Dor pélvica crônica pode estar ligada à endometriose, adenomiose e outras condições: especialista alerta para a importância do diagnóstico
Tema será abordado no 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia – CBGO, que acontece de 14 a 17 de maio, no Riocentro, RJ
Uma das principais queixas femininas , em diferentes fases da vida, a dor pélvica crônica (DPC) pode estar associada a diversos fatores – desde condições ginecológicas como endometriose e miomas, até disfunções no trato urinário e intestinal. O problema afeta cerca de 26% das mulheres em idade reprodutiva, sendo responsável por aproximadamente 10% das consultas ginecológicas, 40 % das laparoscopias e 12% das histerectomias.
Apesar da alta incidência, o sintoma é frequentemente negligenciado ou confundido com desconfortos passageiros, atrasando o diagnóstico de doenças graves como a endometriose. O alerta é da médica ginecologista Dra. Márcia Mendonça Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). “A dor pélvica crônica é uma dor não cíclica, com duração de pelo menos seis meses, localizada na pelve, parte inferior do abdome, região lombar e nádegas. A gravidade costuma ser suficiente para causar incapacidade e levar à busca por atendimento médico. Ela não é uma doença em si, mas um sintoma que pode estar associado a diferentes afecções ginecológicas e não ginecológicas.””, explica a médica.
Principais causas
Entre as causas ginecológicas mais comuns da dor pélvica estão a endometriose, a adenomiose, miomas, aderências pélvicas e a doença inflamatória pélvica. Já as causas não ginecológicas incluem síndrome do intestino irritável, colite, doença celíaca, infecções urinárias recorrentes e até distúrbios musculoesqueléticos. De acordo com a especialista, cerca de 37,7% dos casos têm origem gastrointestinal, 30,8% urinária e apenas 20,2% estão ligados diretamente a fatores ginecológicos.
“Apesar de a endometriose ser mais comum em mulheres jovens e a adenomiose ter sido tradicionalmente associada àquelas acima dos 40 anos, os avanços nos métodos de imagem têm permitido diagnósticos mais precoces, inclusive em mulheres mais jovens”, pontua Dra. Márcia.
Como chegar ao diagnóstico?
O caminho até o diagnóstico definitivo, no entanto, costuma ser longo e desgastante. Estudos indicam que mulheres com endometriose levam entre 5 e 12 anos para obter o diagnóstico correto — no Brasil, esse tempo varia entre 4 e 7 anos. “Cerca de 61% dessas mulheres ouviram de um médico que não havia nada errado, e 47% passaram por cinco ou mais profissionais até serem diagnosticadas. Muitas vezes, essa dor é tratada como algo ‘normal’, o que contribui para o sofrimento prolongado e desnecessário”, alerta a ginecologista.
A orientação médica inicial deve incluir anamnese detalhada, exame físico completo, exames laboratoriais e de imagem como ultrassonografia transvaginal. Em casos mais complexos, podem ser necessários exames como ressonância magnética e videolaparoscopia.
Tratamentos
O tratamento da dor pélvica crônica deve ser individualizado, considerando todas as possíveis causas e particularidades de cada paciente. “Não existe um único tratamento que resolva o problema por completo. Em geral, é necessário o envolvimento de uma equipe multidisciplinar formada por ginecologistas, especialistas em dor, fisioterapeutas e psicólogos”, ressalta a médica.
Entre as abordagens disponíveis estão terapias medicamentosas, bloqueios anestésicos, neuromodulação, fisioterapia do assoalho pélvico, acupuntura e psicoterapia. Mudanças no estilo de vida, alimentação e práticas integrativas também fazem parte do arsenal terapêutico.
Prevenção e conscientização
A dor pélvica crônica afeta não apenas o corpo, mas também a mente. Mulheres com DPC frequentemente enfrentam ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldades nas relações afetivas e profissionais. “Essas pacientes estão, muitas vezes, exaustas, frustradas por não encontrarem solução para seu sofrimento. É fundamental que o médico demonstre credibilidade diante da dor relatada e acolha essa mulher com empatia”, afirma a vice-presidente da CNE-Endometriose da Febrasgo.
Educar a população sobre o fato de que sentir dor não é normal, explicando o que é uma dor esperada e o que deve ser investigado, é essencial para prevenir complicações e melhorar o prognóstico das pacientes. Dra. Márcia ressalta ainda que conscientizar mulheres e suas famílias de que dor não é normal é o primeiro passo para mudar essa realidade. “As mulheres precisam ser acolhidas, ouvidas e tratadas de forma humanizada e integral. O acesso a equipes multidisciplinares ainda é um desafio no Brasil, mas é o caminho mais eficaz para lidar com esse problema de saúde pública”, finaliza a Dra. Márcia Mendonça Carneiro.
62º CBGO
Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia
#CBGO2025
Data: 14 a 17 de maio de 2025
Local: Riocentro - Av. Salvador Allende, 6555 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ
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