Reflexões sobre Comportamento de Risco x Vulnerabilidade e Culpabilização
Quinta, 22 Junho 2017 17:55
Não tenho aqui a intenção de ser hipócrita e nem crítico. Apenas quero trazer à tona alguns aspectos que temos que enfrentar no dia a dia quando lidamos com as vitimas e com as pessoas em geral, em relação ao entendimento e avaliação individual de cada um sobre as diversas situações. Devemos lembrar, que crianças, adolescentes, pessoas em uso de drogas e álcool, apresentam-se nestas situações com um “afrouxamento crítico” em relação aos riscos de se colocar em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes vemos a sociedade, legisladores etc., culpando estas pessoas pelas agressões e violências a que foram cometidas.
Vamos imaginar a seguinte situação: Uma jovem que estuda durante o período noturno por trabalhar de dia para ajudar a família. Esta jovem sai da sua escola por volta de 23:00h e muitas vezes vai a pé para casa por caminhos perigosos ou vai a um ponto de ônibus para esperar sozinha sua condução. Este é um comportamento de risco que a coloca em situação de vulnerabilidade para certos tipos de crimes, mas que não há outra maneira de enfrentá-lo, a não ser que ela seja orientada para evitar ficar só no ponto de ônibus ou andar só pelo caminho. Orientações, muitas vezes impossível de ser seguida.
Imaginemos agora uma segunda situação, onde a pessoa deliberadamente se utiliza de drogas ou álcool, ou sai para uma balada em locais reconhecidos de riscos, sozinha, sem um acompanhante para ajudar a diminuir a sua vulnerabilidade. Em ambos os casos apresentados, as vitimas apresentaram um comportamento de risco e se colocaram na situação de vulnerabilidade para a violência, seja sexual, ou qualquer outra.
Frequentemente temos visto pessoas não afeitas ao tema, muitas vezes até profissionais da segurança e da saúde, culpabilizarem a vitima que se colocou na situação de vulnerabilidade para se divertir, esquecendo que o criminoso é quem se aproveitou desta situação para executar seu ato violento. Estas duas vítimas, muitas vezes são acolhidas em seu meio familiar ou de amigos, de maneira diferente, já que a que estava trabalhando foi vitima do crime, e a que estava só se divertindo foi culpada da agressão.
Embora pareça óbvio para quem trabalha com o tema, precisamos mudar o entendimento da mídia e das pessoas em geral, que independente do fato da pessoa ter se colocado em situação de vulnerabilidade, o culpado é o criminoso que se aproveitou desta situação. Vejam o que aconteceu com aquela moça do Rio de Janeiro que ao mencionar o fato de ter ido ao local deliberadamente para possivelmente usar drogas, foi violentada por um sem número de agressores. Tivemos infelicidade de observar muitos comentários inferindo que a culpada pela agressão foi ela.
Imagine os senhores a quantidade de pessoas que passam por diversas situações de violência e elas mesmas se culpam ou assumem a culpa do ocorrido por terem se colocado na situação de risco. O pior é: quantas destas mulheres vitimas de violência sexual deixam de receber o atendimento adequado e oportuno para evitarem uma gravidez indesejada por conta desta “auto-culpa”.
Quantas delas passam a viver um sofrimento solitário às vezes até com tentativas de suicídio, pelo sentimento de culpa que introjetaram? Estes aspectos precisam ser discutidos e esclarecidos junto à sociedade e até entre os profissionais que atendem estas vitimas, para que possamos minimizar os riscos e sentimentos de culpa destas pessoas, aproveitando a oportunidade também para os aspectos educativos aos que se colocam em situação de vulnerabilidade para que possam ser orientados em como evitar estas situações.
Escrito por: Dr. Osmar Ribeiro Colás (CRM-SP 36579) - Programa de Violência Sexual e Interrupção Legal da Gestação / EPM / UNIFESP. Vice-Presidente da CNE de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista em Lei da FEBRASGO.
Vamos imaginar a seguinte situação: Uma jovem que estuda durante o período noturno por trabalhar de dia para ajudar a família. Esta jovem sai da sua escola por volta de 23:00h e muitas vezes vai a pé para casa por caminhos perigosos ou vai a um ponto de ônibus para esperar sozinha sua condução. Este é um comportamento de risco que a coloca em situação de vulnerabilidade para certos tipos de crimes, mas que não há outra maneira de enfrentá-lo, a não ser que ela seja orientada para evitar ficar só no ponto de ônibus ou andar só pelo caminho. Orientações, muitas vezes impossível de ser seguida.
Imaginemos agora uma segunda situação, onde a pessoa deliberadamente se utiliza de drogas ou álcool, ou sai para uma balada em locais reconhecidos de riscos, sozinha, sem um acompanhante para ajudar a diminuir a sua vulnerabilidade. Em ambos os casos apresentados, as vitimas apresentaram um comportamento de risco e se colocaram na situação de vulnerabilidade para a violência, seja sexual, ou qualquer outra.
Frequentemente temos visto pessoas não afeitas ao tema, muitas vezes até profissionais da segurança e da saúde, culpabilizarem a vitima que se colocou na situação de vulnerabilidade para se divertir, esquecendo que o criminoso é quem se aproveitou desta situação para executar seu ato violento. Estas duas vítimas, muitas vezes são acolhidas em seu meio familiar ou de amigos, de maneira diferente, já que a que estava trabalhando foi vitima do crime, e a que estava só se divertindo foi culpada da agressão.
Embora pareça óbvio para quem trabalha com o tema, precisamos mudar o entendimento da mídia e das pessoas em geral, que independente do fato da pessoa ter se colocado em situação de vulnerabilidade, o culpado é o criminoso que se aproveitou desta situação. Vejam o que aconteceu com aquela moça do Rio de Janeiro que ao mencionar o fato de ter ido ao local deliberadamente para possivelmente usar drogas, foi violentada por um sem número de agressores. Tivemos infelicidade de observar muitos comentários inferindo que a culpada pela agressão foi ela.
Imagine os senhores a quantidade de pessoas que passam por diversas situações de violência e elas mesmas se culpam ou assumem a culpa do ocorrido por terem se colocado na situação de risco. O pior é: quantas destas mulheres vitimas de violência sexual deixam de receber o atendimento adequado e oportuno para evitarem uma gravidez indesejada por conta desta “auto-culpa”.
Quantas delas passam a viver um sofrimento solitário às vezes até com tentativas de suicídio, pelo sentimento de culpa que introjetaram? Estes aspectos precisam ser discutidos e esclarecidos junto à sociedade e até entre os profissionais que atendem estas vitimas, para que possamos minimizar os riscos e sentimentos de culpa destas pessoas, aproveitando a oportunidade também para os aspectos educativos aos que se colocam em situação de vulnerabilidade para que possam ser orientados em como evitar estas situações.
Escrito por: Dr. Osmar Ribeiro Colás (CRM-SP 36579) - Programa de Violência Sexual e Interrupção Legal da Gestação / EPM / UNIFESP. Vice-Presidente da CNE de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista em Lei da FEBRASGO.