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Dispositivo intrauterino: de onde viemos e onde chegamos

Segunda, 11 Setembro 2017 16:08
O dispositivo intrauterino é considerado e referenciado por muitos como um método moderno, muito embora existir referências na literatura que tenha sido    usado desde a antiguidade. Hoje em dia é considerado um LARC (long-acting reversible contraceptive), com uso estimado no mundo por mais de uma centena de milhões de mulheres. Estatisticamente é o segundo método de planejamento familiar, dados esses reforçados pela China onde vivem cerca de dois terços das usuárias do método. Usado desde a antiguidade quando, segundo a história, Hipócrates , em torno do ano 400 a.C, inseria objetos no útero com a ajuda de um tubo de chumbo, muitos materiais, formas e hormônios foram idealizados e utilizados.

Em 1962 , o Population Council, por sugestão de Alan Guttmacher, então presidente da Planned Parenthothood Federation of America (PPFA), organizou a primeira conferência internacional sobre DIU na cidade de New York . Foi nesse conclave que Jack Lippes, de Buffalo, apresentou sua experiência com seu dispositivo, que possuía cauda única filiforme e que veio a se tornar o DIU mais empregado nos Estados Unidos e no mundo. A partir de então começaram a surgir cada vez mais novos modelos com materiais em aço inoxidável, com fios de prata, náilon e poliuretano e em espiral. Na década de 70 em face de um processo sobre segurança da pílula anticoncepcional, pelo senado dos Estados unidos, as mulheres jovens foram desencorajadas ao uso de contraceptivos orais , e passaram a procurar o DIU.

Lamentavelmente, em uma corrida para comercializar seus produtos, alguns fabricantes, lançaram modelos de dispositivos intrauterinos sem previamente testá-los, e nesse caminho foi lançado o DIU Dalkon Shields desenvolvido por Hugh Davis. Esse DIU cujo erro básico de desenvolvimento foi o fato de de ter uma cauda com múltiplas fibras enroladas juntas e fechadas em uma capa, foi inserido em mais de 2 milhões de mulheres americanas. Era evidente a superioridade de eficácia, pois enquanto os concorrentes tinham uma taxa de 5,5% o Dalkon Shield apresentava índices de 1,1%, apesar de ter sido contestado por muitos anos. Não fosse esse descuido da cauda multi filamentosa que permitia a ascenção de bactérias ele sem dúvida nenhuma seria líder de mercado para DIUs não hormonais. A produção foi suspensa em 1974 e devido as milhares de reclamações e indenizações dos usuários e a companhia iniciou processo de falência em meados de 1980. Em 1969 , Jaime Zipper idealizou o T de cobre e inaugurou a nova geração de DIUs , os medicados em contraposição com os inertes. Nesse período vários estudos foram realizados para que se atingisse a quantidade ideal de cobre que tivesse , naquele momento é o que se desejava,  uma atuação espermicida eficaz. Os primeiros estudos foram com 200 mm2, o Tcu 200, mas os melhores resultados e que persistem até os dias de hoje e é considerado padrão ouro são aqueles que tem 380 mm2 de cobre. 

Os DIUs liberadores de cobre , embora adicionando uma nova dimensão na contracepção intrauterina  não resolveram, até a presente data, o problema da menorragia, fator mais importante da remoção e substituição do método.
Na mesma linha de Zipper, que é a de ter um DIU não inerte, um italiano Antonio Scommegna publicou os resultados de seu trabalho, obtidos com 349 mulheres usando um DIU em forma de T, que liberava 128 mcg (microgramas) de progesterona por dia. Nenhuma mulher engravidou em 1600 ciclos. Em 1976 foi comercializado o Progestasert, primeiro DIU hormonal, mas teve pouca aceitação em todo o mundo. Duas décadas após o finlandês Tapani LuuKainnen, trabalhando no mesmo conceito do Prof Scommengna, apresentou a classe médica um DIU medicado com levonorgestrel que poderia ser mantido por 5 anos. Apesar de toda segurança e publicações, nos Estados Unidos o uso de DIU caiu abaixo de 1%, em face da demandas jurídicas, infecções e óbitos diretamente relacionados com o DIU Dalkon Shield.

Hoje em dia, as mais altas prevalência são no Vietnã e na China onde 30% ou mais das mulheres casadas usam o método como planejamento familiar. No Oriente Médio e Norte da África, o DIU é o método principal usado em vários países. Na maioria dos países da América Latina e Caribe, a esterilização voluntária feminina e os anticoncepcionais orais são usados mais comumente do que o DIU. Na África do sub-Sahariana, os níveis de uso do DIU são geralmente os mais baixos do mundo, como também o são as taxas de uso de anticoncepcionais. O uso do DIU atingiu um patamar ou começou a diminuir em muitos países desenvolvidos, em parte porque a esterilização voluntária se tornou amplamente disponível e popular entre as mulheres de maior idade .

No Brasil, o Ministério da Saúde em março deste ano anunciou a ampliação do acesso ao DIU de cobre, já distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos diversos serviços de planejamento familiar. Com uma estatística atual de 1,9% de usuárias em idade fértil a expectativa é de se atingir os índices de 10%, o que sem dúvida, para ser obtido ou se aproximar dele, se faz necessário uma campanha de educação e conscientização populacional, assim como uma seleção prévia criteriosa daquelas que irão obter benefícios contraceptivos  com esse método.


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