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Depois da enchente - cuidados com a saúde da mulher

A FEBRASGO, juntamente com a SOGIRGS, lamenta profundamente os danos físicos, materiais e emocionais causados pela enchente na população do Rio Grande do Sul. Foi disponibilizada uma plataforma para inscrição de colegas voluntários no atendimento e assistência a mulheres gaúchas, seja na forma de orientação, consultas ou aconselhamento. Agradecemos desde já. Para facilitar o melhor entendimento da situação, listamos a seguir os principais problemas ginecológicos e obstétricos enfrentados por mulheres em abrigos após enchentes:

 

  1. Acesso limitado aos serviços de saúde: As enchentes frequentemente danificam ou destroem instalações de saúde, dificultando o acesso das gestantes aos serviços de cuidados pré-natais,, levando a piores desfechos de saúde[1].

 

  1. Aumento do risco de mortalidade e complicações: A falta de atendentes qualificados para o parto, estações de parto não higiênicas e serviços pós-natais inadequados aumentam o risco de mortalidade e complicações durante o parto[1].

 

  1. Alterações menstruais e manejo durante as catástrofes: Mulheres em abrigos frequentemente carecem de espaço, instalações e necessidades para gerenciar sua menstruação mensal de maneira segura, privada e digna[1].

 

  1. Aumento do risco de violência contra mulheres: Desastres como enchentes podem exacerbar a violência baseada em gênero, incluindo exploração sexual e abuso[1].

 

  1. Problemas com a amamentação: A amamentação pode ser difícil em abrigos devido ao estresse, deslocamento e má nutrição, levando a dificuldades com a lactação e a saúde do bebê.

 

  1. Taxas mais altas de doenças inflamatórias pélvicas, distúrbios menstruais e fertilidade reduzida: As enchentes têm sido associadas a taxas mais altas desses problemas ginecológicos[3].

 

  1. Aumento do risco de parto prematuro, ruptura prematura das membranas e retardo do crescimento intrauterino: As enchentes têm sido ligadas a esses desfechos adversos na gravidez[3].

 

  1. Cuidados pós-parto comprometidos: Mulheres em abrigos frequentemente enfrentam condições de saúde desfavoráveis devido ao ambiente de saúde desafiador, tornando os cuidados pós-parto cruciais para garantir o bem-estar delas e a saúde de seus bebês[2].

 

  1. Problemas de saúde mental: Desastres como enchentes podem levar a problemas de saúde mental, incluindo transtornos de estresse pós-traumático, que podem impactar a saúde e o bem-estar das mulheres.

 

  1. Aumento do risco de infecções sexualmente transmissíveis e lesões: A violência sexual pode levar a um aumento nas infecções sexualmente transmissíveis e lesões.

 

  1. Complicações clínicas durante a gravidez. A presença de doenças de pele, infecções de vias aéreas superiores e inferiores.

 

  1. 12. Atrasos em Vacinação

 

Esses desafios destacam a necessidade de esforços colaborativos entre governos, sociedade civil e parceiros de desenvolvimento para abordar os problemas ginecológicos e obstétricos enfrentados por mulheres em abrigos após enchentes[1].

 

Citações:

[1] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11001467/

[2] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10697115/

[3] https://obstetrics.imedpub.com/articles/in-the-aftermath-of-disasters-the-impact-on-womens-health.pdf

[4] https://obstetrics.imedpub.com/in-the-aftermath-of-disasters-the-impact-on-womens-health.php?aid=17661

Violência Sexual em situações de catástrofes e desastres ambientais – Orientações para os gestores

A Violência Sexual contra mulheres e meninas é endêmica e transversal em todo o mundo. No seguimento de catástrofes ambientais e crises humanitárias os riscos e experiências de violência são magnificados (1,2,3). Resguardadas as diferenças metodológicas entre as pesquisas, as evidências mostram aumento no número de casos de violência sexual contra meninas e mulheres pós-catástrofes, em contextos diversos, como o furacão Katrina (2005) (4), o terremoto no Haiti (2010) (5), o rompimento da barragem do fundão, em Mariana, MG (6) e o terremoto em Christchurch, Nova Zelândia (2011) (7).

A violência de gênero foi chamada de “pandemia sombria” e de “crise oculta” na pandemia da COVID-19, e situações de crises em geral impactam as situações de violência ao exacerbar as vulnerabilidades e apontam as necessidades das organizações governamentais e não governamentais se mobilizarem para defender um Estado responsivo e com fortes obrigações positivas para combater e reduzir esse problema (10). Essa situação sombria se mantém sempre que há crise de qualquer natureza, entre elas as emergências climáticas.

Considerando que, no Brasil, mais de 3 milhões de pessoas residem em áreas urbanas suscetíveis a inundações e deslizamentos, e que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana têm tornado essas ocorrências progressivamente mais frequentes e devastadoras, é importante que o enfrentamento ao risco de VS seja considerado nos planos de contingência (2,8,9).

Neste contexto, vale enfatizar que as populações não são afetadas de modo uniforme. Os grupos mais vulneráveis, como mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência, pessoas LGBTQIAPN+ - especialmente aquelas mais vulnerabilizadas economicamente - além de serem mais susceptíveis aos efeitos da catástrofe em si, apresentam maior dificuldade no enfrentamento de outros efeitos negativos, merecendo um olhar cuidadoso de gestores e profissionais de saúde (8).

