28 de maio é o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna e Dia Internacional de Ação Pela Saúde da Mulher

Terça, 27 Maio 2025 14:37

Morte materna em meninas entre 10 e 14 anos é  38% maior do que entre mulheres acima dos 20 anos

 

A mortalidade materna é uma questão de saúde pública no Brasil e exige atenção prioritária das autoridades públicas, bem como o comprometimento de toda a sociedade, principalmente no que se refere à proteção integral da saúde da mulher durante a gestação, parto e pós-parto – realidade que pode ser comprovado por meio das estatísticas. Segundo dados preliminares de 2024, a mortalidade materna foi de 50,57 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos - número que se mantém acima da meta estabelecida pelo país para 2030, que é de 30 mortes por 100 mil nascimentos.

 

Para a obstetra Rossana Pulcineli Vieira Franciso, Presidente da Comissão Nacional Especializada de Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), “O Brasil precisa urgentemente aumentar o acesso das gestantes de alto risco às unidades de saúde especializadas, melhorando a atenção a essas mulheres. Tais ações estão previstas na Rede Alyne – Rede de Atenção Materna e Neonatal do Ministério da Saúde, mas precisam ser implementadas com urgência”.

 

A médica explica que as principais causas de morte materna no Brasil continuam sendo hipertensão, hemorragia e infecção. “São situações, na maioria das vezes, evitáveis com um bom acompanhamento pré-natal, atendimento hospitalar qualificado e atenção básica atuante”, revela a especialista.

 

Dra. Rossana destaca ainda que, embora o pré-natal seja essencial para prevenir complicações, muitas mortes ocorrem em ambiente hospitalar. Por isso, é imprescindível investir no treinamento de equipes para o manejo de emergências obstétricas. “A atenção básica pode atuar no rastreio e diagnóstico precoce da pré-eclâmpsia, tratamento da anemia durante a gestação e acompanhamento no pós-parto, principalmente para detecção rápida de infecções. Mas isso só é eficaz quando há uma rede integrada e capacitada em todos os níveis de atenção”, afirma.

 

O Brasil não tem conseguido avançar na redução da mortalidade materna. Desde 2012, excetuando-se os anos de 2020 e 2021, nos quais a razão de morte materna foi extremamente elevada, a razão de morte materna tem ficado entre 55 e 65 mulheres para cada 100.000 nascidos vivos. Há medidas urgentes a serem tomadas, sendo que a mais eficaz é aumentar o acesso das mulheres a anticoncepção, especialmente com métodos de longa duração.

 

Desigualdades regionais e sociais

 

De acordo com a médica, os maiores índices de mortalidade materna estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde são comuns os chamados “vazios assistenciais” — áreas sem acesso adequado a serviços de saúde. “As desigualdades econômicas, culturais, educacionais e raciais são determinantes. A questão das desigualdades, especialmente a questão do racismo precisa estar sempre em pauta pois mulheres negras apresentam razão de morte materna muito maior que mulheres brancas”, defende Dra. Rossana.

 

Gravidez na adolescência

 

Outro ponto que merece atenção é a gravidez precoce. A razão de morte materna em meninas entre 10 e 14 anos é 38% maior do que entre mulheres acima dos 20 anos. Para reverter esse quadro, é fundamental a ampliação de medidas eficazes de combate à violência sexual e ao estupro de vulnerável. “Todos os profissionais de saúde e toda a população precisa se responsabilizar pela redução da mortalidade materna. Qualquer situação de risco precisa ser percebida e a mulher precisa ter apoio de todos para conseguir acesso ao melhor local para seu cuidado”, explica a médica.

 

Para enfrentar de forma efetiva a mortalidade materna, Dra. Rossana ressalta a importância da atuação conjunta das equipes multiprofissionais de saúde e da integração entre os níveis de atenção. “A atenção básica precisa reconhecer sinais de risco e fazer o encaminhamento adequado aos ambulatórios especializados. Além disso, o transporte de pacientes em situações de urgência obstétrica deve ser rápido e eficaz. Cada minuto conta para salvar vidas”, explica.

 

Sinais de alerta

 

Segundo a obstetra, é fundamental que as gestantes, seus familiares e toda a população conheçam os principais sinais de alerta durante e após a gestação:

 

  • Ganho de peso excessivo ou inchaço nas pernas e outras partes do corpo: é preciso procurar uma unidade de saúde com urgência.
  • Dores de cabeça intensas, dor na região do estômago e visão com pontos brilhantes (escotomas): em gestantes com pressão alta, são sinais de alto risco para eclampsia, as convulsões por aumento da pressão arterial; a gestante precisa ser atendida em hospital especializado e com urgência para serem tratadas evitando-se a eclâmpsia e a morte materna.
  • Todas as mulheres que apresentarem febre após o parto precisam ser avaliadas o mais rapidamente possível para que seja descoberta a causa desta febre.

 

Para a médica, o Brasil precisa se mobilizar de forma urgente e coordenada para proteger a vida das mulheres durante a gestação, parto e puerpério. “Precisamos garantir que a atenção básica ao identificar casos de gestação de alto risco tenha referências em gestação de alto risco para os encaminhamentos necessários. É fundamental que o acesso às maternidades qualificadas - de acordo com o risco materno - esteja disponível”, conclui.


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