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Sobrediagnóstico de câncer de mama.

Sexta, 16 Fevereiro 2018 14:17

        O Estadão publicou um artigo da blogueira Marcia Triunfol a respeito de sobrediagnóstico e sobretratamento em câncer de mama  http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/marcia-triunfol/quantas-brasileiras-serao-mutiladas-ate-falarmos-sobre-super-diagnostico-de-cancer-de-mama-no-pais/.

        Embora seja importante tratar desse tema junto ao público leigo, bem como junto aos especialistas, o artigo apresentou pontos de vista equivocados que precisam ser esclarecidos. Já escrevi uma consideração ao Estadão, que pode ser consultada no próprio link em sequência ao artigo, mas o Estadão só aceita 60 caracteres. Segue uma argumentação mais estruturada para que os especialistas tenham dados sólidos a passar a suas pacientes a respeito desse assunto.

        É importante trazer à baila o importante tema do sobrediagnóstico. Todo esforço para melhor informar as pacientes é louvável.  

        Infelizmente, faltou no artigo verificar alguns fatos. Cito a seguir afirmativas feitas que são simplesmente inverídicas, como: rastreamento aumenta a chance de ter leucemia, estudos indicam que a maioria dos pequenos tumores representam sobrediagnóstico e países onde a saúde é pública têm abolido a prática do rastreamento mamográfico.

        No estudo mencionado, realizado em São Paulo, (Breast Cancer Mortality and associated factors in São Paulo State, Brazil:an ecological analysis.  Htpp://dx.doi/10´1136/BMJopen-2017-016395) os autores compararam a taxa de mortalidade de pacientes que fizeram mamografia em qualquer circunstância (no diagnóstico de nódulo palpável, na avaliação pré-operatória de pacientes com câncer de mama, no seguimento de pacientes tratadas de câncer de mama) e tirou conclusões como se tivesse estudado mamografias de rastreamento.

        É parecido com comparar pacientes que têm pneumonia e tomam antibiótico com pacientes que não têm pneumonia e não tomam antibiótico e concluir que o antibiótico é que mata. O que esse estudo permite concluir, na realidade, é que pacientes que morrem de câncer de mama fazem mais mamografias do que as que não morrem (se tivessem estudado hemogramas ou dosagem de TGO provavelmente encontrariam o mesmo resultado, será que concluiriam que o hemograma causa câncer de mama?).

        Outra conclusão da pesquisa é de que o "acesso à saúde privada está altamente associado à mortalidade por câncer de mama indo na linha do sobrediagnóstico". Há uma ilação que, além de anti-intuitiva, carece de uma análise mais cuidadosa.

        Talvez um erro seja o inevitável viés de preenchimento nos atestados de óbito, que já foi demonstrado ser diferente nas redes pública e privada, mas muitos outros parâmetros precisariam ser estudados antes de concluir que a causa desse achado é o sobrediagnóstico.

        Mas há um mérito nessa questão, sobrediagnóstico existe. E precisamos conversar sobre ele. Sua magnitude é difícil de estimar, mas as melhores aproximações giram em torno de 10%. Isto é, cerca de 10% das pacientes tratadas para câncer de mama não precisariam ter sido tratadas. Não é pouco, mas é o preço a pagar pelo benefício obtido pelo rastreamento: redução de mortalidade de cerca de 30% nas mulheres rastreadas efetivamente (número comprovado por uma quantidade colossal de evidências). Esses dados precisam circular mais, serem do conhecimento de todos.

        Finalmente, entendo a necessidade de um artigo de causar impacto nos leitores, mas se sua intenção é informar e aprofundar a discussão, teria sido conveniente evitar abuso de termos como mutilar, envenenar, queimar, interromper vidas, aniquilar sonhos e reprimir desejos. E seria importante incluir de forma serena outros pontos de vista da literatura, especialmente quando tão amplamente aceitos como nesse caso.

 Autor:
 
 Dr Hélio S A Camargo Jr e Dr Renato Zocchio Torrezan, CNE s de mamografia e mastologia


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