ATUALIZAÇÃO SOBRE AS RECOMENDAÇÕES DA COMISSÃO ESPECIALIZADA DE SEXOLOGIA DA FEBRASGO FRENTE ÀS PRÁTICAS SEXUAIS DURANTE A EPIDEMIA DO CORONAVÍRUS
Quinta, 30 Abril 2020 14:50
Lucia Alves da Silva Lara
Sandra Cristina Poerner Scalco
Flávia Fairbanks
Julia Kefalás Trocon
Carmita Helena Abdo
Teresa Cristina Souza Barroso Vieira
Jaqueline Brendler
Sidney Glina
Andréa Rufino
Thiago Apolinário Dornela
Gerson Pereira Lopes
Diante dos crescentes avanços científicos em busca de esclarecimentos para comportamentos sexuais durante a pandemia COVID-19, bem como a rapidez de novas comportamentos do vírus, faz-se necessária uma reavisão da recomendação emitida pela Comissão Nacional Especializadas de Sexologia da FEBRASGO sobre a possibilidade de relações sexuais e risco de contaminação.
Sandra Cristina Poerner Scalco
Flávia Fairbanks
Julia Kefalás Trocon
Carmita Helena Abdo
Teresa Cristina Souza Barroso Vieira
Jaqueline Brendler
Sidney Glina
Andréa Rufino
Thiago Apolinário Dornela
Gerson Pereira Lopes
Diante dos crescentes avanços científicos em busca de esclarecimentos para comportamentos sexuais durante a pandemia COVID-19, bem como a rapidez de novas comportamentos do vírus, faz-se necessária uma reavisão da recomendação emitida pela Comissão Nacional Especializadas de Sexologia da FEBRASGO sobre a possibilidade de relações sexuais e risco de contaminação.
Ainda não existe nenhum estudo publicado, especificamente, sobre o risco de transmissão sexual do SARS-COV2. Portanto, as orientações a respeito da vida sexual na vigência da pandemia estão por conta da opinião de especialistas. Algumas evidencias tem surgido, que podem nortear a orientação médica sobre as práticas sexuais neste momento porém, essas orientações deverão ser atualizadas à luz do surgimento de novas evidências científicas.
As estratégias de prevenção contra o COVID-19 envolvem higiene respiratória, lavar as mãos frequentemente ou uso de álcool a 70%, limitação da movimentação para fora de casa e isolamento social (7). Isso significa que o confinamento em casa favorece a proximidade dos casais, o que pode resultar em aumento da atividade sexual. Assim, é importante a recomendação médica sobre as práticas sexuais seguras para a vida reprodutiva e sexual.
A partir das evidencias atuais, sabe-se que a transmissão do SARS-COV2 ocorre através de aerossóis e por gotículas de saliva expelidas pela fala, espirros, tosse ou pelo nariz (1) e contato de pessoa a pessoa oral (ex. beijo), nasal, e com mucosas (olhos, nariz, boca) (2). Também já está bastante reconhecido o risco de transmissão entre indivíduos assintomáticos por beijos, abraços e proximidade física. Portanto, essas práticas devem ser evitados, por pessoas que não morem no mesmo domicílio.
A busca pela identificação do vírus no corpo humano levou ao conhecimento de que o leite materno e o líquido amniótico de gestantes infectadas estavam livre do COVID-19 (3). Estudos analisando o conteúdo vaginal já foram publicados, mas as evidencias ainda são de baixa qualidade, uma vez que derivam de relato de series de caso. Uma mulher de 34 anos que testou positivo para SARS-COV2 na orofaringe e nas fezes, o teste do conteúdo vaginal foi negativo (4). Uma gestante que testou positivo para o vírus na orofaringe apresentou teste negative no conteúdo vaginal. Essa paciente teve parto normal, a criança não foi contaminada e permaneceu com testes negativos para o SARS-COV2 durante o período de seguimento (5) indicando, indiretamente, a que o conteúdo vaginal estava livre do vírus. Outro dado importante é que a carga viral pode permanecer detectável, e mesmo alta, no período de convalescência da infecção pelo COVID-19 (6). Um estudo observacional evidenciou que, nas pessoas infectadas, a carga viral máxima na saliva, ocorre na primeira semana após os sintomas e declina com o passar do tempo. Um dos pacientes em seguimento, o RNA viral permaneceu detectável durante 25 dias, após o início dos sintomas (8). Outro estudo também evidenciou que a carga viral permanece alta no período de convalescência (6).