O aumento do risco de VS em contextos de catástrofe está associado a um conjunto de fatores. Dentre eles podemos citar: a retirada forçada das pessoas de suas moradias, a realocação em abrigos provisórios inadequados, a insuficiência na oferta do serviço de saúde em decorrência do desastre, a inexistência ou insuficiência de informação sobre como acessar os serviços de suporte, o abuso de álcool e outras drogas dentro dos abrigos provisórios e prejuízos significativos de infraestrutura que comprometem a ação de sistemas de apoio jurídico, social e comunitário (2,3,8).

Particularmente no caso das crianças, concomitante ao aumento do risco de abuso sexual, há a redução das redes de suporte. Quando as crianças são deslocadas para abrigos de emergência ou outras situações de alojamento temporário, ou quando são forçadas a abrigar-se no local, perdem a ligação com professores, prestadores de cuidados infantis e outros repórteres mandatados que, de outra forma, poderiam identificar e denunciar suspeitas de abuso (2,4).

Dentre as manifestações de VS mais frequentes em situações de catástrofes e desastres ambientais podemos citar: estupro perpetrado por pessoa desconhecida, estupro perpetrado por parceiro íntimo, estupro de vulnerável (abuso sexual infantil, abuso sexual de pessoas com deficiência e idosos por parte dos cuidadores), tráfico sexual, extorsão sexual e sexo forçado para sobrevivência, abuso sexual baseado em imagens ou pornografia não consensual (2). Para além da violência física e sexual, os estudos associam desastres ambientais e catástrofes à violência econômica e psíquica, mutilação genital e casamento precoce (3,8). O casamento forçado é usado frequentemente para reduzir despesas domésticas e despesas relacionadas a danos ou ainda como forma de reparação após uma violência sexual, aprisionando a pessoa em um relacionamento com seu agressor (2,4).

Deste modo, diante da associação inequívoca do número de casos de VS e Doméstica associados a catástrofes ambientais, compilamos as orientações existentes na literatura para reduzir os riscos e os danos, escritos a seguir.

Prevenção pré-desastre

As ações de prevenção devem compor o plano de contingência, que, por sua vez, deve ser planejado antes que uma catástrofe ambiental se estabeleça. Essas ações estão sumarizadas abaixo (2,3,4)

Ações Macropolíticas: 

  • As pressões econômicas e sociais aumentam a taxa de violência em catástrofes, especialmente contra crianças e mulheres. A criação de um ambiente social seguro, favorável e antipobreza são algumas das questões que precisam ser abordadas na prevenção pré-desastres.
  • A integração da dimensão de gênero nas políticas e programas de preparação para catástrofes.

Consolidação da rede de assistência a Pessoas em Situação de Violência Sexual mesmo fora dos períodos de crise: 

  • O acesso a uma variedade de serviços médicos e jurídicos é reduzido pela destruição e comprometimento da infraestrutura.
  • Para prevenir e responder oportunamente às vítimas de VS, é necessário estabelecer estruturas de supercapacidade para monitorização, resposta e encaminhamento antes da ocorrência de desastres.

Ações educativas e Participação Social: 

  • A educação pode mudar a atitude da sociedade e aumentar a consciência pública sobre como prevenir e agir diante de casos de VS.
  • Sensibilizar e educar os indivíduos da comunidade pode impedir que a violência aconteça e prepará-los melhor para lidar com ela, caso isso aconteça.
  • Para integrar a questão da VS na estrutura de resposta a desastres, também é necessário criar uma compreensão adequada do risco entre os gestores das organizações responsáveis.

Planejamento responsivo e de base comunitária: 

  • O planejamento de base comunitária deve ter em conta os pontos de vista e necessidades de homens, mulheres e grupos especiais, como pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIAPN+ sobre a questão da VS.
  • O desenvolvimento de procedimentos e diretrizes bem estabelecidos previamente é necessário para promover a prontidão e fornecer serviços consistentes e de alta qualidade.

Ações durante a catástrofe

  • Deverão ser estabelecidos imediatamente mecanismos adequados para abordar casos de violência e outras violações dos direitos humanos, com acionamento das equipes e dos serviços de assistência a pessoas em situação de violência sexual para atuarem de acordo com os planos de contingência.
  • Os acampamentos e assentamentos para os desabrigados devido a um desastre deverão estar localizados em áreas com menor risco de perigo natural e deverão ser concebidos de modo a maximizar a segurança e a proteção das pessoas desabrigadas, incluindo mulheres e pessoas cuja segurança pessoal é de maior risco (por exemplo, crianças, idosos, pessoas com deficiência, famílias chefiadas por uma única pessoa e membros de minorias étnicas ou povos indígenas).
  • Pode ser considerada a criação de áreas separadas para dormir e habitar para mulheres e homens, para serem usadas por aqueles que assim o desejarem. Contudo, é importante adotar medidas para que as pessoas com necessidades especiais/populações vulneráveis ​​não sejam segregadas.
  • Desenvolver e implementar mensagens universais de educação e prevenção e programação sobre violência sexual em desastres.
  • Desenvolver estratégias de informações sobre agressão sexual, como evitá-la, o que fazer em caso de incidente.
  • Ter nos abrigos um local específico para orientação sobre os procedimentos para denunciar e/ou buscar assistência em caso de violência sexual.
  • Necessidade de pensar em estratégias antes, durante e depois dos eventos extremos, pela probabilidade de que as condições de vulnerabilidade se manterão.

