Radioterapia Pós-operatória em câncer do colo uterino
A escolha terapêutica do câncer do colo de útero se dá não apenas pelo estadiamento, mas também pelas condições clínicas e desejo da paciente e é papel da equipe multidisciplinar definir a melhor abordagem para cada paciente. O tratamento é baseado em cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou na combinação dessas estratégias terapêuticas. A radioterapia deve ser considerada para pacientes com doença invasiva, associada ou não à cirurgia nos estádios iniciais.
No presente texto serão apresentadas as principais indicações da radioterapia após cirurgia radical (histerectomia radical com linfadenectomia pélvica) com intuito curativo de pacientes com câncer do colo uterino. Enquadram-se nessa categoria pacientes com doença invasiva inicial, estádios IB e IIA. Radioterapia adjuvante à cirurgia deve ser considerada na presença de fatores de risco para recidiva local e/ou que possam ter impacto em sobrevida.
Pacientes sem doença volumosa (IB1 e IIA1) podem ser tratadas tanto com cirurgia quanto com radioterapia, sem superioridade de uma sobre a outra considerando controle local, sobrevida livre de doença e sobrevida global (cerca de 90% em 5 anos)1 . Da mesma forma, em pacientes com doença em estádio IB volumoso (> 4 cm), não há diferença na sobrevida em 5 anos (cerca de 63%) quando se compara histerectomia adjuvante após radioterapia versus radioterapia somente, com taxas de complicações também semelhantes2 . Em geral, deve ser associada quimioterapia concomitante.
A adjuvância com radioterapia após a cirurgia está indicada quando houver metástase linfonodal, margem cirúrgica comprometida e invasão parametrial3 e também estará indicada quando na presença de dois ou três dos fatores de risco intermediário / baixo3,4 (Tabelas 1 e 2). Há redução do risco de recidiva local e sistêmica (cerca de 45%) e ganho em sobrevida global (82% versus 72%, p = 0,07), e livre de progressão (78% versus 65%) em 10 anos com a adição da radioterapia nessas situações4.
Tabela 1: Fatores de risco para indicação de radioterapia adjuvante à cirurgia no câncer do colo uterino.
*No estudo GOG 924, pacientes com adenocarcinoma ou carcinoma adenoescamoso apresentaram maior risco de recidiva, mas sem significância estatística.
Tabela 2: Associação dos fatores de risco intermediário / baixo para indicação de radioterapia pós-operatória5 .
Em geral, realiza-se a irradiação da região pélvica incluindo o leito cirúrgico e áreas de drenagens linfáticas correspondentes. Pode ou não ser associada braquiterapia (tratamento localizado) de cúpula vaginal.
Quimioterapia
Para o carcinoma do colo do útero a adição de quimioterapia baseada em cisplatina concomitante à radioterapia, melhora significativamente a sobrevida livre de progressão e sobrevida global para pacientes com doença inicial com linfonodos ou margens positivas e acometimento microscópico de paramétrio, após serem submetidas à histerectomia radical e linfadenectomia pélvica, às custas de maior toxicidade gastrointestinal e hematológica5. Este benefício é menor quando apenas um linfonodo pélvico for positivo (melhora de 4% com adição de QT, com melhora de 20% com 2 ou mais linfonodos positivos) ou quando o tumor é menor ou igual a 2 cm (melhora de 5% com adição de QT, com melhora de 19% para tumores maiores que 2cm)6 .
Escrito por: Heloisa de Andrade Carvalho
Médica Radioterapeuta.Professora Livre-Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.Coordenadora do Serviço de Radioterapia – INRAD - Hospital das Clínicas da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo, SP. Médica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP.
COMISSÃO DE GINECOLOGIA ONCOLÓGICA