As evidencias disponíveis até o momento são limitadas, e são necessários mais estudos para a confirmação dos achados. Mas, esses achados causam preocupação e incertezas sobre como fazer uma orientação segura sobre as práticas sexuais em tempos de COVID-19, para as pessoas sadias, sintomáticos e para aqueles que estão na fase de convalescência. Diante das evidências atuais é possível fazer as seguintes recomendações a respeito das práticas sexuais levando em consideração dois cenários:
Na ausência de contaminação dos parceiros, parceiros fixos e isolados em casa, sem história de contatos.
• A prática sexual pode ser livre, de acordo com o desejo do casal, com os cuidados específicos para prevenção de gravidez não planejada (uso consistente de método anticoncepcional) e infecções sexualmente transmissíveis (uso de preservativos).
Na suspeita de contaminação, exposição conhecida, ou na vigência de um parceiro contaminado sem sintomas ou com sintomas leves.
• É recomendado o isolamento, portanto, as relações sexuais são suspensas
• O autoerotismo (masturbação) é uma prática que alivia a tensão sexual até que as relações sexuais compartilhadas sejam seguras
• Não se sabe, ao certo, o tempo seguro para o retorno as relações sexuais com a parceria. Diante das evidencias atuais o RNA viral é detectável até 25 dias no período de convalescência.
Nota: Esse parecer será atualizado na medida que novas evidencias surgirem a respeito dessa temática
Referências:
1. Burki TK. Coronavirus in China. Lancet Respir Med. março de 2020;8(3):238.
2. Peng X, Xu X, Li Y, Cheng L, Zhou X, Ren B. Transmission routes of 2019-nCoV and controls in dental practice. Int J Oral Sci. 03 de 2020;12(1):9.
3. Chen H, Guo J, Wang C, Luo F, Yu X, Zhang W, et al. Clinical characteristics and intrauterine vertical transmission potential of COVID-19 infection in nine pregnant women: a retrospective review of medical records. Lancet. 07 de 2020;395(10226):809–15.
4. Ge X-Y, Li J-L, Yang X-L, Chmura AA, Zhu G, Epstein JH, et al. Isolation and characterization of a bat SARS-like coronavirus that uses the ACE2 receptor. Nature. 28 de novembro de 2013;503(7477):535–8.
5. Schwartz DA. An Analysis of 38 Pregnant Women with COVID-19, Their Newborn Infants, and Maternal-Fetal Transmission of SARS-CoV-2: Maternal Coronavirus Infections and Pregnancy Outcomes. Arch Pathol Lab Med. 17 de março de 2020;
6. Rothe C, Schunk M, Sothmann P, Bretzel G, Froeschl G, Wallrauch C, et al. Transmission of 2019-nCoV Infection from an Asymptomatic Contact in Germany. N Engl J Med. 05 de 2020;382(10):970–1.
7. Home care for patients with COVID-19 presenting with mild symptoms and management of their contacts [Internet]. [citado 29 de março de 2020]. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/home-care-for-patients-with-suspected-novel-coronavirus-(ncov)-infection-presenting-with-mild-symptoms-and-management-of-contacts
8. To KK-W, Tsang OT-Y, Leung W-S, Tam AR, Wu T-C, Lung DC, et al. Temporal profiles of viral load in posterior oropharyngeal saliva samples and serum antibody responses during infection by SARS-CoV-2: an observational cohort study. Lancet Infect Dis. 23 de março de 2020;
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