 

Referências

  1. Beek K, Drysdale R, Kusen M, Dawson A. Preparing for and responding to sexual and reproductive health in disaster settings: evidence from Fiji and Tonga. Reprod Health. 2021 Sep 20;18(1):185. doi: 10.1186/s12978-021-01236-2. PMID: 34544448; PMCID: PMC8451166.
  2. National Sexual Violence Resource Center. Sexual Violence in Disasters From the National Sexual Violence Resource Center. Centers for Disease Control and Prevention.2021
  3. Thurston AM, Stöckl H, Ranganathan M. Natural hazards, disasters and violence against women and girls: a global mixed-methods systematic review. BMJ Glob Health. 2021 Apr;6(4):e004377. doi: 10.1136/bmjgh-2020-004377. PMID: 33958379; PMCID: PMC8112410.
  4. Klein, A. Preventing and responding to Sexual Violence in Disastres: a planning guide for prevention and response. Louisiana Foundation Against Sexual Assault (LaFASA) & National Sexual Violence Resource Center (NSVRC). 2008
  1. COBERLLINI, Mariana Dalalana. Haiti: da crise a MINUSTAH 2009. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) - Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
  1. Fundação Getúlio Vargas. A Situação das Mulheres Atingidas pelo Desastre do Rio Doce a partir dos Dados da Ouvidoria da Fundação Renova / Fundação Getulio Vargas. – Rio de Janeiro; São Paulo: FGV, 2019.
  2. Ingber, H. W. New Zealand: Domestic violence surges after earthquake. GlobalPost, 2011. Disponível em: https://www.pri.org/stories/2011-02-28/new-zealand-domestic-violence-surgesafter-earthquake. Acesso em: 10.05.2024
  3. Proteção aos direitos humanos das pessoas afetadas por desastres / Janaína Rocha Furtado; Marcela Souza Silva, organizadoras. – Florianópolis: CEPED UFSC, 2014. 276 p
  4. Adibi Larijani H, Moslehi S, Dowlati M. Identifying the Preparedness Components for Sexual Violence in Natural Disasters: A Systematic Review. Med J Islam Repub Iran. 2022 Dec 21;36:158. doi: 10.47176/mjiri.36.158. PMID: 36721492; PMCID: PMC9884150.

 

Documento desenvolvido e aprovado pelos membros da Comissão Nacional Especializada de Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei.

Em14 de maio de 2024. 

Orientações médicas são fundamentais na amamentação para uma adaptação confortável entre mãe e bebê

 Leite materno é rico em anticorpos e fatores de defesa

 

Para incentivar a doação de leite humano e fomentar discussões sobre a relevância do aleitamento materno e da doação de leite no Brasil, foi celebrado no dia 19 de maio, o Dia Mundial da Doação de Leite Humano. O aleitamento materno traz consigo uma série de benefícios, uma vez que o leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o bebê até os seis meses de idade, proporcionando proteção contra diversas doenças.

 

A Organização Mundial da Saúde recomenda que seja oferecido de forma exclusiva até os 6 meses de vida e mantido durante a introdução alimentar até os 2 anos de idade ou mais. A Dra. Mônica Fairbanks, membro da Comissão de Aleitamento Materno da Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)  destaca que o leite materno é um alimento completo e ideal para os recém-nascidos e ressalta que os benefícios para os bebês vão além da nutrição, pois o alimento é rico em anticorpos e fatores de defesa. Sua composição é altamente complexa e varia de acordo com a fase de vida do bebê, atendendo às necessidades específicas do lactante em cada etapa.

 

A especialista explica que nos primeiros dias de vida o colostro é mais rico em proteínas e contém menos lactose e gorduras. Nessa fase, há uma concentração elevada de imunoglobulinas, proporcionando à criança proteção crucial nos estágios iniciais da vida, incluindo defesa contra microorganismos presentes no canal de parto. A composição do leite materno gradualmente se modifica e fornece para cada fase de crescimento do bebê o teor adequado de proteínas, carboidratos, lipídios, minerais e vitaminas. (exceto vitamina K, que por isso é administrada ao recém-nascido logo ao nascimento). “Desde que a mãe tenha uma dieta adequada o leite materno atende todas as necessidades de cada criança, promovendo uma saúde ótima e reduzindo o risco de doenças infecciosas, especialmente diarreias e infecções respiratórias, contribuindo assim para a diminuição da mortalidade infantil”, afirmou a médica.

 

A amamentação previne doenças futuras, promovendo um maior desenvolvimento, além de reduzir o risco de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Ter contato pele a pele com o bebê durante toda a primeira hora de vida tem a contração uterina após o parto mais eficaz e menor sangramento pós parto, além de melhor estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho, acalmando e reduzindo a ansiedade de ambos. Além disso, a lactação promove o completo desenvolvimento mamário e reduz risco de câncer de mama.

