Dia Mundial da Obesidade: doenças ginecológicas e disfunções reprodutivas também estão associadas a esta condição

Segunda, 04 Março 2024 15:16

No Brasil, projeções indicam que a taxa de obesidade entre adultos pode atingir 41% até 2035.

 

No Dia Mundial da Prevenção da Obesidade, em 4 de março, a Federação Brasileira de Ginecologia Obstetrícia (FEBRASGO) destaca a importância de abordar as implicações da obesidade na saúde das mulheres. O Atlas Mundial da Obesidade de 2023 projeta um aumento na incidência global da obesidade na próxima década. No contexto brasileiro, estima-se que até 2035, 41% da população adulta conviverá com essa condição. Atualmente, 22,4% dos adultos brasileiros são afetados pela obesidade. Embora seja comum a associação ao diabetes e hipertensão a esta condição, é essencial compreender que os impactos vão além, podendo desencadear doenças ginecológicas e disfunções reprodutivas.

 

A Dra. Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva, membro da Comissão de Ginecologia Endócrina da FEBRASGO, destacou a significativa influência da obesidade na saúde da mulher, especialmente na questão reprodutiva. “As mulheres obesas têm uma propensão a secretar mais testosterona devido à capacidade do tecido adiposo em produzir esse hormônio. O aumento da concentração de testosterona pode levar a distúrbios na ovulação, resultando em ciclos menstruais irregulares ou ausência de ovulação. Como a ovulação é essencial para a fertilidade, mulheres que não ovulam têm dificuldades em conceber”, explica a especialista.

 

Mesmo em mulheres que não apresentam ovário policístico, a obesidade pode desencadear mecanismos semelhantes devido ao aumento na produção de hormônios masculinos. Além disso, o acúmulo de gordura abdominal, associado ao excesso de peso, pode contribuir para níveis elevação dos níveis de insulina e consequentemente contribuir para alteração no metabolismo dos açúcares, que pioram o risco cardiovascular e também podem interferir na produção de hormônios masculinos pela mulher o que pode afetar a fertilidade.

 

Síndrome dos Ovários Policísticos e Obesidade

A especialista explica que o ovário policístico é uma consequência de uma desordem na  maneira como o cérebro da pessoa comanda o ovário, que acaba não funcionando adequadamente. Isso leva a um quadro de não ovulação, com a formação de microcistos no ovário. Observa-se que mulheres com essa síndrome frequentemente apresentam obesidade devido a uma predisposição em que o padrão hormonal alterado de quem tem a doença favorece  o ganho de peso. Além disso, como num círculo vicioso, quando há ganho de peso, o quadro do ovário policístico tende a piorar. Mulheres com ovário policístico também apresentam desequilíbrio na secreção dos hormônios relacionados à fome e saciedade, favorecendo a fome e diminuindo a saciedade. Na maioria dos casos, há níveis mais altos de insulina, o que também contribui para o aumento da ingestão alimentar. Dessa forma, pode-se dizer que o ovário policístico predisponha a pessoa a desenvolver obesidade.

“O ovário policístico tem uma origem inicial mais relacionada à genética do que à obesidade. É claro que uma mulher com excesso de peso, devido ao aumento de hormônios masculinos no tecido gorduroso, pode desenvolver um quadro semelhante à Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), mas nessa condição, em que o determinante não é genético, se ela emagrecer é possível reverter esse quadro”, frisa a médica.

Estilo de Vida Saudáveis

 

A Dra. Ana Carolina de Sá reforça que o estilo de vida desempenha um papel relevante na gestão do peso. Fatores como o padrão alimentar, a quantidade de atividade física, a qualidade do sono e a escolha dos alimentos desempenham papéis significativos. Optar por alimentos mais naturais em detrimento de opções processadas e industrializadas, reduzir o consumo de frituras e manter uma rotina menos sedentária são decisões importantes.

 

“A  quantidade e o tipo de alimentos consumidos desempenham um papel fundamental nesse processo. Alimentos que provocam uma elevada liberação de insulina na circulação, como os doces, o açúcar diretamente, ou carboidratos simples como pão, farinha branca e batata, podem resultar em uma rápida absorção, desencadeando uma resposta insulinêmica. A insulina, um hormônio associado ao aumento do apetite, pode interpretar  essa rápida absorção como uma quantidade insuficiente de alimentos e estimular o consumo adicional, gerando a sensação de fome”, explica a ginecologista.

 

Além disso, a Dra. Ana Carolina ressaltou a importância da relação entre a ingestão calórica e o gasto diário: “Se uma pessoa consome mais calorias do que gasta, o excesso pode ser armazenado na forma de gordura”. Ela explica que a atividade física desempenha dois papéis essenciais: primeiro, como meio de gasto de energia e queima calórica, contribuindo para a manutenção do peso. Segundo, ao aumentar a massa muscular, especialmente por meio de treinos funcionais e musculação, ocorre um aumento na quantidade de músculo nas pernas, braços, entre outras áreas. Geralmente, esse aumento na proporção de músculo está associado à perda de massa gordurosa. Sendo o músculo mais pesado do que a gordura, muitas vezes na balança não percebemos mudança no peso, porém se percebe clara mudança nas medidas corporais, indicando que houve sim emagrecimento, com a substituição de massa gorda (gordura corporal) por massa magra (músculo).

 

Outras questões relacionadas ao estresse, tipo de trabalho, influências externas e problemas pessoais podem contribuir para o aumento do estresse e, consequentemente, para o aumento do cortisol. O cortisol, por sua vez, pode influenciar no comportamento alimentar, levando a episódios de compulsão alimentar e ansiedade, o que, por sua vez, afeta o controle do peso.

“Embora seja cientificamente comprovado que a incorporação da atividade física, juntamente com o controle alimentar, seja a melhor maneira de intervir na obesidade, é vital reconhecer que, para muitas pessoas, apenas a prática regular de exercícios e o monitoramento da dieta podem não ser suficientes para superar a obesidade. No entanto, independentemente do tratamento adjuvante escolhido, a manutenção do peso torna-se uma tarefa árdua na ausência de uma prática regular de atividade física”, conclui a Dra. Ana Carolina.


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