Sarampo: risco de surto?

Quinta, 26 Julho 2018 10:48

        O sarampo é uma doença viral, altamente contagiosa, que pode evoluir com complicações graves. Apesar de ser evitável por uma vacina disponível, segura e eficaz, continua sendo uma importante causa de morte no mundo, principalmente em crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2016 tenham ocorrido 90.000 óbitos relacionados ao sarampo [1].

  • A doença

        O sarampo é uma doença infecciosa causada por um vírus RNA da família Paramyxoviridae, gênero Morbillivirus. A transmissão ocorre a partir do contato direto de gotículas de secreções respiratórias de pessoas infectadas. É altamente contagiosa; sem imunidade, 90% adquirem a infecção em contato com um caso de sarampo.

        O período de incubação dura de 7-21 dias até o aparecimento do exantema. Os sintomas clássicos do sarampo incluem, além do exantema, febre alta, tosse, coriza e conjuntivite. O exantema característico inicia poucos dias após o surgimento da febre e se caracteriza por ser maculopapular, eritematoso, generalizado, frequentemente pruriginoso, iniciando na face e progredindo em direção aos membros inferiores. As manchas de Koplik na mucosa oral são patognomônicas da doença, mas não são frequentemente visualizadas. A transmissão de uma pessoa para outra inicia quatro dias antes do quadro de exantema e persiste por mais quatro dias.

        As complicações mais frequentes são diarréia, otite, pneumonia (pelo próprio vírus do sarampo ou secundariamente, por bactérias) e encefalite. É geralmente mais grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de imunodeficiências. Em gestantes, pode causar aborto espontâneo e parto prematuro, embora não sejam conhecidos casos de malformações congênitas associadas à infecção pelo sarampo [2].

  • Tratamento

        Não existe tratamento específico.

  • Epidemiologia no mundo

        Segundo a OMS, até junho de 2018, foram mais de 130 mil casos suspeitos e quase 82 mil confirmados. A doença ocorre em todos os continentes. Chama atenção o número de casos na Europa, com quase 22 mil casos confirmados em 2018, sendo as maiores incidências na Ucrânia, Sérvia, Itália, Geórgia, Romênia, França e Rússia, relacionados ao principal genótipo circulante, B3 [3].

  • Epidemiologia na América

        Nas Américas são 1.209 casos confirmados em 2018, em 11 países. A grande maioria dos casos ocorreram na Venezuela (surto desde julho de 2017), seguida do Brasil, Estados Unidos e Colômbia. Principal genótipo circulante: D8 [3].

  • Epidemiologia no Brasil

        No Brasil, os últimos casos de sarampo tinham sido registrados no ano de 2015, em surtos ocorridos nos Estados do Ceará (211 casos), São Paulo (dois casos) e Roraima (um caso), esses últimos associados ao surto do Ceará. Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo pela OMS, declarando a região das Américas livre do sarampo.

        Em função da imigração dos venezuelanos, em 14/02/2018, o Estado de Roraima notificou um caso suspeito de sarampo em uma criança Venezuelana de um ano de idade, não vacinada, no município de Boa Vista (RR), confirmado posteriormente. Até 30 de maio, foram confirmados 172 casos em Roraima e 115 no Amazonas [4].

        Em 13/06/2018, o Rio Grande do Sul confirmou seis casos da doença, sendo o paciente índice de cinco deles de Porto Alegre, uma estudante de 25 anos com histórico de viagem recente ao Amazonas [5]. Outros Estados também já confirmaram casos: São Paulo (1) e Rondônia (1).

  • Prevenção

        A vacina sarampo é a forma mais eficaz de prevenir a infecção. Atualmente utiliza-se a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e/ou a tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).

        Outras medidas:

  • cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
  • lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou então, utilizar álcool em gel;
  • não compartilhar copos, talheres e alimentos;
  • procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos;
  • evitar aglomerações ou locais pouco arejados, sempre que possível;
  • manter os ambientes frequentados sempre limpos e ventilados;
  • evitar contato próximo com pessoas doentes.

 

  • Vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)

        Composta por vírus vivos atenuados, é uma vacina bastante segura e efetiva. Para o componente sarampo é relatada uma efetividade de aproximadamente 93% com uma dose e 97% com duas [6].

