Fórum sobre obstetrícia no CFM.
Evento teve o tema “Alinhando valores e práticas”. Debateu tópicos essenciais para pacientes e médicos como humanização do parto
A Diretoria da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) foi uma das protagonistas do Fórum Assistência Obstétrica no Brasil, realizado no CFM (Conselho Federal de Medicina), em 24 de abril, sob o tema “Alinhando valores e práticas”.
O Diretor Científico da Federação, Marcos Felipe de Sá, participou da abertura representando o presidente, César Eduardo Fernandes.
“Foi uma interessante iniciativa do CFM realizar o fórum, pois houve aproximação do Conselho com as outras entidades médicas e sociedades de especialidades. Nas apresentações a maioria dos palestrantes destacou que é preciso, na assistência pré-natal e ao parto, trabalhar de forma integrada com outros profissionais da saúde como enfermagem, psicologia e terapeuta, por exemplo, para atender melhor a paciente, desde que não haja interferência nas competências privativas de cada área profissional. O parto precisa de uma equipe multiprofissional, certamente”, declara Marcos Felipe.
Ainda segundo ele, é preciso reconhecer que “seguem em pauta diversos problemas referentes à chamada violência obstétrica”. É fundamental registrar que não aceitamos a “pecha” de que o obstetra pratica violência contra a mulher grávida. O médico sim sofre violência quando é obrigado a trabalhar em locais onde não existem condições adequadas para atender à paciente, quando não existe leito para interná-la, quando não há medicamentos nas prateleiras. Todo este processo é uma truculência não só contra a paciente, mas também contra os profissionais da saúde que a assistem.
Por outro lado, nós precisamos olhar para o que é nossa responsabilidade. Não há dúvidas de que temos que investir na formação profissional dos médicos que assistem o parto.
Algumas práticas obstétricas que eram plenamente aceitáveis e indicadas décadas atrás não são mais recomendadas nos dias de hoje. Há uma tendência a ser menos intervencionista na assistência ao parto. É compreensível que alguns obstetras que tiveram a formação naquele modelo resistam às mudanças propostas pela medicina moderna e exigidas pela sociedade nos dias de hoje. Contudo, é preciso oferecer oportunidades por meio de programas de educação continuada para que os obstetras se atualizem. A Febrasgo edita duas revistas, RBGO e FEMINA, totalmente dedicadas à divulgação do conhecimento científico em GO e que são disponibilizadas a todos os profissionais brasileiros, com acesso livre e gratuito.
Marcos Felipe também ressalta que a FEBRASGO está em franca campanha para melhorar a formação dos médicos residentes em GO: “Muitas escolas não têm infraestrutura adequada para a formação. Algumas sequer têm hospitais-escola para o treinamento de seus alunos e residentes. Muitos cursos médicos não oferecem residência médica ou então não oferecem vagas para todos os seus formandos. . “O projeto da FEBRASGO não é só atuar junto aos novos profissionais, mas também colaborar com a Comissão Nacional de Residência Médica, oferecendo a “expertise” de seus associados no sentido de oferecer programas de educação continuada, à distância ou presencial, especialmente para os preceptores de residência médica de todo o Brasil. O investimento nos preceptores certamente trará reflexos positivos para os programas de Residência Médica em GO já implementados no país”.
O Diretor Financeiro da FEBRASGO, Corintio Mariani Neto, diretor técnico e coordenador científico do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, foi o conferencista em “Situação atual das maternidades públicas”, e Etelvino de Souza Trindade, integrante da Comissão de Defesa Profissional da FEBRASGO, presidiu a mesa.
Para Corintio, “o financiamento insuficiente da saúde pública repercute no atendimento ao paciente e no trabalho do profissional, que muitas vezes é responsabilizado pela precariedade. Temos o binômio falta de recurso e má gestão em todos os níveis. O risco de morte neonatal é quase três vezes maior na rede pública do que na privada e são nos hospitais públicos onde se realiza o maior volume de partos, principalmente de alto risco. Isso é extremamente preocupante.”
Mas, conforme completa o próprio Corintio, é possível manter a qualidade da assistência à saúde na rede pública com envolvimento da gestão local, equipe motivada, treinamento dos recursos humanos disponíveis, além da mudança cultural sobre a qualidade do serviço público e persistência diante dos reveses.
Em outra mesa, Olímpio Barbosa de Moraes Filho, da Comissão Nacional de Pré-Natal da FEBRASGO, foi o palestrante em “No SUS: equipe multiprofissional”. Já o diretor de Defesa e Valorização Profissional da entidade, Juvenal Barreto Borrielo de Andrade, falou sobre “O papel das Associações de Especialidades”, enquanto Alberto Trapani Júnior, da Comissão de Assistência ao Parto, Puerpério e Abortamento da FEBRASGO, ministrou palestra sobre Pré-Natal.
O Fórum contou com a participação de especialistas que trataram de questões primordiais para o bem-estar das pacientes, dos recém-nascidos e dos obstetras, como situações de violência, sistematização de protocolos, mortalidade materna, financiamento da saúde e precariedade do sistema.
O presidente do CFM, Carlos Vital, fez a abertura oficial. Observou que a assistência obstétrica precisa de gestão e planejamento.
“É uma questão de saúde pública, mas é preciso reconhecer as devidas competências e responsabilidades na assistência à parturiente. Sendo primordial destacar que a obstetrícia é absolutamente necessária, pois se destina aos cuidados com as gerações futuras deste país.”
Entre os temas abordados, a humanização da assistência ao parto foi um dos destaques. Os especialistas apontaram que é preciso adequação hospitalar e atendimento personalizado para a gestante e que o ciclo de violência precisa ser solucionado e, mesmo com limitações financeiras, é possível reverter o quadro com integração da equipe e acolhimento.
http://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/486-forum-sobre-obstetricia-no-cfm#sigProId8b9a3b624b