Amenorreia Terapêutica Induzida em Mulheres com Limitações Físicas e/ou Mentais
Sexta, 16 Março 2018 15:30
Gustavo Maciel, Cristina Laguna Benetti-Pinto
Embora o ciclo menstrual seja um evento fisiológico, algumas vezes, o seu controle e a supressão da menstruação se fazem necessários. Em geral, utilizam-se esquemas terapêuticos hormonais prescritos durante longos períodos quando a menstruação é indesejada ou mesmo deletéria à saúde feminina. Nesses casos, se impõe a chamada amenorreia terapêutica induzida1. Eventualmente, opções cirúrgicas também podem ser utilizadas.
Nessa breve revisão, serão discutidos métodos de supressão da menstruação e da fertilidade em situações de limitações físicas e/ou mentais. Mulheres com tais limitações compõem um grupo amplo e diverso, com níveis variáveis de comprometimento, seja físico e/ou mental, problemas de comunicação, dependência para atividades cotidianas, comorbidades associadas, uso de multimedicação e diferentes graus de autoconsciência e autonomia 1,2.
Recomendações internacionais:
Supressão da menstruação, ou amenorreia terapêutica, deve ser considerada como opção viável e segura em pacientes com necessidades especiais ou limitações físicas ou mentais. Os motivos que a indicam são relacionados a dificuldades e perda de qualidade de vida da paciente, da família e dos cuidadores 1,3,4. Mais especificamente, as queixas ginecológicas frequentemente são relacionadas à menstruação em si, com questões de higiene, dismenorréia, sangramento aumentado ou irregular, questões comportamentais ou variações de humor relacionadas ao ciclo, além da necessidade de anticoncepção2. Outro ponto relaciona-se à qualidade da assistência. Por apresentarem limitações crônicas, a menstruação cíclica pode se tornar fator complicador para aqueles que cuidam dessas pessoas ou para as próprias pacientes. Assim, os benefícios da supressão da menstruação devem ser evidenciados no contexto do cuidado médico oferecido e discutido com as pacientes e/ou com as famílias 1, 5. A intervenção terapêutica somente deve ser considerada se os problemas apresentados pela menstruação causam prejuízos e sintomas severos e não controláveis, sempre com orientação de que as estratégias disponíveis podem apresentar possíveis efeitos adversos 3.
Internacionalmente, recomenda-se que a supressão terapêutica da menstruação em pacientes com limitações físicas ou mentais deva ser considerada apenas após a menarca. As exceções são relacionadas a doenças hematológicas (discrasias sanguíneas) que podem colocar em risco a mulher frente à menarca 6.
Objetivos
Os objetivos do controle do ciclo menstrual incluem diminuição da perda sanguínea ou mesmo amenorreia. Pode ser também desejável o controle ou diminuição de sintomas relacionados à menstruação (edema, irritabilidade, mudança de humor e de comportamento, exacerbação cíclica de quadros convulsivos ou de enxaqueca, náusea, vômitos, cefaléia, entre outros). Além disso, prevenir gravidez e consequências de eventual abuso devem ser considerados. Por fim, o objetivo é reduzir morbidade e melhorar a qualidade de vida das pacientes e dos cuidadores1.
Considerações Gerais
Antes de indicar a supressão terapêutica da menstruação em pacientes com limitações físicas ou mentais, deve-se levar em conta questões de risco e benefício, além de detalhes do uso crônico das substâncias que induzem à amenorreia terapêutica.
Considerações a serem feitas antes do bloqueio menstrual:
Qualidade de vida
Higiene
Grau de ansiedade
Restrições de atividade
Questões relacionadas ao cuidador
Objetivos de tratamento
Grau de supressão ou amenorreia desejada
Necessidades de anticoncepção
Tipo de deficiência ou risco
Cognitiva
Física
Comunicação
Abuso
Grau de apoio necessário
Capacidade de deambular versus cadeira de rodas
Apoio necessário para atividades da vida diária
Acesso ao suporte (assistência domiciliar, escolar e de descanso)
Sintomas menstruais
Padrões de sangramento menstrual
Dismenorréia
Sintomas comportamentais, de humor e / ou pré-menstrual
História médica e comorbidades
Doença cerebrovascular, Doença cardíaca valvular complicada, Diabetes com doença de órgão final, Diminuição da DMO, Doença hepática, Subnutrição ou uso de sonda de alimentação, Migrânea/Cefaléia com sintomas neurológicos, Obesidade, Transtorno convulsivo, Risco ou história tromboembólica, Disfunção da tireóide, Hipertensão descontrolada
Medicamentos utilizados
Antiepilépticos, Antibióticos, Neurolépticos, Esteróides
Opções terapêuticas disponíveis para o controle ou supressão da menstruação:
- Anticoncepcionais combinados orais
- Progestagênios isolados orais
- Progestagênios injetáveis de depósito (IM)
- Implantes de Progestagênio
- Anticoncepcionais transdérmicos / anel vaginal
- Análogos do GnRH
- Sistema Intrauterino Liberador de Levonorgestrel (SIU/DIU)
- Opções cirúrgicas – ablação endometrial, curetagem uterina, histerectomia
Abaixo estão listados os principais benefícios e dificuldades de cada uma destas opções.
IMAGENS



Conclusões:
Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO



Conclusões:
- Não há estratégias medicamentosas perfeitas para supressão da menstruação
- Na maioria das vezes, a supressão deve ser feita após a menarca
- As opções medicamentosas apresentam riscos, dificuldades ou efeitos colaterais que devem ser discutidos
- Se a menstruação é aceitável quando ocorrer eventualmente, podem ser indicados os ACHO usados de forma estendida, por períodos de 3 a 4 meses seguidos de pausa
- Em condições de maior limitação, em especial quando há severa deficiência mental e/ou física, a supressão total da menstruação pode ser desejável. Nestas situações, os métodos não orais podem ser considerados de escolha, com maior número de publicações para o acetato de medroxiprogesterona de depósito.
- Kirkham YA, Ornstein MP, Aggarwal A, McQuillan S; CANPAGO COMMITTEE. Menstrual suppression in special circumstances. J Obstet Gynaecol Can. 2014;36(10):915-924.
- Kirkham YA, Allen L, Kives S, Caccia N, Spitzer RF, Ornstein MP. Trends in menstrual concerns and suppression in adolescents with developmental disabilities. J Adolesc Health. 2013;53(3):407-12.
- Albanese A, Hopper NW. Suppression of menstruation in adolescents with severe learning disabilities. Arch Dis Child. 2007;92(7):629-32.
- American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Adolescent Health Care. ACOG Committee Opinion No. 448: Menstrual manipulation for adolescents with disabilities. Obstet Gynecol. 2009;114(6):1428-31.
- Dizon CD, Allen LM, Ornstein MP. Menstrual and contraceptive issues among young women with developmental delay: a retrospective review of cases at the Hospital for Sick Children, Toronto. J Pediatr Adolesc Gynecol. 2005;18(3):157-62.
- Martin-Johnston MK, Okoji OY, Armstrong A. Therapeutic amenorrhea in patients at risk for thrombocytopenia. Obstet Gynecol Surv. 2008;63(6):395-402; quiz 405.
- World Health Organization. Medical eligibility criteria for contraceptive use. OMS. Fourth edition, 2009.
Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO