O que pensa o novo ministro da saúde do Brasil

Monday, 18 February 2019 15:23
Luiz Henrique Mandetta fala de seus projetos e prioridades para a News FEBRASGO:

O ex-deputado federal Luiz Henrique Mandetta foi empossado como ministro da Saúde em 2 de janeiro. Em solenidade oficial, destacou que cada centavo economizado pela pasta será dedicado ao objeto-fim: a assistência.
“Não dá para gastar dinheiro sem saber. Em um Ministério grande, de alto orçamento, fica fácil esquecer que R$ 1.000 também é dinheiro – e muito.”
Também falou sobre a possibilidade de discussões sobre as questões infralegais, sobretudo o conceito de equidade – um dos pilares do Sistema Único da Saúde, junto da integralidade e da universalidade.
“O País precisa encontrar caminho para fazer mais por quem tem menos, transformando o desigual em igual. Não será com arroubos de decisões individuais, não respeitando o direito coletivo, que chegaremos a cumprir nosso tripé. Por isso, a equidade deverá ser melhor entendida e talvez tratada pelo próximo parlamento.”
Na oportunidade, o novo ministro concedeu entrevista à News da Febrasgo. Confira os principais pontos.
 
Prioridade
 
‘Quero foco do Ministério na atenção primária, precisamos resgatar a atenção básica desse país. É inadmissível a mortalidade materna do jeito que está. É inadmissível a sífilis voltar a crescer e a gente achar que não tem nada a ver com isso. É inadmissível. Não dá para o Estado de São Paulo vontar a sofrer com a febre amarela e a gente considerar normal. É inadmissível termos um exército de agentes comunitários do SUS e não os capacitar para serem agentes transformadores do ciclo saúde-doença. Eles entram nas casas com crachá e em nome da saúde e nós não os usamos. Vamos desmembrar nosso organograma, teremos uma Secretaria Nacional de Atenção Básica. A maior luz de um ministério da Saúde em um país em desenvolvimento tem de ser a atenção básica, que, aliás, de básica não tem nada. É muito mais complexo você interferir em um ciclo de determinantes sociais, na assistência primária, do que fazer cirurgias de alta complexidade que durem três, quatro horas ou mais”.
 
Diálogo e responsabilidade
 
“As filantrópicas, as Santas Casas, estão todas endividadas. Precisamos dialogar com a rede hospitalar, com os médicos, com as indústrias, com planos de saúde, com todos os atores do setor. Temos de buscar melhores performances, matar um leão por dia. Nossas portas estarão 100% abertas. Há um evidente desafio: sabemos que o dinheiro não cairá do céu, então é essencial investir em gestão. Vivemos um momento histórico e devemos aproveitar para a virada do Brasil”.
 
Formação indiscriminada
 
“Nós vamos formar, só no Brasil, 35 mil médicos por ano, 350 mil por década, e como a vida útil desse profissional é de quatro décadas, vamos estabilizar em 1,5 milhão. Então, se vocês considerarem a média de pedido de quatro exames por médico por consulta, preparem-se para um sistema que vai ter que racionalizar ou vai entrar em colapso”.
 
Defesa do SUS

“Vejo gente falando que não quer o Sistema Único de Saúde, que ele tem que acabar. Então, convoquem nova Assembleia Nacional Constituinte, mostrem outro caminho, convençam mais de 308 pares e escrevam na Constituição o que acham. Essa Constituição, que a gente jurou defender, vamos defender até a última gota”.

Gestão

“No setor público, todos estão falando de governança, que significa “vamos andar na linha”. Eu acho que tem muito recurso no sistema mal gerido, que não chega na ponta. Cada centavo do que a gente economizar vai ser colocado na assistência. Temos de investir muito em gestão. Há muito ralo, desperdício, dinheiro sendo gasto desnecessariamente”.

Mais Médicos

“Quando fizeram a lei do Mais Médicos, estabeleceram que primeiro iriam os brasileiros, com CRM daqui, depois os brasileiros formados no exterior - mas somente em países cuja relação médico por habitante fosse superior a 1.6 ou 1.8, porque com isso excluía os formados no Paraguai e na Bolívia -, e em terceiro os médicos estrangeiros, daí caía em Cuba. Mas agora não, com essa abertura absurda de faculdades de Medicina nas fronteiras, Paraguai e Bolívia já ultrapassam a marca e são elegíveis. Não consigo imaginar que alguém considere que exista algum êxito em um programa como o Mais Médicos. Teria sido um programa equivocado se não fosse mal-intencionado, criminoso. Ele desestruturou o ensino da Medicina e a Saúde. O problema dos cubanos é grave, mas é menor. Vai ser muito difícil reconstruir o ambiente com as mais de 300 faculdades de Medicina que temos”.


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