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CISTOS OVARIANOS FUNCIONAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Quinta, 05 Abril 2018 14:35
        Cláudia Barbosa Salomão

        Maria Virgínia Werneck Marinho

 

        Entende-se como tumor ou neoplasia a proliferação celular anormal, excessiva e descoordenada, que não cessa quando o estímulo inicial termina. A palavra neoplasia vem do grego, onde ‘’neo’’ significa novo e ‘’plasis’’ significa crescimento e multiplicação celular. Dentro deste espectro, poderíamos dividi-las em neoplasias benignas e malignas. Neoplasias benignas são aquelas que apresentam crescimento lento, não invasivo e, portanto, não causadoras de metástases. As neoplasias malignas são aquelas cujo crescimento é acelerado e podem invadir tecidos vizinhos e não vizinhos através das vias hematogênica e linfática, o que denominamos de processo metastático.

        Pode-se entender também como tumor, e não como neoplasia, lesões que representam aumento de volume tecidual decorrentes de exercício de função ou de processo inflamatório, podendo se apresentar sob forma sólida ou cística. Aqui se enquadram os cistos ovarianos funcionais, dos quais falaremos.

        Na presença de sinais e/ou sintomas sugestivos de massas ovarianas, devemos iniciar uma investigação, a qual passa, inicialmente, pela realização de um exame de imagem. Obviamente, na maioria dos casos, indica-se inicialmente a realização de uma ecografia pélvica abdominal (ou transvaginal no caso de adolescentes sexualmente ativas), com complementação da avaliação do abdome superior caso se suspeite de algum outro tipo de patologia.

        As vantagens da ecografia estão no baixo custo, não necessidade de sedação e ausência de radiação ionizante. A realização concomitante do Doppler vascular permite avaliar fluxo presente ou não nas massas, como também auxiliar no diagnóstico de possíveis torções de pedículo. A ecografia pode distinguir cistos simples de massas sólidas e complexas, além de observar líquido livre na cavidade abdominal.

        No caso de presença de massas complexas ou suspeita de malignidade, seria indicada a realização de exame de imagem por tomografia computadorizada ou ressonância magnética, o que pode esclarecer melhor a extensão do tumor e sua natureza. Imagens encontradas podem sugerir benignidade ou malignidade.  Importante na avaliação propedêutica no caso de massas anexiais suspeitas de malignidade na infância e na adolescência são os marcadores tumorais, que constituem substâncias encontradas no sangue ou outros fluídos corporais, em quantidade aumentada, na presença de determinados tumores.

        Gostaríamos de salientar o uso da terminologia ‘’Tumor-like lesions’’, amplamente usada pelos colegas patologistas, sedimentada em amplo artigo ‘’Seminários em Patologia Diagnóstica’’, 2014.  Em tal artigo, que descreve amplamente tumores ovarianos e lesões ‘’tumor-like’’ nas primeiras três décadas da vida, os autores enquadram os cistos foliculares e cistos de corpo lúteo como lesões ‘’tumor-like’’, retirando-os da classificação de tumor, já que não obedecem as clássicas características de uma neoplasia, propriamente dita.

        Os cistos simples de ovário compõem as massas ovarianas mais frequentemente encontradas na infância e adolescência.  Folículos ovarianos normais (ou seja, com menos de 03 cm de diâmetro) podem se transformar em cistos funcionais e cistos de corpo lúteo, se evoluírem para diâmetros superiores a este. Estes cistos podem evoluir com dor, desenvolvimento de caracteres sexuais secundários precocemente, ruptura, torção de pedículo ovariano, podendo, até mesmo, evoluírem para cirurgia.

        Cistos foliculares podem estar presentes em diversas etapas da vida, inclusive no período neonatal, na menacme e no período peri menopausa.

        Os cistos neonatais podem ser grandes, sendo citados diâmetros de até 13 cm na literatura, podendo seu diagnóstico ser realizado ainda no período pré natal, através de ecografia rotineira da gestação. Se diagnosticado, deve ser acompanhado mesmo durante o período pré natal, já que a torção é possível, mesmo intra-útero. Geralmente os cistos encontrados no primeiro ano de vida são remanescentes de cistos intra-útero e tornam-se sintomáticos após o período neonatal. Após o primeiro ano de vida tornam-se raros e passam a ser documentados novamente na puberdade.

        Os achados ecográficos destes cistos foliculares são de cistos simples ou complexos, os últimos contendo material hiperecóico (debris) intra-cístico que pode denunciar hemorragias dentro do cisto. Nestes casos de cistos complexos, o Doppler será de grande ajuda para diferenciá-los de lesões malignas.

        Os cistos foliculares pré puberais são causados pelos pulsos hormonais intermitentes de gonadotrofinas. Nessa fase pré puberal, geralmente são menores que 01 cm de diâmetro e regridem espontaneamente (podendo ser chamados de cistos, apesar do pequeno tamanho, somente devido à tenra idade). Por vezes, podem ter diâmetro maior que 02 cm (2 a 5% dos casos).

        Na fase da menarca, há um aumento na frequência de cistos ovarianos, e muitas das vezes, não são cistos foliculares, havendo já um aumento na frequência dos cistos de corpo lúteo, os quais podem romper e causar hemoperitômio.

        Cistos assintomáticos de 02 a 05 cm de diâmetro costumam regredir em 04 a 05 semanas, e cistos maiores de 05 cm de diâmetro demoram cerca de 03 meses para resolução completa.

        Cistos de 02 a 05 cm de diâmetro, assintomáticos, justificam conduta conservadora. A dúvida do tipo de abordagem existe em cistos de 05 a 07 cm de diâmetro, quadro no qual seria permissível a conduta conservadora, desde que acompanhado de perto, com abordagem cirúrgica em casos sintomáticos ou que persista o cisto após 03 meses de evolução.

        Sabido é que tratamentos hormonais evitam o surgimento de novos cistos, mas não tratam cistos pré existentes. Tratamentos conservadores de cistos ovarianos merecem acompanhamento ecográfico e dosagem de marcadores tumorais para afastar possibilidade de estarmos diante de um cisto maligno. Ao se optar pelo procedimento cirúrgico, em casos citados anteriormente, deve-se optar por excisão do cisto com preservação do parênquima ovariano; a aspiração do cisto apresenta alta incidência de recorrência e deve ser evitado.

 

        Referências Bibliográficas:

  1. Kelleher CM, Goldstein AL. Adnexal Masses in Children and Adolescents. In: Clinical Obstetrics and Gynecology, 2015; 58 (1): 76 – 92.
  2. Rivoire WA e cols. Diagnóstico, Patologia, Tratamento e Evolução de Tumores ovarianos em crianças e adolescentes. In: RGOBE (Rev. de Ginec. e Obst.), 2002; 13 (2): 67-69.
  3. Ovarian tumors and tumor-like lesions in the first three decades. In: Seminars in Diagnostic Pathology, 2014; 01-45.

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