A especialista da FEBRASGO explica que as mães que amamentam têm uma maior chance de perder peso mais rapidamente após o parto, maior facilidade de espaçamento entre as gestações e retorno mais tardio aos ciclos menstruais. Acrescenta ainda que crianças amamentadas desenvolvem melhor a cognição em comparação com aquelas que não são amamentadas, conforme indicado por diversos estudos. Não menos importante, o aleitamento materno é uma forma mais prática, natural e econômica de alimentação infantil. Além de economizar com insumos como mamadeiras, fórmulas lácteas e esterilizadores, há uma redução nos gastos hospitalares devido a internações e uma menor taxa de ausência das mães do trabalho.

 

Alimentação durante amamentação

 

 

“Quando estiver amamentando, é recomendado evitar bebidas alcoólicas e alimentos com cafeína. Além disso, alimentos doces, gordurosos e muito salgados devem ser consumidos com moderação, assim como alimentos que possam estimular a formação de gases, causando maior distensão abdominal e cólicas, tais como couve, brócolis, cebola, alho, oleaginosas e leguminosas. É importante observar a reação e o comportamento do bebê após a ingestão desses alimentos”, pontuou a Dra. Monica.

 

 

Dia Internacional da Luta Contra a LGBTQIAP+fobia: Especialista fala da importância de um olhar especializado para a saúde sexual trans

Em 17 de maio de 1990, uma decisão histórica da Organização Mundial da Saúde (OMS) marcou um avanço significativo na luta pelos direitos do movimento LGBTQIAP+. Neste contexto, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) convida à reflexão sobre a vital importância da integralidade da saúde da pessoa trans, destacando particularmente a esfera da sexualidade.

 

O Dr. Eduardo Siqueira, membro da Comissão de Sexologia da FEBRASGO, destaca a atenção sobre as recomendações ginecológicas para as mulheres trans. Além de oferecer suporte no processo de hormonização, é importante ressaltar que mulheres trans, travestis e pessoas trans femininas podem precisar de avaliações ginecológicas regulares. Mas caso essas mulheres estejam por cinco ou mais anos em hormonização, elas devem ser rastreadas para neoplasias mamárias, após os 40 ou 50 anos (a depender dos diferentes protocolos de rastreamentos), conforme estabelecido para as mulheres cis. “Estamos acostumados a dizer que o ginecologista é o "clínico da mulher". Portanto, devemos desempenhar esse papel, independentemente da identidade de gênero - cis ou trans - da paciente”, comenta o especialista.

Sobre procedimentos comuns,  o médico reforça que  mulheres trans não possuem colo do útero e, portanto, não precisam realizar o exame de Papanicolau. No entanto, se essas mulheres estiverem em processo de hormonização por cinco anos ou mais, devem ser rastreadas para neoplasias mamárias a partir dos 40 ou 50 anos (dependendo dos diferentes protocolos de rastreamento), conforme estabelecido para as mulheres cis. “Em resumo, o ginecologista é um profissional importante para apoiar mulheres trans e pessoas trans femininas durante o processo de transição de gênero", explicou o médico.

 

 

Contracepção e Planejamento familiar

 

As mulheres transgênero são aquelas que, ao nascer, têm genitália masculina (pênis e testículos). Mesmo durante a hormonização, elas continuam a produzir espermatozóides e, portanto, mantêm a capacidade de fertilidade. Os hormônios utilizados durante a transição de gênero não funcionam como contraceptivos. Isso significa que, se uma mulher transgênero tiver relações sexuais com alguém que tenha vagina e útero, essa pessoa poderá engravidar normalmente. Portanto, é sempre importante utilizar métodos contraceptivos quando o desejo for evitar uma gravidez.

 

Saúde Reprodutiva

 

O principal ponto é o acesso a informações de qualidade e a serviços de saúde adequados para pessoas trans. Existem algumas particularidades que devem ser consideradas durante a assistência e a oferta desses serviços, e os profissionais de saúde devem estar capacitados para fornecer essas informações à população trans.

 

Prevenção de Infecções Sexualmente transmissíveis

 

O Dr. Eduardo Siqueira explica que a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis para mulheres trans segue o mesmo raciocínio das medidas orientadas para a população cis. O que talvez diferencie é um acesso maior a essas medidas para as populações cis. “Hoje, trabalhamos com o conceito de prevenção combinada às IST, e como podemos perceber, embora seja um conceito novo, a prática já é conhecida. Estamos falando do uso de preservativos associados a lubrificantes durante as relações sexuais”, explica o ginecologista.

Nas situações em que houve falha dessas medidas iniciais, é indicado o uso da PEP, ou seja, medicamentos usados após a relação sexual, para evitar a infecção pelo HIV. Outras medidas medicamentosas também existem para complementar essas prevenções. “E, claro, não podemos esquecer de reforçar a necessidade de manter a vacinação em dia: hepatites A e B e HPV, por exemplo, são vacinas que devem ser sempre lembradas como medidas preventivas de IST”, completa.

 

Profissionais da Saúde no acolhimento, no cuidado e na atenção à saúde

 

“Hoje, as demandas da população trans estão extremamente negligenciadas, seja pela falta de serviços estruturados que os acolham, seja pela falta de engajamento dos próprios profissionais de saúde nessa assistência. O cuidado com as pessoas trans apresenta suas particularidades, porém está dentro das capacidades dos profissionais de saúde. Podemos não ser especialistas em hormonização, mas somos capazes de realizar exames clínicos e preventivos e fornecer informações sobre riscos à saúde. Temos um papel fundamental, especialmente porque lidamos com uma população vulnerável que tem acesso limitado aos serviços de saúde, e não podemos nem devemos fugir dessa responsabilidade”, finaliza o médico.

