O USO DE OBJETOS ERÓTICOS

Sexta, 29 Janeiro 2021 12:04

Muitas manifestações ocorreram nas redes sociais após a publicação do artigo “Minimally invasive search for a missing vibrator. Obstet Gynecol Sci 2020;63(5):679-681”. Este artigo apresenta um caso clinico de uma mulher de 29 anos de idade, que procurou o serviço de emergência, por volta de 1hora da manhã, referindo que o vibrador que seu parceiro estava utilizando para promover estimulo erótico no seu clitóris, se perdeu durante a relação sexual. Ela achou que o vibrador, que media 10 cm de comprimento por 1,2 cm de diâmetro estava dentro da vagina, porque conseguia sentir as vibrações durante a relação sexual pênis-vagina. Ao terminar a relação sexual, ela não o encontrou, mas seguia sentido as vibrações na pelve. O exame de imagem registrou a presença do vibrador na pelve e o exame laparoscópico evidenciou-o dentro da bexiga. Foi utilizada a cistoscopia para removê-lo.

Esse caso clinico é um alerta para o uso seguro de objetos eróticos ou acessórios sexuais (pornografia, lubrificantes, vibradores, dispositivos a vácuo, anéis de suporte à ereção, faixas de constrição entre outros), que têm o papel de potencializar o prazer sexual durante as práticas sexuais (1). Pode-se depreender desse caso clinico que esse vibrador, por suas características pode não ser seguro, e que a pessoa que o manipulou desconhece a anatomia da genitália feminina, já que introduziu o objeto na uretra, e não na vagina da mulher. A paciente em questão referiu ter sentido um leve desconforto, mas, não o atribuiu a introdução do vibrador na sua uretra. Já é conhecido na literatura relato de casos de dilatação da uretra pela penetração repetida do pênis, em mulheres com agenesia vaginal permitindo a relação sexual sem dor (2). Essas mulheres seguem tendo penetração sem saber que estão tendo relação pênis-uretra.

A disponibilização de objetos eróticos necessita passar pelos órgãos que avaliam todos os aspectos da segurança do uso como dimensões, formato, material usado na confecção do objeto, instruções de uso, entre outros, para que não coloque em risco a saúde geral e a vida das pessoas. Alguns autores sugerem que o design dos brinquedos eróticos que visam o prazer feminino sejam revistos, pois a menção fálica apresentada pela maioria dos vibradores não atinge o propósito da estimulação do clitóris, reconhecidamente, o órgão do prazer maior da mulher, e incrementa risco no uso (3), como o verificado no caso clinico relatado.

O treinamento dos médicos ginecologistas em saúde sexual é essencial, para que possam oferecer às mulheres informações sobre práticas sexuais seguras quanto ao uso desses objetos, sobre função sexual adequada e para oferecer assistência para aquelas que apresentam queixas sexuais. No Brasil, a Sexologia é área do conhecimento para atuação do médico Ginecologista e Obstetra ou Psiquiatra. Para que esses profissionais obtenham o título de Sexólogos, eles necessitam realizar a residência (R4) em Sexologia ou obter o título de área de atuação em Sexologia promovido pela FEBRASGO. A formação do Sexólogo envolve o cumprimento de uma ampla Matriz de Competências reconhecida por todos os órgãos que regulamentam a formação médica no Brasil.

A promoção da saúde sexual de mulheres é crucial em especial para aquelas que apresentam disfunções sexuais e se tornam mais vulneráveis às propagandas midiáticas de uma métrica sexual utópica, supostamente obtida pela ativação de “pontos do prazer” inventados na parede vaginal. Esses funcionariam como “botões” que, quando acionados, levariam a mulher ao prazer sexual extremo. O mais popular deles é o anedótico ponto G, que caiu no descrédito científico, porque os pesquisadores que o defendiam não conseguiram demonstrar nenhuma área na parede vaginal com anatomia e função especificas para levar ao orgasmo. Outro ponto anedótico é o suposto ponto K, sem nenhum relato cientifico a respeito, mas que tem sido explorado na mídia. É lamentável que as mulheres recorram às teorias infundadas sobre o prazer sexual, que só servem para aumentar a angustia e colocar expectativas irreais nas mulheres e suas parcerias, especialmente para aquelas com dificuldades sexuais.

Já está bem estabelecido na literatura que o órgão responsável pelo orgasmo na mulher é o clitóris. Mas, existem várias áreas erógenas (mamas, mamilos, boca, região cervical, vulva, pequenos lábios, clitóris, entre outros) que, quando adequadamente estimuladas pelo toque (boca, língua, objetos eróticos), promovem grande prazer. É recomendável orientar homens e mulheres sobre preliminares efetivas, tempo adequado que deve ser dispensado para uma relação sexual prazerosa (sem pressa), uso de objetos eróticos seguros para potencializar os jogos sexuais, incentivo às fantasias sexuais, e todos as informações seguras e baseadas em evidencias científicas, que possam melhorar o repertório sexual de homens e mulheres. 

 

Referencia

 

  1. Miranda EP, Taniguchi H, Cao DL, Hald GM, Jannini EA, Mulhall JP. Application of Sex Aids in Men With Sexual Dysfunction: A Review. J Sex Med. junho de 2019;16(6):767–80.
  2. Underwood PG, Bauer J, Huguelet P, Alaniz VI. Delayed Diagnosis of Microperforate Hymen Leading to Urethral Dilation Secondary to Coital Activity. Obstet Gynecol. março de 2019;133(3):503–5.
  3. Carpenter V, Homewood S, Overgaard M, Wuschitz S. From Sex Toys to Pleasure Objects. In: Proceedings of EVA Copenhagen 2018: Politics of the Machines - Art and After [Internet]. British Computer Society; 2018 [citado 7 de janeiro de 2021]. Disponível em: https://vbn.aau.dk/en/publications/from-sex-toys-to-pleasure-objects

 

 

Comissão Nacional Especializada em Sexologia

 


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