico, prevenção e tratamento da anemia e da leucemia, duas doenças que podem afetar tanto adultos quanto crianças. A anemia, em particular, é um problema de saúde pública de grande relevância em escala global.
Um levantamento divulgado pela Universidade de Brasília (UnB) apresentou dados importantes sobre a taxa de anemia entre gestantes brasileiras. Segundo o estudo, esse índice atinge 23%, o que posiciona o Brasil na segunda classificação mais elevada da Organização Mundial de Saúde (OMS), indicando um problema moderado de saúde pública em nível nacional.
A ginecologista Venina Isabel de Barros, presidente da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso da Federação Brasileira de Ginecologia Obstetrícia (Febrasgo), explica que as gestantes estão no grupo de alto risco para anemia devido às necessidades aumentadas de ferro na gravidez e eventual suspeita de sangramento anormal no pós parto.
“A principal causa de anemia é a deficiência de ferro. Outras causas da doença são deficiência de vitamina B12 e ácido fólico. Nas mulheres, um dos principais motivos é o sangramento menstrual exagerado. Pacientes submetidos a cirurgia bariátrica são de alto risco para anemia. Algumas doenças inflamatórias crônicas também levam à anemia como alguns reumatismos, doenças do fígado, doenças autoimunes, pacientes com doenças inflamatórias intestinais. As crianças são de alto risco devido ao crescimento rápido e grande necessidade de ferro”, alerta a médica.
Os sintomas mais comuns da anemia incluem sensação de fraqueza, tontura, alteração da memória, redução da capacidade de realizar exercícios, dificuldade de aprendizado, sonolência, irritabilidade e sensação de palpitações.
Tipos da Doença
Existem variados tipos de anemia, e é fundamental consultar um médico para ter um diagnóstico e tratamento adequados. A avaliação inicial geralmente envolve a solicitação de um exame de hemograma completo. Essa análise é capaz de detectar a presença de anemia, e, a partir daí, podem ser solicitados outros exames para esclarecer a causa subjacente.
Tratamento
Em relação ao tratamento, a médica da Febrasgo ressalta que a deficiência de ferro é a principal causa de anemia em todo o mundo, representando de 25% a 30% de todos os casos. Portanto, o tratamento geralmente envolve a reposição de ferro por via oral. No entanto, em certas situações de urgência, como anemia grave em gestantes próximas ao parto, pessoas com intolerância ao ferro oral ou pessoas prestes a passar por uma cirurgia, a opção de infusão intravenosa de ferro pode ser considerada, possibilitando um tratamento rápido da anemia.
Prevenção
“Em cada fase da vida é possível fazer a prevenção da anemia. Assim, no primeiro ano de vida, todas as crianças devem receber suplementação de ferro. O aporte adequado de ferro na dieta, ou seja, dieta rica em carne vermelha, feijão e folhas ricas em ferro deve ser sempre balanceado para todos. O tratamento das parasitoses intestinais elimina a perda de sangue intestinal por estes parasitas. O ferro deve sempre ser suplementado de rotina na gravidez, pelo menos 40 mg/dia de ferro elementar. O hemograma e a ferritina devem ser repetidos no terceiro trimestre da gravidez e pode ser necessário no pós parto se houver suspeita de sangramento excessivo no parto. Pacientes com sangramento menstrual abundante devem ter a causa do sangramento avaliada e tratadas. Assim, o papel do ginecologista é fundamental para fazer a triagem e tratamento das principais causas de anemia em toda a vida da mulher”, destaca a Dra. Venina.
Leucemia
Por outro lado, a leucemia é um tipo de câncer que afeta as células do sangue e da medula óssea. Ela ocorre devido a uma produção extrema e descontrolada de glóbulos brancos anormais, que acabam substituindo as células sanguíneas saudáveis.
O Dr. Jose Francisco Comenalli-Marques Jr, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), esclarece que os sintomas das leucemias tanto em adultos quanto em crianças, são os relacionados à queda da função da medula quanto à produção das células do sangue, dando anemia por falta de glóbulos vermelhos, gerando cansaço, fraqueza, astenia, tonturas, etc, falta de Glóbulos Brancos, com febre e infecções, e falta de plaquetas, com manchas roxas e hemorragias.
#JunhoLaranja
Certificado

Atenção: Por favor, baixe e salve seu comprovante. Após dezembro do ano do evento, a Febrasgo não se responsabiliza pela emissão/armazenamento de certificados.