 

Noções de diversidade

 

A FEBRASGO demonstra seu compromisso com a diversidade por meio de diversas iniciativas, incluindo a realização de painéis em eventos que abordam essa temática e promovem uma compreensão mais ampla da diversidade para os ginecologistas. Um exemplo disso foi a apresentação do Dr. Luiz Brito durante a 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, na qual ele discutiu os desafios enfrentados pela mulher trans.

 

 O Brasil é o país que mais registra casos de homicídio de pessoas transgênero no mundo, e a violência contra essa comunidade é alarmantemente alta. Dessa forma, uma grande parcela da população, cerca de 80% em geral, nunca teve contato ou conhecimento de alguém trans. “Esse desconhecimento acarreta em falta de habilidade e sensibilidade no trato com essa população, uma situação que não é abordada na maioria das escolas de medicina. Por isso, é essencial introduzir aulas que ofereçam noções de diversidade aos médicos ginecologistas sobre esse tema. Durante essas aulas, abordamos questões como como realizar um atendimento adequado, como se referir à pessoa de maneira respeitosa, como é a experiência de vida de uma pessoa trans, incluindo o momento em que ela passa a viver de acordo com o gênero com o qual se identifica, entre outros aspectos”, frisou o Dr. Luiz.

29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia termina a programação, em Salvador, com mais 1,6 mil inscritos de todo o Brasil

Especialistas de todas as regiões do País participaram dos três dias do evento promovido pela FEBRASGO

Entre os dias 9 e 11 de maio, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) realizou a 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia em Salvador (BA), que contou com a participação de 1,6 mil inscritos e 128 convidados de todas as regiões do País. A programação contou com  471 trabalhos científicos submetidos, 91 atividades realizadas e uma ampla gama de temas relacionados à saúde da mulher brasileira.

Durante 3 dias de jornada, os participantes tiveram acesso a treinamentos práticos de habilidades, mesas com abordagens fundamentais para a prática médica contemporânea, um Fórum sobre Mortalidade Materna da Pessoa Negra, entre outras atividades. “Esses aspectos são fundamentais para a promoção da saúde da mulher, e a FEBRASGO tem o compromisso de abordar e trazer à discussão esses temas importantes, reafirmando seu papel na disseminação do conhecimento e na busca por melhorias na assistência à saúde feminina”, declarou a presidente da FEBRASGO, Dra. Maria Celeste Osório Wender.

No evento, os residentes e médicos especialistas tiveram a oportunidade de participar de atividades de simulação realística em emergências obstétricas dos “Hands On”. Durante essas sessões, foram abordados temas como parto vaginal operatório, distocia de ombro e hemorragia pós-parto.

Um dos destaques foi a simulação da aplicação, inserção e retirada do implante subdérmico, coordenada pelo Dr. Gustavo Salata e instruída por Jan Pawel Andrade Pachnicki, Milena Bastos, Rivia Lamaita e Francisco Paulo Mota. “Tivemos duas sessões dedicadas exclusivamente aos médicos residentes, focadas em EPAS muito importantes. Concluímos com duas sessões práticas "Hands On" voltadas para a EPA número 15, abordando contracepção e planejamento familiar. Durante essas sessões, os participantes tiveram a oportunidade de treinar a inserção e retirada do implante subdérmico, bem como a inserção de diferentes tipos de dispositivos intrauterinos, incluindo o DIU de cobre e o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel”, explicou o Dr. Gustavo Salata.

Desde o primeiro dia, as salas coordenadas pelo Dr. Álvaro Alves ofereceram aulas sobre temas como eclâmpsia durante o período expulsivo do trabalho de parto, uroginecologia com treinamento prático de correção de OASIS, além de ultrassonografia morfológica do primeiro e segundo trimestres, e ultrasonografía pélvica transvaginal no segundo trimestre, com a participação do Dr. Jorge Roberto Di Tommaso. “Foram destacados temas muito relevantes da obstetrícia e oferecemos uma programação vasta e extremamente interessante. Sem dúvida, uma oportunidade valiosa para todos os congressistas que participaram de treinamentos de habilidades tão importantes para quem assiste a partos”, destacou o coordenador.

Entre outros temas tratados na programação do último dia, destacaram-se: infecção urinária de repetição, vacinação na mulher adulta, adenomiose e mioma uterino, câncer de colo, endométrio e ovário, complicações no primeiro trimestre de gestação, manejo do sangramento precoce na suspeita de abortamento, gravidez ectópica - avanços na conduta frente ao diagnóstico precoce e terapia hormonal em mulheres com risco de câncer de mama: desvendando mitos e fatos.

Núcleo Feminino

Parte do cronograma foi dedicado ao Núcleo Feminino da FEBRASGO, sob a coordenação da Dra. Marta Finotti. Foram abordados temas como alimentação inclusiva e consciente, apresentado pela Dra. Andrea Burgos; estratégias para gerenciar o estresse e evitar o Burnout, com a Dra. Carmita Abdo; a relação entre atividade física e saúde mental, pela Dra. Maria Celeste Osório Wender.

