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Posição da Febrasgo sobre Anticoncepcionais hormonais e risco de câncer de mama

Quarta, 20 Dezembro 2017 14:38
A associação entre uso de anticoncepção hormonal e câncer de mama vem sendo discutida há vários anos com resultados nem sempre claros e conclusivos.

Sobre este tema, foi publicado recentemente, em 7/12/2017, um estudo que analisou a população da Dinamarca usuária de anticoncepcionais hormonais com relação ao seu risco específico de câncer de mama em comparação com mulheres não-usuárias destas medicações[i] . Este estudo se reveste de grande importância pela seriedade e importância da revista científica em que foi publicado (New England Journal of Medicine) e, também, pelo grande número de mulheres envolvidas (1,8 milhão de mulheres dinamarquesas com idades entre 15 e 49 anos). Por esta razão, desde que foi publicado, vem gerando muitas discussões, dúvidas e controvérsias quanto à interpretação de seus resultados.

Considerando a importância do assunto nos meios médico e acadêmico, além da grande repercussão na população a partir das informações veiculadas pela mídia, as comissões nacionais especializadas em Anticoncepção e Mastologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em consonância com a sua Diretoria Científica e a sua Presidência, entendem por bem vir a público para apresentar o seu posicionamento sobre o assunto, após análise criteriosa dos dados publicados, com o propósito de contribuir para uma melhor compreensão dos médicos prescritores e das usuárias de anticoncepcionais hormonais. 

  1. Este estudo baseou sua análise em bancos de dados de registros nacionais da Dinamarca de prescrições e de doenças. Seus resultados mostram pequeno aumento no risco de câncer de mama em usuárias de anticoncepcionais hormonais. O uso de qualquer tipo de anticoncepcional hormonal se associou a 1,3 novos casos de câncer de mama para cada 10.000 mulheres ao ano. Este aumento de risco se mostrou tanto maior quanto maior o tempo de uso dos anticoncepcionais hormonais.

  2. Entretanto, não houve risco aumentado entre as mulheres que utilizaram contracepção hormonal por menos de 5 anos.

  3. Não houve evidência de grandes diferenças no risco de câncer de mama entre mulheres que usaram vários contraceptivos orais combinados. Poucas diferenças significativas foram detectadas quando várias preparações foram comparadas e, ainda assim, as mesmas não se mostraram significativas após o ajuste para múltiplos testes. Portanto, não se pode falar de maior risco de uma formulação de anticoncepcional em relação a outra com composição diferente.

  4. O acréscimo de risco para câncer de mama entre usuárias de anticoncepcionais hormonais combinados (pílulas anticoncepcionais) desapareceu após a interrupção do anticoncepcional. Este achado demonstra a não influência dos anticoncepcionais sobre a gênese do câncer de mama (dano genético na origem do câncer de mama).

  5. Para o grupo de mulheres abaixo de 35 anos, que representam a grande maioria das usuárias de anticoncepcionais hormonais, o estudo mostrou acréscimo de 0,2 casos de câncer de mama em cada 10.000 mulheres ao ano. O aumento de risco no grupo de mulheres acima de 35 ou 40 anos foi maior. Este resultado pode se confundir com a própria história natural do câncer de mama, cuja incidência é maior nesta faixa etária, ainda que, neste estudo, a analise comparativa com o grupo de não usuárias de anticoncepcionais hormonais mostrou aumento relativo do risco nesta faixa etária.


Os resultados deste estudo trazem mais uma contribuição para o entendimento das relações entre os hormônios reprodutivos e o câncer de mama. Entretanto, considerando a farta literatura sobre o assunto, as controversias ainda persistem. Com o mesmo propósito, outro estudo publicado na mesma revista[ii] , coordenado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) nos Estados Unidos da América, envolvendo usuárias atuais e ex-usuárias de anticoncepcionais orais com idades variando entre 35 e 64 anos de idade (4.575 com câncer de mama e 4.682 controles), mostrou que o risco relativo de câncer de mama não se alterou em comparação com as não usuárias. Tampouco se demonstrou relação com a raça, com os antecedentes familiares de câncer de mama, com o tempo de uso ou com as doses de estrogênios empregadas nas formulações dos anticoncepcionais orais. Estes dados permnitiram aos autores concluirem que em mulheres na faixa etária entre 35 e 64 anos de idade, o uso atual ou pregresso de anticoncepcionais hormonais não promoveu aumento do risco de câncer de mama. Estudo mais atual do Royal College of General Practitioner do Reino Unido[iii] , também não demostrou aumento no risco do câncer de mama entre usuárias de anticoncepcionais hormonais.

Assim, com base na análise deste estudo e mesmo que, por hipótese, se considerem absolutamente validos os seus resultados, a Febrasgo é de opinião que o risco de câncer de mama atribuível ou uso de anticoncepcionais hormonais é muito baixo, ainda mais, porque é pequena a incidencia de câncer de mama, per si, na faixa etária das usuárias de contracepção hormonal. Desta forma, recomendamos que, com base neste estudo, por si próprio, não se deve alterar a prática prescritiva dos anticoncepcionais hormonais, cuja indicação para uso e continuidade devem se basear nos critérios de Elegibilidade da Organização Mundial de Saúde em sua última edição de 2015[iv]. Pelas mesmas razões a Febrasgo recomenda também que as usuárias de anticoncepcionais hormonais não interrompam intempestivamente o seu uso e no caso de quaisquer dúvidas a respeito devem consultar o seu ginecologista de confiança para os devidos esclarecimentos e orientações.

Renato Zocchio Torresan
Presidente da Comissão Nacional Especializada em Mastologia da FEBRASGO

Rogério Bonassi Machado
Presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da FEBRASGO

Marcos Felipe Silva de Sá
Diretor Científico da FEBRASGO

César Eduardo Fernandes
Presidente da FEBRASGO

 



[1]      Mørch LS, Skovlund CW, Hannaford PC, Iversen L, et al. Contemporary Hormonal Contraception and the Risk of Breast Cancer. N Engl J Med. 2017;377(23):2228-2239.

[1]      Marchbanks PA, McDonald JA, Wilson HG, et al. Oral contraceptives and the risk of breast cancer. N Engl J Med 2002;346(26):2025-32.

[1]      Hannaford PC, Iversen L, Macfarlane TV, et al. Mortality among contraceptive pill users: cohort evidence from Royal College of General Practitioners’ Oral Contraception Study. BMJ 2010;340:c927.

[1]      World Health Organization. Medical eligibility criteria for contraceptive use. 5a ed. Genebra: WHO; 2015. [acesso em 15 dec 2017]. Disponível em: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/family_planning/MEC-5/en/.

[i]        Mørch LS, Skovlund CW, Hannaford PC, Iversen L, et al. Contemporary Hormonal Contraception and the Risk of Breast Cancer. N Engl J Med. 2017;377(23):2228-2239.

[ii]       Marchbanks PA, McDonald JA, Wilson HG, et al. Oral contraceptives and the risk of breast cancer. N Engl J Med 2002;346(26):2025-32.

[iii]      Hannaford PC, Iversen L, Macfarlane TV, et al. Mortality among contraceptive pill users: cohort evidence from Royal College of General Practitioners’ Oral Contraception Study. BMJ 2010;340:c927.

[iv]      World Health Organization. Medical eligibility criteria for contraceptive use. 5a ed. Genebra: WHO; 2015. [acesso em 15 dec 2017]. Disponível em: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/family_planning/MEC-5/en/.

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