Nota de repúdio FEBRASGO sobre NOTA TÉCNICA No 31/2023-COSMU/CGACI/DGCI/SAPS/MS
A FEBRASGO repudia veementemente a NOTA TÉCNICA No 31/2023-COSMU/CGACI/DGCI/SAPS/MS* que recomenda a inserção do Dispositivo Intrauterino (DIU) por médicos(as) e enfermeiros(as).
A FEBRASGO já desde 2018 posiciona-se contrária à inserção de DIU por profissional não médico.
O CFM em seu parecer 24/2020 conclui: “Considerando haver norma legal (lei do Ato Médico) restritiva e base científica suficiente para apontar riscos na aplicação do DIU, que podem exigir intervenção que envolve o conhecimento de médicos, o Conselho Federal de Medicina, dentro de suas atribuições de proteção social e de preservação de boas práticas médicas, afirma que o procedimento de inserção de dispositivo intrauterino em humanos só é permitido ser realizado por médicos, estando, por isso, vedado para quaisquer outras categorias de profissionais da saúde”.
A FEBRASGO reitera esse posicionamento e se manifesta como defensora incondicional do ato médico.
Nota FEBRASGO 2018
Parecer CFM 24/2020
OFÍCIO CIRCULAR Nº 17/2023/COSMU/CGACI/DGCI/SAPS/MS
Pandemia expôs fragilidades básicas que, corrigidas, reduziriam mortalidade materna no Brasil
Índices brasileiros de mortalidade materna representam quase o dobro em relação a outros países da América Latina
Em 28 de maio são lembradas duas datas de extrema importância quando se fala em saúde feminina: Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, estabelecidos durante o IV Encontro Internacional Mulher e Saúde, realizado em 1984, na Holanda, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar diversos atores da sociedade - civil, de profissionais da saúde e poder público - sobre as diversas questões de saúde que afetam as mulheres.
O Painel de Monitoramento de Mortalidade Materna revelou que o número de óbitos maternos registrados no Brasil em 2021 alcançou o maior patamar em 22 anos. Ao todo, 2.857 mulheres grávidas e puérperas perderam suas vidas, o que equivale a uma média de 8 óbitos por dia. Esse crescimento de mais de 45% em comparação com o ano anterior está principalmente relacionado à pandemia da COVID-19, tendo como causa de mortes síndromes respiratórias agudas essencialmente.
O obstetra Marcos Nakamura Pereira, presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), afirma que, ainda que mortes em decorrência de complicações da COVID-19 tenham elevado os números deste cenário, “não podemos deixar de observar que mortes diretas evitáveis continuaram acontecendo entre 2019 e 2021 [período agudo da pandemia]”.
“Essa análise expõe fragilidades estruturais de nosso sistema de saúde, uma vez que óbitos por hemorragia pós-parto grave, hipertensão e abortos são definitivamente evitáveis”, reforça. Na visão do especialista, a emergência sanitária da COVID-19 deixou muito claro que o Brasil precisa de mais leitos de cuidado intensivo obstétrico, pois a mulher gestante não precisa só de intensivista, mas também de um olhar de um obstetra com experiência no alto risco
Pós-emergência sanitária
Uma vez expostas situações evitáveis de mortes maternas, os cuidados com a qualidade do pré-natal, acesso ao sistema de saúde, qualificação e atualização contínua de profissionais para emergências obstétricas e uma rede mais articulada para casos de complicações graves, especialmente em locais longe de grandes centros. “É urgente termos uma rede mais articulada para casos de complicações obstétricas mais graves para que não haja demora na assistência à gestante”, crava ao informar que a FEBRASGO atua institucionalmente no apoio a iniciativas que visam a redução da mortalidade materna, independentemente do governo.
A Federação, de fato, oferece cursos, treinamentos e conteúdo visando a atualização profissional, além de materiais ricos para público leigo. “Entendemos nosso papel como um importante canal de comunicação com ginecologistas e obstetras no sentido de promover qualificação e junto à população em geral oferecer informação confiável e de qualidade”, explica.
O vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da FEBRASGO, Dr. Rodolfo de Carvalho Pacagnella, explica que “para reduzir a mortalidade materna, é necessária uma atuação sistêmica em todo o sistema de saúde. É importante reconhecer o papel central da mulher na nossa sociedade. A morte materna acontece porque não se dá a devida atenção às mulheres na nossa sociedade”.