Outros temas

Também foram abordados, entre tantos, os temas: recomendações atuais para a assistência humanizada ao parto, conduzidas pela Dra. Roseli Nomura; e os princípios da endocrinologia ginecológica e suas implicações em diferentes fases da vida da mulher, explorados pela Dra. Ana Carolina de Sá Rosa.

Dengue e câncer estão entre os principais temas debatidos no segundo dia da 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

Nesta sexta-feira (10), a programação do evento reuniu profissionais em prol do avanço da saúde Feminina, em Salvador (BA)

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) celebra o segundo dia da 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, nesta sexta-feira (10), com uma programação repleta de atividades práticas e orientadas para o fornecimento de um atendimento de excelência às pacientes dos consultórios ginecológicos, além da apresentação de debates importantes sobre temas atuais.

Entre eles, o atual cenário dos casos de dengue no Brasil foi um dos destaques do dia, com a conferência “Como enfrentar a dengue: Diretriz FEBRASGO”, mediada por Antonio Rodrigues Braga Neto e Roseli Mieko Yamamoto Nomura, membros do Grupo de Trabalho de Dengue e Gestação, e Regis Kreitchmann, presidente da CNE de Doenças Infectocontagiosas, que participaram da criação do Manual de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue na Gestação e no Puerpério,  adotado pelo   Ministério da Saúde e OPAS.

“Esperamos ter contribuído na disseminação do conhecimento em todo o país no combate contra a dengue. Ao observarmos a incidência da doença no país, percebemos uma queda, porém é evidente que o número total de casos foi muito maior do que no ano de 2023. Ainda existem muitos territórios, principalmente no Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que apresentam muitos casos de dengue, mantendo-se nos níveis de epidemia. O Distrito Federal é especialmente afetado, sendo o local com maior número de casos”, afirmou a Dra. Roseli.

 

 

As diretrizes definidas pela FEBRASGO para o enfrentamento da dengue em casos de dengue em gestantes e puérperas é resultado de um trabalho intenso da equipe científica, especialmente diante do número recorde de mortes por dengue em 2024, com mais de 2.197 casos confirmados e outros 2.276 ainda em investigação, conforme registrado no Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde (MS). 

“A jornada discutiu, em uma de suas mesas, a situação epidemiológica da dengue em gestantes e puérperas no Brasil. Durante esse momento, tivemos a oportunidade de apresentar o Manual de Enfrentamento à Dengue na População Obstétrica. Nele, enfatizamos a importância da orientação aos profissionais sobre o uso de repelentes, o diagnóstico precoce nas admissões, os critérios para internação e o tratamento dessa população de maior risco adverso, que enfrenta uma maior chance de morte devido à dengue”, disse o Dr. Antonio Braga.

 

Na ocasião, foi disponibilizado o QR Code, juntamente com o Manual, para os profissionais presentes. Este manual contém atualizações, informações e orientações para os profissionais que lidam com gestantes e puérperas em um momento em que o país ainda enfrenta um elevado número de casos de dengue.

ncer na mulher

Seguindo a programação do dia, o painel “Desafios de gênero na jornada do câncer na mulher: impacto e desigualdades”, coordenado pela Dra. Hilka Espírito Santo e pelo Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, abordou os desafios do atendimento oncológico no Brasil e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres brasileiras para obter seus diagnósticos e, consequentemente, seus tratamentos.

Para a coordenadora do painel, quando consideramos também as questões de gênero dentro dessa população, torna-se evidente que a luta contra a doença é ainda mais difícil para o grupo, e o debate é importante porque pode revelar áreas que precisam ser aprimoradas ao longo desse processo. “Evento como este, realizados em estados como a Bahia, que abriga uma população negra significativa e que enfrenta inúmeras dificuldades para obter diagnósticos, são momentos extremamente importantes para discutir, debater e propor possíveis mudanças nesse sistema de atendimento”, ressaltou a Dra. Hilka Espírito Santo.

Outros assuntos da programação

A agenda desta sexta-feira incluiu também discussões sobre ginecologia endócrina, liderada pelo Dr. César Eduardo Fernandes e Dr. Marcos Felipe Silva de Sá, assim como orientações sobre dúvidas comuns no consultório ginecológico, apresentadas pela Dra. Ana Carolina de Sá Rosa, e a análise sobre o uso de contracepção hormonal, com contribuições da Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro.

A saúde sexual também esteve entre os assuntos do dia com o tema “a abordagem da queixa de baixa libido” liderado pela Dra. Fabiene Bernardes. As atualizações no tratamento da Síndrome do Ovário Policístico foram apresentadas pelo palestrante Dr. José Maria Soares. Uma sessão de casos clínicos explorou condições como miomas, adenomiose e hiperplasia endometrial, coordenada por Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes, com a participação do Dr. Eduardo Batista Cândido.

A  assistência à gestante e puérperas também esteve em pauta com discussões sobre evidências atuais em hemorragia pós-parto, complicações durante a cesárea, incluindo extração difícil, incisões estratégicas e histerectomia, bem como atualizações sobre pré-eclâmpsia.

Premiação Científica

A jornada destacou-se pela apresentação de uma série de trabalhos científicos premiados, abrangendo diversas áreas da ginecologia e obstetrícia. Entre os destaques, foram reconhecidos estudos originais, revisões sistemáticas, relatos de casos e vídeos de técnicas cirúrgicas, cada um contribuindo significativamente para o avanço do conhecimento nessas especialidades.

