Sangramento Uterino Anormal Agudo – SUAa.
Sexta, 16 Fevereiro 2018 15:30
Define-se sangramento uterino anormal agudo (SUAa) como um episódio de sangramento em mulher não grávida que requer atendimento de urgência ou emergência para intervenção imediata com o objetivo de controlar a perda de sangue.
Recomendações para o atendimento da mulher com queixa de SUAa:
Fase 1. Iniciar o atendimento:
- Avaliar dados principais da história do sangramento
- Avaliar dados vitais: pressão arterial, pulso, temperatura, cor e hidratação das mucosas, nível de consciência, outros sintomas (ex. lipotimia)
- Solicitar exames laboratoriais de acordo com a necessidade: hemograma ou hematimetria, tipo sanguíneo (se necessária transfusão), teste para gravidez.
- Obter acesso venoso e iniciar reposição volêmica quando necessário.
Para o raciocínio etiológico e considerando afastadas as causas gestacionais de sangramento:
- Detalhar a história clínica. Considerar o sistema PALM-COEIN para facilitar o direcionamento, embora nem sempre seja possível investigação etiológica completa.
- Realizar exame clínico geral, especular e toque bimanual, estes últimos nas não virgens
- Solicitar ultrassonografia pélvica transvaginal ou por via abdominal para investigar presença de alterações estruturais.
- Solicitar coagulograma na suspeita de distúrbio da coagulação.
O tratamento do SUA na fase aguda tem como objetivo controlar o sangramento atual, estabilizar a paciente, reduzir o risco de novos episódios nos ciclos subsequentes, e pode ser realizado ambulatorialmente ou com internação hospitalar, esta última opção nos casos de instabilidade hemodinâmica ou com sangramento de grande intensidade.
O tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso, e este pode ser hormonal e não hormonal. Considerando-se as evidências e recomendações da literatura e a disponibilidade no mercado brasileiro, as opções para o tratamento hormonal são:

Opções apenas com progestagênio: especialmente indicadas para mulheres com contraindicação ao uso do estrogênio.
Tratamento não hormonal: ácido tranexâmico, em diferentes posologias
- Swedish Medical Products Agency: 1 a 1,5 gramas 3 a 4 vezes ao dia, 3 a 4 dias (podendo ↑ até 1 grama 6 vezes ao dia)
- European Medicines Agency: 1 grama 3 vezes ao dia por 4 dias (podendo ↑ até 4 g por dia)
- S. Food and Drug Administration: 1,3 gramas, 3 vezes ao dia, por até 5 dias.
Tratamento não hormonal: anti-inflamatórios não hormonais
Utilizados em sangramentos leves ou em associação com os tratamentos hormonais, sem distinção de resposta clínica evidente entre eles.
Tratamentos cirúrgicos principais: curetagem uterina e histerectomia.
Escolha a depender da severidade do sangramento, condições hemodinâmicas, resposta à terapêutica medicamentosa e ausência de desejo reprodutivo futuro. A curetagem está indicada apenas para controle temporário, devendo ser acompanhada por tratamento hormonal posterior.
Outras opções cirúrgicas em casos específicos: histeroscopia para polipectomia ou miomectomia, ablação endometrial, tamponamento uterino e embolização da artéria uterina.
Referências Bibliográficas
- National Collaborating Centre for Women’s and Children’s Health. National Institute for Health and Clinical Excellence (2007) Heavy menstrual bleeding. NICE clinical guideline 44, RCOG Press, London, UK.Disponível em: http://www.nice.org.uk/ nicemedia/pdf/CG44FullGuideline.pdf.
- Management of acute abnormal uterine bleeding in nonpregnant reproductive-aged women. ACOG Committee Opinion No. 557. Obstet Gynecol 2013; 121:891
- Borhart Emergency department management of vaginal bleeding in the nonpregnant patient. Emerg Med Pract. 2013;15(8):1-20
- Munro M G. Acute Uterine Bleeding unrelated to pregnancy: A Southern California Permanent Medical Group Practice Guideline. Perm J.2013 Summer; 17(3):43-56.
- James AH, Kouides PA, Abdul-Kadir R, Dietrich JE, Edlund M, Federici AB, et al. Evaluation and management of acute menorrhagia in women with and without underlying bleeding disorders: consensus from an international expert panel. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2011;158(2):124-34.
Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO
Autoras:
Cristina Laguna Benetti-Pinto, Daniela Angerame Yela