Protocolo FEBRASGO para o manejo de diabetes gestacional

Quinta, 14 Junho 2018 16:50

        O Brasil é o quarto país com maiores taxas de Diabetes  Mellitus (DM)  na população adulta, com um total de 14,3 (12,9-15,8) milhões de pessoas de 20 a 79 anos com DM, com um gasto anual estimado de pelo menos US$ 21,8 bilhões (1). As estimativas populacionais de frequência de hiperglicemia na gestação no País são conflitantes, porém, estima-se que a prevalência de Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) no Sistema Único de Saúde (SUS) seja de aproximadamente 18%, utilizando-se os critérios diagnósticos atualmente propostos na literatura.

        O DMG decorre do aumento do nível de açúcar no sangue (hiperglicemia) causado por fatores   e ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando a insulina produzida, por algum motivo, não atua como deveria. Os fatores de risco para o seu aparecimento são obesidade, idade, engordar muito durante a gravidez, histórico familiar, já ter tido diabetes gestacional, entre outros.

        Em mulheres com diabetes na gestação, a principal complicação fetal é a macrossomia, que se associa à obesidade infantil e ao risco aumentado de síndrome metabólica na vida adulta e aundo não bem controlado   pode levar inclusive à   morte do feto. Em primeiro de agosto de 2016, considerando-se a relevância do Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), tanto por sua prevalência como pelas consequências para o binômio materno-fetal a curto e  longo prazos, foi realizado, em São Paulo, um fórum de discussão sobre o tema, com o objetivo de se definir uma proposta para um diagnóstico de DMG para o Brasil.

        Participaram da reunião médicos especializados na assistência a mulheres com DMG   representando a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), consultores da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS no Brasil) e assessores técnicos do Ministério da Saúde.

        Como produto do Fórum, foi elaborado um protocolo para rastreamento da DM na gestação, aliás, já incorporado pelo Ministério da Saúde. Também foi considerado pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) modelo para todos os países latino-americanos.

        Para a elaboração daquele protocolo foram analisados alguns pontos relevantes:

 

  • Fatores clínicos de risco: A utilização de fatores clínicos de risco como forma de rastrear gestantes que devem ser submetidas a testes diagnósticos para DMG não é ideal, pois apresenta baixa sensibilidade.
  • Diagnóstico universal: deve-se proporcionar a todas as gestantes a possibilidade de diagnóstico de DMG.
  • Viabilidade financeira e disponibilidade técnica do teste proposto: o método diagnóstico a ser utilizado deve ser o melhor possível dentro da capacidade da região.
  • Teste com melhor sensibilidade/especificidade: considera-se que o teste com melhor sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de DMG é o TOTG com 75g, com os valores propostos pela IADPSG e referendados pela OMS 2013 e FIGO 2015.

 

        Recentemente, um grupo de trabalho, composto por ginecologistas, obstetras, endocrinologistas, nutricionistas, enfermeiros e fisioterapeutas vindos de todas as partes do País discutiu propostas para tratamento não farmacológico e farmacológico da diabetes gestacional. Estavam representadas a FEBRASGO, Sociedade Brasileira de Diabetes, a OPAS e OMS.

        “Avançamos na produção de novas orientações sobre os cuidados após o diagnóstico”, esclarece Rossana Pulcineli Francisco, presidente da Comissão Nacional de Hiperglicemia e Gestação da FEBRASGO e da SOGESP. “É um trabalho multiprofissional porque o manejo do diabetes requer envolvimento de áreas distintas. O maior desafio do projeto é produzir um consenso que possa ser implantado em todas as regiões do País. Quando montamos o protocolo de diagnóstico tivemos esse cuidado. Então, também estamos tendo essa precaução, pois convivemos com diferenças enormes entre as regiões, principalmente quanto aos recursos”.

        No primeiro momento, o rastreamento implicou em investimento em consultas e exames. Agora, na parte do tratamento, novas demandas de investimentos se imporão para a viabilização do protocolo de tratamento.

        “Vamos apresentar esta proposta ao Ministério da Saúde, a quem cabe a última palavra. É evidente para a aprovação levará em conta a viabilidade econômica e a logística para sua implantação. O Brasil tem dimensões continentais e com diferenças regionais importantes, não só do ponto de vista econômico, mas também sociais, como hábitos e costumes alimentares próprios em cada uma”, ressalta Marcos Felipe.   “É desperdício de tempo e de recursos uma abordagem que não possa ser aplicada no Brasil todo. Precisamos atingir desde Belém do Pará até Porto Alegre. Existem locais no Brasil em que há dificuldade até para a realização do teste de sobrecarga de glicose”.

        Além disso, existe a necessidade do treinamento dos agentes de saúde, médicos, enfermeiras e outros profissionais envolvidos. Neste aspecto educacional é que a Febrasgo poderá colaborar de maneira significativa para o sucesso da aplicação dos protocolos.

        Serão colocadas à disposição do MS todos os meios de comunicação (revistas, sites, mala direta, newsletters, tele-aulas, eventos científicos etc) para que as informações cheguem aos associados, que, em última análise, são os que fazem o atendimento das gestantes em todo o País.

 


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