Aqui estão alguns dos trabalhos premiados:

  1. ENSAIO CLÍNICO PROSPECTIVO RANDOMIZADO: LASER DE CO2 NO TRATAMENTO DA SÍNDROME DA BEXIGA HIPERATIVA - AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DO DIÁRIO MICCIONAL
  2. MELATONINA EXERCE O EFEITO MODULATÓRIO SOBRE A PROLIFERAÇÃO DE CÉLULAS TUMORAIS DE MAMA IN VITRO
  3. USO DE ANESTÉSICOS NO LOCAL DA INSERÇÃO DO TROCATER EM CIRURGIA DE HISTERECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA E SEUS EFEITOS ANALGÉSICOS NO PÓS-OPERATÓRIO: REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE
  4. TUMOR DE BRENNER BENIGNO ASSOCIADO COM CISTOADENOMA MUCINOSO DE OVÁRIO: RELATO DE CASO

 

  1. UNINDO PRECISÃO E EFICIÊNCIA: HISTERECTOMIA ROBÓTICA PARA ADENOMIOSE E CORREÇÃO DE DIÁSTASE ABDOMINAL EM ACESSO ABDOMINAL ÚNICO
  2. ESPLENECTOMIA NA CITORREDUÇÃO DO CÂNCER DE OVÁRIO: RELATO DE CASO
  3. O PRÉ-NATAL DE GESTANTES ADOLESCENTES NO NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

“Cada um desses estudos representa uma contribuição valiosa para a prática clínica e a pesquisa na área da saúde feminina, evidenciando a qualidade e a diversidade do trabalho científico apresentado durante o evento”, coloca a presidente da29. JBGO e da FEBRASGO, dra Maria Celeste Osorio Wender.

 

Serviço do Evento:

 

Evento: 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

Data: 9 a 11 de maio de 2024

Local: Salvador (BA) - Brasil

Centro de Convenções de Salvador

Av. Octávio Mangabeira, 5.490

 

Para mais informações e inscrições, visite: https://jbgo2024.com.br/

O Primeiro dia da 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia promove debate sobre mortalidade materna na população negra

Nesta quinta-feira (09), especialistas de todo Brasil estiveram presentes acompanhando a programação do evento com temas importantes para a saúde da mulher

No primeiro dia da 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, promovida pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), que aconteceu nesta quinta-feira (09), em Salvador (BA), especialistas de todo o país, cerca de 1500 inscritos, marcaram presença para explorar temas que abrangem desde a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças ginecológicas até os avanços em tratamentos obstétricos e questões psicossociais que impactam a saúde da mulher.

 

Durante a cerimônia de abertura, a presidente da FEBRASGO, Dra. Maria Celeste Osório Wender, destacou a importância do encontro e reforçou o compromisso da Federação em unir profissionais dedicados e comprometidos com a saúde da mulher brasileira: “A jornada que acontece aqui em Salvador é um importante encontro dedicado ao avanço do conhecimento científico. Hoje, diante de tantos colegas, quero enfatizar a importância da atualização científica como ferramenta fundamental para a segurança e promoção da saúde feminina”.

 

Também esteve presente na abertura o diretor científico da FEBRASGO, Dr. Agnaldo Lopes, que enfatizou o compromisso da Instituição com o avanço contínuo e a excelência na formação e prática médica no Brasil. “O evento reunirá uma pluralidade de assuntos e se apresentará como uma oportunidade singular para profissionais de saúde atualizarem-se sobre os mais recentes avanços na área de ginecologia e obstetrícia, promovendo o fortalecimento do conhecimento científico e da prática médica”, disse o diretor.

 

Fórum de Mortalidade Materna da Pessoa Negra

 

O destaque da programação do dia foi o Fórum de Mortalidade Materna da Pessoa Negra, que trouxe para o debate aspectos importantes do panorama brasileiro. Com a coordenação da Dra. Roseli Nomura, diretora administrativa da FEBRASGO, participaram da discussão a Dra. Maria Celeste Osório Wender, além da Dra. Acácia Maria Lourenço, que trouxe a evolução ao longo do tempo e ODS, e a palestrante Renata de Oliveira que falou sobre o racismo estrutural e a assistência à gestante e puérpera.

 

Segundo dados de 2022, a taxa de mortalidade materna entre mulheres negras é mais do que o dobro daquela entre mulheres brancas. A cada 100 mil nascidos vivos, houve 100,38 mortes de mães negras em comparação com 46,56 mortes de mães brancas. Para mulheres pardas, a taxa foi de 50,36. Esses números foram revelados pela Pesquisa Nascer no Brasil II: Inquérito Nacional sobre Aborto, Parto e Nascimento, conduzida pelo Ministério da Saúde em colaboração com a Fiocruz.

 

O Fórum realizado nesta jornada é um espaço importante para discutir as questões de saúde da mulher negra em Salvador, especialmente por ser uma capital majoritariamente negra. O painel contou com a participação do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde da Bahia e de várias outras entidades, incluindo o Comitê de Mortalidade Materna do município. Diversos profissionais e indivíduos preocupados com a redução da mortalidade materna estiveram presentes.