        O PNI recomenda a vacina tríplice viral de rotina para todas as crianças com um ano de idade e uma segunda dose aos 15 meses com a vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).

        A tríplice viral também está recomendada e disponível na rede pública até os 29 anos (em duas doses, com um mês de intervalo) e em dose única até os 49 anos de idade. Para profissionais da saúde, disponibilizada em duas doses, independente da idade [7].

        As Sociedades científicas brasileiras, incluindo a FEBRASGO, preconizam duas doses da vacina, independente da profissão ou da idade [8-10].

  • Importante saber: uso da vacina no Brasil

        No Brasil, o estado de São Paulo foi o primeiro a introduzir a vacina tríplice viral no ano de 1992 e, no restante do País, em 2003. Em 2013, a primeira dose de tríplice viral foi mantida aos 12 meses e incluída a tetra viral como segunda dose, recomendada, agora, aos 15 meses de idade. Em 2017, pela situação epidemiológica da caxumba, foi ampliada a faixa etária de recomendação da tríplice viral na rede pública para pessoas com até 49 anos. Para profissionais da saúde e aqueles até os 29 anos, ficou disponibilizada em duas doses.

        Desde 2003, houve campanhas de vacinação contra sarampo e rubéola e foram utilizadas vacinas tanto duplas como tríplices virais. Frequentemente, essas vacinas aplicadas não são/foram registradas em Cadernetas de Vacinação.

 

  • Pós-exposição

        A vacina administrada até 72 horas após contato pode prevenir a doença. A imunoglobulina humana padrão (IG) aplicada até seis dias após o contato pode prevenir ou modificar a doença.

  • Eventos adversos da Vacina

        Em geral leves e transitórios. Artralgias e dores articulares em 25% dos adultos suscetíveis. Não há evidência na literatura de que a vacina cause autismo ou espectro autista.

  • Contraindicações e precauções

        Alergia grave a qualquer componente da vacina; gestação, imunossupressão, doença aguda moderada a grave, transfusão de sangue. Alergia a ovo, mesmo grave, não é considerada contraindicação [8-10].

  • Importância do médico ser vacinado e prescrever a vacinação

        A vacinação do médico e outros profissionais da saúde é recomendada, não só para protege-los, mas também para que não sejam fonte de infecção para seus pacientes, além de um incentivo para seus pacientes se vacinem.

 

  • Alerta Sarampo em 2018

        O CVE- Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, da SES de São Paulo, em alerta do dia 18 de junho, informa que: frente ao cenário epidemiológico a situação do sarampo corresponde ao Nível 3 de Resposta e Alerta, e recomenda: ALERTA TOTAL A QUALQUER CASO SUSPEITO DE DOENÇA EXANTEMÁTICA. Casos suspeitos de sarampo e/ou rubéola devem ser notificados em 24h; investigados em 48h; coletar o material biológico para diagnóstico laboratorial e implementar as medidas de prevenção e controle de maneira ampla e oportuna [11].

 

Vacine-se e prescreva a vacina para as suas pacientes e familiares!

 

REFERÊNCIAS:

[1] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/diseases/measles/en/

[2] Cunha J, Krebs LS, Barros E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 2009.

[3] OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/monitoring_surveillance/burden/vpd/surveillance_type/active/Global_MR_Update_June_2018.pdf?ua=1

[4] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/11/af-Informe-Sarampo-n10-final-5jun18.pdf

[5] CEVS. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201806/13142928-13-06-18-alerta-sarampo.pdf

[6] CDC. Centers for Disease Control and Prevention. EUA. Disponível em: https://www.cdc.gov/measles/vaccination.html

[7] Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao

[8] Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 170p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO; no.13/Comissão Nacional Especializada de Vacinas).

[9] SBIm. Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários. Disponível em: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao

[10] Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19717k-DocCient-Calendario_Vacinacao_2017-maio.pdf

[11] CVE. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/sindrome-da-rubeola-congenita-src/doc/sarampo18_alerta_18junho.pdf

Autores:

Juarez Cunha
Isabella de Assis Martins Ballalai

Este documento tem o suporte da Comissão Nacional Especializada de Vacinas da FEBRASGO. Presidente: Dr. Júlio César Teixeira

 

 


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