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O gargalo da formação na assistência à saúde de pessoas LGBTQIA+

Dra. Lucia Alves Lara comenta avanços e desafios da atenção ginecológica a mulheres que fazem sexo com mulheres e pessoas com incongruência de gênero

São Paulo, junho de 2021. “Em todo o Brasil, de modo geral, a formação de profissionais de saúde sobre as demandas específicas da população LGBTQIA+* é muito precária. A falta de acolhimento, que muitas dessas pessoas relatam, passa pela falta de conhecimento da equipe de saúde. A partir de 2016, esse tema começou a ficar mais recorrente em congressos, debates com o poder público, ligas estudantis – sobretudo a respeito de mulheres e homens trans e mulheres que fazem sexo com mulheres. Mas ainda há uma grande lacuna de informação”, explana a ginecologista Dra. Lúcia Alves da Silva Lara – presidente da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) – sobre os desafios da assistência à saúde de pessoas LGBTQIA+.

Estima-se que hoje, no país, 10% da população apresentem gênero e/ou sexualidade tidos como não normativos. O grupo de pessoas transexuais compreende fatia um pouco menor – de 0,3% a 0,9% 1, 2. Entretanto, apesar do elevado contingente, a ainda incipiente difusão de informações técnicas promovem cenários de invisibilidade desses grupos no cotidiano da saúde, refletindo em evasão de cuidados preventivos e de assistência médica. No âmbito da saúde sexual de mulheres que fazem sexo com mulheres, um estudo de 2012, do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, apontou que apenas 2% se previnem contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), em razão do desconhecimento de medidas preventivas e/ou ausência de produtos específicos para esta finalidade. Dados de pesquisa da Universidade Estadual Paulista, de 2017, com 150 mulheres de semelhante estratificação, revelou que 47,3% delas apresentava algum tipo de IST3.

A especialista da Febrasgo aponta que o caminho para evitar cenários como este passa pela capacitação de equipes médicas (estudantes, ginecologistas, enfermeiros, paramédicos etc) de modo universal. “Essa população existe e não pode ser ignorada. É fundamental que as universidades discutam temas ligados às necessidades desse grupo. Bem como, o Ministério da Saúde atue na formação de programas de saúde voltados às pessoas LGBTQIA+. E as Secretarias de Saúde dos estados e municípios realizem treinamentos contínuos. Ainda há muita diferença nos serviços e qualidade de atendimento em diferentes centros médicos e regiões do país”.

Em outra medida, no âmbito dos avanços observados, nos últimos anos, a especialista destaca iniciativa do Conselho Federal de Medicina (CFM) que atualizou as normas de atendimentos às pessoas com incongruência de gênero – reduzindo a idade mínima para realização de terapias hormonais e cirurgias.

“Há muito ainda a fazer. Há uma ignorância da população e de parte da classe política sobre essas pessoas. Não se trata de opção. Existe uma base biológica que precisa ser conhecida, discutida por todos. É muito importante que essa conversa ocorra também em outras esferas”, finaliza a Dra Lucia.

* Sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais e outras variedades de manifestações de gênero e sexualidade.

  1. Johnson EL, Kaplan PW. Caring for transgender patients with epilepsy. Epilepsia. 2017 Oct;58(10):1667-72. PubMed PMID: 28771690.
  2. Febrasgo. Comissão de Sexologia. Disponível em https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/411-aspectos-da-transexualidade#_ENREF_5
  3. Andrade, Juliana. Vulnerability to sexually transmitted infections of women who have sex with women. 2020. Disponível em https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.03522019

Junho Vermelho acende a necessidade de atenção à doação de sangue

Pandemia gerou queda de 70% no volume de doações. Tratamentos de endometriose, complicações gestacionais e outros podem ser comprometidos por estoques baixos

 

São Paulo, junho de 2021. Tradicionalmente, a chegada do mês de junho traz consigo ondas mais intensas de frio, maior incidência de infecções respiratórias e proximidade com as férias escolares resultando em menor volume de doações de sangue. Esse cenário associado à pandemia por Covid-19 tem gerado queda de 70% no volume anual de doações, segundo estimativas de hemocentros e organizações voltados à saúde hematológica. No âmbito da saúde da mulher, essa queda pode impactar diretamente a assistência a casos de endometriose, complicações gestacionais, tratamentos oncológicos, de fertilidade e outros.

Pessoas de 16 a 69 anos, em boas condições de saúde e peso superior a 50 quilos estão aptas a doar sangue. O processo de doação é rápido (dura 40 min., em média), rende até cinco bolsas de sangue e pode impactar até quatro pessoas. Indica-se que a pessoa doadora esteja alimentada e descansada – tendo dormido, ao menos, seis horas na noite anterior.

Segundo o presidente da Febrasgo, Dr. Agnaldo Lopes, “o processo de doação de sangue é absolutamente seguro e não impacta a saúde do doador. Em cada doação, são coletadas de 420 ml a 470 ml de sangue. Em cerca de 72 horas, o corpo recupera o volume doado. E em seis a oito semanas completa a recuperação das hemácias”. Antes de ser liberado a um paciente, o sangue é testado quanto à tipagem ABO e Rh, pesquisa de anticorpos irregulares e pesquisa de hemoglobina S. É verificado ainda em relação às hepatites B e C, Doença de Chagas, sífilis, HIV e HTLV.

 

Doação na pandemia

Em função da pandemia de Covid-19, outras recomendações para a doação de sangue foram incorporadas. Pessoas com sintomas ou suspeitas da doença não estão aptas para a doação. Aquelas que tiveram diagnóstico positivo devem aguardar 30 dias após a confirmação do desaparecimento da doença ante de doar.

Pessoas vacinadas contra a Covid-19, por meio da Coronavac, devem manter um intervalo de 48 horas para poder doar. Aquelas que receberam as vacinas Astrazeneca e Pfizer estarão liberadas para doar somente sete dias após a aplicação do imunizante.

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