 

Para a coordenadora do Fórum, é importante destacar que esse problema não se restringe ao momento do parto, mas envolve todo o cuidado desde a atenção pré-natal até o acompanhamento pós-parto na Unidade Básica de Saúde (UBS) e o encaminhamento para serviços de saúde mais especializados quando necessário. “Devemos também enfatizar o cuidado no puerpério para combater a mortalidade materna não apenas entre mulheres negras, mas em todas as mulheres. É essencial que tenhamos uma visão abrangente de toda a cadeia de cuidados de saúde para alcançarmos resultados efetivos. Além disso, é importante reconhecer que as mulheres negras enfrentam problemas específicos, mas também existem outras questões associadas, incluindo a mortalidade em diferentes faixas etárias, como entre as jovens", concluiu a Dra. Roseli Nomura.

 

Serviço do Evento:

 

Evento: 29ª Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

Data: 9 a 11 de maio de 2024

Local: Salvador (BA) - Brasil

Centro de Convenções de Salvador

Av. Octávio Mangabeira, 5.490

 

Para mais informações e inscrições, visite: https://jbgo2024.com.br/

 

Dia das Mães reforça a importância do autocuidado e da rede de apoio

Médicas também precisam se lembrar de que o cuidado vai além do trabalho: é importante cuidar de si mesma e construir uma rede de apoio

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

O Dia das Mães sempre traz um misto de sentimentos: emoção de quem celebra pela primeira vez a data, alegria em comemorar com os filhos presentes e saudade de quem já não está mais entre nós. Mãe é, durante toda a vida, sinônimo de apoio para os mais próximos. Mas quem apoia essa mulher?

Com perfil de cuidadora, é ela quem geralmente assume o cuidado dos filhos, da casa, da família e, muitas vezes, dos netos e dos próprios pais, quando esses já estão em idade avançada. Muitas conciliam trabalho e estudo. Tem a jornada dupla, a tripla, e sabe-se lá mais quantas. E não ‘tá tudo bem’, parafraseando a modinha.

Ser essa fonte eterna de apoio gera cansaço, e a consequência disso é uma mulher que não consegue cuidar adequadamente de si própria. “Denominamos esse quadro de ‘trabalho invisível’. A nossa cultura faz entender como ‘amor’ e ‘coisa natural’ a mulher ser a coordenadora e a executora do cuidado. Mas olhar muito para os outros recai em olhar menos para si, e isso interfere diretamente na saúde física, emocional e psicológica da mulher”, expõe a Dra. Maria Auxiliadora Budib, vice-presidente da Região Centro-Oeste da Febrasgo e componente do Núcleo Feminino da Febrasgo.

 

Embora as médicas saibam disso e sempre orientem suas pacientes em relação ao autocuidado (que, muitas vezes, não é esquecer de passar um hidratante corporal, mas ficar adiando a ida a uma consulta, por exemplo), essa “bronca maternal” serve também para elas próprias que, antes de serem especialistas, são mulheres e mães.

 

Construindo rede de apoio

 

Para ajudar a equilibrar todas as versões que cabem dentro de uma mãe, a Febrasgo criou o Núcleo Feminino, com o objetivo de trazer as pautas de autoconhecimento, autocuidado e resgate da saúde integral. “O Núcleo Feminino traz um olhar ampliado para suas associadas repensarem a própria saúde. Em nossos congressos, mídias sociais e revistas, trazemos temas para desconstruir realidades impossíveis: a de ser a mulher perfeita, a super-heroína, a que consegue administrar todos e tudo ao seu redor, a que é esteio (inclusive econômico) da família”, explica a vice-presidente da Febrasgo.

 

Segundo Dra. Maria Auxiliadora, é necessário desconstruir essas “perigosas personagens” que minam a energia das mães.

 

“Essas personagens nos endividam, porque precisamos estar sempre maravilhosas, com a moda e o salão em dia, com a casa impecável, com o carro do ano, com os filhos frequentando as melhores escolas, a família fazendo as melhores viagens. Isso tem um alto custo. É preciso repensar metas financeiras, reservar um tempo para atividade física, investir em uma alimentação mais saudável e ter na agenda esse ‘espaço’ para as refeições, ter um diálogo aberto com o parceiro(a) e com a família. Tudo isso recria possibilidades de saúde, não é mesmo?”, questiona.

 

A vice-presidente ainda lembra que embora exista esse cargo de ser a cuidadora e o apoio de muitos à sua volta, é importante que cada uma tenha uma rede de apoio para ajudá-la na missão de ser mãe, mulher e profissional.

 

“Rede de apoio é tudo, e aprendemos também que a sororidade traz essa potência. Precisamos educar nossos filhos para isso, criar ambientes menos competitivos, aprender a dar a mão e também ajudar quem nos ajuda para criar esse movimento compartilhado de cuidado”, explica. “Um dia de cada vez:  crescendo em empatia, a rede se torna insuperável”.

 

Nesse Dia das Mães, que a lição para todos que queiram fazer uma homenagem não se limite à rótulos como guerreiras, heroínas, superprotetoras. Mãe é muito mais que tudo isso, afinal. “São tantos adjetivos que tentam definir uma mãe. Mas mãe tem tanta potência, força e sensibilidade, que não se pode vincular a maternidade por uma única definição. O que precisa ser relembrado é que a mãe é humana. E isso traz um conforto: quando nos entendemos... humanas!”

 

A Febrasgo parabeniza todas as mães pelo seu dia!

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