Setembro amarelo: Transtornos mentais afetam até 13% das mulheres no período gestacional e pós-parto
Obstetras da FEBRASGO chamam atenção para os sinais de alerta
Alterações hormonais importantes, mudanças físicas e, sobretudo, emocionais marcam o período da gestação. Nesse momento, é comum que as mulheres experimentem uma mistura de sentimentos ao acompanhar o desenvolvimento do bebê — que podem ir da alegria e da expectativa à insegurança e à dúvida. Quando essas emoções não recebem a devida atenção da família e o acompanhamento adequado de profissionais de saúde, podem abrir espaço para quadros de depressão, tanto durante a gravidez quanto no período pós-parto.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, cerca de 10% das gestantes e 13% das puérperas sofrem de algum transtorno mental, principalmente depressão, condição que, se não identificada e tratada, pode trazer riscos para a saúde da mãe e do bebê.
“Durante a gestação é comum que ocorra uma alteração de humor da gestante, isso principalmente por conta dos efeitos hormonais. Mas é importante que haja uma atenção especial quando alguns sintomas se tornam persistentes”, explica a Dra. Lilian de Paiva Rodrigues Hsu, presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
A médica chama atenção para os sinais de alerta nessa fase, como tristeza recorrente, angústia, perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações no sono e no apetite, cansaço constante, dificuldade de concentração, sentimento de culpa e de inadequação em relação à maternidade, além de pensamentos relacionados à morte em casos mais graves.
“Muitas vezes, a própria gestante não percebe que está passando por um processo depressivo. Por isso, é fundamental que familiares e profissionais de saúde estejam atentos a esses sinais. Se os sintomas persistirem por dias ou semanas, prejudicando a rotina, é indispensável buscar ajuda especializada”, alerta a obstetra.
O pré-natal é um período essencial de aproximação e detecção de possíveis anormalidades. Durante as consultas, além da avaliação física, o médico deve incluir a saúde emocional como parte do cuidado integral. Aspectos como histórico familiar de depressão, episódios anteriores, presença de ansiedade, condições de apoio social, circunstâncias da gravidez (planejada ou não) e fatores estressores do cotidiano precisam ser investigados.
“Os cuidados com a gestante devem seguir em todas as etapas. A chamada tristeza materna transitória, conhecida como baby blues, afeta grande parte das mulheres logo após o parto. Os sintomas surgem geralmente entre o segundo e o terceiro dia após o nascimento do bebê e podem durar até duas semanas”, explica o Dr. Romulo Negrini, obstetra vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da FEBRASGO.
Já a depressão pós-parto é uma condição mais séria, que pode surgir nas primeiras semanas após o parto e se prolongar por até um ano. Os sintomas são persistentes e intensos, incluindo tristeza profunda, perda de interesse em atividades antes prazerosas, exaustão, distúrbios do sono, autoestima baixa e, em casos mais graves, pensamentos suicidas. Nessa fase, também é comum a dificuldade de criar vínculo com o bebê e a sensação de incapacidade para exercer a maternidade. Diferentemente do baby blues, a depressão pós-parto interfere de forma significativa na vida da mulher e exige avaliação profissional, podendo envolver psicoterapia, grupos de apoio e, em alguns casos, tratamento medicamentoso supervisionado.
Nos casos de perda gestacional, incluindo abortos espontâneos, a necessidade de cuidado emocional é ainda maior. Esse processo doloroso requer acolhimento imediato, escuta ativa e acompanhamento psicológico especializado, a fim de prevenir complicações como depressão e transtorno de estresse pós-traumático.
O suporte médico, psicológico e social é essencial tanto para a prevenção quanto para o manejo da depressão pós-parto, sobretudo após experiências de perda. Recomenda-se acompanhamento psicológico em gestações subsequentes e a criação de espaços de apoio nos quais mulheres possam compartilhar experiências. A atuação de uma equipe multiprofissional, com empatia e atenção constante, é decisiva para fortalecer a saúde mental materna e reduzir os riscos de complicações emocionais.