FEBRASGO esclarece: Câncer de mama e terapia hormonal
- O artigo caracteriza-se como uma revisão narrativa, sem a aplicação de critérios rigorosos de seleção sistemática da literatura, como preconizado pelas diretrizes PRISMA para revisões sistemáticas. A ausência de um protocolo pré-registrado (ex. PROSPERO) limita a transparência do processo de seleção e inclusão dos estudos.
- Heterogeneidade metodológica dos estudos incluídos: Os 25 estudos analisados apresentam ampla variação em seus desenhos metodológicos (ensaios clínicos randomizados, coortes retrospectivas, estudos de caso-controle, séries de casos), o que dificulta a comparação direta dos resultados. Não há aplicação de técnicas de metanálise para integrar os resultados quantitativamente, o que reduz a robustez estatística da conclusão geral.
- Curto tempo de seguimento dos estudos primários: A mediana de seguimento dos estudos revisados é de aproximadamente 5 anos, o que é insuficiente para avaliar efeitos tardios relevantes, como recorrência metastática ou mortalidade específica por câncer de mama, especialmente considerando que o câncer de mama pode ter recidiva tardia.
- Falta de estratificação adequada por subtipo tumoral e terapia adjuvante. O artigo não realiza uma análise aprofundada por status de receptor hormonal (ER+, PR+, HER2+), grau histológico ou uso concomitante de terapias como tamoxifeno, inibidores da aromatase, quimioterapia ou radioterapia. Esta limitação é crítica, pois o risco de recorrência e o impacto da TH podem variar significativamente de acordo com essas características tumorais e terapêuticas.
- Desconsideração de vieses inerentes a estudos observacionais. A revisão confere grande peso a estudos observacionais (retrospectivos e prospectivos não randomizados), os quais estão sujeitos a viés de seleção, viés de confusão e viés de sobrevivente saudável. Muitos estudos não ajustaram adequadamente para fatores prognósticos conhecidos (ex.: idade, comorbidades, estágio do câncer).
- Dependência excessiva da crítica ao estudo HABITS: O autor estrutura grande parte de seu argumento em refutar os achados do estudo HABITS, que de fato demonstrou aumento na recorrência local. Entretanto, a crítica, embora válida em certos aspectos, não anula a necessidade de cautela, especialmente, na ausência de evidência robusta de segurança a longo prazo.
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Falta de análise de risco-benefício Embora o autor defenda uma abordagem mais permissiva ao uso da TH, o artigo não oferece critérios objetivos ou algoritmos clínicos para estratificação de risco e tomada de decisão personalizada. Há ausência de propostas claras para monitoramento e seguimento clínico rigoroso em pacientes que eventualmente iniciem a TH.
As Comissões Especializadas de Climatério (CNE de Climatério) e de Mastologia (CNE de Mastologia) esclarecem que, atualmente, não existem dados suficientes que comprovem a segurança do uso de terapia hormonal (TH) em mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama.
Dessa forma, consideram inoportuna e prematura a divulgação nas mídias sociais, para o público em geral, da possibilidade de utilizar esse tratamento sem os devidos esclarecimentos sobre a interpretação dos dados científicos, que ainda são limitados. A FEBRASGO reafirma para as mulheres e para os médicos que o câncer de mama continua sendo uma contraindicação para o uso de TH. No entanto, essas mulheres devem receber cuidados especializados e terapias não hormonais que aliviem os sintomas e melhorem a qualidade de vida durante o climatério.