Amamentação em mulheres com mamoplastias: evidências atuais
Ana Cristina F. de Vilhena Abrão
Maria Jose Guardia Mattar
Kelly Pereira Coca
Karla Oliveira Marcacine
As cirurgias mamárias têm sido elencadas como uma das causas associadas à interrupção precoce da amamentação pois podem alterar a integridade e funcionamento da mama, dependendo da técnica cirúrgica utilizada1,2. Suas repercussões estão relacionadas à problemas na produção e ejeção láctea, estase láctea, ingurgitamento obstrutivo, mastite, abcesso mamário, além da insegurança materna para amamentar1,2.
Com a evolução das tecnologias e das técnicas cirúrgicas, os procedimentos estéticos vêm crescendo no Brasil e no mundo. Pesquisa recente divulgada em 2018 pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), revela um aumento de 5,4%. O Brasil é o segundo país na realização de procedimentos estéticos, representando cerca de 2.267.405 entre procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos (9,7%). Dentre os procedimentos cirúrgicos, a mamoplastia de aumento, ocupa o primeiro lugar, com cerca de 1.841.098 procedimentos3. Este ranking é confirmado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, representando 18,8% dos procedimentos; já a mamoplastia redutora ocupa o quinto lugar, representando 9,9% das cirurgias4.
Apesar do grande número de procedimentos realizados, a literatura é limitada quanto ao seu impacto na amamentação. Em relação à mamoplastia de aumento, as publicações dos últimos cinco anos mostram que as mulheres foram significativamente menos propensas a amamentar e a taxa de aleitamento materno exclusivo foi menor quando comparadas às mulheres sem cirurgia5; os subgrupos com incisão Periareolar versus Inframamária não mostraram diferença estatística5,6; e a dor e o maior escore de dor, a ocorrência de lesão e o uso dos galactagogos (oral e nasal) estiveram associados ao local de implantação, ao tamanho da prótese e ao tempo decorrido da cirurgia5,6.
Em relação à mamoplastia redutora, última revisão sistemática realizada em 20177 concluiu que 72% das mulheres relataram a falta de apoio e incentivo como motivo predominante para não amamentar(cinco estudos); 55% das mulheres relataram leite insuficiente e 16% delas referiram relutância e falta de apoio para o insucesso na amamentação(sete estudos); a quantidade de tecido mamário removido e o ano da cirurgia parecem não ter tido impacto na taxa de amamentação bem-sucedida. Por outro lado, técnicas que mantêm intacta a coluna do parênquima sub-areolar da mama parecem proporcionar maior probabilidade de sucesso na amamentação.
Estudo qualitativo publicado em 2018 com mulheres que realizaram mamoplastia antes da maternidade concluiu que a maioria delas não conseguiu amamentar exclusivamente e teve uma experiência de amamentação complementar, realizando translactação e/ou a técnica sonda-dedo em quase todas as mamadas. Os esforços para iniciar e manter a amamentação exclusiva foram exaustivos e persistentes, predominando o aleitamento complementado. Questionamentos surgiram em relação à sua capacidade para exercer o papel materno na amamentação. Poucas mulheres foram informadas sobre os efeitos da mamoplastia, os riscos e as consequências sobre a amamentação quando da obtenção do consentimento informado para a realização da cirurgia8.
Considerações finais e implicações para a prática
As mulheres optam pela mamoplastia ainda muito jovens, neste sentido ela precisam receber orientações sobre os possíveis efeitos, riscos e possíveis consequências para a amamentação. Uma vez realizadas, devem receber informações detalhadas da cirurgia, o local de abordagem, o nome da técnica proposta, volumes a serem implantados ou retirados, as estruturas anatômicas que serão manipuladas. Estas informações são importantes para pesquisas futuras que pretendem analisar de forma mais detalhada o seu impacto na amamentação.
As taxas reduzidas de aleitamento materno entre as mulheres expostas a mamoplastias, enfatizam a importância de identificá-las, apoiá-las e incentivá-las. Essas mulheres podem ter maior probabilidade de desistir da amamentação uma vez desafiadas por dificuldades na lactação, devido a expectativas anteriores e menor autoconfiança em atender às necessidades do bebê.
O consentimento informado para a realização de mamoplastias deve incluir dados baseados em evidências sobre os riscos relacionados ao AME. As propagandas de mamoplastia de aumento deveriam advertir quanto aos seus potenciais prejuízos à lactação. Estudos devem ser mais detalhados para possibilitar análises mais confiantes.
O profissional de saúde que atende essas mulheres deve ter presente a necessidade de uma assistência individualizada e aconselhamento seguro para todas as possibilidades, seja aleitamento materno exclusivo ou não.
REFERÊNCIAS
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Lages AF. Mamoplastias e amamentação. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. Cap.8, p.72-9 (Série Recomendações FEBRASGO, no. 6/Comissão Especializada em aleitamento materno).
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International Society of Aesthetic Plastic Surgery. Global statistics [Internet]. Hanover: ISAPS; 2018 [cited 2018 Aug 28]. Available from: https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2019/12/ISAPS-Global-Survey-2018-Press-Release-Portuguese.pdf;
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Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2019/08/Apresentac%CC%A7a%CC%83o-Censo-2018_V3.pdf
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Marcacine KO, Abuchaim ESV, Coca KP, Abrão ACFV. Factors associated to breast implants and breastfeeding. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03363. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017037803363
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