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“Doutor, prótese de silicone causa câncer?”

Sexta, 16 Fevereiro 2018 14:09

        Uma notícia publicada em 2017 pelo jornal “The New York Times” trouxe um alerta dos médicos americanos para o aparecimento de uma forma rara de câncer, o linfoma anaplásico de grandes células, associado ao uso de implante/prótese de silicone, tanto nos casos de cirurgia estética como nos casos de reconstrução mamária pós-mastectomia.

        Logo em seguida, um jornal de grande circulação no nosso país chamou a atenção do público leigo para a mesma questão: “próteses nos seios poderiam causar uma forma rara de linfoma”.

        Em dezembro de 2017, no maior evento científico internacional da Radiologia mamária, o RSNA, esta patologia foi muito abordada.

        Diante deste cenário de atenção, tanto leiga como científica, voltada para a questão “silicones vs câncer”, e considerando que vivemos em um país que lidera as estatísticas das cirurgias estéticas, precisamos entender bem esta questão.

        Os linfomas de mama compreendem um grupo raro de tumores mamários malignos; o BIA-ALCL (da sigla em inglês “breast implant-associated anaplastic large cell lynphoma”) – linfoma anaplásico de grandes células associado a implante de mama - é uma patologia do grupo dos linfomas, que vem emergindo como uma doença potencialmente subdiagnosticada.

        Na literatura médica, encontramos casos da doença em pacientes submetidas a reconstrução mamária com prótese, em pacientes com história de inclusão estética de implante mamário de silicone, e mesmo casos de BIA-ALCL em pacientes transgêneros; uma longa série de revisão de literatura mostra que quase todos os casos documentados estão relacionados ao uso de silicone texturizado.

        Acredita-se que a fisiopatologia esteja relacionada a uma inflamação crônica por infecções indolentes e subclínicas, levando à transformação maligna das células T.

        A apresentação clínica mais frequente é o aparecimento de coleção peri-implante/prótese de 1 a 10 anos após a colocação do implante/prótese, sem história de trauma ou outro motivo mais evidente. Esta é apresentação em cerca de 66% dos casos e em geral chamamos essa situação de seroma tardio. Uma forma de apresentação mais rara é o aparecimento de massa mamária isolada, em 8% dos casos.

        A avaliação inicial por imagem deve ser feita com ultrassonografia mamária (USG), onde se observa a coleção e/ou, mais raramente, a massa, ficando a ressonância magnética reservada para a avaliação dos casos duvidosos. A USG é também usada para guiar a punção/aspiração da coleção. O diagnóstico é feito através da imunocitoquímica do aspirado, solicitando-se pesquisa de CD30.

        Alguns profissionais acreditam que esta patologia não seja assim tão rara e que o motivo para um número pequeno de casos diagnosticados seja esta necessidade da pesquisa do CD 30, raramente solicitada nos caso de aspiração dessas coleções; alertam, ainda, que toda coleção peri-implante/prótese tardia deva ser considerada como potencial BIA-ALCL, até que se prove o contrário.

        A maioria dos casos é diagnosticada no estadio in situ, ou seja, confinado ao lúmen ao redor do implante/prótese. O prognóstico é excelente nestes casos, quando é feita a remoção cirúrgica da cápsula e do implante/prótese, alcançando-se margens livres.

        Entretanto, casos raros de doença invasiva já foram relatados, correspondendo a formas mais agressivas, em geral associadas à presença de massa mamária, e necessitando quimioterapia adjuvante.

        Nas últimas décadas, o número de casos BIA-ALCL publicados tem crescido muito, e rápido; assim, é importante estarmos informados sobre esta doença, seus sintomas e seu curso clínico, para tranquilizarmos as nossas pacientes e tomarmos as medidas necessárias para um diagnóstico preciso, em especial em uma fase de apresentação da doença onde as chances de cura são significativas.

Autora:

Ana Cláudia Mendes Rodrigues – médica radiologista – Rio de Janeiro, RJ


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