O Dr. Rodolfo assinala que há três fases que comprometem a qualidade dessa assistência. “É preciso ter um investimento em todo o sistema de saúde, de maneira que se evite três demoras que levam a morte. A demora na fase um, em reconhecer que há um problema de saúde, ou seja, a mulher reconhecer que há um problema no corpo dela. É preciso ter educação para reduzir esse intervalo. A segunda é a demora em chegar a uma unidade de saúde. Para isso, é preciso ter transporte e uma rede de assistência adequada. E a demora de fase três, que diz respeito ao diagnóstico adequado e ao tratamento oportuno que vai ser oferecido a essas mulheres assim que elas chegarem no sistema de saúde”, diz.
Segundo Pacagnella, as altas taxas de mortalidade materna estão relacionadas a problemas sociais. “Quanto maiores as taxas, maiores as desigualdades daquele país ou região. Países de alta renda, com igualdade entre gêneros, têm taxa de mortalidade materna muito baixas”, explica.
Prevenção
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos para serem alcançados até 2030 é a redução da taxa global de mortalidade materna para menos de 70 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. O Brasil estabeleceu reduzir a mortalidade materna para 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030 a fim de contribuir para esse objetivo.
Para o especialista da FEBRASGO, o mais indicado para a prevenção e o tratamento de doenças como HPV, endometriose, câncer de mama e de colo de útero, fibromialgia, depressão e obesidade - que figuram entre as maiores incidências de agravamento e morte entre mulheres no Brasil - são consultas e exames regulares, práticas que podem fazer a diferença na saúde da mulher, já que o diagnóstico tardio pode prejudicar o processo de tratamento e cura. Um dos maiores desafios da saúde pública é oferecer serviços de qualidade à saúde integral da mulher.
Para o Dr. Rodolfo, esses desafios existem, por consequência da forma como a mulher é vista pela sociedade. “Em uma sociedade que enxerga a mulher como um ser de segunda categoria, se investe pouco na vida das mulheres, se investe pouco na qualidade de vida dessas mulheres, se investe pouco no reconhecimento dessas mulheres como fundamentais para a constituição de um país, de uma sociedade justa e igualitária”, finaliza.
Diagnóstico precoce e encaminhamento para internação hospitalar é a melhor conduta para mulheres com pré-eclâmpsia
A doença é uma das causas de mortalidade materna no país e segundo dados atinge mais gestantes negras do que brancas
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e pelo Instituto Çarê, de 2014 a 2021, a cada 1000 mulheres em trabalho de parto, 28,4 tiveram eclâmpsia ou pré-eclâmpsia. Houve variação dessa taxa entre gestantes brancas, pardas e negras que, respectivamente, representaram 24,9, 27,5 e 32,8 dos casos.
A pré-eclâmpsia é uma doença exclusiva da gestação, que é comum na primeira gestação, em adolescentes grávidas e mulheres acima de 40 anos. Ela é caracterizada pelo aumento da pressão arterial e dos níveis de proteína na urina. É uma doença que pode colocar em risco a vida do bebê e da mãe, cerca de 15% dos partos prematuros e 42% das mortes maternas em países em desenvolvimento são causados pela pré-eclâmpsia.
O dia 22 de maio é marcado pelo Dia Mundial da Pré-Eclâmpsia e tem como objetivo conscientizar a população e os profissionais da saúde sobre os riscos da doença.
Tratamento da pré-eclâmpsia
“O tratamento definitivo da pré-eclâmpsia é o nascimento do bebê pois está relacionado a questões placentárias”, explica a Dra. Janete Vettorazzi, membro da Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
“Não se faz o nascimento imediato quando se diagnostica pré-eclâmpsia. Existem critérios bem definidos para decidir o nascimento do bebê”, pontua a médica. “Nós, médicos e médicas, tomamos uma conduta conservadora, ou seja, observamos a mãe e fazemos exames periódicos, exames de sangue, de urina e ecografia do bebê e, preferencialmente, uma mãe diagnosticada com pré-eclâmpsia é internada, pois temos um controle melhor dos exames, das alterações e faz um diagnóstico mais precoce”, explica.
“Portanto o melhor tratamento para pré-eclâmpsia é a internação, observação assídua e regular, com exames relacionados a questões maternas e fetais”, complementa Dra. Janete. “Nós cuidamos das funções do rim, do fígado e da coagulação, tudo o que pode ser afetado durante a gestação”, completa.
Segundo a especialista, definir o momento certo para a internação da gestante com pré-eclâmpsia é fundamental para o bom desfecho materno e fetal.