Pré-eclâmpsia: diagnóstico precoce pode prevenir complicações durante a gravidez

Quarta, 22 Maio 2024 09:27

Cerca de 80 mil mulheres perdem a vida em decorrência da condição todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde

 

No Dia Mundial da Pré-eclâmpsia, 22 de maio, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) faz um alerta sobre a importância da adoção de medidas de rastreamento e prevenção. A condição consiste em um quadro clínico de altos níveis de pressão arterial em mulheres grávidas e contribui para 10% a 15% das mortes maternas diretas globalmente. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG), estima-se que anualmente a doença seja responsável por 80 mil mortes maternas e 500 mil mortes fetais.

 

O presidente da Comissão de Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia da FEBRASGO, Dr. Jorge Leão, destaca as complicações potenciais da pré-eclâmpsia quando não tratada adequadamente. Estas incluem risco de morte materna e complicações obstétricas graves, como hemorragia cerebrovascular, edema pulmonar, lesão renal aguda, ruptura hepática, descolamento prematuro da placenta e eclâmpsia. Além disso, há riscos para o feto, como restrição de crescimento e oligoidrâmnio, podendo levar à prematuridade.

 

“Os principais sintomas que podem ser identificados pelas gestantes são: dor de cabeça persistente e/ou intensa, anormalidades visuais (como escotomas, fotofobia, visão turva ou cegueira temporária), dor abdominal superior, retroesternal e epigástrica, estado mental alterado (como confusão, comportamento alterado, agitação), e nova dispneia ou ortopneia”, alerta o médico.

 

O especialista da FEBRASGO explica que o diagnóstico é feito através de avaliação médica, com a medida da pressão arterial sistólica acima de 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica acima de 90 mmHg em pelo menos duas ocasiões - com pelo menos 4 horas de intervalo - após 20 semanas de gestação em uma paciente com níveis de pressão arterial consideradas normais. Além disso, é considerado o novo aparecimento de um ou mais dos seguintes critérios:

  1. a) Proteinúria ≥0,3 g em uma amostra de urina de 24 horas ou relação proteína/creatinina ≥0,3 (30 mg/mmol) em uma amostra de urina aleatória ou tira reagente ≥2+ se uma medição quantitativa não estiver disponível.
  2. b) Contagem de plaquetas <100.000/microL.
  3. c) Creatinina sérica >1,1 mg/dL (97,2 micromol/L) ou duplicação da concentração de creatinina na ausência de outra doença renal.
  4. d) Transaminases hepáticas pelo menos duas vezes o limite superior das concentrações normais para o laboratório local.
  5. e) Edema pulmonar.
  6. f) Cefaleia de início recente e persistente não explicada por diagnósticos alternativos e que não responde às doses habituais de analgésicos.
  7. g) Sintomas visuais (por exemplo, visão turva, luzes piscantes ou faíscas, escotomas).
  8. h) Disfunção útero-placentária (por exemplo, descolamento prematuro da placenta, desequilíbrio angiogênico, restrição de crescimento fetal, análise anormal da forma de onda Doppler da artéria umbilical ou morte fetal).

Quanto ao impacto da pré-eclâmpsia na saúde da mãe e do bebê, inclui restrição de crescimento fetal, prematuridade e descolamento prematuro da placenta.

 

Fatores de risco associados à Pré-eclâmpsia

 

  • Nuliparidade
  • Pré-eclâmpsia em gravidez anterior
  • Idade superior a 40 anos ou inferior a 18 anos
  • Histórico familiar de pré-eclâmpsia
  • Hipertensão crônica
  • Doença renal crônica
  • Doença autoimune (por exemplo, síndrome antifosfolípide, lúpus eritematoso sistêmico)
  • Doença vascular
  • Diabetes mellitus (pré-gestacional e gestacional)
  • Gestação gemelar
  • Obesidade
  • Grupo racial ou étnico minoritário ou de outra forma desfavorecido
  • Hidropisia fetal
  • Hipertireoidismo mal controlado
  • Restrição de crescimento fetal, descolamento prematuro ou morte fetal em gravidez anterior
  • Intervalo intergestacional prolongado se a gravidez anterior foi normotensa; se a gravidez anterior foi pré-eclâmptica,
  • Um curto intervalo entre gestações aumenta o risco de recorrência
  • Fatores relacionados ao parceiro masculino (novo parceiro masculino, exposição limitada ao esperma)
  • Uso anterior de contracepção de barreira
  • Fertilização in vitro
  • Respiração desordenada do sono
  • Nível elevado de chumbo no sangue
  • Transtorno de estresse pós-traumático

 

ESTRATÉGIAS DE RASTREIO DA PRÉ-ECLAMPSIA

Recomenda-se o rastreamento de todas as gestantes para identificar aquelas com risco aumentado de PE para que possam receber as medidas preventivas e a maior vigilância materno-fetal durante a gestação.

As melhores estratégias para o rastreio da PE envolvem vários parâmetros em combinação a partir de um algoritmo de cálculo de risco. A decisão sobre quais parâmetros maternos e fetais devem ser incluídos depende da disponibilidade de recursos nos diferentes cenários.

O cálculo de risco para a PE usa a combinação de fatores maternos, pressão arterial média, índice de pulsatilidade média das artérias uterinas, proteína plasmática A associada à gravidez (PAPP-A) ou fator de crescimento placentário (PlGF) no soro materno entre 11 e 14 semanas, usando o modelo de risco concorrente desenvolvido pela Fetal Medicine Foundation.

Pacientes com alto risco para PE, ou seja, risco superior a 1:100 entre 11-14 semanas, devem iniciar o uso de ácido acetilsalicílico (AAS) em dose acima de 100 mg, idealmente de 150 mg. O uso deve ser iniciado antes de 16 semanas e mantido até 36 semanas.

 

Tratamento

O médico explica que as opções de tratamento disponíveis para mulheres diagnosticadas com a condição incluem o uso de aspirina em baixas doses. Quando iniciada após a 12ª semana e antes da 16ª semana de gestação, essa medida demonstrou reduzir a incidência da pré-eclâmpsia, assim como os resultados adversos da gravidez associados, como parto prematuro e restrição de crescimento fetal. “Estudos indicam que essa terapia pode diminuir esses riscos em aproximadamente 10 a 20 por cento em pacientes com risco moderado a alto da doença. É importante destacar que a aspirina em baixas doses apresenta um perfil de segurança favorável tanto para a mãe quanto para o feto", ressaltou o Dr. Jorge.